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Verdade, método e liberdade

09 abr

A verdade não é uma regra lógica ou mesmo uma busca científica, a ciência caminha em passos de construção do conhecimento, aquilo que é chamado de epistemologia, na sua raiz grande era a negação da doxa, da mera opinião.

A verdade dizia Sócrates (através dos discursos de Platão) “não está com os homens, mas entre os homens”, assim são precisos diálogos e contraposições de ideais para que se chegue ao que Hans-Georg Gadamer formula como “circulo hermenêutico” (já postamos aqui).

A hermenêutica é a arte de compreender o que está escrito ou falado, assim ela é a busca daquilo que cada autor formula, ou seu mapa mental, esta fidelidade exige assim um estudo não para colocar ideias ou palavra na boca do autor, mas descobrir sua intencionalidade.

As narrativas contemporâneas refletem esta ausência de hermenêutica, cada autor que dar ao outro o seu próprio discurso, isto só é possível restringindo a liberdade, ou intimidando o Outro, aquilo que na cultura atual é chamado de hater, ela é própria do autoritarismo dogmático, daqueles que só sabem ouvir o próprio discurso e se negam a entender o distinto.

A liberdade é essencial para o diálogo, para uma autêntica construção do conhecimento, e uma sincera busca pela verdade, é preciso ouvir o outro (o texto falado ou escrito) para se produzir uma nova fusão de horizontes, o processo compartilhado entre interlocutores.

A lógica da narrativa é a imposição de um discurso que se pretende único e verdadeiro, assim a liberdade não é permitida, os interlocutores são interrompidos ou calados em seu discurso, isto para que somente uma narrativa sobreviva e seus valores e argumentos sejam impostos.

A idolatria moderna do estado como única fonte de poder, ainda que se auto referencie como democrático, é a incapacidade de uma hermenêutica e de um método onde o diálogo é aberto.

É preciso suspender nossos conceitos, colocar entre parêntesis, um epoché. 

O círculo hermenêutico não é um fim em si mesmo, Hans-Georg Gadamer faz uma longa reflexão sobre o pensamento de Dilthey, que julga romântico e em parte é uma das influências na hermenêutica de Schleiermacher e as via comprometidas com a razão cartesiana e sua lógica.

Presos a esta lógica, o dualismo sujeito e objeto permanece, e segundo Gadamer (1998, p. 340) ele remonta a Vico que já havia afirmado o primado epistemológico do mundo da história segundo o espírito humano, este tipo de conhecimento torna sujeito e objeto interligados.

Assim a verdade é ontológica, própria do espírito humano, própria de seu ser, nele há verdade.

GADAMER, H-G. Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.

 

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