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Arquivo para a ‘Linguagens’ Categoria

Dialogo e diversidade

09 jun

O choque entre duas concepções hegelianas de estado e a ausência de diálogo e novos horizontes estão entre as causas da crise civilizatória.

Tanto os velhos hegelianos modernistas quanto os novos revolucionários apontam uma visão de estado com um discurso único, ausência de diálogo e tolerância, esta é a raiz da crise.

O que notamos é a superficialidade deste problema de fundo, cada qual criando verdade que pensam ser universais e as vezes são até mesmo bizarras, como elas estão apenas no nível das ideias e não correspondem ao real não contribuem para uma saída real da crise civilizatória.

Todo dia despontam “sábios” de algum tipo que já tem a saída para grandes problemas que envolvem lideres, nações e culturais que se desenvolveram, em general já criaram raízes e tem grande dificuldade de dialogar com outras visões de mundo.

A convivência na diversidade é fundamental para uma sociedade democrática, quando só uma visão de mundo e uma forma de administrar o estado é imposta uma parte da população está fora deste diálogo e não verá oura saída a não ser a rebelião, ao nível do estado significa guerra.

Vivemos duas guerras mundiais fruto de uma concepção colonialista de estado, entretanto a atual é mais grave porque se trata de uma visão de hegemonia imperialista de forças opostas.

É verdade que há forças sociais se esforçando para abrir um caminho de diálogo, porém no campo diplomático ela tem fracassado, não por falta de propostas, mas por alinharem-se de modo discreto a um dos lados em conflito.

No campo religioso isto também ocorre, a visão farisaica que não é possível dialogar e ver como importante a convivência com “pecadores” e “cobradores de impostos” (os que gerem mal o estado ou se corrompem hoje) está descrita em Mateus 9,11-13:

“Alguns fariseus viram isso e perguntaram aos discípulos: “Por que vosso mestre come com os cobradores de impostos e pecadores?” Jesus ouviu a pergunta e respondeu: “Aqueles que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. Aprendei, pois, o que significa: ‘Quero misericórdia e não sacrifício.’ De fato, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores”.

O sacrifício de milhões de inocentes ocorre numa guerra porque não há força que dialogue com o pecado do conflito, do ódio e da guerra sem limites humanos e morais (na foto a explosão da barragem em Nova Kakhovka, região de Kherson).

Sem tolerância e diálogo nenhuma paz é possível, e neste momento a civilização vive a crise.

 

Dualismo e unidade

08 jun

O dualismo vem do idealismo de Parmênides e chega até Hegel, já postamos em suas categorias em-si, de-si e para-si, sendo para-si um certo retorno ao em si (posts da semana passada).

Existem dois tipos de dualismo: o dualismo de substância e o dualismo de propriedades.

Enquanto o dualismo de substância (ou dualismo cartesiano) argumenta que a mente é uma substância que existe de forma independente, já o de propriedade descreve uma categoria de posições em filosofia da mente que advogam que, apesar de o mundo ser constituído por apenas um tipo de substância, do tipo físico, existem dois tipos distintos de propriedades: propriedades físicas e propriedades mentais.

Esta briga no interior do dualismo continua em separação substância e mente, seja como substância ou propriedade.

A unidade é possível se pensarmos além da ontologia lógica de Parmênides onde o Ser é e o não ser não é, há um Ser que não é, que está presente na alma, e que no sentido trinitária é um Ser-para-si, isto é um para no sentido de além de, neste caso além da substância, e se pensarmos em Deus Absoluto (usando a categoria Hegeliana) o para-si é substância e se concretiza no “filho” da Trindade que é Jesus, ser-em -si homem e ser-para-si Deus.

Assim Deus entra na história e na substância como mente e propriedade, aquilo que o teólogo e paleontólogo francês Teilhard de Chardin chama de noosfera, que é subtítulo deste blog.

Deus mente e propriedade entra na história e se eterniza como substância no corpo e sangue, com as substâncias pão e vinho, que são artefatos humanos, o trigo feito pão pelo homem e a uva feito vinho pelo homem, assim substância humana, divinizada e eternizada na ceia de Jesus, esta é a festa do Corpo de Cristo realizada hoje por boa parte dos cristãos.

No raciocínio chardaniano Deus retirou o universo de sua sub-instância que também é Deus, do corpo de Cristo, assim todo universo é cristocêntrico e penetrado por sua divindade.

A tentativa humana de criar um “ser” inteligente e além-do-humano, é uma ex-machina incapaz do para-si.

Assim é que se realiza a unidade trinitária e humana, é preciso passar através do não-Ser que é Ser, é preciso superar contradições e ir além de si, entrar num para-si divino e eterno.

 

Círculo hermenêutico e diálogo

07 jun

Antes do diálogo o círculo hermenêutico de Heidegger é construído um conceito de fusão dos horizontes, parece idealista, mas é justo o oposto, o conhecimento não se dá pela revelação do objeto ao sujeito, como entendia Kant, não é mera projeção do sujeito sobre o objeto como pensava o idealismo de Kant.

Sujeito e objeto possuem horizontes próprios, pois ambos são dotados de historicidade, exemplifico com um exemplo muito presente: a guerra, não basta olhar sobre os sujeitos em guerra nos dois lados de uma disputa, há a guerra como instrumento de ódio e opressão, e ela própria tem sua historicidade, claro os sujeitos em guerra também.

O conhecimento então se dá a partir da fusão dos horizontes dos sujeitos, daí se falar da superação do esquema sujeito-objeto, ele é dualista e nele o diálogo fica segmentado.

Ao perceber um objeto o sujeito sempre contribui com sua pré-compreensão, sua interpretação é parcial, assim é preciso entender a outra pré-compreensão, na hermenêutica filosófica embora sejam chamados de pré-conceitos, ela tem um aspecto positivo, o ponto de partida do diálogo e o passo seguinte é a fusão de horizontes.

Se ambos desejam a paz, e isto não pode ser só uma retórica, é preciso saber o preconceito.

Gadamer critica a historicidade romântica de Dilthey e esclarece: “[…] a ideia de uma razão absoluta não é uma possibilidade da humanidade histórica. Para nós a razão somente existe como real e histórica, isto significa simplesmente: a razão não é dona de si mesma, pois está sempre referida ao dado no qual se exerce.” (GADAMER, 1998).

Kant proporcionou a superação do paradigma objetal, com sua visão espiritual foi para a filosofia da subjetividade, no entanto hoje, com os estudos pertinentes à virada linguística já há uma visão de superação da subjetividade pela intersubjetividade, manifestada na linguagem como condição de possibilidade do conhecimento e não apenas como uma terceira coisa entre sujeito e objeto ou a simples oposição e confronto.

A hermenêutica filosófica está pautada não na dualidade de significados, mas na sua ampla e plural visão de significados possíveis, a possibilidade criada pela compreensão que se dá na fusão de horizonte que não é “qualquer coisa sobre qualquer coisa”, e sim penetrar naquilo que a fenomenologia de Husserl chamava de “a coisa em si”, aquela do Ser do ente.

O diálogo de posições em confronto não é senão outra forma de guerra, não há uma análise que vá ao fundo de cada pré-compreensão dos sujeitos e daquilo que estão nos objetos.

Uma dialogia sincera é necessária para um novo passo civilizatório, um “outro” diálogo.

GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método. Trad. Flávio Paulo Meurer. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.

 

A guerra saindo dos limites territoriais

05 jun

Com as tentativas de paz muito limitadas, a guerra no leste europeu ameaça sair das fronteiras, o que torna os limites perigosos, tanto a tentativa de invadir o território russo como desestabilizar a Moldávia, que agora cogita ser um pais membro da OTAN (sua constituição impede).

A Rússia já tem armas e tropas na Transnístria, uma estreita faixa no norte da Moldávia, enquanto grupos soviéticos com apoio da Ucrânia começam a fazer ataques dentro do território russo.

Embora o acesso por terra e mar da Rússia a Moldávia seja limitado, o governo do presidente do país, Maia Sandu, acusou a Rússia de usar “sabotadores” disfarçados de civis para atiçar a agitação em meio a um período de instabilidade política, porém a Russia ganharia um acesso ao sul da Ucrânia, deixando-a mais cercada e frágil.

A contraofensiva ucraniana até o momento parece não ter se efetivado, a região de Donesk que seria um possível alvo não tem se mostrado frágil, com a Rússia defendendo suas posições.

No plano da diplomacia internacional, começa a crescer um alinhamento ideológico, a chamada terceira via, que a China e também o Brasil seria parte, mostram-se cada vez mais próximas do discurso russo de territórios “conquistados” e o discurso da paz fica fragilizado.

A Europa fará nova reunião para a discussão da entrada da Ucrânia na zona do Euro, parece mais plausível que a entrada na OTAN, já que em seu estatuto nenhum país em guerra pode entrar, seria uma exceção grave e a Rússia entenderia uma declaração de guerra aberta.

Aberta porque o envio de caças e armamentos a Ucrânia já é um apoio declarado, os países, entretanto alegam que é para “defesa” do território, e por isto a entrada em território não é bem vista pelos países da OTAN, era condição inclusive para o envio de aviões de caças para a Ucrânia.

A semana será decisiva com a discussão dos países da zona do Euro, e a contraofensiva da Ucrânia, por enquanto muitos ataques a Kiev, alguns atingiram crianças e uma clínica.

Os acenos da paz são cada vez mais difíceis e menos eficazes, o que ocorre é um alinhamento forte em todos os níveis, do econômico ao político, cada lado tenta se fortalecer.

 

Idealismo e pericorese

02 jun

O idealismo ao desenvolver as categorias em-si, de-si e para-si isola a possibilidade trinitária de relação e anula a ideia de relação ontológica, o que é em-si se não é Ser e o que é para-si se não é não-Ser, o Outro não é negação do Ser, mas seu complemento.

De-si é relação, e isto completa a ideia trinitária cristã de três pessoas em relação, que é a chamada pericorese.

Numa metáfora possível com o Idealismo: Deus-Pai é Deus-em-si, Deus-filho é Deus-para-si e Deus-Espírito Santos é Deus de-si, observa-se que Deus-para-si tanto é homem (Deus transcendente sua divindade) como é Divino (Jesus é Deus e transcende a humanidade)

Isto que significa o uno em três pessoas, o primeiro concílio cristão de Nicéia (325) foi discutido a divindade de Jesus, porque era ainda mais fácil, devido ao dualismo Ser e não-Ser, acreditar em dois do que em três.

Para subsistir a ideia dualista, alguns pseudo-teólogos lançaram mão da ideia que Deus-Pai é fonte e origem de toda divindade, assim as outras duas pessoas foram geradas pelo Pai, criando uma nova forma de negar a pericorese trinitária, ou se preferir “a dança” na relação divina interna.

Foram os padres capadócios, Gregório Magno, Gregório de Nissa e Basilio de Nissa que viram esta contradição, que vem revestida de nova roupagem, da troca da palavra prósopon (persona) por hipóstasis e esta por sua vez confundida com ousía.

Basílio usou da fórmula de Mt 28,19 que afirma que a comunicação dos Três no batismo manifesta o Espírito Santo na união do Pai com o filho, na mesma dignidade, e manifesta ao homem no batismo, por isto o batismo válido é em nome das Três pessoas em um Deus.

A relação é como se fosse a dança entre as três pessoas com a metáfora dos capadócios (figura).

Esta relação não é mítica, embora mística, sua relação com a humanidade está descrita em Jo 3,1: “De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”.

 

Deus a imagem do homem

01 jun

Foi Feuerbach o primeiro a fazer a uma redução antropológica da teologia, seu deus é feit para a firmar o homem, não há libertação do homem sem a negação de deus. Ele partiu do pressuposto de que a religião é expressão e causa da alienação humana, via assim: “o conhecimento que o homem tem de Deus é apenas o autoconhecimento do homem e de sua própria essência”, numa clara alusão a Absoluto de Hegel.

Sua análise da atitude religiosa e pelo conceito de alienação, Feuerbach influenciou os pensadores socialistas do século XIX, especialmente Karl Marx, é entre outros (chamados de velhos hegelianos) uma transição entre o idealismo hegeliano e o materialismo histórico.

É importante sua análise porque muitos hoje reafirmam esta ideia que é a base matéria que constitui a consciência do homem, a consciência de Deus é a consciência que o homem tem de si mesmo, o conhecimento de Deus é o conhecimento que o homem tem de si mesmo, assim  deus da prosperidade e que dá bens materiais humanos é  deus de Feuerbach.

Isto está presente também nas religiões contemporâneas, um deus do poder e da riqueza.

Já elaboramos que este deus do Absoluto de Hegel não é relação e, portanto, não é trinitário.

Sua leitura é: ““a chave hermenêutica que o autor utiliza para a compreensão da religião é a seguinte: religião é antropologia, ‘teologia é antropologia’, assim o que o homem fala acerca de Deus, através da linguagem religiosa, nada mais é que uma confissão de suas aspirações e projetos”, entretanto é deus que cria para satisfazer apenas as necessidades imediatas humanas.

Isto na significa um Deus nas aturas que desconhece homem, sena a figura de Jesus seria apenas um ser superior sem relação com o homem, inclusive em suas necessidades humanas.

 O mundo hegeliano criou esta face egoísta e meramente humana, onde dons e ascese divina não existem.

FEUERBACH, Ludwig. A essência do cristianismo. Campinas: Papirus, 1988.

 

Hegel e a relação com o Absoluto   

31 mai

A relação de Hegel com o Absoluto é importante porque embora não esteja evidente, está presente na maioria dos conceitos religiosos e de poder na atualidade.

Para Hegel, o espírito só é espírito na medida em que é para o espírito, manifestando-se a si mesmo, assim sua forma de Absoluto é representação e na um Ser.

Por forma entende-se os diferentes momentos do conceito que se dividem em esferas particulares ou elementos particulares, em que cada elemento particular o Absoluto se expõe.

Há estágios para Hegel, de elevação da certeza à verdade, no idealismo está é a ascese. Consciência em geral tem no objeto exterior apenas um objeto; aquele que a autoconsciência que tem o eu como objeto do pensamento; e por fim, a unidade da consciência ou da autoconsciência quando o ser e o pensar se tornam idênticos e o Espírito contempla o conteúdo do objeto como a si mesmo.

Acrescenta Hegel, desmontando a relação da consciência com o Outro na elevação da Verdade: “Com efeito, o Em-si é a consciência, mas ela é igualmente aquilo para o qual é um Outro (o Em-si): é para a consciência que o Em-si do objeto e seu ser-para-um Outro são o mesmo. O Eu é o conteúdo da relação e a relação mesma; defronta um Outro e ao mesmo tempo o ultrapassa; e este Outro, para ele, é apenas ele próprio; Com a consciência-de-si entramos, pois, na terra pátria da Verdade” (Hegel, 2012).

Uma passagem importante da Fenomenologia e que dá introdução ao conceito mais importante de Hegel é a passagem da consciência à consciência-de-si. Para que a consciência saia da aporia de se deparar com algo que não pode compreender por meio das categorias até então empreendidas, Hegel usa a postura idealista de se admitir que sujeito e objeto, sendo ambos unidades formadas a partir da internalização de diferenças, possuem a mesma estrutura,  a infinitude é somente este objeto para a consciência, sua “transcendência”.

Assim para-si não é nem a passagem em relação a Outro, nem uma ascese espiritual, é tão somente uma representação na consciência, esta sim uma ascese desespirituaizada.  

 

HEGEL, G. W. F. Fenomenologia do espírito. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.

 

Alienação e espírito absoluto

30 mai

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (Alemanha, 1770-1831) é considerado o último dos filósofos modernos e que escreve de modo sistemático, onde a teria forma um corpo.

A compreensão do que é alienação passa absoluto, tanto em Hegel como no filosofo Marx, o pensamento puro se torna pensamento sensível, visando uma realização material na forma de trabalho, e se nos alienamos, nos separamos da essência pura e abrimos caminho para uma separação entre ideal e real, que se unem naquilo  que Hegel chamou de Espirito Absoluto.

É na relação de poder que ambos se encontram de vencer e ser vencido que a veem: “O senhor é a potência que está por cima desse ser; ora, esse ser é a potência que está sobre o Outro; logo, o senhor tem esse Outro por baixo de si: é este o silogismo [da dominação]” (HEGEL, 1988, p. 130).

O dualismo idealista se torna diabético, a ideia d senhor e do escravo não valoriza uma de si de consciência-de-si mais do que a de um outro, no capítulo IV fala de duas consciências-de-si que vão se confrontando, assim não é possível  diálogo e a fusão dos horizontes, mas a oposição.

“Portanto, a relação das duas consciências-de-si é determinada de tal modo que elas se provam a si mesmas e uma a outra através de uma luta de vida ou morte. Devem travar esta luta, porque precisam elevar à verdade, no Outro e nelas mesmas, sua certeza de ser-para-si. Só mediante o pôr a vida em risco, a liberdade [se conquista]…” (HEGEL, 1988, p. 128).

Hegel não destruiu e nem abandonou a religião, apenas a reescreveu a seu modo: ”A religião é o modo pelo qual a humanidade é consciente da verdade e ela é para todo mundo, ao passo que a filosofia não é acessível a todas as pessoas (HEGEL, 1988, p. 106).

Afirma até mesmo que a religião é necessária, nela o conteúdo deve se tornar objetivo para a consciência sensível e depois, por meio da reflexão, ser compreendida na forma do universal, isto é, do pensar (HEGEL, 1995, p. 133).

HEGEL, G. W. F. Introdução às Lições sobre História da Filosofia. Porto: Porto Editora, 1995.

_______ Fenomenologia do Espírito. Trad. Paulo Meneses e Karl-Heinz Efken. Petrópolis: Vozes, 1992.

_______ Lectures on the Philosophy of Religion: The Lectures of 1827, One-volume edition. Berkeley: University of California Press, 1988.

 

O Espirito Absoluto de Hegel

25 mai

Era inevitável que o idealismo pela segmentação que faz da realidade caísse em alguma forma de misticismo sem uma clara cosmovisão, é a busca ontológica que o homem tem de sua completude como um todo e qual a relação com o Absoluto.

Heidegger argumentou sobre a precedência da questão do Ser, a filosofia idealista tem esta busca, conforme já salientamos em outros posts, porém aqui nos concentramos no seu ápice Hegel, não apenas na Fenomenologia do Espírito, mas em praticamente todos escritos há uma busca do Todo.

Em cada uma das representações que constitui o Todo, ele constitui o Absoluto, a Ideia e a Ideia da filosofia.

Hegel desenvolve a apreensão do Absoluto através de três momentos: a Arte, a Religião e a Filosofia, de modo um pouco simplista pode-se dizer que a arte é a corporificação da Ideia, a expressão do imediato divida em Natureza e Espírito.

Hegel (1995) descreve que, A arte e as intuições que ela produziu, necessita não só de um mundo exterior dado, ao qual pertencem imagens e representações subjetivas, mas a expressão do conteúdo espiritual, também precisa das formas dadas pela natureza para a sua significação ao qual deve possuir e pressentir (Hegel, 1995, p. 342).

É bastante significativo o fato que Hegel desenvolve a representação do Absoluto quando cita os povos gregos, considerada como expressão mais elevada para os gregos, a religião tinha uma forma antropomorfa, ou seja, os deuses eram tão carnais quanto os homens, então são sujeitos.

Assim esta religião surge da relação entre a Religião da Natureza e seus mitos, enquanto a relação com a Religião Cristã, é a consciência de si do espírito que é a humanidade infinita.

O espírito absoluto aparece como saber de si da humanidade, sendo a consciência da história efetiva, sendo que a filosofia desembaraça da imediatez das paixões para se entregar à contemplação.

Segundo Hegel (1995): “O espírito absoluto não se pode explicitar em tal singularidade do configurar: o espírito da bela arte é, portanto, um limitado espírito de um povo, cuja universalidade essente em si, ao avançar para a ulterior determinação de sua riqueza, decompõe-se em um politeísmo determinado” (HEGEL, 1995, p. 342).

Para Hegel, o espírito só é espírito na medida em que é para o espírito, manifestando-se a si mesmo.

Assim seu espirito é para-si no sentido de para si mesmo, pouco ou nada do Espírito Santo que é totalmente em projeção ao Outro, quer seja na trindade cristã, quer seja na alma humana não é fechamento em-si.

HEGEL, G.W.F. Enciclopédia das Ciências Filosóficas (1830). 1. Ciência da Lógica, 2. Filosofia da Natureza, e, 3. Filosofia do Espírito. Trad. Paulo Menezes. São Paulo: Loyola, 1995.

 

Espírito e o racionalismo prático de Kant

24 mai

Embora Kant toque pouco na questão do Espírito, para ele o que existe é um “espírito” prático típico do iluminismo, há uma exceção que é a sua leitura de um autor sueco Swedenborg, um visionário do mundo suprassensível dos espíritos, e que Kant trata na obra Sonhos de um visionário.

A metafísica de Kant está ligada ao dualismo entre sujeito e objeto, entretanto neste livro extrapola o cunho dogmático racionalista e aproxima os dois mundos (corpo e mente) através de um mundo suprassensível e assim, teríamos a configuração daquilo que seria a alma em contato com o corpo, por meio do espírito, ou seja temos três entidades: o espírito, a alma e o corpo, para estabelecer as relações ele cria uma problemática “psico-física” muito engenhosa.

Usando as visões de Swedenborg (que supõe sejam verdadeiras) imagina que a alma possui um contato com o outro mundo unida ao corpo que conhece objetos da sensibilidade (a dualidade sujeito x objeto) enquanto o espírito em sua relação com a alma também busca conhecer tais objetos, uma vez que ele não está completamente ligado ao corpo e permanece num mundo dos espíritos, veja que pouco ou nada tem de ligação ao mundo espiritual religioso.

Swedenborg se vê como um “oráculo dos espíritos” que possui sua alma aberta para receber informações, o que o torna diferente dos outros homens, então a sua alma se comunica com o outro mundo, por meio da ligação com o espírito, há nisto um mundo espiritual, e este mundo espiritual existindo, as almas poderiam se comunicar por um tipo de telepatia, entretanto não é o que ocorre.

Como ele explica então esta comunicação, há limites do conhecimento através das relações entre a alma humana e o suposto mundo dos espíritos, e tal argumento é o que ele denomina como um comércio “psico-físico” entre o mundo dos espíritos e o mundo sensível pela alma que se encontra no homem.

Muito elaborada, porém a elaboração de Hegel será mais completa e dialoga com toda a cultura filosófica moderna assim como com a teologia cristã, mas para divergir, ao contrário de uma tese que aproxima, a de Hegel se afastará e encontrará nas teses dialéticas motivações para a Fenomenologia do Espirito.

KANT, I. Sonhos de um visionário explicados por sonhos da metafísica. In: ______. Escritos pré-críticos. São Paulo: Ed. Unesp, 2005. p. 141-218.