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A evolução das estrelas e as anãs brancas
A evolução de uma estrela como o Sol, passa da fase gigante para a supergigante e ejeta uma nebulosa planetária e depois transforma-se em uma anã branca quando está perdendo sua energia e seu brilho.
A base dos cálculos da evolução estelar é chamada de Equilíbrio Hidrostático pelo qual a pressão do gás contrabalança a gravidade, na maior parte da vida das estrelas, já que se não houver este equilíbrio ou tempo dinâmico ela entra em colapso, assim estrelas têm reações nucleares em alguma etapa da sua evolução, as que não tem são as anãs marrons.
Usando o rádio-observatório ALMA, no Chile, que estudam uma dúzia de gigantes vermelhas, o estágio evolutivo em que as estrelas se aproximam da morte, elas liberam uma enorme quantidade de energia, produzindo um vento estelar constante, ou seja, ejetando um fluxo de partículas que lança a massa da própria estrela para todas as direções, e estas são as bases de suas imagens espetaculares.
Se fossem nebulosas solitárias elas teriam só formatos concêntricos, porém a presença de outras estrelas companheiras e até planetas que orbitam as gigantes vermelhas, a influência de seus campos acaba formando outras imagens, influenciadas pelo objetos ao redor, dando configurações e cores específicas.
Um dos cientistas do projeto Carl Gottlieb, co-autor do estudo “(Sub)stellar companions shape the winds of evolved stars” afirmou: “Agora temos uma visão sem precedentes de como as estrelas como o nosso Sol, irão evoluir durantes os últimos estágios de sua evolução”, é claro isto numa escala de milhões e até bilhões de anos.
O paleontólogo e teólogo Teilhard Chardin disse que na escala do Cosmos: “só o fantástico tem a condição de ser verdadeiro, as nebulosas planetárias formam incríveis imagens cósmicas que mais parecem pinturas divinas e se formam ao redor de uma estrela que atingiu o estágio de gigante vermelha, e recentemente cientistas descobriram porque suas formas são únicas.
O que são os buracos negros ?
Buracos negros são regiões no espaço-tempo (nem o espaço nem o tempo são absolutos como pensam os idealistas), onde o campo gravitacional é tão intenso que nada do que conhecemos, nenhuma partícula ou radiação eletromagnética como a luz, pode escapar dele, a teoria da relatividade geral de Einstein previa isto como o cálculo de uma massa extremamente compacto que deformaria o espaço-tempo para formar um buraco negro.
Em 10 de abril de 2019, um gigantesco buraco negro foi “fotografado” (figura), alojado no coração da galáxia Messier 87 (M87) localizada a 55 milhões de anos luz de distância foi fotografado, sob o aspecto de um círculo escuro cercado por um anel flamejante.
Esta foto na verdade usou um algoritmo computacional, uma vez que os cientistas não podem observar diretamente com os telescópicos que usam para detectar outros corpos usando raio X, luz ou outras formas de radiação eletromagnética, mas podem inferir detectando a interferência em corpos ao lado de matérias próximas, assim se um buraco negro passar por uma nuvem de matéria interestelar, ele atrairá a matéria para dentro em um processo conhecido como acréscimo, ele primeiro aquece e depois é dilacerada na medida que vai em sua direção, tendo assim uma interferência dramática nos corpos na sua vizinhança disparando rajadas poderosas de raios gama.
A formação de buracos negros é até agora conhecida como resultado de colisões estelares, logo após o lançamento em dezembro de 2004, o telescópico Swift da NASA observou poderosos flashes de luz que eram rajadas de raios gama, e logo após o evento Chandra e o Telescópio Espacial Hubble da NASA coletaram dados do “pós-brilho” deste evento o que induziu os cientistas concluírem que poderosas explosões ocorrem quando um buraco negro e uma estrela de nêutrons colidem, produzindo outro buraco negro.
Mesmo sendo conhecido o processo básico de formação dos buracos negros, um mistério permanece que é que eles existem em escalas radicalmente diferentes, espalhados por todo o universo, por um lado existem muitos remanescentes de explosões de estrelas massivas, eles são geralmente 10 a 24 vezes maiores em “massa estelar” que o Sol, outros são pequenos e difíceis de detectar, mas cientistas estimam que existam de dez milhões a um bilhão destes buracos só na Via Láctea.
Noutro extremos estão os buracos negros “supermassivos” que são milhões até bilhões de vezes mais massivos que o Sol, os astrônomos acreditam que eles podem estar no centro de todas grandes galáxias, incluindo a nossa Via Láctea, a observação é possível a partir dos efeitos nas estrelas e nos gases próximos a ele.
Planetas, Exoplanetas, Anãs Marrons e estrelas
Os planetas como nós conhecemos são os corpos celestes que giram em torno de um campo gravitacional composto de pelo menos um sol (pode haver mais de um), já o exoplaneta orbita uma estrela que não é um sol, até 21 de setembro de 2021, eram conhecidos 4841 exoplanetas em 3578 sistemas, com 796 sistemas tendo mais de um planeta.
Uma estrela em geral tem mais de 80x a massa de Jupiter, entretanto existe estrelas menores e com menos brilho conforme mais velhas forem, elas tem uma massa de 13 a 80 vezes a de Jupiter, e os astrônomos já encontraram cerca de 2 mil em nossa galáxia, a Via láctea.
Em geral as anãs marrons são novas, entretanto recentemente foi descoberta, por acaso como a maioria das descobertas astronômicas, um corpo chamado de WISEA J153429.75-104303.3, com mais de 13 milhões de anos, como foi fortuita sua descoberta ficou apelidada de “O acidente”.
A idade é interessante porque pode nos falar algo da origem do universo, ou da origem deste universo no caso de haver um multiverso, porém pela sua idade dará muitas pistas.
Uma anã marron é um corpo maior que qualquer planeta, mas pequeno e frio demais para ser uma estrela, isto ocorre porque a anã não tem massa suficiente para fundir o hidrogênio em seu núcleo, e assim liberar energia estelar, com a idade vai esfriando.
A anã marron tem características diferentes das outras, não tem sequer o brilho tênue (veja abaixo uma imagem da detecção), e isto intrigou os cientistas, disse Davy Kirkpatrick: “este objeto desafiou todas as nossas expectativas”, um dos coautores da descoberta Publicada no Astrophysical Journal Letters.
Outros dois fatos surpreendentes do “Acidente” é que ele está a cerca de 53 anos luz de distância do Sol, quase vizinho ao Sistema Solar, e percorre a galáxia de modo muito rápido, a cerca de 207,4 k/s, ou seja, 25% mais rápido que qualquer outra anã marrom.
O misterioso universo nos faz não apenas pensar sobre a origem e o destino de tudo que existe, mas também sua originalidade e beleza que emanam de algo superior a nós.
O meio divino e o fenômeno humano
A cosmovisão de Chardin sobre o fenômeno humano vai desde a cosmogênese, a origem o universo e da vida até complexificação da natureza e o lugar do homem nela, o que a pandemia demonstra que esta complexificação cresce e mesmo a ciência tem limites para lidar com ela, porém esta pandemia pode trazer novos horizontes, quando o pensar e o clarificar precisa da ciência.
Entre suas várias obras, Teilhard Chardin faz um percurso singular entre O meio divino, escrito entre novembro de 1926 e março de 1927 e o Fenômeno Humano, escrito entre julho de 1938 e junho de 1940, que formam um “todo inseparável” diz também a edição que tenho do Editorial Presença de Lisboa, Portugal.
Singular porque transita do divino ao humano, como atestam os próprios nomes das obras, sem deslizes ou arroubos, mostra-nos a “necessidade da compenetração entre a ciência e religião igualmente afirmada por Einstein”, expressão de Helmut de Terra, amigo e admirador de Chardin.
Chardin inicia o meio divino percebendo “a confusão do pensamento religioso no nosso tempo” (pag. 41) e atesta que o homem de nosso tempo “vive com a consciência explícita de ser um átomo ou um cidadão do Universo” (idem).
A atualidade do texto é porque afirma o autor afirma no início de seu livro algo que tem muito a ver com nossos dias, um despertar coletivo que um belo dia “faz tomar cada indivíduo consciência das verdadeiras dimensões da vida, provoca necessariamente na massa humana um profundo choque religioso, quer para abater quer para exaltar” (ibidem).
Isto acontece porque o mundo é demasiado “belo: é a ele e só a ele que devem adorar” (pag. 42).
O que é então o “meio divino”, o mundo (no nosso caso exploramos as cosmovisões do universo) não será cada vez mais fascinante e não estaria e seria ele a “eclipsar o nosso Deus” (idem), e existe uma conexão, na visão de parte do cristianismo, entre a Deus e a matéria, a eucaristia, ela e só ela pode criar um verdadeiro sentido de nos religar ao divino, “eis o meu corpo e meu sangue” disse Jesus, e quem comer terá acesso a vida eterna.
Afirma Chardin “a tensão lentamente acumulada entre a Humanidade e Deus atingirá os limites fixados pelas possibilidades do Mundo, e então será o fim” (pag. 177) “… que devemos esperar não como uma catástrofe mas como uma ´saída´ para o mundo para a qual devemos colaborar com todas as nossas forças cristãs sem receio do mundo, porque os seus encantamentos já não poderiam prejudicar aqueles para quem ele se tornou, para além dele mesmo, o Corpo d´Aquele que é e d´Aquele que vem”.
CHARDIN, Teilhard. O meio divino: ensio sobre a vida interior. Lisboa: Editorial Presença, s/d.
O lugar do homem na natureza
A natureza mantém uma relação como um todo com o planeta e este tem íntima interdependência com os seres vivos e que por sua vez são interdependentes entre si, assim todos os ecossistemas da Terra são apenas simplificações dos estudos de Biologia e estão separados da totalidade que é o planeta, esta é uma das teses do livro A natureza da NATUREZA, de Edgar Morin que nós já fizemos algumas postagens aqui.
Porém queremos dialogar com o conceito antropocêntrico que domina muitos estudos e cada vez mais vemos que é uma limitação já que a natureza tem seu próprio curso, e a interferência brutal do homem pode modificar e prejudicar este curso.
Segundo Ways (1970) citado em Chisholm (1974) existe uma tendência na epistemologia ocidental de objetivar a natureza para vê-la “do lado de fora”, e está é a responsável pela forma arrogante e insensível de lidar com o mundo natural, segundo o autor mesma atitude de separação do homem da natureza constitui a base do crescente conhecimento humano da mesma, sendo, portanto, uma interpretação antropocêntrica da evolução do mundo natural.
Por outro lado, é inegável a complexificação da natureza no homem, como uma animal que tem consciência, ou dito de outra forma tem consciência da própria consciência, o que pode levar a outro extremo que é a “interiorização” onde cultura e natureza se confundem, onde o subjetivismo pode ser uma tendência responsável por esta vertente.
Já o paleontólogo Teilhard de Chardin em sua obra “O fenômeno Humano”, observa que não há nenhum traço anatômico ou fisiológica que distingue o homem dos outros animais superiores, por outro lado tem a característica zoológica que o faz um ser à parte no mundo animal, é o único que habita todo o planeta, outra característica que vem de sua forma de consciência é a sua organização enquanto consciência e estrutura de pensamento, que Teilhard de Chardin chama de “noosfera”, uma esfera do pensamento também mundial.
Quanto ao home resta saber, e nem a ciência sabe, se é um mero acidente superficial que aconteceu ou se há nele uma intencionalidade desde que o Universo foi criado, seja Big Bang ou não, reflete Teilhard Chardin: “que a devíamos considerar – prestes a brotar da mínima fissura seja onde for no Cosmos – e, uma vez surgida, incapaz de desperdiçar toda a oportunidade e todos os meios para chegar ao extremo de tudo o que ela pode atingir, exteriormente de Complexidade, e interiormente de Consciência” (CHARDIN, 1997).
CHARDIN, T. O lugar do homem na natureza, trad. Armando Pereira da Silva, Ed. Instituto Piaget, Lisboa: 1997.
CHISHOLM, A. Ecologia: uma estratégia para a sobrevivência. Rio de Janeiro: Zahar, 1974.
A finalidade humana e sua finitude
Diferente da máquina que tem como finalidade omeio (ver post anterior), a finalidade humana é reafirmar a existência pela perpetuação da vida, e também tudo que é vivo pode e deve defender esta existência, conforme explica Edgar Morin:
“As imposições que inibem enzimas, genes, e até células, não diminuem uma liberdade inexistente a este nível, pois a liberdade só emerge a um nível de complexidade individual onde há possibilidades de escolha; inibem qualidades, possibilidades de acção ou de expressão” (MORIN, 1977, 110), as máquinas não deixam de ter finalidade, mas sejam quais forem são meios.
Mas esta liberdade quando está no nível humano, e é “só ao nível de indivíduos que dispõem de possibilidades de escolha, de decisão e de desenvolvimento complexo que as imposições podem ser destrutivas de liberdade, isto é, tornar-se opressivas” (idem).
É o desenvolvimento da cultura humana que pode desenvolver estas potencialidades, assim diz Morin: “É certamente a cultura que permite o desenvolvimento das potencialidades do espírito humano” (ibidem), depende, portanto, do desenvolvimento de uma cultura de paz, de solidariedade e de preservação da vida dentro do espírito humano.
Dirá Morin no capítulo de sua conclusão sobre a “complexidade da Natureza”, que no universo dito “animista”, ou mitológico no caso dos gregos, “os seres humanos eram concebidos de modo cosmomórfico, isto é, feitos do mesmo tecido que o universo.” (MORIN, 1977, p. 333).
Esta presença do que Morin chama de “generatividade”, os seres animados e animadores, todos existentes no seio do universo, implicava numa comunicação entre as esferas: da physis, da vida e a antropossocial, se ampliarmos estes conceitos para a esferologia de Sloterdijk: antropotécnico.
Mas conforme raciocinamos alguns posts atrás, a separação da physis em natureza (animada) e física (inanimada) não só “desencantou o universo, mas também o desolou”.
Completa seu raciocínio com uma frase que mostra nossas múltiplas crises e noites: “Já não há génios, nem espíritos, nem almas, nem alma; já não há deuses; há um Deus, em rigor, mas noutro sitio (o destaque é do autor); já não há seres existentes, com excepção dos seres vivos, que certamente habitam no universo físico, mas procedem duma outra” (idem).
Assim conclui que a natureza foi devolvida aos poetas e a physis aos gregos, e assim o universo das técnicas (que são meios) dominou a vida (que é finalidade) e então “a ciência e a técnica geram e gerem, como deuses, um mundo de objectos” (MORIN, 1977, p. 334).
Não deixa que o finalismo (ou fatalismo) seja a última palavra: “é da crise desta ciência que saem os novos dados e noções que nos permitem reconstruir um novo universo” (idem), a física quântica, do terceiro incluído (o quantum entre dois quanta) e a entropia/neguentropia se renovam.
Todo universo é “anima”, também o teológo Teilhard Chardin concorda com esta tese, e também que a vida é a complexificação do universo, no qual o fenômeno humano é seu ápice.
Além da interpretação animista ou mitológica para estas finalidades da vida, que é morte e vida em vida em morte, um princípio heraclitiano também citado por Morin, a reflexão cristão sobre as passagens já citadas anteriores sobre quem é Jesus (Mc 8,27 e Mc 9,31), e Ele devia sofrer muito.
Ela se complementa na questão sobre abandonar aquilo que é finalidade transitória da vida (portanto só meios) e se não for útil para a finalidade última (e, portanto, são apenas meios e devem ser relativizados) se tua mão, teu pé ou teu olho te leva a pecar (esquecer o fim último da vida humana que é a eternidade da vida) é melhor perdê-los para ter a finalidade viva.
Mas sua última palavra é a de aceitação aos que veem esta realidade de modo diferente, se não são contra nós é a nosso favor (Mc 8, 40) e (Mc 8,41) e “quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa”, assim muitos podem cooperar com o crescimento da anima humana, com a vida e a Natureza viva da qual todos dependemos.
MORIN, E. A natureza da NATUREZA. Lisboa PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA, LDA., 1977.
A complexidade e sua gênese
Ao penetrarmos na relação cada vez mais estudada homem-máquina, é preciso entender o que se teorizou até hoje sobre a natureza, o que significa formar um modelo para a natureza, e por sua vez, tornar coletivas e indivíduos humanos e não-humanos, compostos em uma cultura, ou em uma tradição, ou num âmbito mais geral o que está articulado e o que está só configurado.
Ou seja, o modelo pode estar sujeito ao erro ou fracasso conforme as áreas implantadas e podem ser determinados por eles, mas ao rearticulá-lo dentro de sua própria história de criação, não se fazendo a naturalização e sim a culturalização dos conceitos entendemos o modelo que temos a priri, e que nem sempre é a própria natureza.
Quem penetrou mais fundo nesta ideia, foi Edgar Morin e a partir daí concebeu o seu método e desenvolveu a complexidade, conceber a natureza se requer preservar, em última análise, a rede da qual ele emergiu conceitualmente e corrigir onde os conceitos estiveram separados, identificando uma rede.
Então trata-se de identificar a cultura que se desenvolveu em torno da natureza, Morin a coloca em minúscula para diferenciá-la da própria Natureza em maiúscula que é tudo aqui que foi dito e assim desenvolve-se o complexo, que significa aquilo que foi “tecido junto”.
O que então dizemos sobre a natureza é a cultura que foi se desenvolvendo em torno da ideia que poderíamos dominá-la, mas uma das máximas de Francis Bacon é que “não podemos dominá-la se não entendemos”, a moderna física quântica, a astrofísica moderna, mostraram o quão ingênuos eram os modelos de Newton, Galileu e Copérnico, mas eles foram tecidos juntos para chegar aos novos modelos hoje propostos.
Edgar Morin explica a “desordem da ordem” iniciando com duas citações para dizer que a ordem: “leis simplificadas inventadas pelos sábios” (Brillouin, 1959, p. 190), abstrações tomadas pelo concreto (Whitehead, 1926)” (MORIN, 1977, p. 76).
Ela agora segundo Morin está comprimida “entre o caos microfísico e a diáspora”, e importa saber como ela nasceu: “Como se desenvolveu a partir do zero? Como concebê-la apesar da, com a e na desordem? Como pode parecer-nos como única soberana do universo se agora é tão dificil de justificar a sua existência ? (idem).
Qual a gênese? “o conceito de ordem, na física clássica, era ptolemaico. Tal como no sistema de Ptolomeu, onde sóis e planetas giravam em torno da Terra, tudo girava em torno de uma ordem”. (MORIN, 1977, p. 82).
A revolução copernicana no entanto não foi a palavra final: “Hubble retirou-lhe todo o centro astral ou galáctico. E aqui está a grande revolução meta-copernicana e metanewtoniana, que caminhava subterraneamente de Carnot e Boltzmann a Planck, Bohr, Einstein e Hubble. Já não existe um centro do mundo, quer seja a Terra, o sol, a galáxia ou um grupo de galáxias” (idem)
E continua: .”Já não existe mais um eixo não equívoco do tempo, mas um duplo processo antagónico saído do mesmo e único processo. O universo é, portanto, simultaneamente policêntrico, acentrado, descentrado, disseminado, diasporizantes …” (ibidem).
MORIN, E. A natureza da NATUREZA. Lisboa PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA, LDA., 1977.
O grão de trigo morre para dar vida
Talvez o mistério cósmico mais profundo seja a morte e aparecimento de estrelas, planetas, cometas e tantos astros errantes no Universo, e também na vida microscópica é assim, o vírus precisa de uma célula para viver e ali pode causar morte ou vida, eis o mistério cósmico-pascal.
Chardin disse sobre o Universo que na escala do Cosmos: “só o fantástico tem a condição de ser verdadeiro”, as nebulosas são astros com simples composição de Hélio e Hidrogênio (são os elementos mais comuns no universo), quando um gás se contrai esquenta e a temperatura depende da densidade do gás, a queima do Hidrogênio vai causar uma fusão nuclear e surge um sol, se não for suficiente vão surgir as chamadas Anãs marrons, são mais planetas que estrelas.
Quando a estrela vai se esfriando e a densidade diminuir em 8 vezes a massa do sol, ela se torna uma Anã Branca, porém na medida seu combustível nuclear esquenta a temperatura de seu centro, as estrelas se expandem virando as chamadas Gigantes Vermelhas, entre as anãs brancas e as Gigantes Vermelhas estão as nebulosas planetárias que não são propriamente planetas.
Estes são apenas um dos enigmas espetaculares do Cosmos, ainda existem as estrelas de nêutrons, os buracos negros, os asteroides e cometas e agora os recém-descobertos planetas errantes que giram fora do círculo de seu astro principal e vagam pelo imenso universo.
E o que falar das diversas teorias sobre os buracos negros, as teorias mais aceitas é que o que restou da morte da estrela gera as estrelas de nêutrons enquanto se a massa for maior 3 vezes que o Sol gera um buraco negro, mas há outras teorias.
Morte e vida expressos na cosmologia cristã pode parecer distante, mas para Chardin não era, já que ele definia o universo como “cristocêntrico”, ou seja, todo ele vive um mistério pascal.
Assim a passagem bíblica, em especial em João 12,22-33, tem texto bem próximos destes enigmas quando Jesus diz que o Filho do Homem será glorificado (é interessante porque o Filho de Deus tem a dimensão humana na boca de Jesus), e se diz angustiado, e que “que direi? ‘Pai, livra-me desta hora?’ Mas foi precisamente para esta hora que eu vim.”
E diz que veio glorificar o Pai, e isto quando aproxima sua morte de cruz, e diz quando for elevado da terra, atrairei todos a mim, indicando que o caminho da salvação existe, e todo universo vai neste rumo, assim o homem e nosso planeta também tenderá a isto, como via Chardin.
Em palavras mais simples, Jesus explica: se o grão de trigo não cair no solo e morrer, produz fruto.
O futuro humano e a unidade
Diversos pontos do pensamento de Teilhard Chardin são coincidentes com as novas correntes teológicas que surgem no meio religioso, em especial no católico porém Chardin abriu seu espírito ainda mais ao praticamente migrar para a China, o ambiente e a filosofia oriental o influenciou.
A sua originalidade está tanto na síntese evolutiva de sua visão, como vários aspectos de uma escatologia futurista que abrange todo o Cosmos e cuja convergência ele chama de “Omega”, que é uma força individualizada, porém não isolada, diferente de autores que param na crítica ao problema do individualismo contemporâneo sem entender que a individuação tende a este “ponto-Ômega” e é preciso crescer na consciência junto com o desenvolvimento cósmico.
futurística, que a evolução persegue e que atua no nível da consciência humana.
Alguns autores entendem a Cristosfera como recapitulação de tudo, dizem alguns teólogos, mas o processo evolutivo culmina como o homem, mas não termina com o homem, o universo, o homem e a mulher, a trajetória histórica, tudo respondem a um caminho para a Parusia do Senhor, e ela é inevitável e o ponto alto de uma escatologia cristã, e negar o final de tudo é negar o processo escatológico ou ao menos não o compreender em sua plenitude.
Assim afirma o U. Zilles sobre Chardin: “É o Cristo ressuscitado, que incorpora o mundo e a humanidade ao Corpo Místico, no acabamento do Cristo Total”, assim isto significa que a Terra e o Universo estarão preparados para a Parusia do Senhor, ou a volta de Cristo, na escatologia plena.
Como força de ação individualizada Ômega não está sujeito ao tempo e ao espaço (a física atual já mostrou estes conceitos como não absolutos), assim propriedades como autonomia, atualidade, a irreversibilidade e a transcendência não estão submetidas a ações temporais, e sim ao Ômega.
Chardin explica que os múltiplos fatores ecológicos, fisiológicos, psicológicos que aproxima e unem os seres vivos, especialmente os seres humanos e que especialmente as condições ambientais, físicas e espirituais são o prolongamento e a expressão, a um nível de energias da complexidade-consciência que elas podem levar uma maior aproximação do Ômega.
Eram assuntos pouco presentes no mundo eclesial cristão no seu tempo (Chardin faleceu em 1955), e suas teorias pareciam extravagantes demais, porém hoje se fala em diálogo inter-religioso, unidade dos cristãos, e uma maior aproximação de todos da família humana.
Diga -se de passagem que tudo está nas diversas passagens de Jesus (aproximação dos humildes, diálogo com pecadores públicos e por fim entrega nas mãos de maus religiosos e políticos do seu tempo), o que Chardin quer dizer é ainda além, que se entendermos a complexidade-consciência, ajudamos a humanidade a dar um salto de qualidade que nos aproxima mais do ponto Ômega.
A fenomenologia de Chardin é radical porque a Criação é o princípio dos fenômenos, e nela sempre opera o divino, presente nas ações e leis que regem os organismos e seres vivos: Deus está no nascimento e no crescimento e no fim de todas as coisas, […] não se mistura nem se confunde com o ser participado que sustenta, anima e liga” (RIDEU p. 271).
Assim olhar para os fenômenos do universo é olhar para a grandeza e o desenvolvimento humano, não por acaso cientistas buscam em cometas, astros e estrelas de todo cosmos sinais de vida e da origem da vida, ali se encontram também as marcas da Criação e do Criador.
ZILLES, U. Pierre Teilhard Chardin: fé e ciência. EDIPUCRS, 2001, pag. 59-60.
RIDEAU, E. O pensamento de Teilhard de Chardin, Ed. Duas Cidades, 1965, p. 271
A noosfera: da matéria primária ao pensamento
Teilhard Chardin descreve assim a complexificação a partir dos primeiros desenvolvimentos da vida, a passagem crítica da vida das células para uma vida ultracomplexa:
“Provavelmente jamais descobriremos (a não ser que, por sorte, a ciência de amanhã consiga reproduzir o fenômeno no laboratório) – a História por si só, em todo o caso, jamais descobrirá diretamente os vestígios materiais desta emersão – aparição – do microscópico para fora do molecular; do orgânico para fora do químico, do vivo para fora do pré-vivo.” (Chardin, 1965, p. 63)
Embora possa parecer que a natureza teria feito esta preparação sozinha, chama a atenção a originalidade essencial da célula produzindo algo inteiramente novo, e compondo uma multiplicidade orgânica num mínimo espaço, embora o processo possa ter levado anos, cada célula foi longamente prepara para ser algo original.
Será através de discretas, mas decisivas mutações que ocorreram durante milhares e milhões de anos, que a complexidade de células e seres vivos foram se formando sendo possível perceber “os irresistíveis desenvolvimentos que se ocultam nas mais frouxas lentidões, a extrema agitação que se dissimula sob o véu de repouso, o inteiramente novo que se insinua no íntimo da repetição monótona das mesmas coisas” (Chardin, 1965, p. 8).
Foi pela complexificação da vida que surgiu o humano, na origem Deus o fez de matérias inorgânicas, metaforicamente a Bíblia diz do barro, porém é certo que o universo nasceu antes.
Assim o mundo da physis (Chardin vê sua física no sentido grego da palavra) estaria ligada a biologia, e pensa:
“Poderíamos hesitar um só momento em reconhecer o parentesco evidente que liga, na sua composição e nos seus aspectos, o mundo dos proto-vivos ao mundo da física-química ? Quer dizer, não estaremos ainda, neste primeiro escalão da vida, senão no âmago, pelo menos na própria orla da ´matéria´?” (Chardin, 1965, p. 66)
Ao nascimento da vida humana, após bilhões de anos depois da formação do universo, uma grande e decisiva mutação ocorrerá, o nascimento do pensamento e da consciência, e do que Chardin chama de interiorização, que em termos religiosos significa a alma individual que é também ligada ao coletivo, o princípio da associação desde as primeiras células.
Ao pensamento e à consciência desenvolve-se a noção de pessoa, esta experiência foi dada graças ao desenvolvimento cerebral do homem, e aos desenvolvimentos do que Chardin chama de Noosfera, a última etapa depois da Biosfera, a criação e desenvolvimento da vida.
Desenvolver e explicar a cosmogênese chardaniana é um longo processo que nem mesmo em vida ele desenvolveu completamente, muitos avanços da astrofísica atual (muitas descobertas tentam explicar a origem da vida) ajudam a compreensão, o que importa é ressaltar que o panorama de evolução do próprio cosmos, não apenas a Terra, está ligado ao desenvolvimento da consciência e da capacidade humana de ligar-se a harmonia da vida.
CHARDIN, T. O fenômeno humano. BR, São Paulo : Herder, 1965.