Arquivo para março 3rd, 2016
Vida cotidiana e cultura
Em tempos de redes e uma assistência em média caindo dos programas de TV, vide os comentários do Oscar 2016 numa grande emissora, que virou piada na Web, queremos perguntar ainda podemos falar em Industria Cultural ?
Fazendo uma releitura da Obra de Milton Santos, ainda pouco conhecido dos brasileiros, vemos que a transformação que passamos pode ser entendida no que o grande pensador negro brasileiro chamou de horizontalidades e verticalidades.
Pois a vida cotidiana envolve temporalidades distintas e simultaneamente presente, e usa algumas palavras chaves para compreender este momento: tempo real, homogeneidade empobrecedora e heterogeneidade criadora, “relógio universal”.
O “tempo real” refere-se a um “relógio universal”, que e único, movido pela busca das empresas por lucro, o que os americanos chamam “just-in-time”, trazida pelo autor negro, como uma só temporalidade seja considerada, para que entre outras coisas as empresas globais sobrevivam no mundo da competição “sem barreiras”.
Os modos pelos quais as diferentes nações se agruparam em uma configuração mais rígida, através de laços financeiros e comerciais mais íntimos e por meio de um desenvolvimento cada vez maior da tecnologia, a fim de produzir meios de comunicação mais rápidos e eficientes…(Featherstone, 1997, p.128)
Os mídia não utilizam linguagem diversificada, seu projeto é comunicar o consenso. A conseqüência é que acabam por dirimir a diferença, que é a força viva da sociedade. Decretam uma espécie de anulação da diferença cultural, enfatizando um discurso que espalha apenas a semelhança. Sua tendência é a construção da homogeneidade, do mesmo, pela destruição das, conforme Eco, “características culturais próprias de cada grupo étnico”. (Apud ROCHA, 1995, p.64)
Milton Santos explica como as horizontalidades, podem numa sociedade que tem suas racionalidades típicas das verticalidades “mas onde existe a presença de outras racionalidades (chamadas de irracionalidades pelos que desejariam ver como única a racionalidade hegemônica). Na verdade, são contra- racionalidades, isto é, formas de convivência e de regulação criadas a partir do próprio território e que se mantêm nesse território a despeito da vontade de unificação e homogeneização, características da racionalidade hegemônica típica das verticalidades.” (SANTOS, 2001, p.110)
FEATHERSTONE, Mike. O desmanche da cultura: globalização, pós-modernismo e identidade. Sesc Studio Nobel, 1997. ROCHA, Everardo. A sociedade do sonho: comunicação, cultura e consumo. Ed. Murad, 1995. SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro. Record, 2001