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Arquivo para março 28th, 2016

Machado de Assis, simbolismo e política

28 mar

Emprestado por um amigo comecei a ler A poeira da glória: umaEsauJacó (inesperada) história da literatura brasileira, de Martim Vasques da Cunha (Rio de Janeiro: Record, 2015), que é uma tentativa de rediscutir mais que a literatura nacional, perscrutar a alma brasileira.

 

Claro não poderia deixar de estar presente Machado de Assis, destaco aqui segundo o autor a obra de sua maturidade Esaú e Jacó (1904) que ter-se-ia chamado o último, apesar do autor “parecer acreditar que é a falta de sentido o que comanda as coisas deste mundo” (Cunha, 2015, p. 32), típico do niilismo do início do século XX, e da crise já naquele tempo.

 

Toma o conflito (ou os conflitos) presentes na alma brasileira presente na “pobre” Flora: “alma dilacerada entre dois gêmeos rivais – o monarquista Pedro e o republicano Paulo, simétricos em relação aos dois apóstolos e aos dois patriarcas hebreus. Não sabendo quem e o que deve ser escolhido, ela perde suas forças vitais e morreu no auge da juventude … “ (idem).

 

É curiosa a análise de Vasques da Cunha, como a releitura de Esaú e Jacó, diz cunha que é uma espécie de “ontologia do abandono”, com um “perigoso ceticismo em relação aos mecanismos da política” (idem) e neste contexto sua uma figura que é uma espécie de alter ego do Machado de Assis, o Conselheiro Aires, que ficará mais claro no Memorial de Aires, este sim o “último” romance de Machado de Assis.

 

Relata assim Cunha “Aires quer ser a tolerância encarnada, mas tudo o que faz é relativizar as coisas, seja o que é o bom seja o que é o ruim, justamente para não agredir a sensibilidade dos outros. ” (Cunha, 2015, p. 33), o que parece ser o discurso da tolerância atual, ora bolas, a democracia se faz se manifestando isto é o normal, o justo e correto politicamente, claro dentro de uma racionalidade e normalidade democrática que permita isto a todos.

 

O autor crítico de Machado de Assis esclarece, no Memorial de Aires, que ao mudar o nome de “Confeitaria do Império” para “Confeitaria da República”, substituindo o nome daquela que estava “podre por dentro”, em um romance que dá um peso enorme aos nomes, típico do simbolismo, Aires hesita e não sabe o que dizer, então diz que talvez seja melhor escrever “Confeitaria do Osório”, uma espécie de “guardião do povo brasileiro. ”.

 

Wilson Martins se confunde com a opinião de Machado de Assis, que parecia criicar, ao dizer “a proclamação da República, longe de ser a profunda transformação social e política afirmada pelos propagandistas e revolucionários … era apenas uma mudança de tabuleta – a confeitaria continua a mesma. ”. (Cunha, 2015, p. 33)