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Arquivo para janeiro 28th, 2025

A Sociedade em bolhas

28 jan

A questão do Outro surgiu na filosofia em decorrência de uma filosofia egocêntrica vinda do racionalismo extremo, que explora o hedonismo exacerbado, o utilitarismo como forma de vida e de economia, em uma sociedade de direitos sem deveres, onde o que vale para mim não vale para o Outro.

Autores da filosofia como Paul Ricoeur (citado até pelo papa), Emmanuel Lévinas e Martin Buber, vindo de uma filosofia judaica, falam deste emergencial existencial que é a relação com o Outro, porém nossos círculos fechados tentam estabelecer meias verdades narrativas que são válidas somente para nossas bolhas.

A pergunta essencial existencial sobre quem é o Outro?, Martin Buber, em  o Eu e o Tu, chega e ver o mais sagrado no Outro e a pergunta está, de certa forma, em Esferas I Peter Sloterdijk, onde diz que as crianças parecem nascer com uma espécie de “instinto de relações”?  que vai desenvolvendo ao longo do livro a ideia que não nascemos sozinhos e, deveríamos então através de trabalho cooperativo e da linguagem, nos socializarmos, e fazer brotar este instinto interior do relacional.

Sloterdijk rejeita o princípio liberal, idealista e de origem cartesiana, onde o indivíduo isolado busca sua razão existencial, ele parte de uma ontologia onde o primitivo é sempre Dois, porém se incluímos o divino que Buber enxergou, somos três.

Mas não é idealista ao ponto de dizer que estes dois estão fundidos, poderíamos dizer usando o conceito de Gadamer, que vê no “círculo hermenêutico”, uma a “fusão de horizontes”, e assim podemos pensar que o indivíduo que sai da placenta e esta ficará morta, sai de sua bolha primordial, e vai se encontrar de certa forma separado da mãe.

O mundo pré-moderno tinha um modelo, para o qual esta separação não fosse total, de permanecer na subjetividade ou na intimidade (não a interioridade que não separa), isto pode ser visto em alguns povos que plantavam a placenta como as árvores, e outros, como os egípcios que faziam travesseiros, e em túmulos dos faraós eram enterradas com eles, como para permanecer na bolha existencial inicial.

Somos vistos assim na autossuficiência do modelo liberal, mas também este modelo é criticado, por exemplo, por Rousseau, que buscou uma vida isolada do não pensar, ver como na experiência do lago, em seu escrito dos Devaneios do caminhante solitário, compatível como seu modelo do homem do “bom selvagem”, em que se inspiram muitas democracias modernas, Rousseau foi o contratualista deste modelo mais liberal.

Também a esperança de reconquistar uma “vontade geral”, num estado mais forte, onde se proclame uma espécie de “religião nacional”, que hoje eclodem nos nacionalismos em todo o planeta, não são senão uma visão contemporânea, de uma autossuficiente das “bolhas” de diversos tipos de fechamento social em “comunidades”, mas com um princípio egoísta dentro, aquilo que Sloterdijk chama de “comunidade insuflada”, as mídias sociais são apenas “meios” onde estas ideias de bolhas se propagam.

Elas estão nos círculos fechados da maioria das organizações sociais de hoje, e para nos abrir para as bolhas é preciso ver o Outro não como um “perigo”, mas como solução.