Consciência líquida da Modernidade
Boaventura de Souza Santos empresta o conceito de “mundo objetivo” para explicar como diferentes atores agem na sociedade moderna, ou pós-moderna como continuidade desta, explicando os dois pilares da racionalidade que compõe seu projeto sociocultural: um da emancipação e outro da regulação.
Bauman é uma figura que oscila entre estes dois pilares por isto encanta tanto a religiosos pretensamente “emancipadores” quanto estatistas “iluministas” defensores da regulação do estado, quer no pretenso papel do “welfare state” quer no projeto social, que no fundo são a mesma coisa, dar migalhas as camadas menos abastadas para impedir seu ímpeto de uma mudança mais profunda no sentido de uma sociedade mais igualitária.
Foi J. Habermas que criou este conceito de mundo objetivo afirmando “o mundo apenas cobra objetividade em virtude de ser reconhecido e considerado como único e o mesmo mundo por uma comunidade de sujeitos capazes de linguagem e ação” (Habermas, 1987, p. 30).
Ulrick Beck e Anthony Giddes vão para outro extremo, subjetivista onde Beck usa a expressão modernidade reflexiva, já que acredita que a modernização reflexiva poderia responder às certas lacunas de descontinuidades da modernidade, geradas a partir das vivências idealistas.
A modernidade tardia indica uma mudança no modo de vivenciar as relações, assim existe uma identidade com a razão como elemento ordenador que produz confiança e minimiza os riscos, assim o indivíduo deveria confrontar seus exageros (de consumo, de erotismo e outros) e assumir-se assim como um objeto de reflexão capaz de fazer uma crítica racional sobre o próprio sistema, tornando-se um tema e um problema para si e nunca ou quase nunca para o sistema como um todo.
A única possibilidade de segurança ontológica, é ter a capacidade de “re”-inventar as tradições e se afastar das tradições genuínas da modernidade, isto é, aqueles valores radicalmente vinculados ao passado pré-moderno, lá está na origem a descontinuidade da modernidade, a separação entre o que é realmente novo e o que persiste como boa herança do velho.
Martha Nussbaum, Peter Sloterdijck e outros identificam esta descontinuidade na origem do pensamento kantiano e não na liquefação moderna, já que isto não é senão saudosismo iluminista (a tradição reguladora do estado) ou a emancipação ilusionista (esmola aos pobres).
A modernidade é liquida desde seu nascedouro, porque dividiu a sociedade em dois pedaços e o pensamento entre a objetividade e a subjetividade, onde o Ser ontológico não é possível.
Para realizar seus projetos idealistas tradicionalistas ou emancipadores precisam culpar o homem, seus desejos e avanços, porque no fundo não veem saída alguma, veem apenas problemas onde já há sementes das soluções emergindo.
Habermas, J. The theory of communicative action. Vol 2. Lifeworld and sistem: A critique of functionalist reason. Boston, Beacon Press, 1987.