Arquivo para abril 5th, 2015
Raízes do Brasil: o homem cordial e o patrimonialismo
Quando foi escrito na década de 30, Raízes do Brasil, se inseria no contexto de questões que mobilizaram a intelectualidade dos anos 30, e tinha como objetivo entender a “cultura” brasileira, e com a nascente urbanização que criava um “desequilíbrio social, cujos efeitos permanecem vivos ainda hoje” (Holanda, 1930, p. 175) e criou que no século XXI ainda.
Sérgio Buarque de Holanda desenvolve dois conceitos novos o patrimonialismo tomado de Max Weber, caracterizado para elucidar o problema sociológico a partir do que chama de “homem cordial”, expressão tomada de Rui Ribeiro Couto, um diplomata, poeta, contista, romancista, magistrado e jornalista, nascido em Santos, em 1898.
Ao contrário do que pensa parte da historiografia brasileira, Holanda desmascara a apenas aparente sociabilidade, ele mostra que esta mentalidade “cordial” impõe ao indivíduo mas não exerce um efeito positivo a ideia de uma estruturação a ordem coletiva, e também de um saber aparente que encobre a falta de capacidade quando aplicada ao objetivo exterior.
Tal é a formação dos bacharéis no Brasil, poderíamos dizer não raramente relacionados a formas grotestas de exibicionismo, improvisação e falta de aplicação de discursos vazios, mas cheios de pompa, pode-se dizer de certa forma tendo origem no positivismo brasileiro, tão claramente expresso na Bandeira nacional “ordem e progresso”, vindas das reformas pombalinas portuguesas, com a ideia de expulsar os jesuítas, mas introduzindo o positivismo.
O patrimonialismo de Buarque de Holanda, é tão atual quanto a discussão do público e privado, esclarece ele: “ eles se caracterizam justamente pelo que separa o funcionário ‘patrimonial’, a própria gestão política apresenta-se como assunto de seu interesse particular; as funções, os empregos e os benefícios que deles aufere relacionam-se a direitos pessoais do funcionário e não a interesses objetivos, como sucede no verdadeiro Estado burocrático … “ (pag. 175).
Como se escreve para os dias de hoje, ele afirma; “ao longo da história, o predomínio constante das vontades particulares que encontram seu ambiente propício nos círculos fechados e pouco acessíveis a uma ordenação impessoal” (pags. 175-176).
Desta relação mentirosa de puro interesse decorre o “homem cordial”, pois “a vida em sociedade é, de certo modo, uma verdadeira libertação do pavor que ele sente em viver consigo mesmo, em apoiar-se sobre si próprio em todas as circunstâncias da existência” (pag. 177) e não se trata de individualismo ou falta de sociabilidade, mas de sociabilidade falsa.
Justamente esta ausência de uma verdadeira sociabilidade fará o brasileiro vestir, isto está também em Casa Grande e Senzala de Gilberto Freyre, “a manifestação normal do respeito em outros povos tem aqui sua réplica, em rega geral, ao desejo de estabelecer intimidade” (p. 177), mas uma verdadeira sociabilidade e respeito mútuo externo são sempre difíceis.
Há quem faça a análise deste ‘homem cordial’ do patrimonialismo, do falso intimismo e do falso coletivismo como algo superado, olhe a realidade brasileira e verá que está aí.