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Arquivo para abril 6th, 2015

Estamento, corrupção e política

06 abr

A estrutura de classes, em países onde houve um capitalismo fértil e duradouro, quase sempre com todasPatrimonialismo as contradições que lhes são inerentes: exploração, consumo, variações de preços e crises cíclicas, acabaram por desenvolver estruturas onde o estado intervém como mediador de conflitos e permite certas regalias em tempos de expansão econômica, mas onde a corrupção não é tolerada.

As estruturas herdadas em países saxões nas Américas diferem profundamente da estrutura de colonizações ibéricas que envolvem toda a América Latina, Max Weber analisou isto, explicando que esta se constitui numa teia de relacionamentos em determinado poder que influi em algum campo determinado de atividade, isto não é novo e tem origens históricas.

Nas palavras de Raimundo Faoro: “O estamento burocrático comanda o ramo civil e militar da administração e, dessa base, com aparelhamento próprio, invade e dirige a esfera econômica, política e financeira. No campo econômico, as medidas postas em prática, que ultrapassam a regulamentação formal da ideologia liberal, alcançam desde as prescrições financeiras e monetárias até a gestão direta das empresas, passando pelo regime das concessões estatais e das ordenações sobre o trabalho. Atuar diretamente ou mediante incentivos serão técnicas desenvolvidas dentro de um só escopo. Nas suas relações com a sociedade, o estamento diretor provê acerca das oportunidades de ascensão política, ora dispensando prestígio, ora reprimindo transtornos sediciosos, que buscam romper o esquema de controle”, na obra de Raymundo Faoro “Os donos do poder” (2ª. Edição é de 1973, editora Globo), que explica muito a realidade brasileira.

A concepção de Estado patrimonialista, é aquela em que a propriedade individual é concebida pelo estado, chamada por Faoro de “sobrepropriedade” da coroa aos seus súditos e também o Estado sendo redigido por um soberano e seus funcionários.

Estes setores, predominantemente de classe média que vão ocupar altos cargos em estatais, concessões, bancos (em vias de privatizações) quase sempre ligados ao poder político, acabam constituindo uma rede de favores que por fim orienta o poder político.

O fato novo no Brasil, junto com a classe C cuja sustentabilidade é duvidosa, pois parte dela é financiada por cartões de créditos, também empresas e setores estatais tiveram um inchaço devido a um grande plano de obras públicas, mas com poder de fogo limitado, e agora já em cortes cada vez mais profundos para reduzir o déficit público.

Se é verdade que a corrupção está nos estamentos, funcionários e servidores públicos, e de  empresas estatais, também é verdade que há uma conexão bastante forte com setores políticos e sem a eliminação deste poder não adianta estabelecer regras, os corruptos são justamente aquelas pessoas que não querem cumprir as regras, ou relativizam estas.