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Arquivo para setembro, 2023

Temores de uma 3G

04 set

Uma terceira guerra mundial (3G), que seria a maior crise civilizatória já ocorrida, parece chegar junto com a proximidade do outono europeu, entrevistas de um repórter da BBC em Moscou dão conta que há um clima de patriotismo e apoio a guerra na Ucrânia, ainda que seja chamada pelo eufemismo de “operação militar especial”.

O repórter entrevistou o blogueiro Andrei Afanasiev, pró-Kremlin e professor universitário, e também ouviu o outro lado de analistas militares que dizem que a propaganda estatal esconde os fracassos e perdas militares na guerra, entrevistou ainda atividades anti-guerra embora a maior tenha deixado a Rússia ou esteja presa.

O cenário apesar de uma boa quantidade da população manter certa indiferença é de um clima crescente de guerra, algum medo do futuro e nenhuma esperança de paz a vista.

O envolvimento da OTAN cada vez mais declarado e ostensivo cria um clima ainda pior, na semana passada houve um ataque ao aeroporto russo de Pskov, e na Ucrânia ameaça de bombas nas escolas que estão retornando as aulas, desde o início da guerra 3.750 escolas foram parciais ou totalmente destruídas por mísseis e bombas, segundo a Ucrânia.

Noutro front que começa a se desenha uma guerra, após as eleições houve um golpe militar no Gabão, país de língua e influencia francesa, o presidente reeleito Ali Bongo Ondimba, cuja família governa o país a 56 anos, encontra-se preso e as eleições foram consideradas fraudulentas.

Países da União Centro-Africana condenaram o golpe, agora cresce o número de países que não se alinham ao Ocidente e uma guerra pode se iniciar na região que já assisti a outros golpes e juntas militares governando os países, recentemente houve em Níger com apoio da Rússia  (Mali, Guiné, Burkina Faso, Chade e Tunísia são ex-colônias francesas) (veja o mapa).

Na famosa crise dos mísseis em Cuba, três generais da Marinha Soviética deveriam aprovar o disparo de mísseis segundo protocolo russo, mas um deles Vasili Alexandrovich Arkhipov era contra, e isto evitou um holocausto nuclear trágico, a esperança é que existam outros Vasilis que impeçam a guerra 3G.

 

Religiao, Filosofia e Humanismo

01 set

Nem é religioso aquele que simplesmente proclama uma fé sem conhece-la, nem aquele que segue uma série de preceitos sem entender os fundamentos. No cristianismo o que é Amor, a filósofa Hannah Arendt, por exemplo, estudou como seu doutorado “O amor em Santo Agostinho” enquanto Edith Stein descobre a partir da filosofia e de Santa Tereza d´Ávila um caminho religioso e tornou-se freira e mártir (morreu em Auschwitz).

Há muita apologia a superstições e crendices no meio religioso, porém elas não eram desconhecidas por Jesus, é famosa a questão do sábado, que Jesus pergunta se é justo salvar alguém de uma doença no sábado (Mateus 12,10),  chama os fariseus de “sepulcros caiados” (1Jo,2,27) e por fim termina por último revelando aos apóstolos que deverá sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e mestres da lei (Mateus 16,21-22), ao que Pedro se assusta e pede que isto não aconteça, e Jesus o repreende e o chama dizendo que ele não tinha uma inspiração divina.

Assim não é o modelo de vida pública de muitos religiosos nominais, falsos profetas e gente com pouca profundidade de fé que podemos entender o que é religião, mas há um sentido antropológico, filosófico e claro teológico que dão base aos ensinamentos do amor, do suportar a cruz, de não construir ódio, vingança ou rancor a moda daqueles que não creem.

Agostinho superou o dualismo maniqueísta do bem contra o mal, trata-se do Amor que é muito superior a tudo e o mal é apenas sua ausência, Boécio e depois Tomás de Aquino instituíram a questão da pessoa e do Ser, que é parte da polis, mas inseparável dela.

A importância de Severino Boécio, venerado como santo pela igreja católica (sua data é 23 de outubro) para a história da ciência e da filosofia, da “querela dos universais” e da importância da razão, de Tomas de Aquino e de figuras atuais como Edith Stein não separam a fé do pensamento humano e do humanismo contemporâneo.

O humanismo antropocêntrico do período renascentista, a questão da perspectiva foi central na pintura e nas artes, mas é também deste período A Utopia de Thomas Morus.

Disto nasceu a modernidade e seus dualismos (objetivo x subjetivo, corpo x mente, espiritual x material) parte do dualismo ontológico: o ser é e o não ser não é, entretanto, há agora o princípio do terceiro incluído vindo de Stéphane  Lupasco e Barsarab Nicolescu, é físico e real.

É tempo de rever o humanismo e nenhuma face da realidade humana pode ficar sem uma necessária revisão: o que é o Ser, o que é a ideia (o eîdos grego ligado ao Ser) e o que significam os mitos e cosmogonias modernos diante de um olhar mais profundo ao sagrado com diálogo e profundidade.