O ser ainda dissociado das coisas
Os mais pragmáticos pensadores sobre a “condição humana” (Hanna Arendt), a “modernidade Líquida” (Bauman) e até mesmo a questão do “ser” (Heidegger) e do “outro” (Levinas e Paul Ricoeur), não rompem definitivamente com o idealismo de Kant que vê objetos fora do sujeito, e precisam de alguma forma de algum “sujeito transcendental” para auxiliar o “ser” a aproximar-se dos “entes”, ou seja, das coisas existentes.
A descoberta que devemos cuidar de nossa casa, ou seja, o planeta que habitamos ainda é uma sutil consciência de nossa relação com os objetos naturais, tão bem descritos por Edgar Morin, no seu Método, ao escrever sobre a Natureza da Natureza: “(…) para evitar a disjunção entre os saberes separados, obedece a uma sobressimplificação redutora, amarrando o universo inteiro a uma única fórmula lógica” (Morin, 1977, p.18).
Assim é preciso pensar na coisa como ela mesma, ou como afirmaria Edmund Husserl: “voltar as coisas mesmas” para entender que papel o homem tem com elas e não sem elas, que seria uma “transcendência”, mera irrealidade.
A leitura ainda insistente no tema, por semiótico e tecnosociólogos (tecnosocial é uma categoria emergente), levou Sterling* a pensar em algo como separar os humanos e os objetos para “compreendê-los como um sistema compreensivo e interdependente”, mas ainda não é retornar ao “ser” e nem ao “ente”, não é senão enfiá-los em simulacros (Baudillard) para dizer que ambos estão reificados.
Nós sempre nos relacionamos com as coisas, sejam elas pedras lascadas rudes do homem primitivo, sejam elas, modernas redes eletrônicas, a internet.
Confundir aqui o que está separado (no sentido de estar fora do “ser”) com aquilo que está dissociado, é uma circularidade “multiladora” afirma o mestre Morin, assim não devemos pensar em conceitos como matéria, espírito, energia, informação, luta de classes, como sendo equipotentes e fora do “ser”.
Uma pretensa “nova ontologia” que procura ver o objeto implicado por um fator de Zeitgeist (espírito do tempo) está inserida em uma nova tendência filosófica que emergiu sob o nome de realismo especulativo, ou filosofia orientada para o objeto, mas não é outra coisa senão um novo objetivismo, idealista ao separá-lo do sujeito, ela é então contraditória, uma “ontologia” do objeto mas “onto” é “ser” do grego.
*STERLING, B. Shaping Things. Cambridge, Mass.: Mit Press, 2005.