Gadamer e a hermenêutica filosófica
O filósofo Hans-Georg Gadamer (1900-2002) aparece logo na introdução de sua principal obra “Verdade e Método“, ele declara qual é o propósito desta obra e de certa forma de seu pensamento filosófico: «A hermenêutica aqui desenvolvida não é, por conseguinte, uma metodologia das ciências humanas, mas uma tentativa de compreender o que as ciências humanas são na verdade, para além da sua autoconsciência metodológica, e o que as liga à totalidade da nossa experiência do mundo», o que revela uma tentativa de compor o conhecimento fragmentado a partir da filosofia.
Assim o objetivo de Gadamer não é, como pode há algumas interpretações, apenas a necessidade de uma obra metodológica no seio das ciências humanas, ou mesmo retomar uma disputa já um pouco desgastada o método entre as ciências naturais e as ciências humanas, porém permitir no âmbito do caminho inter e transdisciplinar que desponta, é o de dar discernimento e que tipo de verdade se podem “desvelar” nas ciências humanas.
Um aspecto essencial e pouco claro por causa de um discurso relativamente complexo, é que sua obra vê nas diversas filosofias um diálogo entre o passado e o presente, e sua própria obra é a continuidade de um diálogo convergente do pensamento atual existencial-ontológica.
Para Gadamer a experiência hermenêutica não é monológica, como a ciência, mas em que pese toda uma cultura centrada no Eu é possível uma leitura dialógica ou dialética num sentido diferente daquele da história universal de Hegel: «Tal como uma pessoa procura chegar a acordo com o seu parceiro (de diálogo) em relação a um objeto, também o intérprete compreende o objeto a que o texto se refere (…), ficando ambos em produtiva conversa, sob influência da verdade do objeto e ligados assim um ao outro numa nova comunidade», na qual «deixamos de ser aquilo que éramos», ou seja, há um diálogo ou uma resposta a autores diferentes no sentido que cada um responde a discursos anteriores.
Assim é possível numa análise textual, que o leitor leia escutando uma voz não familiar, permitindo que ele questione as suas preocupações atuais a luz de diversos pensamentos.
Mas devemos entender que o que nos “diz” um texto depende, por outro lado, qual é o tipo de perguntas que pode ser feitas claramente a determinado pensamento, bem como do nosso ponto de vista na história e da nossa capacidade de reconstituir aquela “pergunta” para a qual o texto é uma “resposta”, uma vez que o texto também é um diálogo com a sua própria história através do pensamento, então estamos diante da superação de cada dicotomia.
A história vista como “diálogo interminável” constitui uma visão de abertura total ao passado, ao presente e ao futuro.