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Diálogos infringentes

21 set

O recurso da dialogia, podemos encontra-lo em autores díspares comodialogos o judeu austríaco Martin Buber (1878-1965), o marxista M. Bakhtin (1895-1975) ou o educador brasileiro Paulo Freire, mas a prática do dia a dia, em momentos de tensão política, ideológica e social, mostra-se uma dificuldade imensa.

 

Por razões culturais e do pensamento, não se trata de nada líquido, mas um sólido pensamento idealista e fragmentador, nossa necessidade de fragmentar é mais forte que a de integrar, por uma razão cotidiana muito simples, não se deseja ouvir o contraditório.

 

Em justiça para que alguém seja julgado, é necessário sob as penas da lei, que o acusado tenha um defensor, quando não tem dinheiro para isto existe a figura do defensor público, e será este a apresentar o contraditório, mas por falta de cultura democrática não ouvimos o “outro lado”, via um candidato no Rio de Janeiro apresentando-se em uma universidade, não era ninguém de extrema direita, que não conseguia dizer seu pensamento e parte do público o ofendia, pela única razão que era um candidato religioso.

 

Este automatismo concordo ou discordo, direita ou esquerda (ideologicamente com um pensamento estruturado há pouquíssima gente hoje deste tipo), e a razão é simples não podemos lidar, mesmo que de modo temporário, com o desconhecido, com o diferente ou com o discurso que não seja o nosso.

 

Em justiça quando a defesa não foi amplamente ouvida ela tem dois recursos: os embargos infringentes e os embargos de declaração, os segundos são mais simples, é quando uma pessoa resolve só para constar declarar “seu voto”, ou poderíamos dizer sua convicção, em geral, é quando o diálogo não teve a eficácia necessária.

 

O embargo infringente, aqui fazemos uma analogia colocando o diálogo infringente é uma tentativa de mostrar as falhas no processo e que a necessidade da ampla defesa não foi plenamente satisfeita, no caso do diálogo, o Outro não foi suficientemente ouvido.

 

Hoje parece necessário uma vontade política para o diálogo, mesmo que seja o diálogo infringente, que nos obrigue a ouvir de modo mais profundo o contraditório, e veremos que será apenas o diferente, e há onde recomeçar, pode-ser-ia dizer o ´radicalismo do diálogo’.

 

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