O Ser, os gregos e o céu
O nosso tempo carece de uma cosmologia, de um olhar para o infinito, todas as civilizações tiveram suas cosmologias, e a nossa ocidental as perdeu.
Os pré-socráticos, que em sua visão, viam uma manifestação quando se falava na questão do Ser e/ou a “possibilidade” do desvelamento (aletheia) ou da “ocultação” natural, isto é, o que somos se oculta.
Heidegger propõe uma releitura dos pré-socráticos de maneira diferente das que foram feitas pela tradição, isto é, Platão e Aristóteles entre outros posteriormente, porque passaram a olhar somente o EU e em alguns casos o NÓS, mas sempre numa dinâmica finita (O Sumo Bem de Platão) ou estática (O motor imóvel de Aristóteles).
O que eles entendiam por Céu, não ampliava os sentidos para além de uma epifania (epiphaneia), para ver o Céu como nossa origem cósmica, fato distorcido no transcorrer do tempo, e que parte da exegese cristã não deixou de ser vítima, uma vez que o teocentrismo tem como catarse no final da idade média exatamente o problema do movimento dos planetas e da centralidade do sol, mas a questão posta era outra: a Bíblia pode ser interpretada, pode haver uma questão hermenêutica na leitura bíblica ?
A Filosofia contemporânea é quase toda racionalista, é possível através de uma nova cosmologia, uma possibilidade de “reviravolta” que poderia reativar o nosso pensamento à filosofia originária, aquela que remete aos nossos ancestrais e ao que verdadeiramente somos, e não ao que fazemos, que é ideológico.
Chamamos de experiência e de fenômeno apenas o mundo sensível, sem este olhar para o inifinito, tanto o infinitamente grande (não necessariamente o absoluto) como o infinitamente pequeno, conforme comenta Blackburn sobre a Fenomenologia de Husserl:
“(…) Husserl percebeu que a intencionalidade era a marca da consciência, e viu nela um conceito suscetível de ultrapassar o dualismo tradicional da mente-corpo. (…) Apesar da rejeição do dualismo por Husserl, sua crença na existência de algo que permanece depois da epochê, ou suspensão dos conteúdos da experiência, o associa à prioridade às experiências elementares da doutrina do fenomenismo, e a fenomenologia acabou por sofrer, em parte, com a superação dessa abordagem aos problemas da experiência e da realidade. Contudo, fenomenólogos mais recentes, como Merleau-Ponty, fazem plena justiça à natureza mundo-envolvente da experiência.”
Não há nada mais difícil para a filosofia contemporânea do que o epochê, suspensão de juízo sobre os conteúdos, e o desvelamento aletheia, porque ela está viciada tanto ideológica como filosoficamente.
Minha homenagem a defesa de dissertação de meu aluno Ramon Ordonhez, sobre o tema.
Blackburn, Simon. Contributions to Philosophy: From Enowning, Indiana University Press, 1997.