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A simbólica do Mal

02 mai

Treze séculos após a “conversão” de Agostinho de Hipona que trocou o maniqueísmoBemMal pelo cristianismo, a chave de leitura sobre o “mal” volta a tona com um dos maiores hermenêuticas do século XX: Paul Ricoeur (1913-2005).

Sua extensa obra filosófica com cerca de 30 livros, além de conferências e entrevistas, ele retoma a questão do mal, que para Agostinho de Hipona é a “ausência do bem” e vai discutir a presença do mal através da “simbólica” do mal.

A hermenêutica de Ricoeur guarda a tradição fenomenologia, mas busca em caminhos originais e distante de preconceitos alcançando fontes inéditas e leituras inusitadas.

Para Ricoeur só pode-se ter acesso ao ser humano de forma mediada, por meio de seus símbolos e mitos, coisa ignorada pela “secura” espiritual do pensamento moderno.

Para ele enquanto o Idealismo Hegeliano (que pretendeu ser uma “Fenomenologia do Espírito”) que reduziu o homem ao espírito e o Positivismo ao estado de objeto, da “coisa” e por isto casou-se bem com o materialismo.

Já tarefa da fenomenologia hermenêutica tem a tarefa de recuperar aquilo que caiu no esquecimento, isto é, “voltar às coisas mesmas” como afirmou Husserl, e fundar uma “filosofia verdadeira”, mas Ricoeur descobrirá também a insuficiência da fenomenologia.

O que há acesso no acesso ao em si, é um mundo que carece de interpretação, pois é simbólico, no sentido que é uma consciência voltada para algo, porém que também deve se voltar ao que é o sentido, um o mundo dos significados, que deve antes de voltar a compreensão de si.

O desenvolvimento desta simbólica, é o que Ricoeur vai chamar de “via longa”, não em oposição a via curta dos místicos, que é o Amor agápico, mas em oposição a hermenêutica que Gadamer chama de romântica de Dilthey, e que no caso de Ricoeur é

busca uma “via longa”, tem a ontologia como um horizonte, para chegar a compreensão do ser é preciso passar pela análise das linguagens, compreensão dos signos, símbolos e sua reflexão. O motivo pelo qual Ricoeur não aceita esta inversão proposta por Heidegger, embora ele uma discordância de Heidegger, já que sua hermenêutica simbólica tem também a ontologia como um horizonte, mas que a faz pela mediação do conflito e pelas de interpretações distintas das coisas “em si”.

Para Ricoeur, símbolo e interpretação tornam-se conceitos correlatos: “há interpretação onde existe sentido múltiplo, e é na interpretação que a pluralidade dos sentidos é manifesta” (RICOEUR, 2013).

Mas para ele o símbolo é mais que um signo “porque está no lugar de” de forma diferente, expresso por ele da seguinte forma:

“Chamo símbolo a toda estrutura de significação em que um sentido direto, primário, literal, designa por acréscimo um outro sentido indireto, secundário, figurado que apenas pode ser apreendido através do primeiro. ” (RICOEUR, 2013).

Aos poucos, vamos penetrar nesta “simbólica do mal” auxiliado por Ricoeur, para entender como este ainda atrapalha não o caminhar que é ontológico da humanidade, mas a interpretação dos caminhos e a compreensão das veredas da consciência.

RICOEUR, P. A simbólica do mal. Lisboa: Edições 70, 2013.

 

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