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Imaginário, utopia e ideologia

11 mai

Embora tenhamos feito uma tradução nossa, preservamos o texto original,Utopia2 pois os conceitos aqui como, por exemplo, boa vida, não tem relação com bon vivant e o original é importante.

Imaginário já teve para o pensamento a mesma confusão que existe hoje para o virtual, o esclarecimento de Ricoeur em sua obra desfaz esta confusão: “a evocação arbitrária de coisas ausentes, mas existindo alhures” (Ricoeur, 1986, p. 215), assim como os “retratos, quadros, desenhos, diagramas, etc. … cuja função é fazer o papel das coisas que representam” (Idem).

Mas não deixa de perceber que existe o uso da imagem no sentido irreal, neste sentido imagem e imaginário tem funções práticas, designa “as ficções que não evocam coisas ausentes, mas coisas inexistentes … aplica-se ao campo das ilusões” (idem) que leva aquele que se entrega a elas a acreditar que o objetivo visado é um objeto real.

Faz aqui uma importante relação aos conceitos idealistas de sujeito e objeto: “as ficções que não evocam coisas ausentes, mas coisas inexistentes … aplicação ao campo das ilusões” (idem) que leva ao que se entrega a ela a acreditar que o objeto visado é real, eis o que é ideologia no sentido ideal, mesmo que não sejam objeto de conceitos liberais, são ainda hegelianos.

Este tipo de consciência leva “do lado do sujeito, ao eixo da consciência fascinada e da consciência crítica (idem), e aqui Ricoeur supõe que o imaginário, o simbólico, o mítico e o ficcional podem ter um valor de verdade, isto é, permitem descrever a condição humana, fazendo perceber novas possibilidades existenciais, e isto nos parece muito atual.

O que Ricoeur propõe é discernir as funções positivas tanto da ideologia como da utopia: esta constitui “uma interpretação da vida real (sendo) a expressão de todas as potencialidades de um grupo que se acham reprimidas pela ordem existente” (Ricoeur, 1986, p. 387-388).

Ricoeur entretanto, dá uma diferença essencial entre as duas, o tema do poder, e na medida em que “quer ser uma escatologia realizada”, deve ter a função, este é o problema, de “manter aberto o campo do possível” (1986, p. 389-390) e nisto entra a ética.

Escreve ainda uma pequena ética em discerne a ação uma nova cultura de paz ” e seu desafio é a mundialização da não violência”, “face externa da virtude da prudência” (1986, p. 402).

Nisto entra a função da ética da utopia, pois esta pode instaurar um bem viver “juntos”, que o autor deixa claro ao criar uma regra de ouro resumida como “viver a vida boa, com e para os outros, em instituições justas” (1990, p. 199-236).

Claro que isto remete ao conceito de bem que é o da vida boa, não adotar aqui o sentido jocoso de bon vivant não é isto, mas o bem da filosofia clássica, assim a cidade do futuro e não o governo do futuro, pois lá vivem cidadãos que fazem sua micropolítica, sendo aquela que vai em direção a cidade ideal pela “educação de todos para a liberdade, pela discussão” (1986, p. 400), embora é claro, isto exija um Estado ético, mas não é ele senhor das opiniões.

O estado ético, definido por Ricoeur define-o como“sua virtude é a prudência

RICOEUR, P. Du texte à l´action. Paris Seuil, 1986.

RICOEUR, P. Soi-même come un autre. Paris: Seuil, 1990.

 

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