Entre o público e o privado: a transparência
O termo parece um slogan de propaganda político, e de fato pode ser, a ideia que tudo pode ser revelado e o controle de aparatos, principalmente presidenciais, sobre o que pode e deve ser divulgado pode ao contrário do que anunciam muitos, estar fortalecendo serviços feitos às sobras, o desaparecimento da privacidade, o colapso da confiança e aspectos cruciais para manter a democracia e o controle econômico.
O livro de Byung-Chul Han é uma denúncia que o ideal da transparência pode ser tão falso quanto as piores utopias e mitologias modernas: a desconfiança de todos e a falta de privacidade por uma “homogeneização” da interpretação dos fatos.
Qualquer pessoa com instrumentos adequados pode obter informação sobre praticamente qualquer assunto, desde que disponha de instrumentos e muitas vezes força econômica para fazê-lo, e isto já revela uma das possíveis manipulações.
Grupos poderosos, grupos perigosos e principalmente políticos mal-intencionados podem usar a informação disponível para fazer uso inadequado da informação disponível.
Depois de publicar A Sociedade da Transparência, A Sociedade do Cansaço e A Agonia de Eros do filósofo germano-coreano Byung-Chul Han entra em outra seara.
Sociedade da Transparência é uma tradução de Miguel Serras Pereira direta do texto alemão Transparenzgesellschaft, no original, de Byung-Chul Han. Em Portugal o livro foi publicado em Setembro de 2014, na colecção Antropos, da editora Relógio D’Água.
Byung-Chul Han denuncia neste livro: “A Sociedade da Transparência” (Editora Espelho d´Agua, 2014) é que a transparência total é um ideal falso, e segundo o autor a mais forte e perigosa das mitologias contemporâneas, revela sua ingenuidade e estranheza “quando chegou na Alemanha: De filosofia não sabia nada. Soube quem eram Husserl e Heidegger quando cheguei a Heidelberg” (HAN, 2014).
Critica o que chama de “transparência é desprovida de transcendência” (idem, p. 59): “A sociedade positiva evita toda a modalidade de jogo da negatividade, uma vez que esta detém a comunicação. O seu valor mede-se exclusivamente em termos de quantidade e de velocidade da troca de informação. A massa da comunicação aumenta também o seu valor econômico. Os vereditos negativos toldam a comunicação (HAN, 2014, p. 19).
Qual o remédio, há informações que devem permanecer privativas, mas quais ? quem as controlará ? eis as questões que devem ser respondidas.
Han, B.C. A Sociedade da Transparência. Lisboa: Relógio D’Água, 2014.