Arte digital, meditação e futuro
Uma das exposições mais radicais de arte digital foi feita por Nicolas Maigret e Brenda Howell, intitulada “The Pirate Cinema”, usa trocas em sistema bit-torrente P2P e telas onde se exige o usuário que está baixando e as fontes dos filmes, com os IP (endereço de internet) mostrados nos cantos direitos de três telas, sendo o ambiente escolhido para o projeto de arte o “Torrente Freak”, e pode ser vista online pelo link da exposição (foto ao lado).
O conceito mais raso de arte digital é aquele que pode ser encontrado também no Wikipedia, que diz que é aquela produzida em ambiental gráfico computacional, também é citado lá a definição de Wolf Lieser, segundo o qual: “Pertencem à arte digital as obras artísticas que, por um lado têm uma linguagem visual especificamente mediática e, por outro, revelem as metacaracterísticas do meio”, esta mais ampliada que à anterior.
Mas ambas remente a um conceito bem mais complexo que lhe é anterior: o que é arte ? Haveria uma propósito metafísico, simbólico ou linguístico na arte ? ou algo mais ainda ?
Já esclarecemos a falsa dicotomia entre objetividade e subjetividade da arte, também a dicotomia utilidade e inutilidade, uma vez que esta depende somente da perspectiva de leitura, vejam a fonte de Duchamp, e ainda teria mais a questão de metacaracterísticas, dita acima, mas na verdade não são as características que são ultrapassadas, mas o próprio meio que é um metameio, isto é, podem acontecer de forma indireta todas as artes anteriores.
Exemplo destes metameios são as fotografias digitais imediatamente reveladas e facilmente trabalhadas por software, as edições de vídeos e a produção textual em qualquer estilo.
A questão da reprodutibilidade técnica da obra de arte deve-se entender que é anterior a era digital, a obra de Walter Benjamin, falecido em meio a segunda guerra mundial, já definia bem o novo perfil da arte anterior ao digital: “O extraordinário crescimento que os nossos meios experimentaram em suas habilidades de adaptação e precisão impõem significativas mudanças, em futuro próximo, à antiga indústria do belo”, citando Paul Valery em seu trabalho Pièces sur l’art (p. 103-104), portanto não é isto que difere a arte digital.
Talvez uma conotação ainda pouco compreendida destes metameios é a sua ubiquidade, ou seja, a multipresença, e isto poderá acelerar o processo de contemplação da arte, claro que alguns questionam se isto é arte, mas o tempo dirá que é e mais ainda o público crescente, como mostra a popularização por exemplo, da arte fotográfico, nos bilhões de usuários do Instagram, com fotos sem dúvida alguma artísticas, nem todas é claro, mas aos milhares.
Se a contemplação do belo leva a meditação então talvez seja um tempo de meditação, ainda que alguns possam dizer que é líquida, talvez porque não seja tão útil, mas usar bons vídeos ou imagens digitais para meditar pode ser útil.