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Veredas onto-antropotécnicas

12 mar

Já postamos aqui, sobre as Veredas da Salvação, peça maldita do tempo da ditadura militar,aoTreinamento e também já postamos sobre o romance de João Guimarães Rosa: Grande Sertão: Veredas, onde o capataz de fazenda Riobaldo é apaixonado por Diadorim, um amor que se confunde com beleza e medo, que fala de uma simbólica travessia de um rio, e dos “diabos” entre um ser e um não ser, dito assim no romance:
“… o diabo existe ou não … e vai dizendo (…) Bem, o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens, até nas crianças – eu digo. (…) E nos usos, nas plantas, nas águas, na terra, no vento… Estrumes… O diabo na rua, no meio do redemoinho…” (Rosa, 2001, p. 26).
Podia-se ver a Páscoa na tradição oral brasileira, sim o romance é um exercício de oralidade em meio a cultura popular, como esta travessia de um rio, e encontraríamos muita significação não só para a cultura nacional, para a política, preocupação constante de Guimarães Rosa, e um novo tempo, onde a passagem significa uma “Páscoa Nacional”, dá para sonhar com isto?
Curiosamente e até paradoxalmente, podemos encontrar a mesma preocupação na definição da antrapotécnica de Petr Sloterdijk, como prova que isto é um ponto nacional e universal.
Esclarece Sloterdijk ao dar três dimensões da antropotécnica: o lado ilusionista, rigidamente organizado, em que os membros devem se exercitar, o lado psicotécnico que é o roteiro de treinamento para exploração da luta da sobrevivência, e o terceiro, um lado irônico, radicalmente flexível para todos, um espécie de business-trainer (Sloterdijk, 2009, p. 168).
A dimensão religiosa, não aquela religiosa em que se pensa uma religação dos seres e destes com Deus, considerando e respeitando a especificidade e personalidade de cada um, mas aquela dogmática, dona da verdade (tema de nossa semana passada) e algo “inescrupulosa”.
A antropotécnica como desvelamento do ser, é descobrir estas máscaras e manipulações que existem em todos os âmbitos da sociedade, da religião à política, do senso comum ao científico, e que no fundo não tem nada a ver nem com o ser e nem com qualquer tipo de humanismo.
Claro todos desejam a integração da humanidade, até o Trump vai falar com o coreano, porém o conjunto das relações antropotécnicas estão longe de uma onto-antropotécnica, usam e abusam da pós-verdade, manipulam fatos e narrativas, da mentira pública a mentirinha diária.
Não é possível que um ambiente assim desperte o humano, a relação do Ser e o humanismo.

ROSA, J. G. Grande Sertão: Veredas. São Paulo: Nova Fronteira, 2001.
SLOTERDIJK, P. Du musst Dein Leben ändern. Über Antropotechnik (Você pode mudar sua vida: sobre a antropotécnica). Frankfurt, Suhrkamp, 2009.

 

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