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Porque andamos cansados visto como um tema geral

01 ago

Um destes livros pequenos que a gente lê e descobre coisas incríveis, foi o livro de Kazuo Ishiguro, prêmio Nobel de Literatura em 2017, seu opúsculo Minha noite no século XX.

Seu discurso na Academia Sueca no recebimento do prêmio conta sua infância num distrito da Inglaterra, suas primeiras obras, a descoberta de Marcel Proust, sem dúvida uma influência em seus romances, mas algo me chamou a atenção, considerar-se um escritor cansado.

havia lido em A sociedade do cansaço de Byung-Chul Han as doenças contemporâneas como a depressão, a hiperatividade, a Síndrome de Bournout, ansiedade e outras que parecem ser a paisagem neste início de século XXI.

As receitas de Chul Han, são tentar recuperar a vitta contemplativa, Edgar Morin vai falar de conviviabilidade e educar para a vida, mas a questão de fundo é de onde vem este cansaço.

A resposta fácil é a tecnologia e a vida corrida do dia a dia, mas a primeira é uma resposta fácil para o que vem acontecendo a 20 anos no máximo e o problema é anterior, a segunda é simplista, talvez para o homem do início do século passado o dia-a-dia já era corrido e convivia com isto, no Japão do pós guerra as pessoas tiravam o stress em máquinas eletrônicas e o ritmo não era nem sombra do que é hoje.

Enfim parece que há um problema realmente de fundo, e isto está ligado a existência humana, podíamos ser felizes pensando na vida futura após a morte, isto hoje não basta, podíamos ser felizes pensando num bom casamento e num bom salário, isto hoje é pouco, falta algo mais.

A filosofia chamou este problema de existencial-ontológico, a religião e uma parte dos pensadores chama de ¨secular¨, Nietzsche chamou de nihilismo, e antes dele Kiegaard perguntou porque existe tudo e não o nada, ou perguntar sobre o que é o mal.

Kieekegaard escreveu em sua obra O Desespero Humano, vejam que isto é do século XIX, mais precisamente em 1849 com o pseudônimo Anti-Climacus, onde ele afirma que a origem do desespero está na imaginação, onde o homem pode criar uma relação fantasiosa consigo mesmo, e na minha modesta interpretação, justamente na sociedade que quis retirar de cena o imaginário, a fantasia e as crenças, segundo os iluministas todas no campo da “superstição”.

O pós-maniqueísta Agostinho de Hipona concordaria com Nietzsche dizer “aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal”, e, portanto, mais que a arte, a contemplação e a própria vida, é o Amor que pode dar sentido a tudo, e para isto precisamos de ter “alma”, ou “aura” ou alguma forma concreta de espiritualidade.

Não é algo fundamentalista ou puramente religioso, mas significa reconhecer que além do objetivo, do humano e do concreto precisamos de algo de sentido profundo para a vida, e sem dúvida isto deve estar de alguma forma ligado a um sentimento impossível de definir, porém tão concreto quanto qualquer coisa que se pretenda objetiva: o Amor dá sentido a vida.

 

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