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A redução do meio divino ao humano

28 jun

Pode-se negar a existência de Deus, o argumento da evidência é ingênuo, não sendo nem lógico como queriam alguns racionalistas modernos, nem humano como queriam alguns idealistas alemães e nem ontológico como apresentado por Santo Anselmo.

Há uma verdade que vem de Sócrates que diz que ela não está com os homens, mas entre os homens, isto significa que é ontológica e complexa ao mesmo tempo, e não se pode negar a existência histórica de Jesus, quer seja por seu nascimento histórico num período em que o senso foi obrigatório, por isto nasceu em Belém, e o registro de sua morte e crucificação que é contada por historiadores da época, incluindo Josefo e pela historiografia judaica.

Porém o que Nietzsche, nascido numa família de religiosos luteranos enxergou além do seu tempo, é uma evidencia filosófica e histórica da morte de Deus, através de sua epifania humana através da figura histórica de Jesus, ao menos para a cristandade, enquanto Deus pode ser pensado em inúmeras escatologias presentes em quase todas as culturas para não ser exaustivo, pois mesmo os povos ditos bárbaros, tinham alguma forma de divindade.

Porém o grito do louco de Nietzsche é a constatação da construção da filosofia idealista e positivista que desejou assumir como discurso único sobre a realidade, Tomás de Aquino e outros medievais eram realistas como corrente filosófica, tem agora um ocaso obscuro.

Desta filosofia isolacionista, individualista e separatista do mundo decorrem três formas de heresias coletivas: um Deus meramente humano, um Deus meramente divino e uma total ausência da terceira pessoa divina: o Espírito Santo, para o qual não há perdão.

Este pecado não é a mera negação de Deus, mas sua negação concreta a negação do Outro.

Teilhard Chardin diz sobre a inclusão do Outro que este é o “meio divino”, a mística típica do nosso tempo, que também pode ser expressa como “onde dois ou mais estão em meu nome” (Mt 18:20), que é um texto subsequente a pergunta “e vós, quem dizeis que eu sou” (Mt 16:15), do qual seguem várias passagens da relação com o Mundo e com Deus.

Pode-se dizer que há duas reduções: ao meramente humano e ao meramente divino, porém a principal redução é a ignorância de uma terceira redução que é a da ação do Espírito Santo.

Na redução do divino, Jesus nos milagres quase sempre pedia descrição ou fazia alusão a fé do curado, do agraciado ou apenas da maravilha do contato como o cego Bartimeu, a profetiza Ana, Simeão, os paralíticos, leprosos ou a mulher a quem dirige a palavra.

A verdadeira escatologia não vê apenas princípio ou fim, mas ambos em relação ao cotidiano da vida humana, Teilhard Chardin faz reflexão no livro O meio divino (1957): “a tensão lentamente acumulada entre a Humanidade e Deus atingirá os limites fixados pelas possibilidades do Mundo, e então será o fim … que devemos esperar não como uma catástrofe mas como uma ´saída´ para o mundo para a qual devemos colaborar com todas as nossas forças cristãs sem receio do mundo, porque os seus encantamentos já não poderiam prejudicar aqueles para quem ele se tornou, para além dele mesmo, o Corpo d´Aquele que é o d´Aquele que vem”

Assim como o evangelista Lucas (Lc 9,20), Mateus também repete a pergunta de Jesus aos discípulos Mt 16,15: “E vós, quem dizeis que eu sou?”.

CHARDIN, T. O meio Divino: Ensaio de vida interior. Lisboa: 1957.

 

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