A gratitude, a questão da ciência e do senso comum
Uma pessoa pode ser grata, sem entender os objetivos de sua gratidão, mas não entenderá os objetivos se não conhecer as verdadeiras motivações da gratidão, isto quer dizer, permanecer na gratidão pode ser livre de conhecimento, mas ter gratitude (torná-la um hábito saudável) exige ir além do simples ato gratuito, conhece-lo e cultivá-lo para co-laborar em sociedade.
Assim é preciso separar o senso comum, que é apreciável, do conhecimento objetivo que é dissecar o objeto de conhecimento que pode ser feito tanto de forma indutiva quanto intuitiva, ambos caminhos são válidos, assim não é preciso ciência convencional, mas intencional.
Falar de ciência é preciso falar de Karl Popper, também ele especulou sobre estar coisas, afirmava sobre o senso comum é válido, mas sustentar as verdades deste é algo maior.
Mas o conhecimento objetivo dizia ele, era uma eterna busca de sua vida, em suas palavras: “Os ensaios deste livro rompem com uma tradição que pode ser rastreada até Aristóteles – a tradição dessa teoria do conhecimento, de senso comum. Sou grande admirador do senso comum, que, afirmo, é essencialmente autocrítico”, ou seja, não se trata de negá-lo.
Porém para sustenta-lo como verdade é preciso mais: “… se estou disposto a sustentar até o fim a verdade essencial do realismo do senso comum, considero a teoria do senso comum do conhecimento como uma asneira subjetivista. Essa asneira tem dominado a filosofia ocidental”, entenda-se por sentimentos, paixões e mesmo sustentar questões não objetivas.
E avança: “Tenho tentado erradicá-la e substituí-la por uma teoria objetiva do conhecimento, essencialmente conjectural. Isto pode ser uma pretensão audaciosa, mas não peço desculpas por ela” (Popper, 1975, p. 07).
A divisão em três mundos feitas por Popper mostra uma fragilidade em sua teoria, ao separar o conhecimento em três mundos: P1 o mundo da natureza (ou físico, no sentido da physis), o mundo das mentes (Mundo 2) e o mundo das ideias (Mundo 3), prioriza este último.
Numa solução para um problema, a pessoas podem atacar ou acatar a solução encontrada, mas não a pessoa que a apresentou, assim dá um valor maior que o mundo das ideias (Mundo 3) têm para Popper, ao invés do Mundo das mentes (Mundo 2) que as desenvolveram.
A gratitude é justamente o oposto, pois é mais importante as mentes que desenvolvem as soluções ao problema (Mundo 2), do que as ideias que as impulsionam (Mundo 3), ainda que o subjetivismo, ou seja o que é próprio do sujeito, possa também ter fragilidades.
O que abraça estes três aspectos que são distintos: Natureza, Conhecimento e Ideias, são aspectos ontológicos, pois os três são próprios do Ser, a gratitude é um destes aspectos.
Em tempos de pandemia é bom lembrar de Popper porque ele dizia que é científico o que pode ser refutável, e o que temos hoje é um “afirmacionismo” ou “negacionismo” ambos anti-científicos.
POPPER, K. Conhecimento objetivo. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1975.