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A verdade, o método e a vida

19 mai

O conceito contemporâneo de verdade, embora bastante preso ao logicismo e idealismo, nasce da maiêutica de Sócrates, técnica de valorização do diálogo para a parturição (vem de parto) de ideias que são consolidadas de acordo com as condições concretas do conhecimento (diz-se material, mas o hilé grego é algo diferente de matéria hoje) onde se questiona o que é inabalável e absoluto.

Entre as verdades modernas fortemente influenciada por Hegel, há uma dose elevada de subjetivismo, dita da seguinte forma em Fenomenologia do Espírito: “… tudo decorre de entender e exprimir o verdadeiro não como substância, mas também, precisamente, como sujeito. Ao mesmo tempo, deve-se observar que a substancialidade inclui em si não só o universal ou a imediatez do saber mesmo, mas também aquela imediatez que é o ser, ou a imediatez para o saber. […] “, assim parece referir-se ao Ser e ao Espírito, porém é subjetiva e fluida.

O que resultou do hegelianismo foi a formulação da ideia de Poder exercída pelo Estado e dela decorrerá grande parte das formulações modernas, até chegar ao relativismo geral, ou seja, em termos rudes “cada um tem a sua verdade”, retornamos a doxa grega, a mera opinião.

Torna-se necessário assim discutir o método, porém também as metodologias modernas estão penetradas de dogmatismo, a mera repetição de conceitos abstratos, a construção lógico-teórica de teorias formais, o empirismo, segundo Popper o maior perigo da ciência moderna, e a base da retórica idealista: a verdade abstrata.

A hermenêutica inicialmente e mais tarde a círculo hermenêutico a partir de Heidegger e consolidado em Verdade e Método de Hans-Georg Gadamer, reconstrói uma maiêutica moderna, onde não só o diálogo se viabiliza, como também a possibilidade de uma fusão de horizontes torna-se possível, inclusive em diálogo com a ontologia clássico e a historicidade moderna.

O método hermenêutico tem profunda relação com a vida, o Lebenswelt de Husserl, é eficaz para o diálogo com visões de mundo diferentes, assim favorece a relação ente pessoas que expressam culturas diferentes, e assim é crucial para a interpretação de textos nos campos do direito, da teologia e da literatura, sem fundamentalismo e falsa ortodoxia que esconde o erro e a doxa.

A hermenêutica numa relação pandêmica faz pessoas agirem juntas mesmo com uma leitura política, médica e social diferente, é ela que ajuda discursos distantes a se solidarizarem pela vida, o bem comum e no futuro próximo traça planos para a recuperação da sociedade pós-traumática.

 

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