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A dor hoje

21 fev

Este é o subtítulo do livro: “A Sociedade Paliativa: a dor hoje” de Byung-Chul Han, ele traça o novo controle que impera sobre as mentes: “Seja feliz é a nova formula de dominação” (pg. 26).

Não são apenas governantes ou poderes locais que proclamam isto, as igrejas e os “coaching” também prometem isto, são os novos vendedores de ilusão, os pais querem impedir os filhos de frustração e dificuldades: “meu filho não vai passar pelo que passei”, “quero dar a eles toda assistência e conforto”, mas a vida é composta de frustrações, obstáculos e revezes.

A psicologia positiva quer evitar qualquer mudança: “não revolucionários, mas treinadores de motivação tomam o palco, e cuidam para que não surja nenhum descontentamento [Unmut], sim nenhuma raiva [Mut]” e Byung-Chul Han lembra um fato histórico relevante: “Na véspera da crise econômica mundial na década de 1920, com as suas extremas oposições sociais, houve muitos representantes de trabalhadores e ativistas radicais que denunciaram o excesso dos ricos e a miséria dos pobres” (pg. 28), lembro que a palavra “mut” em alemão é também coragem, para não se confundir esta tradução de raiva como um ódio.

Lembra que também “as mídias sociais e jogos de computador atuam como anestésicos” (pg. 29), perguntando a um jovem porque tanto computador ele respondeu “relaxo”, mas isto é o contraponto de uma sociedade de ansiosos, imediatistas, depressivos e egocêntricos.

A essência deste tipo de “felicidade” é a coisificação: comprar um móvel novo, um carro novo, trocar de casa, ter um celular avançado e para os mais pobres um tênis de marca ou uma camisa de grife, na impossibilidade, vai escolher ídolos que personifiquem a “coisificação”.

Enquanto “a verdadeira felicidade só é possível rompida [gebrochen].  É justamente a dor que protege a felicidade da coisificação. A dor carrega a felicidade. A felicidade dolorosa não é um oximoro. Toda intensidade é dolorosa. A paixão liga a dor a felicidade” (Han, 2021, p. 31).

E não há maior dor do que dar-se aos outros, George Bernanos escreveu: “Saber encontrar a alegria na alegria dos outros é o segredo da felicidade, escritor e jornalista francês do início do século XX, foi soldado da resistência francesa na Segunda Guerra Mundial e escreveu “A França contra robôs” e “Diálogos das carmelitas” que é uma espécie de “mística inversa”.

Para os gregos, a boa vida não era um estado, mas uma busca contínua, que eles a definiam como felicidade, mas não abandonavam a contemplação, a sabedoria e a razão para viver bem.

“A sociedade da sobrevivência perde inteiramente o sentido para a boa vida. Também o desfrute [Genuss] é sacrificado à saúde elevada a um fim em si mesma” (pg. 34), assim o que ela conduz de fato é uma vida dolorosa de busca pela sobrevivência, ao menos para a pessoa comum, claro que há exploradores, milionários e poderosos que também ansiosamente busca o lucro e a sobrevivência mais “feliz”, mas precisam de complementos de psicólogos, narcóticos ou remédios.  

HAN, B.-C. A Sociedade Paliativa: a dor hoje. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2021.

 

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