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A verdade, o método e a vida
O conceito contemporâneo de verdade, embora bastante preso ao logicismo e idealismo, nasce da maiêutica de Sócrates, técnica de valorização do diálogo para a parturição (vem de parto) de ideias que são consolidadas de acordo com as condições concretas do conhecimento (diz-se material, mas o hilé grego é algo diferente de matéria hoje) onde se questiona o que é inabalável e absoluto.
Entre as verdades modernas fortemente influenciada por Hegel, há uma dose elevada de subjetivismo, dita da seguinte forma em Fenomenologia do Espírito: “… tudo decorre de entender e exprimir o verdadeiro não como substância, mas também, precisamente, como sujeito. Ao mesmo tempo, deve-se observar que a substancialidade inclui em si não só o universal ou a imediatez do saber mesmo, mas também aquela imediatez que é o ser, ou a imediatez para o saber. […] “, assim parece referir-se ao Ser e ao Espírito, porém é subjetiva e fluida.
O que resultou do hegelianismo foi a formulação da ideia de Poder exercída pelo Estado e dela decorrerá grande parte das formulações modernas, até chegar ao relativismo geral, ou seja, em termos rudes “cada um tem a sua verdade”, retornamos a doxa grega, a mera opinião.
Torna-se necessário assim discutir o método, porém também as metodologias modernas estão penetradas de dogmatismo, a mera repetição de conceitos abstratos, a construção lógico-teórica de teorias formais, o empirismo, segundo Popper o maior perigo da ciência moderna, e a base da retórica idealista: a verdade abstrata.
A hermenêutica inicialmente e mais tarde a círculo hermenêutico a partir de Heidegger e consolidado em Verdade e Método de Hans-Georg Gadamer, reconstrói uma maiêutica moderna, onde não só o diálogo se viabiliza, como também a possibilidade de uma fusão de horizontes torna-se possível, inclusive em diálogo com a ontologia clássico e a historicidade moderna.
O método hermenêutico tem profunda relação com a vida, o Lebenswelt de Husserl, é eficaz para o diálogo com visões de mundo diferentes, assim favorece a relação ente pessoas que expressam culturas diferentes, e assim é crucial para a interpretação de textos nos campos do direito, da teologia e da literatura, sem fundamentalismo e falsa ortodoxia que esconde o erro e a doxa.
A hermenêutica numa relação pandêmica faz pessoas agirem juntas mesmo com uma leitura política, médica e social diferente, é ela que ajuda discursos distantes a se solidarizarem pela vida, o bem comum e no futuro próximo traça planos para a recuperação da sociedade pós-traumática.
#LockDown ainda que tardio
Países que realizaram um #LockDown mais cedo tiveram êxito não apenas nocombate ao coronavírus, como é o caso da Nova Zelândia e da Eslovênia, primeiro país europeu a não registrar nenhuma morte pelo covid-19, como também tiveram o retorno a nova normalidade mais cedo.
Até mesmo do ponto de vista econômico foi melhor medidas radicais, poder retomar mais cedo com as atividades sociais, pois as econômicas deverão ser retomadas aos poucos e em muitos casos já sofreram mudanças radicais, o que estão chamando de nova normalidade, casos como a Suécia e a Coréia do Sul (que não é verdade que não tenha feito fortes restrições de isolamento social, embora não seja um #LockDown total), foram isolados, mas tem um povo consciência e organizado capaz de cumprir regras sociais.
O Brasil já tem algumas cidades do Norte e Nordeste com um #LockDown decretado, no sudeste é mais difícil tanto pelo volume populacional como por uma parte da população que insiste em ignorar aquilo que salta os olhos: a agressividade do coronavírus e o número de mortos, além do esgotamento do sistema de saúde.
Entraremos numa semana de conflito, com mais um ministro da saúde que sai do governo central, com medidas de liberação do governo central e medias restritivas de governadores, além do polêmico uso da hidroxicloroquina cuja eficácia não tem comprovação científica, além dos efeitos colaterais.
O resumo de todo o problema brasileiro é a impossibilidade de uma discussão racional em torno de um tema que afeta a morte de milhares de pessoas, no entanto, continuamos defendendo um #LockDown nos grandes centros, que são os focos principais do vírus no país, para que a curva pare num patamar, que está em torno de 900 mortes diárias, o número 485 do domingo é uma subnotificação, devido aos centros médicos que reduzem o pessoal nos fins de semana.
Esperamos uma semana muito turbulenta, que se não bastasse resta ainda mais polêmica na área política, com retorno a velhas práticas já condenadas pela sociedade de fisiologismos, espera-se que os governadores e prefeitos mantenham uma posição firme diante da urgência do #LockDown.
A sociedade em momento transiente
A vida mudou em todo planeta, certamente não serão permanentes as limitações impostas, mas algumas preocupações que nasceram com a saúde, com os invisíveis e com as novas tecnologias serão permanentes quanto a importância e transformadas quando ao leva-las mais em conta.
O transiente observa ainda as dicotomias idealistas sujeitos e objetos, ou a subjetividade vista como um modelo falso do sujeito, que ele é desprovido de materialidade ou de substancialidade, a doença é uma prova deste erro, ou de uma falsa objetividade, nossas certezas sobre nossos objetos empíricos falharam e continuam a falhar em previsões e modelos, a já antiga era da incerteza, antiga porque já é uma “teoria” desde o século passado, agora tornou-se narrativa em meio a pandemia.
As velhas teorias idealistas, que a história as tornou ideologias fundamentalistas, tem como o seu epicentro a ideia que devemos nos desenvolver e avançar os modelos econômicos (no fundo sempre é a ideia de “mais produção”) até um esgotamento ainda maior, antes da natureza e agora da própria vida no planeta colocada em risco pandêmico.
Sloterdijk alerta em entrevista ao El País “a vida atual não convida a pensar”, e a razão que tenho um relativo otimismo sobre o distanciamento social (prefiro que isolamento, pois o conjunto da sociedade funciona em rede), está no raciocínio que ele faz na mesma entrevista: “Para Husserl e sua fenomenologia era preciso sair do tempo impetuoso da vida, o dispositivo mais elementar era sempre dar um passo atrás. Essa ação permite que você se transforme em observador.”
E este é o pressuposto básico da incerteza, que o observador faz parte do fenômeno, a ideia da ciência que podemos repetir o experimento observando o fenômeno, deve levar em conta que o observador é parte do fenômeno, em tempos de pandemia, se não me previno afeto o outro e a pandemia.
O conjunto desta mudança de época, já seu prenuncio vinha desde as duas grandes guerras, que não por acaso vinham da pior pandemia que a humanidade enfrentou que foi a gripe espanhola, que é um bom exemplo quando não há distanciamento social, que durou 2 anos ( janeiro de 1918 a dezembro de 1920), infectou um quarto do planeta (500 milhões de pessoas) e matou entre 20 e 50 milhões de pessoas.
Duas inverdades existem sobre esta pandemia, ela prova que o distanciamento social é bom e a que ela não mudou nada, ela aconteceu logo ao final da 1ª. guerra mundial (de 1914 a novembro de 1918) que havia deteriorado as condições sanitárias da Europa e recursos econômicos, mas é quando surge o modelo da Liga das Nações (instalada em janeiro de 1919, logo após o tratado de Versalhes), ainda que tenha sido insuficiente para evitar a 2ª. guerra mundial, deu início a discussão dos princípios básicos dos direitos sociais.
Também as velhas verdades sobre a mão invisível do mercado, o laissez faire, começou a se modificar, surgindo o estado providente, e depois da 2ª. guerra mundial a ONU com departamentos importantes como FAO, a UNICEF e a própria OMS, organização de larga influencia agora na Saúde Mundial e que dá diretrizes para enfrentar a pandemia.
Assim, depois desta guerra que é uma guerra agora de todos, contra um inimigo invisível e pode-se ainda dizer imprevisível, haverá mudanças e deverão ser pensadas globalmente, mas estamos num transiente em que as velhas ideias ainda resistem buscando a normalidade anterior de um consumismo e uma sociedade do cansaço desumana para todos.
A nova normalidade
Quando temos dificuldade de mudar uma rotina que é fundamental para fugir de perigos as consequências são piores que aquelas se aceitamos que uma nova rotina se impôs.
Claro isto implica um tipo de cultura que por alguma razão histórica ou disciplina já adquirida por anos de tradição ajuda algum momento, que mesmo sendo traumático, é possível ser socialmente incorporado como “nova normalidade”.
Não por acaso o termo surgiu em países lusófonos, onde durante a crise pandêmica se ouvia com frequência, atestam os noticiários e brasileiros viajando por países hispânicos ouvem a exclamação “¡No es normal!”, mas a tradução para o português vem da expressão inglesa (da Inglaterra e não da America): “new normality”, expressão que atestam a sua incorporação como nova expressão no Reino Unido.
Nos países orientais, se observamos em aeroportos e em reportagens, mesmo anteriores a pandemia, o uso de máscaras e um certo comportamento tranquilo em situações difíceis mostram que a disciplina oriental já é normal, não sei que expressão usam, mas o comportamento social é facilmente observável no ocidente.
Em pleno pico da pandemia preferimos dizer, tudo voltará ao normal, que seria o mesmo que dizer só admitimos a “normalidade antiga”, não quero justificar a atitude irresponsável de líderes e até de governos que preferem não admitir a crise sanitária.
Agora o que teremos que adotar em alguns estados e cidades do Brasil, será uma nova normalidade que admita o esgotamento do sistema de saúde e o pico da pandemia, a notícia boa é que tudo indica que estamos perto do patamar superior e a curva já achatada poderá recuar em número de mortos.
Precisamos reagir culturalmente incorporando uma nova normalidade, o filósofo Byung Chul Han chama de excesso de positividade, embora indicasse o fato que a sociedade caminha sempre não direção da aceleração, a expressão agora pode parecer mais apropriada, pois o contrário não é a negatividade, mas a realidade pandêmica.
Os países que conseguiram frear a aceleração do dia a dia, já colhem resultados, alguns como a Nova Zelândia (que adotou um #lockdown extremo e a presidente se tornou um ídolo nacional) colheram o fruto mais cedo, agora já sem a pandemia.
O pico da crise e não apressar o futuro
Estamos no pico da crise e já se fala no pós traumático, não são poucos de médicos a sociólogos aqueles que querem apressar uma análise, a China saiu da crise, a Europa começa a nova etapa em 3 fases distintas e alongadas e o Brasil e países do hemisfério sul a inverno se aproxima.
A análise da curva e do pico feita por DataScience mostra que o distanciamento social valeu a pena, no entanto, as hesitações governamentais e a aproximação do inverno poderá mesmo se a curva achatar, os dados indicam que sim, poderá se alongar, isto é, a “nova normalidade” tardará.
O nome nova normalidade já exclui todas análises que indicam qualquer impossibilidade de voltar ao estágio anterior, isto é, uma vida agitada e desprotegida, aquilo que Edgar Morin chama de “intoxicação” do cotidiano, e um desenvolvimento econômico acelerado, com seu preço agregado.
O momento no Brasil e acredito que a maioria dos países do hemisférico sul é de criar condições ainda mais apertadas para desfavorecer o “relaxamento social”, de certa forma até compreensível já que a quarentena se fossem mesmo 40 dias, já estaria se esgotando, tudo indica que não.
Para complicar ainda as crises políticas, no caso brasileiro, se aprofundam e parecem não ter fim, o problema da governabilidade e da instabilidade política acelera e aprofunda a crise sanitária.
Concentrando nossos esforços e foco apenas na crise sanitária, a econômica e a social existem no entanto não deveriam justificar mortes e crise na assistência sanitária, devemos considerar que estamos no patamar superior da curva, e os números parecem estabilizar, são altos é verdade, se tomarmos a sério o #lockDown já poderíamos estar vislumbrando uma saída, mas não é o caso.
Uma das consequências da pandemia é a chamada Síndrome de Kawasaki, na Inglaterra por exemplo, o Sistema de Saúde (NHS, é a sigla em inglês) já detectou um aumento no número de crianças com inflamação multissistêmica, problemas gastrointestinais e inflações físicas.
Em meio a primavera, mas já com sinais de verão, a Europa retornará aos poucos as atividades, e poderemos perceber como os problemas sociais e econômicos serão enfrentados, aqui é futuro.
O caminho da subida
Tanto para a fé como para a ciência o caminho de subida é contemplar a verdade e como propõe o filósofo da ciência Karl Popper, trilhar o caminho da falseabilidade e a ciência como projeto humano, não é impassível de transformação, por isto surgem diversas teorias.
Porém a arrogância e uso de autoritarismo é incompatível com a fé, a Encíclica Veritas Splendor de João Paulo II, ao lado da afirmação da fé estabelece também na alínea 39: Não só o mundo, mas o homem mesmo foi confiado ao seu próprio cuidado e responsabilidade. Deus deixou-o «entregue à sua própria decisão» (Sir 15, 14), para que procurasse o seu Criador e alcançasse livremente a perfeição Alcançar. significa edificar pessoalmente em si próprio tal perfeição”, não se trata da perfeição platônica, mas exatamente da subida que Teilhard Chardin propõe, é, portanto, um caminho e não um estado, assim há pessoas capazes de atitudes externas, mas sem valores.
O diálogo pode ser estabelecido nestas circunstâncias, e há determinados assuntos, como é o caso da medicina e muitas outras profissões é necessário que a verdade, ou a verificação da falseabilidade como propôs Popper, seja verificada pela ciência.
Um comentário sobre a fé, é interessante que Jesus Ressuscitado que aparece depois da Páscoa, vai assar um peixe, conversar com Tomé que põe em dúvida que estaria vivo, exortar os discípulos, mas não há nele nenhuma demonstração de espetáculos ou de milagres.
O iluminismo pretendeu apresentar sua luz, porém é na “clareira” heideggeriana que a filosofia moderna encontrou um caminho, a retomada ontológica, e só através dela pode-se sair melhor da crise pandêmica, olhar um mundo terreno onde habita o Ser.
Temos que caminhar na luz, mas com a vida do dia a dia e não rejeitar a verdade, porém o caminho da falseabilidade, isto é, propor que alguma asserção é falsa até que prove sua verdade é um caminho seguro para a ciência e a fé não é cega, senão não dá esperança real.
A crise do pensamento ocidental e a pandemia
Velhas análises ainda fundamentadas no idealismo, que estudam o modelo do estado, os problemas econômicos e os modelos antropocêntricos não dão conta da nova realidade, a pandemia mundial foi causada por um vírus e pegou toda sociedade desprevenida, só em parte isto é verdade, no aspecto da saúde.
As análises líquidas continuam com discursos sobre obviedades, somos um só planeta, o problema é de todos, temos que rever valores, etc. porém aquelas que apontam para o futuro ainda vivem na penumbra de um pensamento sobre ideais que se esgotaram, mas não os discursos.
Edgar Morin que de longa data vem apontando para uma cidadania planetária, se aproximando dos 100 anos e mantendo uma cabeça lúcida, numa entrevista ao L´Observateur de 18/03 afirmou: “O confinamento pode nos ajudar a desintoxicar nosso modo de vida”, e na mesma entrevista aponta que “essa crise nos mostra que a globalização é uma interdependência sem solidariedade”, e que produziu uma unificação tecno-econômica do planeta.
Na mesma linha Byung Chul Han escreveu na Sociedade do Cansaço, que estamos todos na vida activa e ignoramos a vida contemplativa, no entanto a pandemia nos retirou do ativismo e ainda não sabemos o que fazer com o “ócio” de ficar em casa, há até discurso religioso que a chama de túmulo, mas falaremos nisto ao falar da noite de Deus e da religiosidade instrumentalizada de hoje.
Aos que não acreditam nesta análise, lembro que programas de sucesso como “reality show” agora são de fato realidades porque cada um a vive na sua casa, e “master chef” agora tem que acontecer na prática nas famílias porque restaurantes estão fechados.
Quanto ao aspecto tecno apontado por Morin não podemos esquecer que além dos noticiários globais, agora para o trabalho, para a educação e até mesmo para o lazer as videoconferências agora são realidades, ainda há quem pragueje contra elas, mas é esquizofrenia porque elas agora são necessárias e até para manter o comércio são imprescindíveis, até para as compras online, também os shoppings estão fechados.
A desintoxicação de nosso modo de vida não veio por um plano de governo, nem por uma grande mudança cultural, embora a pandemia sugira isto, mesmo nas nossas casas ainda procuramos as irrealidades da vida contemporânea, a pandemia, entretanto provoca uma mudança desta visão.
O oriente e alguns países, cito o caso de Portugal, estão tendo sucesso por causa de uma certa disciplina no #ficarEmCasa, quando Peter Sloterdijk em As regras para o parque humano falou sobre a falência da “domesticação humana”, não imaginava que um vírus podia demonstrar sua tese, sairão da crise mais cedo e terão menos mortos países com maior disciplina social.
Por ultimo as Redes Sociais (não confundir com as mídias tecno que falamos acima), a dinâmica da propagação do vírus segue a lógica das redes, e assim se estes estudos forem levados a sério poderemos estar mais prontos na defesa das vidas, não por acaso o infectologista Carl Latkin é um dos cientistas com maior publicação nesta área.
Economia de “guerra” e pandemia
O único modelo econômico que temos de uma situação em que as forças produtivas da sociedade se desorganizam pela impossibilidade de ir ao trabalho ou pelo esforço concentrado em uma outra atividade é a economia de “guerra”, entretanto há uma diferença porque não é guerra entre povos, o inimigo agora é um vírus que tem o poder de fazer um estrago igual ao de uma guerra.
John Kenneth Galbraith escreveu depois dos atentados de 11 de setembro, acreditando numa possível guerra, que “em uma economia de guerra, a obrigação pública é fazer o que for necessário: para apoiar o esforço militar, para proteger e defender o território nacional, e especialmente para manter o bem-estar físico, a solidariedade e a moral da população”.
Claro o esforço militar pode ser trocado aqui pelo esforço médico, porém já acontece porque nem todas forças produtivas estão desorganizadas, a reorganização do oeconomicus, o sentido inicial na Grécia antiga que deu origem a palavra economia, ou seja, era a economia doméstica.
Porém a economia social deve se reorganizar, ainda me período de pandemia, setores paralisados como o turismo doméstico, a indústria de mecânica leve e pesada e a de bens de consumo podem ser repensadas em torno do “esforço de guerra”, em vários países a indústria automobilística foi chamada a fazer e restaurar equipamentos hospitalares, e hotéis são usados para abrigar alguns desabrigados, enfim é possível já repensar algumas coisas.
Também são um esforço importante os voluntários que atuam em comunidades carentes, fábricas de roupas podem fazer vestimentas (nos EUA) e máscaras para auxiliar a população, provavelmente isto deve continuar depois da pandemia, como mostram os países orientais, o uso de máscaras é comum no Japão e alguns países do oriente.
Também espaços familiares devem ser repensados, pessoalmente sempre construí um escritório fora ou isolado no ambiente doméstico, viralizou uma reportagem americana que a esposa do repórter entra no escritório dele corrente para retirar as crianças.
Também não fazíamos compras mensais, claro que a estocagem tem um lado perverso de poder aumentar ou mesmo desaparecer alguns produtos, como aconteceu no Brasil com o leite, e já o botijão de gás aparentemente há alguma especulação em jogo, mas devemos reorganizar a economia do “bairro” onde as pessoas possam se deslocar menos e fazer as compras mensais.
O principal é superar um modelo “economocêntrico” e pensar num biocêntrico, prefiro ao antropocêntrico porque os pets e a natureza também devem ser pensados na relação social.
Há um lado “pascal” não apenas pelo período que vivemos, e sim pelo número de mortes e a luta para diminuir este número, naqueles que tem sensibilidade há um sentimento de morte, porém a luta pela vida, o essencial que é o pão de cada dia e a ressurreição que virá dá este entorno pascal.
A cura com-o-Outro
O psicólogo Carl Jung dá uma sentença ampliada daquela que muitas já disseram, entre eles Gandhi: “Não se pode ferir o outro sem ferir a si próprio”, assim também acrescentou Jung: “aquele que cura o outro, cura a si próprio”, em tempos de pandemia é bom pensar isto.
Os insensatos dizem, os mais velhos e doentes são o grupo de risco isto iria acontecer mesmo, porém mais pessoas infectadas e maior é o contágio social, e mais pessoas fora do “grupo de risco” são atingidas, estamos no momento exponencial nas Américas, é hora de cuidar-se.
As economias estão ruindo é verdade, mas junto com ela os modelos idealistas que já estão em crise a muito tempo, a agonia veio em função da fragilidade em que se encontravam, não se trata deste ou daquele modelo, todos os modelos atuais são centrados na “economia’ e no desenvolvimento, inventou-se durante um tempo o desenvolvimento sustentável, mas a natureza mostrou que este modelo é insustentável e os recursos são esgotáveis.
Voltemos a doença, fonte da cegueira atual, e prolongamento da crise cultural e noite de Deus, os apelos e profecias não faltam em todo canto, querem sinais e milagres como na cultura judaica do tempo de Jesus, porém o sinal está aí e é a cegueira que nos impedem de enxergar.
A crise era das mídias, ou das redes que são coisas distintas, agora são a salvação para manter os contatos com a devida distância, manterem empresas e escolas funcionando, não eram o mal.
Claro que não, a perda das relações independem dos meios (as mídias) que usamos, e colocar-se em rede agora parece mais claro é colocar primeiro diante dos mais próximos, cuidar e se ocupar deles, coisas que lembramos de serem feitas pelos nossos avós, que pareciam fechados e atrasados.
Salvar a economia mesmo que as pessoas morram, eis o fundamento de um mundo onde no fundo é a economia que todos estavam preocupados, talvez uma minoria pensasse realmente no bem estar e no equilíbrio da vida vivida na essência, sem luxo e com um certo “conforto”.
Por força das circunstâncias temos que pensar assim, afinal o oecomicus (em grego: Οικονoμικός), do escritor Xenofonte é um diálogo socrático que trata da economia doméstica e da agricultura, sim a economia evoluiu, mas não devia ter perdido suas origens, afinal ninguém foi aos shoppings, mas aos mercados para comprar a comida e poder #ficarEmCasa.
O tempo será curto, mas as crises ensinam pela tensão que as pessoas vivem, claro há gente que não acredita e pensa que é só uma gripe e vai passar logo, felizmente apesar de alguns governos irresponsáveis, a vigilância sanitária e os grupos médicos e governos locais estão trabalhando.
Não temos só que nos curar, é preciso curar e cuidar do outro, pois as consequências serão para todos, a descoberta desta interdependência é saudável para um mundo que começava a se fechar em nacionalismos e mentalidades autoritárias.
Uma noite escura da humanidade
Uma noite cai sobre a humanidade, mas é preciso notar que esta noite vinha acontecendo o vírus que atingiu todo o planeta é um catalisador e apesar de ser letal e trazer muitos cuidados pode nos acordar de uma noite que vinha acontecendo: noite da cultura, noite de Deus, noite da ciência reduzida a especialidades e métodos questionáveis e principalmente noite do homem.
A vida desenfreada e muitas vezes sem sentido, a busca pela eficiência e produtividade, a ideia que o crescimento econômico traz felicidade e principalmente a exclusão do Outro, agora parecem se inverter com a necessidade de ficar em casa: #StayAtHome.
Esta noite provocou uma cegueira coletiva, a cultura é “qualquer coisa serve”, rabiscos e borrões se tornaram arte, expressões puramente genitais sem qualquer afetividade de tornou sexo, e a cultura religiosa que ajudava as pessoas a encontrarem paz de espírito se tornou pura superstição, apelo a riqueza e ao dinheiro, ou a mera pobreza de outro lado, sem qualquer coisa que a faça entender o sentido profundo do desapego e do viver na essência da vida.
A noite religiosa ou noite de Deus é um apego dos homens aos seus círculos fechados agora, se forem prudentes, também impedidos de se reunir, a manipulação grosseira, a leitura fundamentalista da bíblia, que são a pior cegueira contemporânea, também reduz o homem a ser-para-a-morte e não o ser-para-a-vida.
Contemplar o mistério do universo além daquilo que já conhecemos, pouco sabemos da massa e energia escura que compõe 94% do universo, e que este pode ainda ter uma além de sua “bolha”, pode abrir os olhos daqueles que acham que sabem tudo porque aprenderam a ciência, ou porque leram a bíblia com seus olhos de cegueira cultural e seu círculo de “eleitos” fechado e pequeno.
Jesus ao curar o cego assusta os fariseus que querem que o cego se cale, a ciência ajudou um pouco este abandono de superstições e ajudou a iluminar a inteligência humana, também posta a prova pelo vírus, é o que lemos na passagem bíblica lemos em Jo 9:7-9:
E [Jesus depois de por-lhe barro no olho] disse-lhe: “Vai lavar-te na piscina de Siloé” (que quer dizer: Enviado). O cego foi, lavou-se e voltou enxergando. Os vizinhos e os que costumavam ver o cego — pois ele era mendigo — diziam: “Não é aquele que ficava pedindo esmola?” Uns diziam: “Sim, é ele!” Outros afirmavam: “Não é ele, mas alguém parecido com ele”. Ele, porém, dizia: “Sou eu mesmo!”, e os religiosos queriam proibir-lhe de falar.