RSS
 

Arquivo para a ‘Jornais on-line’ Categoria

A guerra total por um fio e o G20

23 ago

Enquanto prossegue a guerra na Ucrânia, agora com pontos de tensão na Criméia anexada pelos russos, a China continua com “exercícios” próximos da ilha de Taiwan. Neste domingo (21/08) foram avistados 12 aeronaves e cinco navios, sendo que 5 aviões cruzaram a linha mediana do Estreito de Taiwan.

A guerra vai tendo uma escalada de violência com a morte da filha Darya do ideólogo russo Alexandr Dugin, que faz uma mistura filosófica de Lenin, Stalin com Nietzsche, Weber Heidegger e outros, uma autêntica salada russa filosófica.  O carro de Darya explodiu e incendiou matando-a no incêndio.

Nas últimas horas a Ucrânia atacou a sede administrativa russa em Donesk e navios russos na Criméia, a guerra neste momento ali é total e a capital Kiev pode voltar a ser atacada.

Em comunicado no dia de ontem (22/08), a China reagiu ao discurso do embaixador americano Nicholas Burns, que a acusa de estar “fabricando crises” dizendo que os EUA praticavam “uma retórica vazia, e uma lógica hegemônica” e a temperatura entre as duas nações mais ricas e fortes militarmente está subindo.

A aproximação de Rússia e China é cada vez maior, e o governo americano vê isto como uma forte ameaça, uma vez que cria duas grandes frentes de conflito e em pontos distintos do planeta, o perigo de uma guerra de proporções inimagináveis cresce.

Uma esperança seria a reunião do G20, grupo das 20 nações mais ricas, do qual participam entre outros países: EUA, Japão, Alemanha, Rússia, China, União Europeia, Reino Unido, Japão, Coréia do Sul, África do Sul, Brasil, Argentina, México, Austrália, Canadá, Arábia Saudita, Turquia e Indonésia, onde será a 37ª. reunião do G20, em Bali.

A data de 15 e 16 de novembro, entretanto é muito distante e as tensões são emergenciais, a ONU não conseguiu avanços nas negociações da Rússia e Ucrânia, num mundo fortemente polarizado faltam interlocutores que sejam confiáveis em ambientes de conflito.

Não é exagero dizer que estamos em alerta laranja nos aproximando do vermelho em função das ameaças e retóricas das grandes nações do planeta.

A esperança sempre há, em muitos casos na história há um ponto de inflexão em que a curva inverte sua tendência, neste cada uma tendência para a paz.

 

Povos que resistiram a impérios

04 ago

O grande império persa se expandiu a partir de Ciro, o Grande, no ano de 558 a.C., e dominou os medos e tomou toda a Mesopotâmia, Ciro respeitava a cultura e costumes dos seus inimigos, mas expandiu até o Egito seu império, e avançou sobre os gregos, mas foi derrotado por Atenas.

Depois de Dario I, Xerxes I e seu filho Artaxerxes também tentaram conquistar a Grécia e não conseguiram, no ano de 332 a.C. Alexandre imperador da Macedônia, o Grande, organizou um exército invencível e acabou tomando a Grécia e acabou vencendo os persas, estabelecendo um novo império, o Macedônico.

A morte de Alexandre por febre tifoide ou malária (a hipótese de envenenamento não é aceita pelos historiadores) a disputa entre generais acabou enfraquecendo o império e iniciou uma decadência.

O período estabelecido entre o ponto inicial da Era Clássica é apontado com o primeiro registro da poesia do grego Homero, nos séculos VII-VIII a.C. e vai se estender até o período de 300 a 600 d.C. que é chamada de Antiguidade Tardia, momento que se inicia a Idade média.

Neste interregno entre o Império Macedónico e o Império Romano/Bizantino se desenvolveu a cultura grega na antiguidade clássica que é profundamente influente até os dias de hoje com a denominada cultura ocidental.

A cultura e língua grega eram para aquele tempo o que hoje é a língua inglesa, grandes desenvolvimentos foram feitos a partir de Sócrates, Platão e Aristóteles, nomes em diversas áreas do conhecimento se destacaram: Hipócrates na medicina, Ésquilo, Sófocles e Eurípedes no teatro, Apeles na pintura, Fídias na escultura, Arquimedes na matemática, Aristarco, Erastótenes e Hiparco na astronomia, são alguns nomes importantes que influenciam até hoje a nossa cultura.

Esta pequena nação foi grande fundadora de conceitos e pensamentos que chegaram aos nossos dias: o Organon e a Ética de Aristóteles, a Geometria de Euclides e Tales de Mileto e Pitágoras na matemática.

Venceram batalhas unindo as cidades-estado, porém eram um pequeno povo com uma cultura forte e com valores humanísticos que são lembrados até hoje, ainda que possam ser modificados e atualizados.O grande império persa se expandiu a partir de Ciro, o Grande, no ano de 558 a.C., e dominou os medos e tomou toda a Mesopotâmia, Ciro respeitava a cultura e costumes dos seus inimigos, mas expandiu até o Egito seu império, e avançou sobre os gregos, mas foi derrotado por Atenas.

Depois de Dario I, Xerxes I e seu filho Artaxerxes também tentaram conquistar a Grécia e não conseguiram, no ano de 332 a.C. Alexandre imperador da Macedônia, o Grande, organizou um exército invencível e acabou tomando a Grécia e acabou vencendo os persas, estabelecendo um novo império, o Macedônico.

A morte de Alexandre por febre tifoide ou malária (a hipótese de envenenamento não é aceita pelos historiadores) a disputa entre generais acabou enfraquecendo o império e iniciou uma decadência.

O período estabelecido entre o ponto inicial da Era Clássica é apontado com o primeiro registro da poesia do grego Homero, nos séculos VII-VIII a.C. e vai se estender até o período de 300 a 600 d.C. que é chamada de Antiguidade Tardia, momento que se inicia a Idade média.

Neste interregno entre o Império Macedónico e o Império Romano/Bizantino se desenvolveu a cultura grega na antiguidade clássica que é profundamente influente até os dias de hoje com a denominada cultura ocidental.

A cultura e língua grega eram para aquele tempo o que hoje é a língua inglesa, grandes desenvolvimentos foram feitos a partir de Sócrates, Platão e Aristóteles, nomes em diversas áreas do conhecimento se destacaram: Hipócrates na medicina, Ésquilo, Sófocles e Eurípedes no teatro, Apeles na pintura, Fídias na escultura, Arquimedes na matemática, Aristarco, Erastótenes e Hiparco na astronomia, são alguns nomes importantes que influenciam até hoje a nossa cultura.

Esta pequena nação foi grande fundadora de conceitos e pensamentos que chegaram aos nossos dias: o Organon e a Ética de Aristóteles, a Geometria de Euclides e Tales de Mileto e Pitágoras na matemática.

Venceram batalhas unindo as cidades-estado, porém eram um pequeno povo com uma cultura forte e com valores humanísticos que são lembrados até hoje, ainda que possam ser modificados e atualizados.

 

Guerra: atualidade e possíveis cenários

02 ago

A liberação de um navio de grãos da Ucrânia é um fator simbólicoimportante, embora a Ucrânia bombardeado o QG da Rússia na Criméia enquanto a Rússia tenha matado Oleksly Vadatursky, fundador e proprietário de uma das maiores empresa agrícola da Ucrânia.

O simbolismo é importante e representa um alívio porque o confisco de grãos poderia causar uma onda de alta de preços em cascata que afetaria o preço dos alimentos em todo mundo.

A guerra, entretanto, está longe de ter um anúncio de paz e denuncias de atrocidades por parte da Ucrânia (um vídeo de castração de um soldado ucraniano por russos foi retirado do twitter) e da Rússia que protestou pelo ataque ao QG da Criméia.

Há polêmica entre especialistas do futuro de 20% do território da Ucrânia que já está ocupado pela Rússia, a maioria considera impossível a retomada destas áreas sem mortes de civis e isto seria para a Ucrânia uma virada em sua narrativa de colocar a Rússia como impiedosa e cruel.

Em pleno verão europeu, a União Europeia consegue uma redução de 15% do consumo de gás, para tentar garantir um estoque para o inverno, mas dependentes da Rússia estarão mais vulneráveis a partir do final de outubro, os gasodutos são mais simples do que o transporte de gás liquefeito que inclusive o torna mais caro, na Alemanha por exemplo, a demanda é grande.

No cenário futuro mais preocupante, recomeçará a 10ª. Conferência de Revisão do Acordo de Não-proliferação das Armas Nucleares, ontem Biden fez um pronunciamento esperando que haja “boa-fé” para realizar o acordo, esclarecendo que mesmo na guerra fria nunca houve ruptura de conversas e o cenário da guerra agora preocupa mais profundamente.

De acordo com os dados de maio de 2019, a Associação Nuclear Mundial (WNA, na sigla em inglês), existem 447 reatores nucleares em operação no mundo e que estão em 30 países, cada um deles é também um perigo nuclear, quer por desastre natural como em Fukushima em março de 2011, quer por erros de operação como Chernobyl em abril de 1986.

Vale lembrar que cada usina é também uma bomba em potencial e que poderiam ser bombardeadas em uma guerra, é provável que o novo acordo nuclear incluam este aspecto.

 

Entre a clareira e a escuridão

07 jun

É preciso que hajam forças eficazes lutando pela paz, infelizmente boa parte da mídia ocidental está polarizada e é incapaz de fazer uma reflexão sensata sobre os horrores e insensatez da guerra, não por desconhecimento dos seus efeitos, as duas guerras já mostraram, mas por causa de um comportamento infantil e fanático em ambos os polos.

A ameaça de fechar embaixadas na Rússia, os mísseis já disparados na Coréia do Norte, a guerra que é cada dia mais sangrenta na Ucrânia, com armamento mais pesado e letal, é engrossada pela mídia que chega a distorcer os fatos para polarizar ainda mais a guerra, já quase sem trégua.

Sobre as embaixadas o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken fez uma brincadeira (de mal gosto ao meu ver) de dedicar a Putin a música “We are Never Ever Getting Back Together”, de Taylor Swift, querendo dizer que nunca se separarão completamente.

É claro que a Rússia se voltou para o leste Europeu e sonha com uma federação russa ampliada, já a China nunca deixou de sonhar com a recuperação de Taiwan, e a Coréia do Norte pode ser mais uma peça nessa guerra que avança com “cuidados”, mas parece ter um objetivo sombrio.

A clareira, no contexto em que foi desenvolvida por Heidegger significa uma abertura em meio a floresta, em meio a escuridão, onde deve emergir o ser, e isto que é apropriado para a modernidade é também apropriado para um momento de uma guerra mundial avistada num horizonte, porque é oposto ao ente, as materialidades econômicas, sociais e até mesmo políticas, assim aparece o Ser, a vida e sua lógica, seu “lebenswelt” como diria Husserl.

Há uma sombra, ou uma escuridão que percorre as mentes da humanidade, a guerra parece não ser o que é: um grave perigo civilizatório, o fim das argumentações e dos diálogos, a negação do Outro como Ser, da sua cultura e de suas opções e convicções, e esta é a escuridão.

Diz a leitura bíblica: se o sal se torna insosso, com que salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens (Mt 5,13), é preciso que haja luz e sensatez.

A paz é sempre possível e desejável se tivermos tolerância e compreensão com o Outro.

 

Os mapuches, a ontologia e a paz

18 mai

Um dos povos originários mais resilientes da colonização das Américas é o povo Mapuche, são mais de um milhão de pessoas e se estudem pelo sul do Chile e Argentina, e se veem mais uma vez traídos por governos que prometem liberdade para viverem como nação e serem respeitados.

Porém a interpretação mais verdadeira, que remete a uma espécie de ontologia originária, é Mapúmche, que significa todos os seres que habitam o cosmos: os seres vivos, as árvores, as pedras, a água, o vento etc. é provável que a chegada dos espanhóis reduziu a palavra para Mapuche, que significa apenas povos da terra.

Li com tristeza que o novo governo Boric que prometeu em campanha suspender as medidas restritivas na região que recebe o nome colonizado de “La araucanía” (nome dado pelos colonizadores espanhóis) voltou a ser militarizada por causa das reivindicações de terras indígenas.

Disse a ministro do Interior, Izkia Siches, ao enviar militares a região: “Decidimos fazer uso de todas as ferramentas para fornecer segurança” à região e o longa saga dos mapuches continua.

Os mapuches sempre souberam que a língua os unifica, diz a ontologia ocidental que a linguagem é morada do ser, e rejeitavam o nome araucanos, que lembra as araucárias e os transformam em povos aborígenes, também a exótica ideia que mapuche seria derivada do grego, de um historiador Kilapan Lonko, que escreveu “El origen greco de los Araucanos”, uma falsificação da história.

Muitas palavras Mapuches entraram na língua chilena, choclo (milho), huacho (filho ilegítimo), laucha (rato pequeno), quiltro (cachorro), ruca (casa), etc. e uma interpretação popular de mapuche é mapu (terra), che (gente no sentido de povo), assim vários locais e cidades do chile possuem o prefixo hue: Carahue, Colhue, Pencahue e outras.

O extrato do documentário “Los araucanos”, intitulado “Mapuches: idioma o espelho da alma” de 1978, que equivocadamente os chama de povos araucanos, mostra a importância do idioma que os mapuches sempre tiveram que remete a ontologia dos povos originários.

Também o historiador e professor pela Universidade do Chile, o mapuche Rodrigo Huenchún explica que a cultura tem sido cada vez mais apropriada como manifestação política, desde a ditadura de Pinochet, além dele outros nomes conhecidos na cultuar são os de David Aniñir, Roxana Miranda e Elisa Loncon e muitos outros.

O reconhecimento da cultura dos povos, se suas raízes originárias estão na raiz da paz verdadeira, este é o drama do homem moderno, do esquecimento do ser, de suas vivências e de suas raízes.

(18) Mapuches no Chile: idioma, o espelho da alma – YouTube

 

A guerra, o Brasil e a Finlândia

26 abr

Enquanto a guerra vai se escalando no leste europeu, os objetivos russos vão se tornando claros, o controle maior das fontes de energia e material disponível para a guerra, isto inclui a Siderurgia de Azovstal, onde há civis e a batalha se intensificou.

Há o alegado despiste de dizer que o leste faria um corredor por terra até a Criméia anexada na guerra de 2014, porém isto nunca foi problema para a Rússia por causa de sua frota aérea, e ela tem outro exclave que é Kaliningrado, e também é por isso que a Ucrânia passou a bombardear os armazéns de petróleo russo.

O governo brasileiro ditatorial de Vargas chegou a flertar com o Nazismo, porém em julho de 1939 em visita dos Estados Unidos ao chefe do Estado-Maior do Exército brasileiro, general Góes Monteiro, o governo americano prometeu cooperar com o reequipamento militar e econômico do Brasil na construção da Companhia Siderúrgica Nacional (a antiga CSN).

Na época foi dado ao Brasil um crédito de 17 milhões de dólares junto ao Eximbark, e uma base americana foi instalada no Rio Grande do Norte, estratégica para voos militares para Europa.

Também a Finlândia tinha antes deste período indústrias pesadas que poderiam auxiliar na guerra, a Suécia também tinha e forneceu material tanto para a Alemanha como para os aliados, porém em 1939 Stalin, então presidente da União Soviética resolve invadir a Finlândia.

O parlamento da Finlândia está decidindo agora a entrada na OTAN, e a Rússia ameaça com retaliações, na última semana Maria Zarakhova, porta-voz do Ministério das Relações Extensores da Rússia afirmou: “Nós demos os nossos avisos, tanto publicamente como pela via dos canais bilaterais; eles (os dois países) sabem disso, então não há surpresas. Eles foram informados sobre tudo, sobre o que (uma eventual adesão à Otan) vai acarretar”.

Isto provoca uma nova escalada na Guerra e envolve também a Suécia que deseja aderir a OTAN.

O embate entre russos e finlandeses, iniciado em 30 de novembro de 1939, chamada de Guerra do Inverno (foto), embora com um exército e poderio menor os finlandeses resistiram a guerra e mantiveram a moral da tropa, já havia o pacto recém foi feito o pacto Molotov-Ribbentrop (ministros da Rússia e Alemanha, respectivamente), onde a Finlândia ficaria neutra, porém perdia parte de seu território, uma boa parte de seu parque industrial e se comprometia a manter neutralidade na guerra, mas a Rússia rompeu com a Alemanha e invadiu a Finlândia.

O tratado de paz foi assinado em 12 de março de 1940, cedendo 10% do território finlandês à Rússia e 20% de sua capacidade industrial a União Soviética.

Mais poderio militar e indústrias bélicas significam que não há fim previsto para a guerra, o maior envolvimento da OTAN significa a proximidade de uma escalada global, mas mantem-se a esperança de paz através de acordos, cada vez mais difíceis.

 

Vidas inocentes também importam

07 abr

A guerra de todos os horrores e desumanidades tem sua face maiscruel na morte de inocentes, por isto a morte de civis é condenada, embora deva se condenar a própria guerra, não há guerra justa, a única oposição justa a guerra é a paz.

Por mais que isto seja um fato, é importante pensar na morte dos inocentes, onde há sempre uma certa dose de intencionalidade, para prever possíveis desdobramentos e alerta para mais horrores, quando e trata de totalitarismos (veja o posto anterior) há sempre um horizonte sombrio e preocupante.

Por isto a morte de inocentes em si deve ser apurada e punida, trata-se de ato totalitário, absurdo.

Se pensarmos na guerra do Vietnã, onde se usou as bombas incendiárias Napalm (foto), onde morreram algo próximo a 1 milhão de pessoas (há estimativas que falam até de 3 milhões de pessoas), e também 300 mil combojanos e mais de 20 mil laocianos, então também no Ocidente tem em sua conta vidas de inocentes.

Também a guerra do Iraque, a crise no Oriente médio e as guerras africanas devem ser vistas.

A morte e o bombardeio de hospitais, maternidades e até manicômios na Ucrânia, é claro que estes dados devem ser comprovados, indicam a crueldade desta guerra atual, e isto é importante não só para um julgamento em tribunais de guerra, mas para pensar nos possíveis desdobramentos.

Em um clima de final de pandemia, uma provável escassez de alimentos, o desequilíbrio de forças militares com tecnologias e uso de armas nucleares, químicas e biológicas é muito preocupante.

Porém se observa isto também no microcosmo, nas ações sociais e individuais, a ausência de sentimento e compaixão pelos indefesos, a falta de humanismo verdadeiro e o descaso com a vida, pois a pandemia não acabou e crescem vários tipos de negacionismo.

Olhar sincero para uma humanidade que sofre e se vê ameaçada por um futuro ainda mais duro, é obrigação de todo humanismo sincero, e um olhar especial para os inocentes é mais necessário.

Sem um grande de humanidade que olhe para o Outro que sofre, não teremos futuro promissor.

 

A narrativa do totalitarismo

06 abr

Não se trata apenas da guerra que é o ápice da ação totalitária,a tentativa de submeter povos e governos a uma verdade unilateral, a uma forma de ver o mundo que despreza outras e mais do que fazer uma história do autoritarismo é preciso entender suas origens e sua narrativa.

Foi assim que Hannah Arendt encarou a questão ao escrever em 1951 “As origens do totalitarismo”, ela parecia convencida que após o final da segunda guerra o problema não acabava ali, ali fala do inferno, do pesadelo, da Metamorfose de Kafka, da cebola e até da feiura de um omelete entre tantas outras coisas, quando chegavam às suas mãos as histórias de Auschwitz.

Ao tentar descrever a experiência totalitária o dilema que se deparava Arendt era que essa experiência não podia ser explicada, não pela filosofia política ou pelos conceitos tradicionais, não é como a culminação de um processo do desenvolvimento de algo a partir de um passado.

Lembro uma frase impactante de Lygia Fagundes Telles, falecida estes dias quando completaria 99 em 16 de abril, escreveu: “Não há coerência ao mistério nem peça lógica ao absurdo”, os ditadores e suas narrativas só tem lógica numa propaganda sistemática, e numa claque que de outros fanáticos que o apoiam e com ele se identificam.

Esta forma de narrativa que Arendt escreveu encontrou oposição em contemporâneo como Voegelin sobre o qual ela respondeu: “eu não escrevi uma história do totalitarismo, mas uma análise em termos históricos dos elementos que se cristalizaram no totalitarismo” (ARENDT, 2007, p. 403).

Escreveu também na “Crise da República”, que a primeira diferença fundamental entre o totalitarismo e as demais categorias presentes na história está no fato de que o terror totalitário “se volta não só contra os seus inimigos, mas também contra os seus amigos e defensores”; uma segunda diferença seria sua radicalidade, que o torna capaz de eliminar não somente a liberdade de ação dos indivíduos como faziam as tiranias através do isolamento político., eliminando não só opositores como também aliados pouco confiáveis, há um claro paralelo na guerra atual.

Em sua nota de número 81, Arendt escreveu: “O total de russos mortos durante os quatro anos de guerra é calculado entre 12 e 21 milhões. Num só ano, Stálin exterminou cerca de 8 milhões de pessoas somente na Ucrânia. Ver Communism in action, U. S. Government, Washington, 1946, House Document n o 754, pp. 140-1”, novamente a semelhança com a Guerra atual não é por acaso, e depois de Butcha estes dias Mariupol (foto) poderá ter drama semelhante.

O último tópico do livro de Arendt é: “Ideologia e terror: uma nova forma de governo”, quem tem interesse em evitar totalitarismo é só ler, é provável que alguém tome consciência deste terror.

ARENDT, H. Origens do Totalitarismo. Trad. Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

 

Pode um cego guiar outro cego ?

25 fev

Numa situação de conflito as partes envolvidas devem ser arbitradas por uma terceira que seja neutra, mas ainda não existe.

A escalada da guerra entre Ucrânia e Rússia segue nesta manhã de sexta-feira, tanques russos se aproximam de Kiev enquanto as tropas de defesa da Ucrânia resistem como podem com ataques anti-tanques e explosões de ponte, como a do rio Teteriv, que dificultam a chegada dos russos a Kiev, também conseguiram atingir alguns tanques com baterias antitanques.

O próprio ministério da Defesa da Ucrânia informa que os tanques russos já estariam a 32 km da capital, e o objetivo é a queda do governo e consequente ocupação russa do país, os aliados do leste Europeu que fazem parte da OTAN: Polônia, Lituânia, Estônia e Letônia invocam o artigo 4º. do tratado da OTAN que qualquer país atingido implica numa reação dos 30 estados membro.

A entrada da OTAN seria o início de uma escalada mundial da Guerra, certamente a China se posicionaria a favor da Russia enquanto os EUA e seus aliados fora da Europa se posicionariam a favor da Ucrânia, o que já vem acontecendo, porém o Brasil segue numa complicada situação em função da visita do presidente da República em hora inoportuna à Rússia, porém o vice-presidente já condenou a ação russa.

Nas primeiras horas desta sexta-feira a situação da Ucrânia vai se tornando dramático com a possibilidade de um eminente assalto das forças russas a capital Kiev da Ucrânia, sem uma reação dos aliados, apesar de terem cedido armas ao exército ucraniano, em poucas horas a ocupação do país pode ser total.

O conselho de segurança conforme noticiamos ontem já se pronunciou contrário ao avanço russo, embora a retórica russa diga que era somente para manter a paz e anteriormente que não invadiria a Ucrânia, já se sabe que são apenas retóricas de guerra.

Quem seriam as forças, países e pessoas capazes de convocar uma reunião diplomática de emergência, as sanções impostas aos bancos da Rússia atingem três aliados de Putin neste mercado financeiro: Gennady Timchenko, Boris Rotenberg e Igor Rotenberg.

Outra sanção foi a interrupção do gasoduto Nord Stream 2 que está pronto e liga a Rússia com a Alemanha, Putin acusou o golpe dizendo que isto vai fazer o preço do gás explodir e a Europa depende dele.

Porém o problema central segue, quem pode dar luz a um diálogo entre cegos, como diz a leitura bíblica que faz alusão a que um cego não pode guiar outro cego, e acrescenta (Lc 6, 42): “como pode dizer a teu irmão: irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tu não vês a trave no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão”.

Não se trata de torcidas de uma partida de futebol e sim de vidas humanas e direitos de povos e nações que estão em jogo, não há torcida que tenha luz senão aquela que deseja a paz, os lados em conflito, aquilo faço alusão a Biden e Putin, deve aceitar algum tipo de moderação para evitar uma guerra mundial, ou a volta da guerra fria.

 

Sobre a Guerra e a cegueira

23 fev

É sempre cego ou apenas egocêntrico aquela incapacidade de olhar o Outro, querem sua atenção apenas para exigir seus dotes e seus feitos, assim são egocêntricos, porém a cegueira social e cultural é mais ampla, nela está a incapacidade de aceitar culturas e povos diferentes, dizem eles não constituem um grupo relevante ou não tem uma cultura avançada, onde a questão do avanço depende apenas do referencial, o mais comum em ambos casos é reclamar o olhar do outro sobre si, sem que haja o recíproco.

O ensaio sobre a cegueira de José Saramago, já postamos aqui fala desta cegueira social vista como um vírus que se espalha e começa cegar a todos, e que foi transformado em filme pelo diretor brasileiro Fernando Meirelles, com roteiro de Don McKellar, e chamamos o nosso post-ensaio de Intermitências da Morte, outro ensaio de Saramago.

Camus também descreveu em seu romance A peste, sobre uma doença que atingiu seu país natal (era argelino) e que via que chega-se uma hora em que a verdade parece ofender a todos, até mesmo os outrora sensatos: “mas chega uma hora na história em que aquele que ousa dizer que dois e dois são quatro é punido com a morte” pois é “uma ideia que talvez faça rir, mas a única maneira de lutar contra a peste é a honestidade”, esta virtude esquecida e até ironizada nos dias de hoje.

Diz Camus que ultrapassar o medo e a dor “compreendi que toda a desgraça dos homens provinha de eles não terem uma linguagem clara.  Decidi então falar e agir claramente, para me colocar num bom caminho”, isto implica não apenas em sabedoria e coragem, mas também ultrapassar a cegueira humana.

Numa passagem mais contundente dirá o autor: “Os homens são mais bons do que maus, e na verdade a questão não é essa. Mas ignoram mais ou menos, e é isso que se chama virtude ou vício, sendo o vício mais desesperado o da ignorância, que julga saber tudo e se autoriza, então, a matar”, mas então se faz o ódio e a guerra.

Este parece ser um caminho sem volta pelo qual trilhamos, não apenas no pavio aceso na Ucrânia e na Rússia, mas em toda humanidade, a cegueira do tempo das guerras parece ter voltado a toda e todos estão apontando o dedo uns para os outros, e Karl Klaus avisava aos jornalistas (antes da 1a. guerra mundial) que também embarcavam na onda: “A guerra, a princípio, é a esperança de que a gente vai se dar bem; em seguida, é a expectativa de que o outro vai se ferrar; depois, a satisfação de ver que o outro não se deu bem; e finalmente, a surpresa de ver que todo mundo se ferrou.

Também na Bíblia não falta esta metáfora: o cego Bartimeu que implora a visão, a cura do cego de nascença (incrível porque não tinha um sistema cognitivo para enxergar) e foi lavar-se no tanque de Siloé e os dois cegos da Galileia, é claro para a maioria dos teólogos que esta cura é para ver a verdade que os homens se recusam a ver: o Amor e a Paz.

As polarizações regionais e nacionais aos poucos se tornam mundiais e a sensação de que o outro é que vai “se ferrar” é a crescente e pura cegueira, todos nos ferraremos.