A crise planetária e suas origens
Edgar Morin em seu livro Terra-Pátria explica que o crescimento desta era se deu na modernidade, começou com as navegações pelo globo, que fez Cristóvão Colombo chegar a América e Vasco da Gama fazer o caminho pela costa da África para as índias, mas isto foi uma forma de mudar a rota terrestre que passava pela Índia e pela China, historicamente o desprezo pelos “bárbaros civilizados”.
Escreveu Morin: “Desde os começos da era planetária, os temas do “bom selvagem” e do “homem natural” foram antídotos, muito fracos, é verdade, à arrogância e ao desprezo dos bárbaros civilizados. No século XVIII, o humanismo das Luzes atribui a todo ser humano um espírito apto à razão e lhe confere uma igualdade de direitos.” (MORIN, 2003, p. 26)
A ideia de que a Europa, primeiro Londres depois Paris, e atualmente a Alemanha, seriam as culturas mais avançadas levaram a: “ música de Beethoven, o pensamento de Marx, a mensagem de Victor Hugo e de Tolstoi se dirigem a toda a humanidade. O progresso parece ser a grande lei da evolução e da história humanas” (idem), mas será que isto envolvia de fato o globo, ou foi uma época de guerras coloniais, depois duas grandes guerras e hoje ainda um processo de desenvolvimento duvidoso.
Damos um salto e no pós-guerra, reapareceu a confiança e: “Imensas esperanças num mundo novo, de paz e de justiça, ganharam corpo com a destruição do nazismo, no esquecimento ou na ignorância de que o Exército Vermelho trazia não a libertação, mas uma outra servidão, e de que o colonialismo havia retomado sua ação na África e na Ásia.” (MORIN, 2003, p. 32).
Citando a Guerra do Golfo e do Kwait (1990 e 1991), mostraram que: “o desmoronamento do totalitarismo do Leste não ocultará por muito tempo os problemas de economia, de sociedade e de civilização no Oeste, não reduzirá em nada os problemas do terceiro mundo transformado em Mundo Sul, e não produzirá naturalmente uma ordem mundial pacífica.” (Morin, 2003, p. 32), mostrando uma linha de fratura no oriente médio e mundo árabe, o livro é anterior mas pode-se citar a questão da Síria e da Coreia do Norte, fraturas atuais.
Morin aporta para o futuro agora cheio de problemas: “Mas o certo é que a história mundial retomou sua marcha turbulenta, correndo a um futuro desconhecido, ao mesmo tempo em que retorna a um passado desaparecido” (Morin,2003, p. 33), chama esta fase de democleana: “em 1945, a bomba de Hiroshima fez a idade de ferro planetária entrar numa fase damocleana.” (idem).
Apontava bem antes da crise mundial de retorno ao nacionalismo nas eleições, que isto já estava em curso: “Numa dialógica tornada mundial entre as forças de integração e de desintegração culturais, civilizacionais, psíquicas, sociais, políticas, a própria economia se mundializou cada vez mais e se fragilizou cada vez mais; assim, a crise econômica surgida em 1973 de uma escassez de petróleo passa por diversos avatares sem estar realmente resolvida.” (Morin, 2003, p. 34)
E mostra o lado perverso da crise atual: “A mundialização económica unifica e divide, iguala e desiguala. Os desenvolvimentos económicos do mundo ocidental e do Leste asiático tendem a reduzir nessas regiões as desigualdades, mas a desigualdade aumenta em escala global, entre “desenvolvidos” (em que 20% da população consomem 80% dos produtos) e subdesenvolvidos.” (MORIN, 2003, p. 34)
Como dar um fundo mais panorâmico sobre a crise atual e qual seriam as respostas possíveis para esta crise ?
Referência:
MORIN,E. e KERN, A.B. Terra-Pátria. Traduzido do francês por Paulo Azevedo Neves da Silva. Porto Alegre : Sulina, 2003.