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E a Europa não acordou
A criação do euro, apesar da polêmica saída da Inglaterra, não o Reino Unido, porque a Escócia tentou fazer um referente sobre a questão e o Parlamento britânico rejeitou, a tentativa de criar um conceito e uma política europeia não fracassou, apenas não avançou no essencial.
Porém suas profundas raízes humanistas e culturais foram sufocadas pelas ideologias idealistas e iluministas.
O livro Se a Europa despertar (acordasse, na versão de Portugal) traça linhas essenciais do que seria a Europa verdadeira, suas fronteiras e suas bases étnicas, qual seria sua identidade religiosa praticamente abandonada, não são as imigrações que deterioram esta visão de identidade e unidade, mas a pergunta que faz Sloterdijk em seu livro é que cena desenham os Europeus nos seus momentos históricos decisivos? Quais as ideias que os animam, as ilusões que os mobilizam? E não é difícil apontar seus equívocos tanto quanto as bases étnicas como as culturais.
Também o padre Manuel Antunes, o livro Repensar Portugal escrito antes da União Europeia, dizia que seu país deveria voltar-se para a Europa, antes era um cantinho da Europa que lhe dava as costas e se voltava para as colônias africanas, no livro dava linhas de repensar o país.
A colonização e as Guerras, intestinais, porque houveram as guerras religiosas no período final do renascimento, e a paz de Vestfália tratado que retirava a questão religiosa das disputas, porém a Europa teve outras disputas de fronteiras e étnicas, até culminar em duas guerras mundiais.
Elas acabam envolvendo todo o mundo, porque há interesses que extrapolam as fronteiras, porém é preciso compreender que uma verdadeira identidade e unidade europeia ainda não se construiu, abriu-se as fronteiras, mas agora elas parecem incertas e ameaçadas com o envolvimento na guerra do leste europeu.
A tese principal de Sloterdijk neste livro é que o modelo de colonização que deu a Europa a ideia de um Império de Centro (como o autor a chama) e que abriu um vácuo no pós-guerra que criou uma geração de intelectuais que buscou um novo modelo imperial, assim o autor conclui que não se conseguiu entender que ela não é mais um centro e tem dificuldade com isto.
As guerras então são um caminho trazem de volta a ideia de império, o contrário que Sloterdijk propôs em seu livro que seria abandonar este modelo, também é a conclusão do padre Manuel Antunes que acrescenta um modelo de “democracia social” a Portugal.
Sloterdijk, P. Se a Europa despertar. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Estação Liberdade, 2002.
A sabedoria e amor na hominização
Sabedoria não é o mesmo que inteligência, cultura ou astúcia, é algo límpido e puro que é vida plena, assim é também uma virtude, chamada de cardeal junto à justiça, fortaleza e prudência.
A cultura é ligada a tradição cultural dos povos, pode e deve estar ligada a sabedoria porque é o único caminho que pode ajudar o processo civilizatório (ou de hominização como chamada Edgar Morin) tornar-se um caminho seguro e sustentável.
Aqueles que precisam dominar pela força caminham pelo caminho do poder, ali pode haver algo de inteligência, em geral há, porém é usada no sentido contrário ao civilizatório, o argumento que as guerras ajudaram a evolução só é válido porque tiraram lições amargas da guerra, que poderiam tirar se a inteligência fosse de falto elevada e imbuída do amor.
Sabedoria e amor na hominização
A astúcia é a mais perigosa inteligência porque em geral liga-se ao poder e a opressão, cria caminhos inteligentes, mas repletos de armadilhas para si e para os outros, não é caminho de solidariedade e comunhão entre os povos e culturas.
Assim a virtude da natureza é aquela que mais aproxima o homem da consciência divina, ou da nossa divina consciência, e assim o homem encontra um caminho sólido para sua hominização.
O sábio sabe viver na pobreza e riqueza, sabe dominar-se na guerra, a prudência é a virtude que mais se alia neste aspecto, sabe viver na paz, não se agita com ela porque sabe que é o verdadeiro estado de graça, aqueles que precisam de bens ou de abundância para viver bem estão mais próximos dos vícios do que das virtudes.
Junto ao amor, a virtude da sabedoria contém as outras, alia-se a prudência, a coragem (fortaleza) e a justiça, não a dos homens que é imperfeita e sem misericórdia, mas a divina.
Os falsos profetas e a esperança
A má religião e as falsas profecias são aquelas que não anunciam a boa nova, não há nenhuma leitura histórica ou verdadeiramente profética daquilo que é o reino divino: a paz e a esperança.
Sim é verdade que estamos em tempos sombrios, mas ainda assim é preciso anunciar a paz e a esperança, que o homem até hoje construiu a civilização sobre guerras e vinganças é fato, porém foi a paz e esperança que desenvolveu a agricultura, o comércio e a produção de bens sociais, mesmo em meio às guerras a esperança sobreviveu e fez estrada.
São maus leitores bíblicos, quando os discípulos perguntaram quando os tempos de destruição viriam, diz a leitura Lc 21:8-9, “Jesus respondeu: “Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ E ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente! Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim”
Continua a leitura sobre conflitos mundiais (Lc 21:10-11): “e Jesus continuou: “Um povo se levantará contra outro povo, um país atacará outro país. Haverá grandes terremotos, fomes e pestes em muitos lugares; acontecerão coisas pavorosas e grandes sinais serão vistos no céu”, mas esta não é a profecia e sim aquilo que os homens farão antes de um tempo de paz e de verdadeiro processo civilizatório no planeta.
Aprendemos mais pela dor do que pela razão e pelo amor, ainda que estes tempos se digam racionais, a visão do todo, da Terra como uma pátria comum a todos povos e nações ainda não chegou, impera o poder mundano, as tentativas de saques e de vinganças entre os povos, e não há nada de divino nisto, é apenas a insanidade de um racionalismo raso e antissocial.
A esperança é que conduzirá os homens a um outro patamar civilizatório, que socorrerá os pobres, que renovará a vida e os modelos saudáveis de desenvolvimento, até mesmo aquilo que é considerado um princípio de sustentabilidade, não consegue gerir os recursos terrestres.
Uma nova civilização será aquela que sobreviveu destes tempos sombrios e sem temperança, como dizem as virtudes cardeais esquecidas (post da semana passada da filósofa Philippa Foot): temperança, sabedoria e prudência e coragem (fortaleza) são virtudes morais esquecidas, mas não de todos.
A escalada bélica e a esperança
Aumentam a potência e o uso de armas de longo alcance na guerra entre a Rússia e a Ucrânia, o uso de armas de longo alcance pela Ucrânia e os mísseis hipersônicos que podem transportar cargas atômicas já foram testados na guerra, e a ameaça de guerra com países europeus até mesmo na TV Russa já apareceu e foi manchete no mundo todo.
As bases militares da OTAN na Alemanha, Varsóvia e Londres aparecem num suposto mapa dos primeiros ataques em caso da Rússia se sentir ameaçada, internamente ela já alterou os seus estatutos sobre uso de armas nucleares rompendo acordos internacionais e o Kremlin autorizou o aumento na produção de mísseis para estas cargas nucleares.
Da psicologia que se pode entender de Putin é que ele despista, mas não blefa, os países nórdicos parecem ser os que mais temem um ataque russo, a Noruega distribui a população um manual do que fazer em caso de catástrofes ambientes ou guerras, em alusão a isto, Finlândia e Suécia (foto da cartilha) já se prepararam para esta hipótese e são novos membros da OTAN.
A guerra entre Israel e Hezbollah segue em sua escalada, no sábado (23/11) um ataque israelense matou ao menos 11 pessoas e 23 ficaram feridas, o tipo de míssil usado é capaz de atingir até mesmo bunkers e segundo as autoridades, havia forte cheio de explosivos após o ataque.
Ao menos ali há tentativas de acordos de paz, mas as negociações parecem estagnadas, no leste europeu espera-se que após a posse de Donald Trump, que venceu as eleições nos EUA, possa haver algum tipo de acordo, mas certamente a Ucrânia perderia parte do território.
A esperança jamais é esquecida entre as pessoas que desejam a paz, mais do que isso que rejeitam o discurso de ódio e de guerra, pois muitos dos que falam da paz não a querem de fato, acreditam que é possível algum tipo de “vitória” em campos de batalha, lá todos perdem.
Assim podemos fazer nossa pequena parte, se a guerra se tornar impopular os governos se mexem, a única coisa que pode comovê-los é a opinião pública, pois nem mesmo uma possível catástrofe econômica, ambiental e civilizatória os comovem, apesar da retórica.
Reformar o pensamento e seu viático
No início do capítulo 5 de Cabeça bem-feita de Edgar Morin, ele faz uma epígrafe de Edita de Eurípedes: “Os deuses nos inventam muitas surpresas: o esperado não acontece, e um deus abre caminho ao inesperado” (Morin, 2003, p. 61), só sabe trabalhar com o inesperado quem medita e tem a parte espiritual bem desenvolvida.
Ele nos dá três viáticos neste capítulo, o primeiro é “Preparar-se para nosso mundo incerto é o contrário de se resignar a um ceticismo generalizado”, é preciso resistir ao que é anti-humano não como um ato de coragem, mas na única certeza que é o erro do caminho que nossas convicções equivocadas podem nos levar (na foto o viático de Leonardo Alenza, 1840).
O segundo viático é a estratégia, nos perdemos no caminho daquilo que é bom e que desejamos.
“A estratégia opõe-se ao programa, ainda que possa comportar elementos programados. O programa é a determinação a priori de uma seqüência de ações tendo em vista um objetivo. O programa é eficaz, em condições externas estáveis, que possam ser determinadas com segurança” (Morin, 2003, p. 62) assim precisamos pensar na estratégia exercendo-a, se queremos mais humanidade é preciso ser humano, se queremos a paz devemos praticá-la.
O terceiro viático é o desafio, geralmente procuramos nossa zona de conforto ou segurança, mas nem conforto nem segurança estão lá, em geral exigem um desafio para conquista-las, diz Morin: “Uma estratégia traz em si a consciência da incerteza que vai enfrentar e, por isso mesmo, encerra uma aposta. Deve estar plenamente consciente da aposta, de modo a não cair em uma falsa certeza. Foi a falsa certeza que sempre cegou os generais, os políticos, os empresários, e os levou ao desastre” (Morin, 2003, p. 62) deste é o desastre da falsa paz de hoje.
O que pode nos levar a um futuro ainda melhor, quem responde não é exatamente um cristão, e sim alguém de origem judaica, mas que vive um laicismo: “A aposta é a integração da incerteza à fé ou à esperança. A aposta não está limitada aos jogos de azar ou aos empreendimentos perigosos” (Morin, 2003, p. 62), se trabalhamos para a paz e para o processo correto do que é civilizatório temos certeza de contar com alguma ajuda extra, porque não: divina.
MORIN, E.
MORIN, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. tradução Eloá Jacobina. – 8a ed. -Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
O mau pensamento, a má política e a má religião
A estrutura da crise civilizatória que vivemos, a ameaça nuclear tornou-se real após a liberação de mísseis para o território russo estes dias, a crise energética e o problema da miséria mundial estão na pauta civilizatória, mas o pensamento, a política e a religião (em seus desvios) não os percebem claramente.
Trata-se de conseguir aliados e não de construir pontes e derrubar muros políticos, culturais e até mesmo religiosos, o pensamento iluminista ainda domina o ocidente, a visão cultural rasa invade o discurso até das camadas mais cultas e a religião quando não é puro comércio se desvia para preceitos e pré-conceitos humanos pouco ou nada tem de puro e divino.
Sobre o pensamento um texto interessante de ler é “Cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento” de Edgar Morin, diz ele sobre a crise que já era presente nos discursos sobre o “mal estar civilizatório”: “De modo que podemos, ao mesmo tempo, integrar e distinguir o destino humano dentro do Universo; e essa nova cultura científica permite oferecer um novo e capital conhecimento à cultura geral, humanística, histórica e filosófica, que, de Montaigne a Camus, sempre levantou o problema da condição humana” (Morin, 2003, p. 38).
Diz na introdução do livro: “O saber tornou-se cada vez mais esotérico (acessível somente aos especialistas) e anônimo (quantitativo e formalizado). O conhecimento técnico está igualmente reservado aos experts, cuja competência em um campo restrito é acompanhada de incompetência quando este campo é perturbado por influências externas ou modificado por um novo acontecimento.” (Morin, 2003, p. 19).
Porém as redes invadiram o discurso dos experts e piorou o conhecimento cultural e político, agora sob a influência do “enxame digital” (ler Byung-Chul Han: o Enxame), uma onda de má política e má religião foi deflagrada e invadida por “influencers”, pseudo-profetas e políticos cuja conduta anti-civilizatória já denunciam suas falsidades e maldades.
É hora dos oportunistas, do pouco pensamento (ele já atingiu a camada seleta de “cultos”) e de má religião, que profetiza o mal, a desordem, e anuncia como “profecia” a religião do lucro fácil, do desprezo a cultura e de outras culturas que não as próprias.
Porém a luz persiste, a resistência persiste entre aqueles que anunciam a boa-nova e um mundo mais humano, a nova civilização e o protagonismo do que é bom, belo e humano; e aos poucos o que é pensamento ultrapassado, má política e religiões e profetas falsos desaparecerão, será um longo e doloroso processo, mas a noite só persiste na ausência da luz.
A quem tem pouco (pensamento, cultura e fé) até o pouco lhe será tirado.
MORIN, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento / Edgar Morin; tradução Eloá Jacobina. – 8a ed. -Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
A alegria e re-construir a Terra
Em meio a ameaças de guerra total: os EUA autorizaram o uso de armas de longo alcance na guerra do leste europeu, Finlândia e Suécia se preparam para possível guerra (RFI press) e a ameaça russa de uma guerra total pela aprovação de mísseis (Terra on-line).
Tudo isto parece contraditório com as possibilidades do Terra-Pátria que postamos na semana passada, porém também um teólogo, paleontógo e filósofo Teilhard Chardin aponta algo além disto: re-construir a Terra.
O texto de Chardin datado do final de sua vida na década de 30 (são vários extratos), compilado e publicado após sua morte em 1958, dizia apenas em Construir a Terra, porém não havia ainda o forte desiquilíbrio ambiental, o crescimento das usinas atômicas (a energia foi usada na guerra para bombas) e o perigo de um cataclismo global, ameaças hoje presentes, além do desiquilíbrio social.
Ele já sabia da crise da democracia e do crescimento de sistemas totalitários (fascismo e comunismo), definia sua crença no futuro em três vertentes: paixão pelo pessoal, pelo universal e pelo próprio futuro, e vendo o planeta como um organismo deu sua sentença: “cada célula pensa, pelo fato de ser livre, que está autorizada a erigir um centro para si mesma” (Chardin, 1958), porém constatou a dispersão deste falso liberalismo intelectual e social.
Vê, porém as contradições em diálogo, estas forças não tem o “poder meramente destrutivo, cada um dela contém fatores positivos … por menos que estes componentes conversem, cada um deles contém componentes positivos … cada um deles é o próprio mundo é o próprio mundo que se defende e quer chegar a luz”, claro é preciso evitar os conflitos de guerras e extremismos.
No sentido que dá ao “espírito da Terra”, este foi escrito unindo extratos de 1931, em viagem pelo Oceano Pacífico, definiu este espírito como “o sentido apaixonado do destino comum que arrasta, sempre mais para longe, a fração pensante da Vida”, e ela dá sentido à nossa consciência em círculos crescentes de famílias, de pátrias, das raças, descubra enfim que a única Unidade humana verdadeira, natural e real, é o Espírito da Terra”.
Edgar Morin em seu livro Terra Pátria criou um conceito similar como cidadania planetária, porém é preciso dar uma “alma comum” a esta ideia de um planeta como casa de todos.
Na cosmologia de Chardin, ele trabalha insistentemente neste tema em sua Noosfera (esta camada pensante que cria este espírito capaz de envolver todos), dirá que “o amor é a mais universal, a mais formidável e a mais misteriosa das energias cósmicas”, hoje com tantos polos e tantas forças em conflito é preciso reencontrar este ponto essencial de convergência.
No caminho da unidade, “às maravilhas de uma alma comum”, escreveu “estas breves e pálidas devem fazer compreender que formidável poder de alegria e de ação dorme ainda no seio da unidade humana”, redescobrir este valor e esta força cósmica, como a define, é o destino nosso.
Esta é a alegria daqueles que creem na participação divina que corrige a história humana.
CHARDIN, T. Construire la Terre. Paris: Editions du Soleil, 1958.
COP20 e a geopolítica
O tema será evitado em ser tocado diretamente, já que países árabes como o Egito e a Turquia participam da conferência e a Rússia estará presente através do ministro das relações exteriores Serguei Lavrov.
O Brasil sedia a conferência que deverá ir até a segunda feira, o G20 ou Grupo dos 20 foi formado com sentido econômico após as sucessivas crises financeiras da década de 90, em 1999, ministros de finanças, chefes de bancos centrais das 19 maiores econômicas do mundo mais a União Africana e a União Europeia, visavam criar um grupo econômico forte que coordenasse ações globais na economia.
Estes países representam 90% do PIB mundial e 80% do comércio mundial (incluindo o comercio intra-EU) e dois terços da população mundial, esperasse algo de muito interesse econômico, mas temas como opções de gênero e geopolítica (indiretamente o tema será tocado) devem ser evitados e como nas edições anteriores o clima deve ser o grande tema, porém há uma expectativa que o tema taxação de grandes fortunas avance.
O texto base já está sendo elaborado nos bastidores e deve avançar até a madrugada de terça- feira para apresentação do texto final, a reunião é relevante para a paz, ainda que não seja tema do encontro, porém a conversa de líderes e ministros destes países melhora a relação.
Enquanto isto a guerra no leste europeu vai tomando contornos dramáticos, a capital Kiev da Ucrânia tem sido constantemente atacada por drones e os Estados Unidos deram permissão para Kiev usar misseis de longo alcance que poderão atingir alvos dentro da Rússia.
No oriente médio há uma expectativa de acordo de Israel com o Líbano, mas os bombardeios continuam e o Irã não participa desta negociação, assim o Hezbollah permanece em guerra.
Espera-se da COP20 além dos tradicionais temas sobre a emissão de gases e problemas sobre o clima que algum aceno para a paz seja lançado, uma vez que Rússia, China e Estados Unidos estarão presentes na Conferência.
Civilizar a civilização
Este é um dos capítulos centrais do livro “Terra-Pátria” de Edgar Morin, é sempre importante lembrar que isto foi muito antes da atual crise bélica, que é o cume de um dos mais perigosos pontos da crise civilizatória.
Escreveu sobre o que significa civilizar: “A busca da hominização, que faria sair da idade de ferro planetária, nos incita a reformar a civilização ocidental, que se planetarizou tanto em suas riquezas como em suas misérias, a fim de realizar a era da civilidade planetária” (Morin, 2003, p. 110).
O lema é bonito, parece tão simples quando falamos do amor, mas realiza-los é algo muito mais difícil do que se imagina: “Nada é mais difícil de realizar que o desejo de uma civilização melhor” (Morin, 2003, p. 110).
É como quando foi feita a Revolução Francesa, o seu lema trinitário: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” parecia simples e realiza-lo, porém adverte Morin, a norma democrática de 1848 é complexa porque: “porque seus termos são ao mesmo tempo complementares e antagónicos: a liberdade sozinha mata a igualdade e a fraternidade; a igualdade imposta mata a liberdade sem realizar a fraternidade; a fraternidade, necessidade fundamental para que haja um vínculo comunitário vivido entre cidadãos” (Morin, 2003, p. 112).
Estes antagonismos vão desde o egoísmo econômico até o ódio político, e também o exercício da democracia: “ … exige simultaneamente consenso e conflitualidade, é muito mais que o exercício da soberania do povo” (idem) e este limite que exige tolerância foi ultrapassado.
Assim o que temos em jogo é “… a dificuldade de instaurar a democracia após a experiência totalitária. A regra do jogo democrático necessita de uma cultura política e cívica cuja formação foi impedida por décadas de totalitarismo; a crise económica suscita um excesso de conflitualidade que ameaça romper a regra democrática” (Morin, 2003, p. 113) e em várias partes do planeta este rompimento já aconteceu.
Escreveu Morin em tom profético para a época (escrito em 1993): “Correlativamente, o desmoronamento das grandes esperanças do futuro, a crise profunda do revolucionarismo, o esgotamento do reformismo, o achatamento das ideias no pragmatismo do dia-a- dia, a incapacidade de formular um grande projeto, o enfraquecimento do conflito de ideias em proveito dos conflitos de interesses ou dos etnocentrismos étnicos ou raciais ..” (p. 114).
É preciso ultrapassar estas fragilidades para reencontrar o caminho do bem comum e do bem estar social, não está longe o seu alcance, o problema é que este caminho como o amor e a fraternidade não são tão simples e exigem uma resiliência de fazer o bem exercitando-o.
MORIN, E. e KERN, B. Terra-Patria. Trad. Paulo Azevedo Neves da Silva. Brazil, Porto Alegre : Sulina,2003.
Em novo cenário geopolítico a pax romana
Durante a campanha eleitor Donald Trump disse que encontraria uma solução para acabar com a guerra “em um dia”, suas ações e falas recentes apontam para uma Pax Romana (na foto o imperador Júlio Cesar em campanha).
A paz romana era aquela considerada quando uma nação se submetia ao império romano, as conversas do novo presidente eleito (ainda não empossado) Donald Trump com Putin e Zelensky, assim como sua fala sobre o Oriente Médio apontam nesta direção.
Segundo o jornal americano Washington Post no domingo Trump já teria falado com Putin e Zelensky, ao presidente russo teria dito que é preciso evitar a escalada da guerra e a Zelensky afirmou que continuaria apoiando a Ucrânia, mas sem estabelecer claramente quais seriam os limites e orçamentos.
Já com Israel o recado aos antissemitas foi mais duro, dizendo para desistir de ações contra Israel.
Curiosamente nas eleições americanas o republicano teve ligeira vantagem de 21% dos votos islâmicos contra 20% da democrata, porém a maioria foi do partido verde, Jill Stein obteve 53% dos votos sendo um segmento que ganhou, nas eleições da câmara dos deputados.
A vitória de Trump foi comemorada por israelenses, ali a pax romana será mais clara, a submissão aos interesses de Israel e aceitação dos limites territoriais.
Sua fala sobre a região foi o que disse a Netanyahu para “acabar logo com isso” embora tenha acrescentado “a matança tem que parar”.
O problema da pax romana é que ela não elimina as disputadas e rancores, que permanecem apenas adormecidos e podem explodir de novo a qualquer momento, enfim é o que foi dito por Trump como “paz por meio da força”
A paz verdadeira significa novos horizontes além dos conflitos e povos que possam por meio de acordos razoáveis viverem em paz.