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Arquivo para janeiro 22nd, 2014

Diferenças entre Ser e Existir

22 jan

A autora que estamos lendo (Mafalda F. Blanc no seu livroSerEnte Introdução a Ontologia) explica que o verbo “ser” (ƐĨναι, esse, être, Sein) nas línguas indo-europeias, “deriva de um mais genuíno sentido existencial e só foi possível porque a este se sobrepôs como complemento um atributo nominal ou adjetivo”, e isto significa que “juízo predicativo numa asserção do tipo ´há/existe P em S’ “ (pag. 14).

Isto parece redutivo, porém “do ponto de vista semântico o verbo ´ser´ contém, sob a aparente abstração da sua forma infinitiva, uma riqueza de conteúdo bem concreta, presente ainda nas flexões verbais das línguas indo-européias, significando viver (segundo a raiz ´es´, presente nas formas ´einai´, ´esse, ´ser, ´sein´), crescer (segundo a raiz ´bhu´ presente em ´be´, ´bin´, ´fuein´, ´fui´) e permanecer (segundo a raiz ´wes´, presente nas formas germânicas ´war´, ´gewesen´ e ´wesen)” (pag. 14 da autora mas citando o próprio Heidegger).

No cotidiano percebemos a existência do ente, “sensível e retiradas pela imaginação” (pag. 14) porém pode-se abstrair e encontrar os conteúdos essenciais do ente “a espécie e o gênero”, até alcançar a determinação mais abstrata da essência, na sua pura formalidade, no dizer da autora da “abstração formal do ser, caracterizando esta pela inteleção do intimo ato de existir (actus essendi), que põe e sutém como ente concreto o sujeito de determinada essencial – como fielmente denota o juízo existencial” (pag. 15).

Isso admito como uma universalidade própria, afirma a autora, dá-se o nome de transcendental (pag. 15) mas como espécie “a unidade só retém as determinações comuns às diversas espécies, excluindo as diferenças, que se lhe acrescentam do exterior, no caso do ser, não há diferença que o possa contrair exteriormente, pois que teria ou de já ser ou de ser coisa nenhuma” (pag. 15).

O ser inclui portanto todas as diferenças, como afirma a autora, “quer dos indivíduos quer as suas determinações”, então embora abstrata, está presente em toda a humanidade, independente da cultura, quer dizer “não é, assim, um gênero máximo, a nota comum e mais abstrata de uma diversidade extrínseca de tempo que transcende … “ pag. 15.

Então as diferentes determinações, dadas por línguas, hábitos e formas de sociabilidade, enfim da cultura ainda devem permanecer em essência enquanto ser, e isto significa que aquilo que se vê na humanidade planetária é capaz de encontrar denominadores comuns, mesmo considerando o que afirma Edgar Morin (que acabo de ler), citando M. Murayama que cada cultura tem qualquer coisa de “disfuncional (defeito de funcionalidade), de misfuncional (funcionando num mau sentido), de subfuncional (efetuando uma performance ao nível mais baixo) e de toxifuncional (criando prejuízos no seu funcionamento)” (pag. 116 do livro Terra-Pátria) podemos ainda encontrar algo essencial deste “ser” enquanto Ser.