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Arquivo para janeiro, 2018

Dos tempos homéricos à barbárie

03 jan

Dos tempos dos romances épicos de Ilíada e Odisséia, até os dias de hoje aATroiaGrego violência fez parte da história, em especial na civilização ocidental, onde se lê o início do conflito entre gregos e troianos, narrados na Ilíada:

“Irritado, o herói retirou-se à sua tenda sem pretender mais combater. Os Troianos, notando a sua ausência, tomaram coragem, atacaram o campo dos Gregos ficando os navios destes em risco de serem queimados. ”
Para muitos historiadores esta é a obra fundadora da civilização ocidental, onde Alexandre encara o filósofo cínico Diógenes que passou a vida em um barril, ao qual teria dito que se não fosse imperador, gostaria de ser como ele um andarilho imundo de Atenas.
Petr Sloterijk vai reconstruir (a nosso ver) esse cinismo e ira que se encontram num evento para traçar parte fundamental de seu pensamos em duas obras fundadoras de seu pensamento, o Crítica da Razão Cínica (1983) e Ira e Tempo (2006), lançadas no Brasil pela Estação Liberdade, além do primeiro volume dos três das Esferas.
Além de cinismo e era queremos lançar a probabilidade da emergência de um novo pensamento, em tempos de ira e cinismo, uma solidariedade sincera e universal que abrace o mundo todo, seria possível ? talvez, mas não sem forças humanas que a propulsionem.
Qual humanismo pode nascer ou renascer hoje, visto que a nosso ver o Renascimento não foi outra coisa senão uma volta ao humanismo com ajuda da antiguidade clássica, mas o neoliberalismo e o iluminismo enveredaram por um caminho diferente.
Esclarecer o filósofo Byung-Chul Han em A Sociedade do Cansaço (editado no Brasil pela Vozes 2017): “A sociedade do cansaço e do desempenho de hoje, apresenta traços de uma sociedade coativa, cada um carrega consigo um campo, um campo de trabalho. A característica específica desse campo de trabalho é que cada um é ao mesmo tempo detento e guarda, vítima e algoz, senhor e escravo.  Nós exploramos a nós mesmos.” (Han, 2017, p. 115)
A política tornou-se cínica porque o que desejamos é aquilo que Saramago chamou de “a colonização do outro”, desejo que o outro tenha a mesma opinião que a sua, entramos num campo da psicopolítica, onde a coação se torna todas as armas, e a mesma quanto ao método.
O diálogo é feito com hipocrisia e proselitismo, tudo o que desejamos é que a “nossa verdade” prevaleça, não há hermenêutica, mas um só método: a coação.

 

Como caracterizar o ano de 2017

02 jan

Se quisesse ser simplista diria que foi ano do retrocesso, a posse de Trump,ABarbarie as ameaças nas eleições holandesa, francesa e alemã onde os Nazi chegaram a 11% dos votos, porém esta é só uma face de uma mudança em curso, a descoberta dos Paradise Papers, onde aparecem alguns grandes nomes internacionais como Hamilton e Madonna e a maior surpresa foi a Coroa (nem tanto para quem conhecem as posses da inglesa em diversas ilhas de paraísos fiscais), Petr Sloterdijk caracteriza o nosso tempo como poderíamos pensar em 2018, como tempo da barbárie nunca esteve tão visível e a razão se tornou uma “razão cínica”
O problema é a impotência do discurso de mudança, incapaz de uma visão planetária, com soluções paroquiais, se vê impotente diante de um massacre do capital financeiro e das especulações que fazem em todo planeta, não isentas de paraísos fiscais e corrupções.
Petr Sloterdijk escreveu sobre o humanismo contemporâneo: “Podemos traçar a fantasia comunitária que está na raiz de todo o humanismo de volta ao modelo de uma sociedade literária, na qual a participação através da leitura do cânone revela um amor comum de mensagens inspiradoras. No coração do humanismo tão compreendido, descobrimos uma fantasia de culto ou clube: o sonho da solidariedade portentosa daqueles que foram escolhidos para serem autorizados a ler.

No mundo antigo – de fato, até o início dos estados-nação modernos – o poder da leitura realmente significava algo como pertencer a uma elite secreta, …” (Critica da razão cínica, 1983), construíram a bárbarie como retrata o quadro de Ruben de (1609): O massacre dos inocentes (foto).
E completa: “O conhecimento linguístico já contava em muitos lugares como a proveniência da feitiçaria. No inglês médio, a palavra “glamour” se desenvolveu com a palavra “gramática”. A pessoa que poderia ler seria pensada facilmente capaz de outras impossibilidades.” (Sloterdijk, Critica da Razão cínica, 1983).
O que aconteceu com a leitura, com a vulgarização da cultura, da leitura e até mesmo das artes, substituída por fundamentalismos, auto-ajuda e uma cultura do feio, do horror e até mesmo do terror, assinala Sloterdijk sobre o nosso tempo: barbarie.
Sloterdijk, que não é religioso, afirma que a desespiritualização do asceticismo moderno atual é: “é provavelmente o evento na atual história intelectual da humanidade que é o mais abrangente e, por sua grande escala, é o mais difícil de perceber, ao mesmo tempo, o mais palpável e atmosféricamente poderoso. Sua contrapartida é a informalidade da espiritualidade – acompanhada de sua comercialização nas subculturas correspondente.” (Sloterdijk, 1983).
Escreveu o autor em “Você pode mudar sua vida” (ainda sem tradução em português): “Somente a vontade artística de transformar o futuro em um espaço de oportunidades ilimitadas de elevação de arte nos permite entender o núcleo da regra de procriação: “um criador deve criar […] uma roda auto-propulsora, um primeiro movimento” (Sloterdijk, em (2009) Du musst Dein Leben ändern. Über Antropotechnik -Você pode mudar sua vida, sem tradução para o português).
Se o nosso tempo pode ser caracterizado conforme o autor pela “barbárie”, o próprio autor também dá respostas apontando para uma reviravolta na cultura, a recuperação de uma verdadeira ética, uma verdadeira religiosidade para construir uma nova cultura