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Arquivo para dezembro, 2020

O deserto e o futuro

03 dez

Não é apenas a pandemia, de fato ela pode passar, mas seus problemas não só não passaram como estão se agravando, o futuro ali na frente pode ser de uma crise séria, não só pelas dificuldades econômicas e sociais, na raiz há uma crise do pensamento.

O número de problemas de ordem emocional e psíquica de um longo período de isolamento já é visível, e os ciclos seguintes de euforia e exageros podem ser piores, parte da segunda onda no Brasil revelam os dados são festas e aglomerações inexplicáveis em meio a uma pandemia.

O romance de Augusto Cury falando do Futuro da Humanidade, parece apontado apenas para o foco de pessoas com problemas psíquicos podem ter solução e que a relação com estes pacientes que são marginalizados e tratados como sem identidade, deixa indignado um jovem estudante com nome de Marco Polo, o aventureiro navegador veneziano do século XIII, cujo nome o pai deu em sua homenagem.

O desafio deste jovem é que além de remédios, o tratamento com diálogo e psicologia podem levar a uma verdadeira revolução no tratamento de pessoas assim

O mundo já mudou, a nova normalidade poderá apresentar graves problemas tanto de origem social quanto psíquica, mas a consciência de que tudo isto pode e deve ser tratado com diálogo e sem mecanismos de fugas, como bebidas, drogas e festas, pode ajudar a uma outra cura além da pandemia, claro não é este o assunto do livro.

O livro As viagens de Marco Polo inspirou certamente as navegações e as explorações do Oriente na passagem do Renascimento para a Modernidade, escrito entre 1271 e 1295, conta as experiências deste jovem na corta de Kublai Khan, porém a viagem é feita de lutas e desafios (veja ilustração da obra original acima) e as viagens de grandes navegadores vieram nos anos seguintes, há uma travessia a ser feita hoje.

Lembro também a frase de Augusto Cury na qual diz que só é digno do oásis aquele que consegue atravessar o próprio deserto.

 

A pandemia e um alerta sobre a educação

02 dez

A pandemia poderia ter auxiliado nossa compreensão humana, sobre as nossas limitações, sobre a nossa interdependência e sobretudo sobre as incertezas que vivemos desde o nosso nascimento, a vida assim como a bondade e o bem são frágeis e precisam ser cuidados.

Ao longo dos seus 99 anos, o pensador Edgar Morin viveu o que muitos de nós leu apenas nos livros, a experiência deste notável educador é que há um mal que todos sofrem em graus diferenciados, a compreensão humana, o humanismo que abranja todo homem e mude a vida.

A preocupação do filosofo nestes tempos de pandemia é a polarização política e religiosa, que em convergência com o pensamento de Jonathan Haidt, leva a ideia que a empatia e a consciência de coletividade são essenciais para evitar ou minimizar esta polarização perigosa.

O pensamento desenvolvido por Haidt em torno da pandemia é o fato que “estamos presos juntos por aqui”, leva a ideia de todos no mesmo barco, nome também de um livro de Peter Sloterdijk, é a partir dai que parte tentando levar a um novo horizonte de diálogo bem feito e civilizado, escuta paciente e aceitação de visões diferentes, de fato sempre aconteceram, mas a questão são as diferenças morais.

Não se trata de uma tarefa fácil, afirma Morin, os modos como nossa psicologia moral se desenvolveu alerta justamente para a educação, é preciso ensinar nas escolas e universidades a compreensão humana, porque é um mal do qual todos sofremos em determinado grau.

Além disto alerta o filósofo já quase centenário, é preciso ensinar que a única certeza em todo destino humano é que a vida é feita de incertezas, postamos na semana passada o ser-para-a-morte de Heidegger mal lido e mal compreendido, e que neste tempo de pandemia pode levar o ser humano justamente ao oposto para o qual estamos caminhando, a descoberta do infinito, do respeito ao outro e da moral, como quer Morin.

Uma análise fria nos deixa pessimistas, porque os perigos são tantos, mesmo com a vacina, com ela pode vir um problema ainda maior que é ignorar os problemas que temos além da pandemia, porém a insistência de Morin em temas educacionais e morais aponta um caminho bom.

 

Descaminhos e veredas

01 dez

Enquanto o Ocidente padece com a covid-19, o oriente em meio a crise continua dando sinais de vitalidade e fortaleza, formaram um bloco de 15 países tendo a China, Coréia do Sul, Nova Zelândia, Japão e Austrália a frente, chamado de RCEP (Parceria Econômica Regional Abrangente, em inglês RCEP) foi assinado num encontro de cúpula regional em Hanói em 15/11, embora a conferência tenha sido online.

Um dos objetivos é reduzir progressivamente as tarefas em áreas essenciais nos próximos anos, além dos países que faziam parte do tratado asiático ASEAN, juntam-se Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Filipinas, Singapura, Tailândia, Vietná, o bloco tem metade da população mundial e quase 40% do PIB de todo planeta.

Além da pandemia o ocidente digladia-se com polarizações, crises com direitos de minorias e raciais, um degradante ambiente moral, no qual a corrupção é apenas uma parte de todo uma engrenagem estrutural em torno dela, com uma presença cada vez maior de migrantes de todo o planeta, mas em especial os árabes que tem uma cultura bastante diferente.

A zona do Euro terá que reforçar os laços para sair da crise econômica imposta pela pandemia, a saída da Inglaterra que finaliza em dezembro, ainda tem efeitos imprevisíveis também para a Inglaterra, mas o governo conservador de   conseguiu se impor em meio a pandemia e prepara a primeira vacinação em massa no ocidente.

Na América Latina, o passo dado por Bolsonaro do Brasil e Fernandez da Argentina de fazer a primeira reunião bilateral não deixa de ser um alento, mas a chamada a uma cooperação das forças armadas mote do governo brasileiro e o pedido de colaboração na questão ambiental apesar do toque diplomático representam também uma provocação naquilo que os presidentes acreditam.

O governo eleito da Bolívia, partidário do deposto Evo Morales, tenta romper o isolamento convidando o líder oposicionista da Venezuela, mas usou na festa de libertação do estado de Potosí, a bandeira boliviana e a Whipala, símbolo da congregação dos povos indígenas.

O aceno para uma cooperação e formação de um bloco coeso do Mercosul está difícil de sair do papel para medidas concretas onde a cooperação, o respeito a diversidade política e cultural, e a cooperação além fronteiras seja um passo dado como no Oriente ou na ainda frágil União Europeia, acordos das Américas, como era a proposta do Nafta, se forem avante com Joe Biden devem ser um processo muito lento.

O ocidente vive uma crise, porém vive de fatos passados, o período colonial da Europa, a hegemonia política dos EUA e a América Latina cheia de riqueza cultural, ecológica e com promessas de um futuro pan-americano ficam apenas no sonho de muitos idealistas.