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Arquivo para fevereiro 11th, 2025
A salvação do belo
A harmonia e a paz têm uma profunda relação, basta ver como são os países antes e depois das guerras, basta ver cidades e até mesmo rios e florestas numa região de guerra.
Não se trata de fechar a chave regiões do planeta, através do clima e da alteração do meio ambiente o reflexo em toda criação é imediata, pois mesmo que queiramos viver numa bolha o contato com o ar, a água e as riquezas é impossível de ser notado.
Isto se transporta também para a cultura e para a política, tudo parece um reflexo do maltrato e da falta de sensibilidade ao que é realmente belo e está em harmonia, muito do desastre cultural de nosso tempo vem desta relação.
Para Hegel, segundo sua visão de estética e por consequência do Belo, é a ciência que se ocupa do belo artístico e não o belo natural, para ele o belo natural é produto do espírito (Geist), e, sendo seu produto, é partícipe da verdade e de tudo que está na natureza, veja que este espírito chama de “transcendência” o que liga os “objetos” ao que existe na natureza, assim é espírito “holístico”, mas não místico e está fora do homem, sendo alcançado pela ciência.
A escultura é considerada uma arte “nobre”, afirma Hegel: “A escultura introduz o próprio Deus na objetividade do mundo exterior; graças a ela, a individualidade manifesta-se exteriormente pelo seu lado espiritual” (Hegel, 1996, p. 113), novamente o exterior é objetivo, uma escultura e não um Ser, o outro e com ele toda sua subjetividade.
Já o simbolismo foi a que “procura realizar a união entre a significação interna e a forma exterior, que a arte clássica realizou essa união na representação da individualidade substancial que se dirige à nossa sensibilidade, e que a arte romântica, espiritual por essência, a ultrapassou” (Hegel, 1996, p. 340).
Para o filósofo germano-coreano Byung-Chul Han que escreveu Die Errettung des Schönen (A salvação do Belo) elabora um novo fio condutor para a questão do belo, com aquilo que já chamou em outros livros de “falta de negatividade de nossa era”.
Estamos na era do plástico, do vidro e do liso, a “imperfeição” é parte da criação e assim, não é o belo grego, as novas formas que a cultura contemporânea busca, que encontraremos uma nova cultura e um modo criativo de relação com a natureza.
A subjetividade está confusamente lisa, sem interioridade e dificuldades (A sociedade paliativa de Chul-Han), submete-se a um simplismo que quer tudo aplainar e polir, terapias para superar o medo, a angústia, até o culto religioso é o repetitivo e a pura “doutrinação”, leituras sem nenhuma hermenêutica e cheias de exegese antiga e superada, assim como as palestras deve divertir e não ensinar, meios de comunicação são confundidos com os seus fins (que é para-comunicação).
O contato com o belo da natureza é modificado por sua “dominação”, “exploração” e uma cultura do liso se estabelece, Han dá como exemplo a arte de Jeff Koon (ver foto acima), de figuras plásticas idealizadas.
HAN, B.C. Die Errettung des Schönen (A salvação do Belo), DE: Fischer Verlag, 2015.
HEGEL, George W. Cursos de estética. São Paulo: Edusp, 2001.