Consciência histórica ausente
Há duas concepções que marcam as ideias sobre a história contemporânea: uma de fundamentação positivista que devemos a Karl Popper, que a empresta erroneamente a Karl Marx, mas também ele escreveu contra o “determinismo histórico” ainda que quisesse fazer de sua teoria um “socialismo científico”, a outra pior, que a coloca como visão positivista e cética, quanto a possíveis mudanças e transformações no interior da consciência histórica, como por exemplo, o fim da história.
Há quem chame tudo isto de “prática” em oposição também incorreta à teoria, pois nada mais teórico que uma má prática e nada mais prático e presente na vida que uma boa teoria.
A importância de repensar a consciência histórica, não instrumentalizada e em profundo diálogo com a humanidade, vem de Hans-Georg Gadamer, ainda que os defensores das correntes “científico-históricas” acima, digam que isto é apenas uma reflexão teórica da história, por isto a prática deles é tão ruim e de pouca fertilidade.
Existe o ser histórico ? nós nos concebemos com este ser? claro quem está disposto a alguma reflexão, a resposta de Gadamer é direta e simples: “Ser histórico quer dizer não se esgotar nunca no saber-se” (Gadamer, 2007, p. 307), assim pode-se ver quanta teoria e vida que não há reflexão histórica.
O que seria este ser no tempo? Tomando emprestada a reflexão de Heidegger da qual Gadamer é também um herdeiro, a resposta é muito simples também: “a tradição é essencialmente conservação e como tal sempre está atuante nas mudanças históricas” (Gadamer, 2007, p. 373), ou seja, somos impelidos a não mudar, ainda que pensemos e desejamos a mudança, hoje quanta coisa para mudar !
Podemos pensar e porque não muda, com tantas tentativas e hoje podemos dizer a quase dois séculos se pensamos na grande crise dos séculos XVII e XVIII, mercantilismo e revolução industrial, com graves consequências em guerras europeias e depois mundiais, mas na raiz desta crise está o pensamento (teoria?), sobre o que pensamos sobre democracia, vida social e concepções de economia.
O sucessivo pensamento autor referenciado de diversas correntes, crenças e teorias é o problema da ‘tradição”, assim descrito por Gadamer: “Na verdade, não é a história que nos pertence, mas somos nós que pertencemos à história” (Gadamer, 2007, p. 367), ou seja, somos frutos de nosso tempo, da maneira “teórica” do pensar e de seus instrumentos.
GADAMER, H-G. Verdade e Método: Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2007.