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Versos incompletos e o poder

30 out

Toda incompletude é humana, mas é também a causa de nossa cegueira, podíamos completá-la com o diálogo, com a escuta atenta ao Outro, ou com a pós-moderna filosofia que nada tem de liquido, mas é muita sólida: viver no Outro, um pós-indivíduo.
Vejo versos libertários, literários e bíblicos, todos incompletos, pela ausência do Outro, ou pela simples divisão idealista entre sujeitos e objetos, aqui tornados plural, para dar sentido a um verso de Fernando Pessoa:
“Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha. Cada vez mais assim penso”, também incompleto, mas final pois no início é só que muitos sabem “Navegar é preciso, viver não é preciso”, que não era dele e sim o lema de muitos navegadores portugueses.
Também este poema precisa de completude: “Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade. É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça”, como isto é bem-vindo em tempos de eterno retorno.
Queria fazer um pensamento sobre o poder, mas não posso senão já seria poder, diz o nosso poeta português: “Tudo quanto penso, Tudo quanto sou É um deserto imenso Onde nem eu estou”, são versos de “Tudo quanto penso” sendo também incompleto.
Completo com minha vida de estudante, lutando pela democracia num país autoritário, disse os versos finais deste poema de tudo quanto penso: “Extensão parada Sem nada a estar ali, Areia peneirada Vou dar-lhe a ferroada Da vida que vivi.”
Disse Fausto no seu Goethe (foi o personagem a dizer): “embora no arrojo embora meu ser se resolva em nada”, poder de quem ? que podes sobre meu Ser ?

 

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