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É possível repensar o Brasil ?

09 nov

O momento político diz que não, mas para quem pensa e consegue enxergar estas “zona temperadas”, como a chamava o Padre Antunes repensando Portugal, que é no plural porque há “além da democracia política, a democracia social”, e o pensador afirma que “foi um erro pensar as estruturas da liberdade geral, atomizada”, escreve Padre Antunes a repensar Portugal.
O Padre Antunes afirmou que “não viram os seus formuladores e apologistas – ou viram-no demasiado bem – que o “direito natural”, por eles preconizado, era, de facto, o direito do mais forte, que “a mão invisível” que dirigia os negócios ia só aumentar os lucros e proventos dos já possidentes, que a harmonia, que eles visionavam na
realização das “leis naturais” do mercado da oferta e da procura, constituiria na realidade uma terrível desarmonia se não fosse corrigida pelo imperativo do bem comum social, que a liberdade concedida a todos, num grande ímpeto de
generosidade, funcionava, na prática, apenas como o privilégio de alguns” (Antunes, 2011).
Por isso, esclarece o Padre Antunes: “durante mais de século e meio, para que ‘essa liberdade de coração se traduzisse na efectividade da aplicação, muitas lutas, ásperas lutas, foram travadas”, falando é claro das lutas em Portugal.
“Em nome da justiça e da equidade, em nome da história que caminhava – ou devia caminhar – no sentido da igualdade, em nome da fraternidade que a todos devia unir – sobretudo os mais fracos e oprimidos, aos deserdados e aos deixados por conta: homens, grupos, classes e nações”, dizia o padre Antunes sobre Portugal nos anos 70
“Até aos nossos dias. É hoje a conjugação da democracia política e da democracia social a grande preocupação do sector mais consciente e mais crítico, mais lúcido e mais generoso, de toda a Humanidade” (Antunes, 2011), mas no Brasil o projeto foi adiado, e o momento que ainda está em compasso de espera, e parece adiado.
Ao que se seguiu da Revolução dos Cravos em Portugal foi um momento de abertura e lucidez, mas com a entrada na Comunidade Europeia tudo isto veio a ser abalado, com denuncias de corrupção no governo José Sócrates (2005-2009), e com a crise financeira em 2010-2014, e uma intervenção da Comunidade Europeia que o povo português chamou de Troika, composta pela Comissão Europeia, BCE (Banco Central Europeu) e FMI, que administrou a crise financeira com muitos protestos dos portugueses.
O que o Brasil pode fazer com sua crise económica, política e moral? sem o diálogo e a abertura necessária, um intervencionismo financeiro será um desastre, no plano político se for repressor será odioso, e o social quase impensável.
É preciso atualizar discursos, interpretações e autores, quase todos datados de referencias do início do século, que ignoram as novas mídias e diversos pensadores novos e sair de uma discussão de torcidas de futebol.
Haverão canais de diálogo com a sociedade? a imprensa permanece livre? parece que Repensar o Brasil neste momento é quase impossível, mas não podemos antecipar os fatos mesmo que sejam facilmente presumíveis, é um erro político que pode piorar o frágil estágio da democracia brasileira, criaríamos uma pré-verdade ou um pré-factual.

 

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