O medo líquido, o sólido e o virtual
Postei sobre a “Via” novo livro de Morin e suas novas idéias, no mês passado ele e Zygmunt Bauman, estiveram em Porto Alegre num evento sobre o futuro e algumas idéias ficaram mais claras para o mundo atual e a tecnologia.
Bauman, com 86 anos, explorou o que acredita ser uma democracia supranacional, que abranja o mundo todo, Edgar Morin explorou a mesma ideia, mas pare ele, um dos primeiros pensadores a defender com afinco a transdisciplinaridade, “a humanidade conectada de hoje, mais do que nunca, precisa trabalhar em plena cooperação” e defendeu ainda um possível (portanto virtual) desenvolvimento do capitalismo financeiro, como chama o sistema atual, a mundialização ambivalente“.
Já Bauman dentro de sua análise sociológica coloca uma crítica pessimista a esta forma de conexão atual, em entrevista ao Globo afirmou: “Nós somos seres que se escoram no que vem de fora. Perdemos a capacidade de nos auto-estimular. Estar sozinho – a liberdade de gastar o tempo com nossos próprios pensamentos, perse sonhada por nossos ancestrais – é identificado hoje com solidão, com abandono, com a sensação de não pertencer. No MySpace, no Facebook ou no Twitter, o ser humano enfim conseguiu abolir a solidão, o olho no olho consigo mesmo”. Consigo mesmo ou com o outro ? Não seria isto que pensaram Emmanuel Levinas, Paul Ricouer e Martin Buber.
Penso que o que está fora (objetos e pessoas) é tão importante quanto o que está dentro e age, e hoje ainda mais.
Tudo isto é virtual, no sentido de possível ou potencial, mas temos medos de algumas coisas realmente líquidas: os números apontam para uma catástrofe ambiental e econômica, mas a história da humanidade nos mostra a incrível capacidade de autosuperação e sobrevivência, evolução e involução de nossa espécie, o isto nos dá esperança que existe um futuro marcado por uma humanidade mais coletiva, veja a primavera árabe e os protestos de gente comum [como Anna Hazare] contra corrupção, impunidade e desmandos.
O segredo, mudando a palavra globalização para a mundialização, segundo eles, reside no que chama de mundialização com desmundialização.
Mas o que significa isto: “a desmundialização passa pela valorização da comunidade e o fortalecimento dos laços de solidariedade dentro das pequenas comunidades” , mas solidariedade que seja “amor” e não ideologia.
Ora, curiosamente as redes tem um estudo chamado de seis graus de liberdade (veja o post), que indica que com seis passos posso chegar a qualquer pessoa, e ainda estes laços nem sempre é presencial o que não significam que seja real, toda ligação não-presencial é com alguém real.
Quase toda crítica ao virtual sempre coloca-o como oposto ao real, que não é verdadeiro nem mesmo no dicionário, desejando compreender melhor pode-se ler alguns autores: Pierre Lévy (O que é virtual?) ou pode-se ler o artigo de Renato Rocha Souza, bastante claro e sintético.