
Boécio entre o conhecimento e a teologia
Já postamos em textos anteriores sobre Boécio e Porfírio, Boécio pode ser pensado como “o último dos romanos e o primeiro dos escolásticos”, já postamos sobre o seu livro Consolação da Filosofia, escrito durante sua prisão injusta onde vai ser torturado e morto pelo regime romano, mas seu pensamento vai além da filosofia.
Seu legado mais conhecido é o da “querela dos universais”, que não está separado das Categorias de Aristóteles, pois foi tradutor para o latim do Isagoge de Porfírio, o qual é lembrado por sua famosa Árvore do Conhecimento, uma redução do seu pensamento, já que Porfírio analisa as obras Enéadas de Plotino (enéades em grego significa “grupos de nove”) escritos em 6 volumes totaliza 54 textos.
Assim se faz um fio de ouro ligando-o também a Agostinho de Hipona, que também tem a influência de Plotino.
Lendo também Aristóteles, além de Plotino, Porfírio vai estabelecer uma ligação de ambos e assim formula sua ideia de conhecimento, as três grandes questões que sua filosofia levanta são: o que é Belo? o que é a Alma? e o que é o Destino?
Assim sua teoria do conhecimento não pode ser separada desta visão teleológica do saber e de onde Boécio vai retirar parte de sua visão do que são as “categorias” (termo de Aristóteles) e está sintetizada na querela dos universais, existem os universais ou eles são apenas “nomes”.
Nominalismo e realismo, o diálogo medieval vem daí, no entanto o que era o pensamento teológico de Boécio, além de sua conduta e crença cristã, que o levou a estar incluído na origem da escolástica e ser referenciado em todo debate medieval.
Seu opúsculo sobre a Trindade (“Como a Trindade é um único Deus e não três deuses”) expressa o propósito de esclarecer racionalmente a verdade de fé, e não a separa da razão, em carta ao Papa João I, escreve: “fidem, si poteris, rationemque cojunge”, “conjuga a fé e a razão” ao final de uma carta.
Escreveu Boécio: “pesquisei por muitíssimo tempo a questão da Trindade, até onde podem as formas da pequena chama da mente, que a luz de Deus se dignou a conceder-nos”, o comentário de Tomás de Aquino deste trecho explica como Boécio acrescentou à questão da Trindade usando as 4 causas aristotélicas: material (o próprio assunto, no caso a Trindade), eficiente (as luzes de Deus e da inteligência humana), formal (“tendo chegado a estruturar …”) e final (“não escrevo por desejo de fama …”).
De Boécio há grandes contribuições para a língua (latina do seu tempo) como em diversos temas filosóficos, do conhecimento ao teológico, entre as mais citadas estão a de pessoa como “substancia individual de natureza racional”, de felicidade “estado de perfeição que consiste em possuir todos os bens [humanos e espirituais] e de eternidade “como a posse total, perfeita e simultânea de uma vida sem fim “, ou seja, eterna.
Plotino. Enéadas: sexta Enéada: Tomo II – Tratados 6-9. Belo Horizonte: Nova Acrópole, 2019. (Vols. I e II em pdf), Vol. III (pdf)
Tomas de Aquino ver In Boethium De Trinitate, Proemii textus et explanatio, em sua Suma Teológica. em inglês (pdf)