O cérebro de Nicholas Carr e a Web
A mais de um século estamos questionando a modernidade, o iluminismo e nossos valores e o nosso modelo de sociedade, de repente de 23 anos para cá encontramos um bode expiatório: a internet.
Aproveito para dizer que a Web com toda pompa e mistificação que muitos atribuem a ela, nada mais é que um aplicativo na última camada de internet, e esta sim significa a ligação entre milhões de máquinas e pessoas, e depende do aplicativo que inserimos nela.
Assim devo levar a sério Nicolas Carr, um crítico duro da internet, ele participa do projecto de cloud computing do Fórum Económico Mundial, escreve regularmente sobre tecnologia e cultura no The Guardian, The New York Times, The Wall Street Journal, The Financial Times, Die Zeit, The Times e outros periódicos, é membro da Encyclopedia Britannica, mas não tem nenhum verbete no Wikipedia, embora está lá.
Em “Os superficiais”, esclareço que o tema é anterior a internet coisa que ele ignora, embora faça uma viagem mental em seu próprio cérebro, do nascimento do alfabeto a prensa de Gutenberg, da antecipação do computador por Alan Turning até o evento da cartografia e o aparecimento do relógio, não diz onde nasceu a superficialidade.
Novo deslize ao ver não uma convergência de “meios” mas uma fusão, ele reduz a internet a “uma força aglutinadora de todas as tecnologias percursoras”: máquina de escrever e tipografia; mapa e relógio; calculadora e telefone; correio e biblioteca; rádio e televisão.
Em novo reducionismo aplica ao taylorismo, método de trabalho em linhas de montagem ao que chama de “taylorismo” mental: “No passado o homem estava primeiro. No futuro o sistema deve estar primeiro”.
Aquilo que Taylor imaginou para o trabalho manual, segundo Carr o Google aplica ao trabalho mental, criando um “negócio da distracção” em que a inteligência passa a ser encarada como a excelência e rapidez no tratamento de dados, ao invés da observação e da contemplação.
Ora a “sociedade do espetáculo”, a “sociedade da réplica”, o texto de Walter Benjamin “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, foi publicado em 1955, a fragmentação do conhecimento e a superficialidade são temas desde a muito tempo, então é preciso encontrar o momento e os motivos reais desta “superficialidade” contemporânea.