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Regenerar o humanismo
Em suas comemorações de seus 100 anos, que Edgar Morin fez no ano passado, e está em seus livros de memórias “Leçons d´un siêcle de vie” (lições de um século de vida), muito antes da guerra atual ele dizia sobre resistir a dominação, à crueldade e à barbárie, e pedia novo humanismo, o qual esteve sempre presente em sua literatura.
Retomar a consciência da complexidade humana, e incluí-la num novo patamar que superasse o antropocentrismo, este era o humanismo retomado no renascimento, e sobretudo criar um mundo onde fosse possível uma cidadania mundial com respeito as diversidades culturais.
Ele que lutou na resistência ao nazi-facismo, não deixou de mostrar seu arrependimento ao período do stalinismo, sabia que estávamos num empasse entre estes dois pensamentos que poderiam nos levar a barbárie, profético em relação a escalada atual da guerra.
Não é um desenvolvimento isolado, já em outras obras suas como O Praíso Perdio e o Método, suas noções chaves de conceitos como autonomia, uberdade, amor, indivíduo e sujeito foram se desenvolvendo salvando valores que são inerentes a eles, assim como manter uma dignidade humana potencialmente ameaçada, diria agora, o processo civilizatório como um todo.
Em o Método II não hesita em denunciar as ilusões do humanismo tradicional (a direita ou à esquerda) e procura revitalizar o seu sentido ético e antropológico: “Não se trata de recusar o humanismo. É necessário, como veremos, hominizar o humanismo, e portanto enriquecê-lo, baseando-se na realidade do Homo complex” (Morin, Método II, p. 398).
A eleição do homem como centro do mundo, e a rejeição tanto à Deus (ou a alguma dividinda superior a qual nos submetemos) e ao respeito a natureza a qual a ciência julgou dominar é um passo fundamental para regenerar o humanismo ou caminhamos na lógica da dominação.
Tudo se passa como se a história começasse no auge do capitalismo do século XVIII ou do comunismo do início do século XX, as escassas referências a verdadeira cultura tanto grega como judaico-cristã, direta ou indiretamente condenadas, é o corte desta raiz humanismo.
Não basta dizer que é superada, sem qualquer referência histórica, por exemplo, à Socrates e a Heráclito onde há um aprofundamento sobre a educação e interioridade da consciência.
A questão da emergência do Ser prende-se a outra indissoluvelmente ligada a da liberdade, o homem anulando sua autonomia (dizem em prol de certo “humanismo” antropocêntrico) é vitima do fatalismo, da ausência de horizontes que não sejam o da dominação do Outro, aquela cultura ou ordem que é diferente da outra e que também deve ser respeitada.
Nicolau de Cusa, Ficino, Pico della Mirandola, exploraram esta perspectiva, em Ficino, por exemplo: a providência (que governa uma ordem espiritual), o destino (que dirige aos seres animados) e a natureza (que permite ao Ser permanecer no mundo como corpo vivo ao qual os seres se submetem), ainda que precise ser atualizada em termos de linguagem, não é antropocêntrica.
Morin, E. O Método vol. II, Europa-América, Lisboa, Ed. Francesas: Paris, 1997
Entre a paz e a guerra por um fio
As negociações entre Ucrânia e Rússia tem sinais de algum progresso ao mesmo tempo que pontos delicados como o fechamento do corredor humanitário a cidade Mariupol que vive uma calamidade em diversos aspectos e o recente bombardeio a base militar na região de Lviv, a apenas 25 quilômetros da fronteira com a Polônia que é membro da OTAN.
A tensão já se desenvolve de um possível ataque a algum país da OTAN, na Noruega forças da OTAN já realizam treinamentos, uma vez que a Suécia e Finlândia já tem uma tensão com a Russia, vale lembra que ambos querem fazer parte da OTAN, mas ainda não fazem.
O que faz imaginar que um acordo é possível é que tanto o presidente da Ucrânia quando da Rússia admitem que houve algum progresso, um fracasso agora seria desastroso para ambos os lados, do lado russo uma pressão maior externa na sua economia e do lado ucraniano a possível perda do controle de sua capital, podendo perder o governo por prisão ou morte.
A pressão sobre Kiev é imensa, porém a tomada da capital seria uma efetiva ocupação russa da região e o clima com a OTAN seria insustentável, além de um conflito com alguns de seus membros, os mais próximos da região: Letônia, Lituânia, Estônia e Polônia além de Suécia e Finlandia, estes países todos estão mais próximos tanto na ajuda humanitária quanto militar da Ucrânia e temem pela proximidade russa.
Hoje haverá nova rodada de negociações e espera-se um grande avanço, a Ucrânia pode dar garantias de sua neutralidade em relação a OTAN e a Rússia devolver algumas áreas ocupadas, porém Mariupol deve ser a mais problemática, basta olhar o mapa onde se vê o controle do Mar de Azov, onde Mariupol é um importante porto, e o controle da região é um conflito antigo.
Além de manifestações em todo mundo pela paz, há ações de solidariedade aos refugiados, por exemplo, o Airbnb recebe milhares de reservas de acomodações de pessoas que talvez nunca vão ocupar aqueles lugares e a própria empresa usando estas reservas vai destinar 100 mil moradias a refugiados.
Há coisas humanas em meio a guerra, como a anfitriã Olga Zvirysanskaya do Airbnb (veja a figura) que recebeu uma reserva para março de um visitante que não irá para lá e respondeu “teremos o maior prazer [algum dia] em vê-lo na pacífica cidade de Kiev e abraçá-lo”, logo após fugir com os filhos deixando o apartamento disponível para as pessoas que permanecem em Kiev.
Do apenas humano ao sobrenatural
Todas as forças que se concentram numa polarização veem apenas o aspecto humano de um conflito, como o atual na Ucrânia que pode a qualquer momento se tornar mundial, já com alguns sinais visíveis coma visita da vice-presidente dos EUA à Polônia e as reações Russas às sanções.
A esperança de paz e de uma solução para um conflito tão perigoso, felizmente alguns técnicos da Ucrânia poderão ajustar os problemas na Usina de Chernobyl, mas existem inúmeras outras na Europa, incluindo a já ocupada pelos russos, a de Zaporizhzhia, uma das maiores da Europa.
Existe um lado sobrenatural, como o de valores que traçamos no post anterior, porém há um mais profundo, muitas como as profecias de Medjugorje (ainda não são aprovadas pela igreja católica) que fala de uma aparição de Maria como “rainha da paz” acontecem a 40 anos, desde a primeira aparição vista por 7 videntes, que falava da guerra, castigos e um novo tempo na história.
O importante é acreditar em forças além das humanas que possam ser mobilizadas incluindo a luta pela paz e pelo respeito aos povos e nações, todos os que defendem esta posição estão de alguma forma cooperando com o aspecto sobrenatural da defesa da paz e da convivência humana.
Neste caso é extremo, pois a própria civilização pode estar em jogo em caso de uma guerra nuclear, os limites começam a ser ultrapassados de um lado bombas até em maternidades e de outro uma russofobia que quer abolir até clássicos da literatura como Dostoievski que teve um curso gratuito cancelado na Itália, não podemos confundir crítica radical a atitudes ditatoriais como prática que são também autoritárias.
Para os cristãos o momento de revelação do aspecto sobrenatural de Jesus é no monte Tabor, onde ele para apresentar a sua realidade sobrenatural aos apóstolos escolhe três: Pedro, João e Tiago, a escolha em si já é interessante: Pedro apóstolo chamado a fundar Sua igreja, João o apóstolo que Jesus amava e Tiago chamado de apóstolo de menor, porém foi grande apóstolo.
Um episódio bíblico conhecido Jesus “Andando sobre a água” foi retratado no quadro de Ivan Konstantinovich Aivazovskii (1817-1900) nascido na Criméia, justamente uma região de conflitos.
Diz a leitura que ao chegarem ao Monte Tabor, enquanto orava (Lc 9,29-30): “seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante. Eis que dois homens estavam conversando com Jesus: eram Moisés e Elias”, claro aos que creem, ali Jesus revela-se como Deus.
Não importa a crença, importa mais a ideia de uma humanidade capaz de viver a paz e viabilizar o processo civilizatório que nos afaste das injustiças, dos flagelos e do ódio.
A força moral e a bélica
Aqueles que promovem o ódio e a intolerância, mesmo que além valores, apenas o veem como dependentes da capacidade humana, Mahatma Ghandi que venceu a dominação inglesa sem usar a força bélica e dizia: “A força não provém da capacidade física”.
Inspirou muitos pacifistas na década de 60, inclusive aqueles que eram contra a guerra do Vietnã, que não deixava de ser também uma guerra de invasores, no caso, americanos.
Os analistas militares estranham a capacidade de resistência da Ucrânia em meio a uma desvantagem enorme de poderio bélico com a Rússia, embora no jargão militar exista a ideia da “moral da tropa” ela está associada apenas ao campo de batalha e não a valores.
Para que exista uma força moral é preciso que ela exista também no campo espiritual, no caso de Ghandi era o hinduísmo que durante décadas inspirou e atraiu muitos no mundo ocidental, incluindo personalidades do mundo pop, como os Beatles.
Assim a degradação moral do mundo ocidental também é indiretamente responsável pela guerra e na sua lógica, que é também a lógica da OTAN somente a força bélica é vencedora e protetora de seus “valores”, porém estes estão em crise e não reconhecem.
A Ucrânia assim acabou recorrendo a seus vizinhos e a ameaça que eles também temem de invasão russa, que esconde um interesse expansionista, fêz surgir um terceiro bloco para ajudar a Ucrânia a defender seu território: Polônia, Lituânia, Estônia, Suécia, Finlândia e Canadá, países antes vistos como “pacifistas”.
Este bloco quebrou uma tradição de não uso de armas para auxiliar a defesa da Ucrânia, completa este bloco o Reino Unido, que é bom lembrar está fora da União Europeia, pelo Brexit, o que os atraia além do medo de serem os próximos alvos da Rússia é a defesa de valores além daqueles bélicos, que em última instância também defende a OTAN.
É verdade que oscilam entre o uso de armas e o pacifismo, porém percebem que não há como impedir os desejos expansionistas de Putin, cuja narrativa histórica começa a partir da formação da União Soviética, sem existir história pregressa, dos povos originários.
A lógica do ódio, seja o lado que esteja é em última análise a guerra, a do amor é a paz.
O poder e o servir aos povos e nações
As guerras trazem o pior da humanidade, mas trazem o melhor também: a solidariedade, o desejo maior de viver em paz e respeitando direitos individuais, coletivos e culturais de todos os povos.
A lógica do poder quando é dominada por uma visão não humanista procura interesses pessoais ou de grupos, a ideia é apenas a de submeter o outro pela força e conquistar mais poder, não há o predomínio da ideia de liderar e servir as pessoas que mais precisam de ajuda, a sua nação e a toda humanidade por extensão e respeito.
A lógica é da força, e a lógica da força levada ao extremo leva a guerra, ao conflito pessoal, dos povos, das nações, das culturas e dos interesses pessoais apenas sem uma regra coletiva razoável.
Surgem também os verdadeiros líderes e as pessoas que realmente querem servir, não apenas pelo espírito generoso, mas pela coragem, pela determinação que só pode vir de valores humanos e sociais, há até quem pense na preservação do patrimônio cultural, nos animais enfim em tudo.
O princípio da autoderminação dos povos, no qual cada nação, grupo cultural ou religioso tem o direito de existir e a liberdade de poder exercer seus valores, é claro que fica fora não-valores de extermínio ou intolerância com princípios de outros grupos culturais, porque estes servem só ao poder e aos autocratas que os lideram.
Há gente que pensa em paz e solidariedade mesmo na guerra (foto soldado russo que não lutou recebe alimento e manda mensagem emocionado a parentes).
Alertamos em vários posts a crise civilizatória em curso, com a guerra alguns aspectos tornam-se claros, mas sem a iluminação da consciência individual é difícil perceber os caminhos pelos quais a lógica da guerra, da intolerância e da discriminação avança, cada um deve refletir sobre isto.
Não faltam pessoas e grupos que aderem a este tipo de pensamento e raciocínio, quando o poder se torna exacerbado fica mais claro, mas há estruturas de micropoder onde estes valores se manifestam.
Assim existem estruturas do ódio, da intolerância, e, em última análise da guerra, que põe em cheque a vida, os valores e até pode por a própria civilização me perigo, como armas nucleares.
Sem acordo e Kiev cercada
A guerra segue horrenda e sem perspectiva de um cessar-fogo, a terceira rodada de conversa no dia de ontem não resultou nem mesmo num cessar fogo para o corredor humanitário que permitiria a saída de civis, em especial de regiões onde a luta está mais sangrenta.
A Rússia declarou uma série de ações hostis pela sanções adotadas que estrangulam sua economia, entre eles: EUA, Canadá e os 27 países da União Europeia, em ordem alfabética os outros países: Austrália, Albânia, Andorra, Reino Unido, Islândia, Japão, Liechtenstein, Macedônia do Norte, Micronésia, Mônaco, Montenegro, Nova Zelândia, Noruega, Coreia do Sul, San Marino, , Singapura, Suíça, Taiwan e Ucrânia.
O Brasil ficou fora, talvez pela fala do presidente explicando as razões da “neutralidade” no domingo, conseguiu unir direita, centro e esquerda: no mínimo um desconforto diplomático uma vez que grande parte do mundo já condenou e impõe sanções a Rússia, a própria China inclusive e ela teria mais razões que o Brasil para aderir: a ideológica.
Sem perspectiva de paz agora as atenções e tensões se voltam para Kiev, próximo a cidade há pequenas cidades e florestas como o Parque Nacional Zalíssia que apresentaram algumas formas de resistências, no entanto foram rechaçadas com denuncias de violações e crimes de guerra, não houve nenhuma negociação que permitisse a retirada de civis, assim muitos civis estão nas cidades.
O governo russo divulgou que há rotas de fuga permitidas, mas se trata de ir para Russia ou Bielorussia, com objetivo de fazer propaganda.
Nas noites vem o toque de recolher e as pessoas vão para os abrigos antiaéreos improvisadores, tuneis de trem, porões de hotéis, edifícios e até igrejas (as criptas), são os refúgios costumeiros.
Seja qual for o final desta luta, o povo ucraniano e seu presidente ganharam respeito e admiração no mundo todo, enquanto Putin e a Rússia sairá como vilã, mesmo tendo ocorrido protestos pela paz, a posição de Putin é forte dentro da Rússia e há um rígido controle das mídias e da narrativa.
Kiev vive de esperança e de uma motivação para defender seu povo (na foto uma nuvem que parece um anjo fotografada pela moradora Oksana Kadiivska, do distrito de Darnitsa de Kiev).
Aos que tem alguma forma de crença resta a esperança de tempo melhor, também nas mentalidades, uma vez que o belicismo, a intolerância e a pouca empatia andam pelas ruas.
As três tentações e os três flagelos
Há uma forte ligação entre os 3 flagelos viciosos da humanidade: fome, guerra e peste, e as três grandes tentações de Cristo no deserto: alimentação (Jesus no deserto foi alimentado por anjos), poder e desprezo pelas coisas divinas que podem nos limitar moral e civilizadamente.
Ontem a conversa do presidente da França com Putin, este afirmou: “o pior ainda está por vir”, as terras da Ucrânia são férteis e são grandes produtoras de alimentos e a Rússia de fertilizantes.
Iniciamos na quarta-feira a Quaresma e talvez a grande provação do homem, dizem as leituras bíblicas sobre as tentações de Cristo no deserto (Lc 4,1-13) (veja o quadro do russo Ivan Kramskoi, sec. XIX):
O diabo disse, então, a Jesus: “Se és Filho de Deus, manda que esta pedra se mude em pão”. Jesus respondeu: “A Escritura diz: ‘Não só de pão vive o homem’”
E (depois) lhe disse: e lhe disse: “Eu te darei todo este poder e toda a sua glória, porque tudo isto foi entregue a mim e posso dá-lo a quem quiser. Portanto, se te prostrares diante de mim em adoração, tudo isso será teu”.
Jesus respondeu: “A Escritura diz: ‘Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás’”.
E o desprezo pelo poder do mal e não aceitar a Deus: Depois o diabo levou Jesus a Jerusalém, colocou-o sobre a parte mais alta do Templo e lhe disse: “Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo! Porque a Escritura diz: ‘Deus ordenará aos seus anjos a teu respeito, que te guardem com cuidado!’ E mais ainda: ‘Eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’”.
Jesus, porém, respondeu: “A Escritura diz: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’”.
Isto deve servir em primeiro lugar para os religiosos: não se colocarem no lugar de Deus e depois para toda a humanidade evitar o mal é distribuir o pão, renunciar ao poder humano e ao domínio mantendo o respeito ao Outro e respeitar as regras sanitárias para evitar que a peste se alastre.
Não conseguimos (como humanidade) romper com nenhum destas tentações, mas há esperança.
Condenação da Rússia e deserto de soluções
A Assembleia Geral da ONU condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia por 141 votos a favor (foto) e 5 contrários (Belarus, Coréia do Norte, Eritréia e Síria, além da própria), porém a lista de abstenções é longa (35 países) e incluem os tradicionais aliados da Rússia: China, Venezuela e Cuba.
O Brasil votou a favor em contradição com a posição na OEA e a visita recente do presidente.
No discurso do chanceler da Rússia na ONU 100 países se retiraram da sala em boicote ao seu discurso, no final o Chanceler russo disse que as sanções econômicas do Ocidente são a única coisa possível ameaçando com armas nucleares qualquer outra solução de apoio militar.
Hoje se inicia a segunda rodada de negociações entre Ucrânia e Rússia num deserto de soluções a não participação da Ucrânia na OTAN pode ser negociável, porém a Ucrânia já pediu o ingresso na União Europeia, e o discurso de Volodymyr Zelenski foi aplaudido de pé pela assembleia da UE que discutia incluí-la, mas o processo é longo e talvez em função da negociação não seja a hora.
Inicia-se hoje uma nova rodada de negociações para a paz, deve ser pensado um imediato cessar fogo, o deserto de ideias é amplo, no momento cada país apresentou apenas suas exigências, até a China se dispôs a intermediar, porém os dois países seguem um diálogo direto.
A Criméia já é um território anexado, entregar as duas regiões de Donetsk e Luhansk, para a Ucrânia significa ceder parte de seu território, um desarmamento unilateral da Ucrânia pode ser pensado se a questão da OTAN for negociável pelos russos.
Uma paz regional que não erga uma nova cortina de ferro parece distante, Putin está fragilizado dentro da Rússia devido as sanções, porém o impasse continua, a nível mundial segue uma bipolarização, embora diplomaticamente a Rússia sai da Assembleia da ONU muito fragilizada.
É preciso repensar a paz mundial, o conflito mostrou a fragilidade do equilíbrio nuclear, questões territoriais como Taiwan e parte das antigas repúblicas soviéticas seguem em desequilíbrio, e muitas abstenções escondem um apoio velado a Rússia e ao seu belicismo, do qual não escapam muitos países da OTAN sem deixar de incluir os Estados Unidos.
Há um deserto de soluções que não envolvam a solução armada e a indústria de guerra cresce.
Cinzas de uma quarta-feira
Em todo mundo cristãos celebram no início da quaresma a quarta-feira de carnaval, os 40 dias até a Páscoa, não houve carnaval e sim uma festa da carne e da morte que é a guerra no leste europeu, imploramos que o crescente envolvimento de muitos países não crie uma 3ª. guerra mundial.
Diversas cidades ucraninas foram arrasadas e tomadas por forças militares russas, ao norte as já declaradas repúblicas populares da região de Donbass (do rio Don) Luhansk e Donesk, e agora ao sul Mariupol e Kherson, no Norte ainda há resistência na segunda maior cidade do país Kharkiv.
As tropas russas, o maior comboio militar desde a segunda guerra mundial chegou nas proximidades de Kiev, a noite lá terá combates extremos, uma torre de comunicação foi derrubada e um memorial do Holocausto foi atingido, mostrando que a retórica de lutar contra o neonazismo é apenas um pretexto para a guerra, a Ucrânia também foi atacada por Hitler e o memorial lembrava isto, claro há grupos neonazistas na Ucrânia como em muitos países.
No início da pandemia quando a Páscoa não podia ser celebrada em público para evitar aglomerações, afirmamos aqui que era uma Quaresma significativa, talvez esta com tantos mortos devemos pensar não mais na paixão e morte de Jesus, mas na nossa paixão e possível morte de civilização, há protestos pela paz, mas nas redes as manifestações de ódio entre “torcidas” estão espalhadas.
Também é verdadeiro que em todo mundo há manifestações de solidariedade pela paz, muita acolhida aos refugiados cujo número pode surpreender porque uma país está todo ele destruído e a Ucrânia não é uma pequena nação, é um dos maiores países da Europa, abaixo da Rússia é claro.
Podemos fazer uma pausa para pensar no nosso processo civilizatório em crise, pensar nas mães e filhos que perdem seus pais, parentes e amigos na guerra, nos jovens que não terão futuro, nos inúmeros mortos, só do lado russo são já mais de 6 mil soldados que não voltaram para casa.
Sobre as cinzas poderemos erguer uma nova civilização, sem submeter nações ao desespero e ao opóbrio, sem bárbaros processos de colonização incluindo o cultural e enfim sermos povos que vivem em paz, que resolvem conflitos numa mesa de negociação e olham para crianças e velhos com apreço.
Que a Quarta-Feira de Cinzas nos lembrem que somos pó e que a vida tem um valor sagrado.
Evitar o pesadelo nuclear
A guerra na Ucrânia vai subindo o tom e tornando-se uma ameaça para toda a humanidade, no campo de batalha os ucranianos apresentam uma resistência e um heroísmo que poucos acreditavam, as pressões sobre a Rússia no conselho de segurança da ONU e na própria assembléia da ONU aumentou (ontem diplomatas russos foram expulsos pois a sede fica em Nova York), apesar de muitas abstenções, como a India e a China, o tom é de condenação pelos princípios de soberania das nações, as sanções econômicas impostas primeiro para os milionários russos e o próprio Putin, agora para toda economia Russa já são sentidas, no campo de batalha apenas aumentou o tom, e a primeira tentativa de diálogo fracassou, foram enumeradas as questões de cada lado e uma próxima reunião.
A guerra já produziu um enorme flagelo, são mais de 5 mil soldados russos mortos em batalha e certamente o número de ucranianos deve ser maior, além neste caso de civis que pagam inocentemente pela guerra, são mais de meio milhão de refugiados e a entrada dos países europeus na guerra criam um temor maior: as armas nucleares.
Estas armas estão no exclave da Rússia em Kaliningrado, parte territorial descontinua da Rússia que fica entre a Polônia e Lituânia para onde foram levados mísseis de logo alcance com carga nuclear, mas agora todo espaço aéreo europeu está fechado para os russos, assim como a passagem do mar negro para o mediterrâneo que a Turquia fechou, este país é membro da União Europeia, que começa a se envolver militarmente no conflito e a ameaça de Putin de uso de armas nucleares é para este caso, dizem é um blefe os analistas, mas o risco existe.
Um grande comboio militar russo de mais de 30 km de caminhões transportam tropas, talvez entre eles estejam os temidos chechenos que travam a batalha campal, e os outrora inimigos de Putin agora o veem como um comandante, de origem islâmica tem agora relativa autonomia e depende da Rússia.
Em todo mundo e na própria Rússia há protestos pedindo o fim da guerra, lá são duramente reprimidos, o papel do Brasil de voto na ONU pela condenação da Rússia e de neutralidade na OEA se abstendo do voto mostra o caráter ambíguo, o papelão do presidente de ter ido visitar a Rússia dias antes da guerra foi um enorme equívoco, no mínimo.
O Brasil depende dos fertilizantes da Rússia, a Europa depende do gás e também dos grãos cuja Ucrânia é grande produtora, os reflexos na economia já são sentidos: o rublo russo caiu 30% e o dólar começa uma queda que provavelmente não vai parar, na prática além da economia: os alimentos e os combustíveis devem subir de preço verticalmente.
No campo cibernético que a Rússia é uma potência, o site Anonymous declarou sua guerra, porém a entrada de Elon Musk (dono da Tesla) na guerra deve ser vista com cautela, a segunda guerra foi um negócio para muitos empresários, até mesmo a Vokswagem alemã e Ford americana tiveram sucesso no pós guerra.
Kiev pode não cair, mas será um milagre, o socorro militar do Ocidente pode ter chegado tarde, o símbolo que existe na praça central é o Arcanjo Miguel é o anjo das batalhas, para muitos cristãs e os ucranianos são cristãos de rito próprio, mas ligada a Roma (aliás o Vaticano se propôs a intermediar o diálogo), que o chefe do exercito celeste encontre um caminho, agora obscuro para a paz, e não permita um flagelo e uma noite nuclear que afete toda humanidade (na foto o arcanjo Miguel na coluna na Praça Central de Kiev).