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Posts Tagged ‘peace’

Além da geopolítica, uma visão de mundo

24 fev

A falta de visão global, a ideia de uma cosmovisão que supere a cegueira foi tratada em vários campos da filosofia, vem desde o mito da caverna filosofia de Sócrates e Platão, onde aqui que os homens veem sem estar na luz são apenas sombras do que é realmente o mundo, mais modernamente Heidegger a ampliou para o “Weltanschauung” (uma espécie de mundovisão ou cosmovisão, mas toda tradução é pobre), uma visão fundamental porque deixa de ver o  mundo de modo bipolar ou unipolar para enxerga-lo como um todo onde se inclua o ser, tudo o que existe além de determinada forma particular de ver o mundo, incluindo a natureza e o cosmos.

Em termos da vida cotidiana isto é fundamental tanto na chamada “filosofia natural” (embora esta esteja viciada pelo idealismo contemporâneo), onde se incluem tantos os valores fundamentais, aqueles que já existem no direito internacional (direito a vida, a opção religiosa e cultural, etc.) ampliando o mundo da mera ética e moral para os valores existenciais, aqueles onde além da condição humana estão os direitos de povos e nações que tem determinada forma de ser e viver.

É preciso para isto uma visão de mundo que ultrapasse os limites do nacionalismo e do desejo egoísta de dominação dos povos, a decolonização, a limitação do poder das superpotências e um papel realmente efetivo da ONU, que deve ultrapassar a mera União das Nações, para uma verdadeira unidade e paz entre os povos.

Citamos o livro A peste de Camus, quando ele trabalhava clandestinamente no jornal Combat! na luta contra o nazismo escreveu> “Cartas a um amigo alemão” (1945), onde se lê: “Cartas a um amigo alemão” (1945): havia sentimentos comuns, como a separação ou o medo, mas continuavam a colocar no primeiro plano as preocupações pessoais. Ninguém aceitara ainda verdadeiramente a doença”, neste caso não uma peste, mas a guerra, já postamos aqui a relação entre elas, e agora relacionamos ao medo que é existencial.

Ninguém mais que o povo ucraniano sente isto hoje, porém Alemanha e Reino Unido já estão envolvidos, o presidente da Ucrânia já se reuniu com a Lituânia e Polonia, também os russos, EUA e China e toda Europa sente isto de certa forma, mas dirão não é comigo é com os vizinhos, era isto que alerta a Carta de Camus, não é o vizinho, além das sanções econômicas que já farão reflexo na economia mundial, a expansão da bipolarização da tensão já se espalha aos poucos: a peste.

A relação com o vírus é parecida, vai entrando aos poucos, uma, duas, dezenas e depois centenas de pessoas contaminadas, até se tornar uma guerro-cídio, uma guerra geral senão em termos bélicos, seria um desastre devido as armas nucleares, em termos existenciais e de mundovisão, não há os limites do discurso do ódio, um ódio é um ódio, um não a paz.

Que seja possível enxergar além dos conflitos, a existência e o direito a vida dos povos e das nações, e que os conflitos fiquem nos limites da diplomacia (na foto Reunião do Conselho de Segurança da ONU).

 

Sobre a Guerra e a cegueira

23 fev

É sempre cego ou apenas egocêntrico aquela incapacidade de olhar o Outro, querem sua atenção apenas para exigir seus dotes e seus feitos, assim são egocêntricos, porém a cegueira social e cultural é mais ampla, nela está a incapacidade de aceitar culturas e povos diferentes, dizem eles não constituem um grupo relevante ou não tem uma cultura avançada, onde a questão do avanço depende apenas do referencial, o mais comum em ambos casos é reclamar o olhar do outro sobre si, sem que haja o recíproco.

O ensaio sobre a cegueira de José Saramago, já postamos aqui fala desta cegueira social vista como um vírus que se espalha e começa cegar a todos, e que foi transformado em filme pelo diretor brasileiro Fernando Meirelles, com roteiro de Don McKellar, e chamamos o nosso post-ensaio de Intermitências da Morte, outro ensaio de Saramago.

Camus também descreveu em seu romance A peste, sobre uma doença que atingiu seu país natal (era argelino) e que via que chega-se uma hora em que a verdade parece ofender a todos, até mesmo os outrora sensatos: “mas chega uma hora na história em que aquele que ousa dizer que dois e dois são quatro é punido com a morte” pois é “uma ideia que talvez faça rir, mas a única maneira de lutar contra a peste é a honestidade”, esta virtude esquecida e até ironizada nos dias de hoje.

Diz Camus que ultrapassar o medo e a dor “compreendi que toda a desgraça dos homens provinha de eles não terem uma linguagem clara.  Decidi então falar e agir claramente, para me colocar num bom caminho”, isto implica não apenas em sabedoria e coragem, mas também ultrapassar a cegueira humana.

Numa passagem mais contundente dirá o autor: “Os homens são mais bons do que maus, e na verdade a questão não é essa. Mas ignoram mais ou menos, e é isso que se chama virtude ou vício, sendo o vício mais desesperado o da ignorância, que julga saber tudo e se autoriza, então, a matar”, mas então se faz o ódio e a guerra.

Este parece ser um caminho sem volta pelo qual trilhamos, não apenas no pavio aceso na Ucrânia e na Rússia, mas em toda humanidade, a cegueira do tempo das guerras parece ter voltado a toda e todos estão apontando o dedo uns para os outros, e Karl Klaus avisava aos jornalistas (antes da 1a. guerra mundial) que também embarcavam na onda: “A guerra, a princípio, é a esperança de que a gente vai se dar bem; em seguida, é a expectativa de que o outro vai se ferrar; depois, a satisfação de ver que o outro não se deu bem; e finalmente, a surpresa de ver que todo mundo se ferrou.

Também na Bíblia não falta esta metáfora: o cego Bartimeu que implora a visão, a cura do cego de nascença (incrível porque não tinha um sistema cognitivo para enxergar) e foi lavar-se no tanque de Siloé e os dois cegos da Galileia, é claro para a maioria dos teólogos que esta cura é para ver a verdade que os homens se recusam a ver: o Amor e a Paz.

As polarizações regionais e nacionais aos poucos se tornam mundiais e a sensação de que o outro é que vai “se ferrar” é a crescente e pura cegueira, todos nos ferraremos.  

 

Acordos possíveis e conflito iminente

22 fev

Ataques que aconteceram no final de semana nas regiões de separatistas Donesk e Lugansk podem minar as possibilidades diplomática em torno da Ucrânia, tanto a Ucrânia quanto a Rússia através dos separatistas querem estabelecer os limites territoriais antes de um possível acordo, porém os testes realizados com foguetes com carga nuclear na região de fronteira são mais provocativos que parecem, enquanto a Russia reconhece os governos denominados República Popular de Donetsk e República Popular de Lugansk.

As agências de notícias informaram nesta segunda feita que “o presidente disse que planeja assinar o relevante decreto num futuro próximo”, referindo-se ao reconhecimento das regiões separatistas e informou os líderes Emmanuel Macron (França) e Olaf Sholz (Alemanha) de suas intenções.

Com isto o protocolo de Minsk que estabelecia um equilíbrio de forças nas três regiões em lítio, pois também a Criméia fazia parte daquele acordo, parecem estar rompidos e o objetivo expansionista de Moscou fica claro, agora com objetivo definidos, a Ucrânia deve abrir mão de parte do seu território para as Repúblicas Populares, e a Criméia sequer é citada sendo portanto uma região já considerada anexada a Rússia, a duvida agora é se os desejos do Kremlin param ai, as tropas nas fronteiras não dão sinal de limites.

Os cálculos de analistas da inteligência americana é que 75% das forças militares russas estão voltadas ao conflito, tudo leva a crer que não se trata apenas de apoio tático aos rebeldes das repúblicas em litígio, agora o que se espera é o reconhecimento dos países por esta independência, infelizmente é um sinal para todas nações e assim torna o conflito mundial, embora ainda o envolvimento bélico sejam das forças da Otan e da Rússia, além de Ucrânia é claro que ainda não é membro da OTAN.

É possível a diplomacia atuar, sempre é possível mesmo a beira de uma guerra, o que se avizinha com bombardeiros na região de Donesk e Logansk é uma guerra civil interna, se tanto as tropas da Otan como da Rússia se envolverem os frágeis limites de pacificação podem rapidamente se romper.

A Rússia não se fechou a diplomacia, porém o comunicado de uma ação de reconhecimento é claramente um pedido de recuo para a Ucrânia, enquanto há acusações militares de ambas as partes.

Pode parecer que é um conflito local, mas lembremos como nasceram os conflitos da primeira e segunda guerra que eram por domínio em regiões limítrofes e que pareciam problemas apenas locais.

Serão com uma forte diplomacia nesta região que pode ser evitada uma escalada mundial.

 

Amar os inimigos e evitar as guerras

18 fev

Falamos na semana passada de como a fome, as pestes e as guerras tinham estreita correlação, no post de ontem demonstramos como foi a “divisão” da Europa no pós-guerra, aparecem logo abaixo os primeiros países do norte da África que estavam sob domínio a França (Líbia e Tunísia) e da Espanha (Marrocos), e discorremos sobre as guerras que ainda hoje ocorrem lá devido a mineração de fosfato.

Praticamente toda África era colonial, exceto a Libéria e a Etiópia, este último que é manchete até hoje de fomes e guerras junta-se a ele agora a Somália, que foi colônia italiana, no pós-guerra a influência russa nas lutas de libertação aumentaram a influência em diversas regiões, como Angola, Moçambique e Guiné Bissau, mas praticamente toda a África entra neste processo de ebulição, e as forças aliadas que haviam formado a Organização das Nações Unidas, o Japão vencido na guerra teve que reconhecer a independência da Coréia (até então unificadas) e a concessão das ilhas Curilhas para a União Soviética, mas que recentemente alimentaram a tensão entre a Rússia e o Japão.

Assim as Nações Unidas não foram capazes de promover a independência sem grandes e sangrentas guerras na África, algumas ainda persistem, a descolonização é apenas uma nova maneira de dependência, assim como na América a dependência das lutas ideológicas, estas culturais e internas, nunca permitiram uma real paz e fim da guerra fria.

A queda do muro de Berlim e a dissolução da União Soviética, com vários países se tornando independentes e voltando a sua cultura original, é mera ilusão achar que elas são soterradas pelas ideologias, parecia fazer surgir um mundo onde a diversidade política, cultural e religiosa seria tolerada, embora a tensão árabe nunca tenha acontecido, a primavera árabe foi um alento, mas as forças que continuam vivas dentro destas nações ainda atuam de forma vigorosa, veja-se tensões na Líbia, no Congo, no Saara e muitas outras, também a América Latina vive uma polarização ora para um lado ora para outro.

A força econômica e política que a China ganhou, as novas influencias geopolíticas da Rússia, a tensão hemisférico norte e sul pobre, as crises das democracias tudo isto parecem acelerar um processo de estabelecimento de uma Nova Ordem Mundial, algumas correntes mais fatalistas a chamam pela sigla NOM, porém de fato tudo isto é só a ebulição de questões que o pós-guerra não resolveu, as Nações Unidas ainda não são aquilo que prometeram ser um real “concerto de nações” que vivam em paz e negociem os conflitos.

Assim vivemos uma tensão bipolar em vários sentidos, norte-sul (foto), colônias e colonizadores, tensão ideológicas que atuam hoje mais internamente do que externamente, e uma pandemia que acelerou todo este processo, se o mundo poderia ser polarizado poderia ser unipolar, há uma perspectiva positiva que seria o real “concerto de nações” e outra ruim que é a polarização em um dos perversos fatores que já atuaram sobre a humanidade.

Como conviver com diferenças culturais e políticas tão grandes, não basta um princípio de amizade ou de paz sempre ameaçada, é preciso aceitar e defender a diversidade, ultrapassar o conceito de “inimigo” dentro da forma de ódio e intolerância (escrevemos vários posts para explicar isto), aquilo que em termos da cultura cristã é chamado de “amar o inimigo”, diz a leitura Lc 6,27-28: “A vós, que me escutais, eu digo: Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam”, em outras palavras nem unipolar nem bipolar, mas um mundo multipolar.

 

O ódio e a intolerância na história

17 fev

É preciso conhecer o processo histórico para entender as bases em que uma polarização mundial e uma pretensa nova ordem mundial, um termo bastante vago e sujeito a muitas interpretações, que levaram a polarização no período da guerra fria e que parece retornar com moldes novos, onde o fermento do ódio pode florescer.

As razões que levaram a formação do Eixo, aliança com os nazistas na segunda guerra mundial, foram: a expansão territorial com a criação de impérios com base em conquistas militares e a derrubada da ordem internacional do período pós Primeira Guerra Mundial, e a destruição e neutralização do comunismo soviético.

A Alemanha e Itália assinaram em 1º. de novembro de 1936, uma semana depois de anunciarem um pacto de amizade, a criação do Eixo Roma-Berlim e depois em 25 de novembro de 1936 o Pacto Anti Internacional Comunista (Comintern) em oposição à União Soviética, a Hungria, a Bulgária e a Eslováquia entraram no eixo no mês de novembro de 1940, mais tarde entraria a Croácia, a Finlândia em 1941 se associaria a URSS e em abril daquele ano a Iugoslávia foi invadida e desmembrada pelas forças do Eixo e depois a União Soviética.

No início da guerra, em 1º. de setembro de 1939, os aliados eram a França, Polônia e o Reino Unido, assim como os estados dependentes da Coroa Britânica: a India, a Austrália, Canadá, Nova Zelândia e África do Sul, após a invasão da Bélgica, além dela os Países Baixos e a Grécia se uniram aos aliados, a União Soviética apoia a invasão da Polônia, porém percebendo que seria traída pelos nazistas se torna também aliada, os Estados Unidos entrariam totalmente na Guerra após o ataque a Pearl Harbor (7 de dezembro de 1941), apoiavam com dinheiro e armamento até então, em dezembro de 1941 se torna um membro aliado com tropas e envio de armamento pesado para a Europa.

A China tinha uma prolongada guerra com o Japão desde o Incidente da ponte Marco Polo em 1937, que foi um incidente do sumiço de um soldado e de tropas aquarteladas dos dois lados desta ponte que é próxima da Manchúria (região em disputa), por isso a China juntou-se oficialmente aos Aliados em 1941.

Com o Eixo praticamente derrotado, foi realizada a Conferência de Teerã com as primeiras divisões territoriais das tropas de ocupação em cada país, isto é importante para compreender os avanços soviéticos constituindo o leste europeu, o Dia D do desembargue das tropas na Europa foi realizada no dia 7 de dezembro de 1941.

As conferências de Potsdam e Yalta foram realizadas respectivamente 17 de julho e 2 de agosto de 1945, antes da bomba de Nagasaki e Hiroshima dias 6 e 9 agosto.

Duas atitudes devem ser analisadas nos acordos pós-guerra, um é a reintegração do território alemão a guerra nos limites anteriores a primeira guerra, com a ressalva que o local onde estava a antiga Königsberg depois Stalingrado e hoje Kaliningrado foi tomada pela URSS e os alemães foram expulsos, o negativo foi a bomba nuclear sobre Nagasaki e Hiroshima quando a guerra estava praticamente terminada, e os efeitos da bomba marcaram a história da humanidade para sempre, lançada em agosto de 1945.

Analisaremos no próximo post o avanço e o quase final da guerra fria e aquilo que pode causar um desequilíbrio e criar uma Nova Ordem Mundial, sigla usada de diversas formas.

 

Tolerância, guerras e história

16 fev

Cresceu ainda mais em meio a pandemia, que nos forçou a uma reclusão involuntária, uma espécie de intolerância ao Outro, aquilo que na filosofia atual tem-se chamado da exclusão do Outro, escreveram sobre isto Habermas, Paul Ricoeur, Emmanuel Lévinas entre outros, e mais atualmente Byung Chul Han.

No iluminismo, Voltaire já havia escrito algo parecido em seu “Dicionário Filosófico”: “O que é a tolerância? É o apanágio da humanidade. Somos todos cheios de fraquezas e de erros; perdoemo-nos reciprocamente as nossas tolices, tal é a primeira lei da natureza.” (VOLTAIRE, 1978,  p. 290)

Na época o livro foi proibido de circular na França tamanha era a intolerância entre católicos e protestantes, e foi isto que levou Voltaire a chamá-los de maníacos.

O iluminista afirmava que “sem a tolerância” o mundo continuaria desordenado, como continuou, e radicaliza ao dizer: “o melhor meio para diminuir o número de maníacos, se ainda restam, é de confiar esta doença do espírito ao regime da razão, que lenta, mas infalível ilumina os homens” (idem), assim acreditava porque era próprio do espírito das luzes e a religião no seu tempo, pela divisão entre os cristãos da Reforma e os católicos, eram intolerantes ao contrário do evangelho que pregavam sobre o perdão e a misericórdia.

Sobre a questão religiosa, John Locke muda a argumentação para defender a tolerância religiosa partindo exatamente da separação entre Estado e Igreja e estabelecendo funções diferentes para cada uma dessas instituições, assim como poderes próprios para a realização de suas devidas funções, mas foram preciso duas guerras para que o conceito fosse amadurecido.

A questão da Tolerância religiosa ficou estabelecida no Tratado de Paz da Vestfália, histórico para as relações internacionais, que na verdade foram dois tratados nas cidades alemãs de Münster e Osnabrück, em 1648, colocando fim na chamada Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) no qual as disputas religiosas levaram a lutas entre reinados.

A Declaração de Princípios sobre a Tolerância foi adotada em 16 de novembro de 1995 pelos Estados-membros da UNESCO, nela afirma-se que a tolerância não é a indulgência nem a indiferença e sugere “o respeito e a apreciação da rica variedade das culturas do mundo e formas de expressão”, lançando um olhar diferente a culturas e religiões diferentes.

Os maníacos de Voltaire podem agora serem traduzidos como fanáticos, defensores de territórios e de poder, motivações da primeira e segunda guerra mundial, onde os territórios levaram a tensões entre a Tríplice Entente (também conhecida por Aliados: França, Reino Unidos e Russia) e a Tríplice Aliança (que eram as Potências Centrais: Alemanha, Itália e Império Austro-Húngaro), os territórios reduzidos da Alemanha e expandidos da Rússia e da França, a região da Alsácia-Lorena será disputada pela Alemanha) alimentarão a futura segunda guerra mundial, e estes tratados mal feitos vão levar a novas disputas de território, vê-se o caso da Finlândia (que ficou estabelecida como neutra em relação a antiga União Soviética) como o caso citado em recente conversa de Putin com Macron sobre a atual crise da Ucrânia, que poderia ter uma espécie de “solução finlandesa”, nas últimas horas houve uma retirada de pequena parte de tropas da Rússia da fronteira com a Ucrânia. 

Qualquer tratado agora precisa ter bases seguras, a ideia de que uma “nova ordem mundial” está em curso esconde desejos expansionistas e de intolerância política.

 

Felizes os que promovem a paz

11 fev

O ciclo peste, fome e guerra em qualquer ordem que ele tenha acontecida na história é retroalimentado porque sucumbem as forças que promovem a paz e entre elas estão também as forças espirituais verdadeiras que desejam o progresso da alma humana, que é inseparável da substancialidade da vida, não apenas humana, mas de todo planeta.

O século XX além da segunda guerra mundial, todos que a viveram narram o horror deste período e as privações que passaram, em especial os mais pobres, foi marcado também pelos regimes autoritários e Franco, Salazar e De Gaule na Europa, as lutas de libertação coloniais, e a guerra civil na Espanha, todos envoltos em atrocidades e muitas mortes.

Com um fim da pandemia próximo, porém é preciso ressaltar que ainda avança no hemisfério sul, um ciclo de privações sociais se aproximando uma guerra seria o menos desejável e não há forças diplomáticas que consigam evitá-la, quais seriam as consequências de uma insanidade deste tipo é para todos os analistas, imprevisível em proporção e extensão.

Há nos subterrâneos das sociedades forças que lutam pela paz, o pronunciamento de hoje (11/02) do Papa Francisco é uma destas forças, porém mesmo no interior de religiões e espiritualidades (já discorremos sobre as verdadeiras asceses) há aqueles que sadicamente (porque não viveram e não leram testemunhos da guerra) não se incomodam com este perigo.

O papa disse de maneira contundente: “a guerra é uma loucura”, e pede o diálogo, várias tentativas diplomáticas foram feitas porém as vias de algum acordo bilateral parecem estar fechadas, de certa forma porque as partes não parecem dispostas a ceder em pontos problemáticos (a presença da Otan e da própria Rússia na Ucrânia, por exemplo), o papa também pediu que este diálogo fosse “sério” e que realmente cada lado estivesse disposto a ouvir e a ceder para um possível acordo.

Com o passar das horas as tentativas parecem estar se esgotando, aos cidadãos comuns de ambos países, aos pobres e aos vulneráveis, em sua maioria jamais aprovariam uma guerra, resta a esperança e a fé de que sejam minimamente poupados se o absurdo acontecer.

As vésperas de um mundial de clubes de futebol, onde a disputa se encerra com o final de uma partida e em meio as Olimpíadas de Inverno, apesar de todas rivalidades, neste caso o desejável é que além das torcidas em lados opostos, tudo se consuma a partir de determinado ponto final, e neste caso a torcida de dois ou mais times, é mais humana que a disputa insana por territórios e vantagens bélicas de uma guerra de consequências imprevisíveis.

Diz a liturgia bíblica, na passagem em que Jesus encontra seus discípulos e uma multidão numa planície (todos no mesmo plano) de Tiro e Sidônia (Lc 6,20=21): “bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus! Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados! Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque havereis de rir!” e explica que os ricos e poderosos já tiveram o consolo neste mundo e os falsos profetas que são aplaudidos, porque não tiveram coragem de dizer a verdade.

Tenhamos esperança que um resto de serenidade, tolerância e equilíbrio restem nas grandes forças bélicas mundiais e a guerra seja evitável.  

 

Pequena história da Ucrânia

08 fev

No século III a região foi habitada pelos godos (250-375), a região era chamada de Aujo, ali havia uma cultura cherniacove, os ostrogodos se estabeleceram em 350 com influência dos Hunos, ao norte havia um povo que tinha uma cultura de Quieve (depois mais tarde Kyiv ou Київ).

A origem da Ucrânia de hoje está em tribos eslavas que chegaram a este território nos séculos V e VI, no século IX chegaram invasores vikings, chamados variagi, os mongóis invadem em XIII, o rei Igor I com uma jovem adolescente variagi chamada Olga uniu os povos, este reino chamado Rus tinha como capital Kiev, o rei vai ser morto e Olga assume o poder com grande vigor e coragem, e domina os povos, Olga ocupará um papel especial e depois se converterá ao cristianismo com grande obra a favor dos pobres.

Olga é um capítulo a parte, depois de ser uma rainha forte e até certo ponto cruel com seus inimigos, o filho assume o reinado e ela se converte ao cristianismo, construiu igrejas, fez campanhas de evangelização, não conseguindo, porém, converter o filho Sviatoslav (Esvetoslau I), ajudou de tal forma os pobres e as pessoas doentes que se tornou uma santa reconhecida pela igreja ortodoxa no ano e pela igreja católica de rito bizantino, seu filho não se converteu, porém seu neto Vladimir I se converteu e também foi declarado santo.

Os variagi comandavam vários pontos estratégicos na Rússia e exploravam o transporte e o comércio, assim durante o século X e XI, o território da Ucrânia tornou-se centro de um estado poderoso e prestigioso na Europa, chamado na época de Rússia de Kiev (lembre era o reino de Rus) e também foram base para muitas nações eslavas subsequentes (como a Grande Bulgária e a Bielorussia, por exemplo), além dos próprios russos que eram então apenas tribos eslavas dispersas.

O estado foi conquistado por Casimirio IV da Polônia, enquanto o cerne da antiga Rússia de Quieve passaram ao controle do Grão-Ducado da Lituânia, mas o casamento do Grão-Duque Jagelão da Lituânia com a Rainha Edviges da Polônia, trocou o controle dos soberanos lituanos para a maior parte do território ucraniano e assim retornou a Ucrânia.

Damos um salto na história, que é também rica do período medieval, uma guerra civil que durou 4 anos depois da revolução russa (1917) em 1921 a Ucrânia se torna república socialista soviética, com expurgos e apropriações de terras que os agricultores ucranianos se recusavam a entregar, a Ucrânia é uma grande produtora de grãos.

O período stalinista e a ocupação nazista de seu território, que causaram mais de 10 milhões de mortos entre 1930 e 1945, a Ucrânia resistiu a coletivização russa e a invasão nazista, a Ucrânia no período soviético era responsável por ¼ da produção soviética no setor agrícola produzindo 40 milhões de cereais, um recorde para a época.

Por fim a problemática do território da Criméia, que tem origem na guerra de 1853 e 1856 onde houve um conflito entre a Rússia e uma aliança formada pela França-Reino Unido-Reino da Sardenha (hoje parte da Itália), em 2014 a guerra renasce com a tomada pela Rússia, seja esclarecido que havia um contrato entre a Ucrânia e a Rússia numa espécie de leasing para concessão do porto dos balcãs onde está a maior frota marítima da Rússia, em Sebastopol que era assim um território independente da Ucrânia.

Assim entre as análises mais absurdas, está aquela que diz que a Ucrânia seria inviável como estado independente, está fragilizada por uma guerra interna e sob pressão Russa.

 

Um apelo para a paz

26 jan

A tensão nas fronteiras entre a Rússia e a Ucrânia crescem, depois de estacionar mais de 100 mil homens na região norte da Russia, ao norte, enquanto uma boa região da Ucrania segue com conflitos onde estão as cidades de Luhansk e Donesk, onde os rebeldes pró-Rússia ainda controlam parte do território e é uma região onde mais de 50% da população fala o russo como língua nativa.

A crise teve já um apogeu em 2014, quando os ucranianos depuseram o presidente pró-Rússia Viktor Yanukovych, em manifestações que ficaram conhecida como EuroMaidan porque a maioria dos ucranianos apoiavam a adesão à Zona do Euro e o presidente não, após diversas batalhas, algumas sangrentas com lutas armadas, o presidente foi deposto e foi eleito Petro Poroshenko, que prometia combater a corrupção e pacificar o pais, e em 2019 foi eleito o roteirista e ator Volodymyr Zelensky, a Ucrânia é semipresidencialista, então o primeiro ministro efetivamente governa, atualmente é Denys Shmygal.

As eleições acontecerão no próximo ano e o presidente ocupa a terceira posição, assim a Rússia sabe da fragilidade interna, enquanto tornar a Ucrânia um país da Otan significa a derrota das forças pró-Russia que atuam na região da Luhansk e Donesk.

As conversações que acontecem hoje com a presença da França, Alemanha e da Ucrânia com a Rússia terá como pauta principal a questão do conflito interno no norte da Ucrania, já que os Estados Unidos e o Reino Unido seguem uma linha de confronto com Putin e não descartam punições econômicas, e em caso de invasão retaliações, ambos países já enviaram tropas e armamentos de apoio à Ucrânia, também o fizeram a Lituânia, Estônia e Letônia, enquanto a Bielorrússia (que faz fronteira com a Ucrânia) recebeu caças e armamentos.

A Rússia fez exercícios bélicos no Mar Negro e deverá fazer um treino conjunto com a Bielorrússia no próximo mês, na medida que as negociações aumentam Putin ao mesmo tempo que aumenta a pressão com forças militares nas fronteiras repete que não pretende invadir a Ucrânia, mas a lista de exigências que faz é enorme, a principal delas é que a Ucrânia não ingresse na Otan, mas não cede em nada.

A posição da China é discreta até o momento, basta lembra que a China é a maior parceira comercial da Ucrânia e grande compradora de grãos e carne.

Entretanto a crise atual já é comparada a crise dos misseis em Cuba na década de 60, mais precisamente em 1962 em que o mundo ficou perto de uma guerra mundial.

No dia de hoje (26/01) os sites do governo da Ucrânia sofreram forte ataque de Hacker entretanto poucos sistemas do governo ficaram fora do ar, em resposta o sistema de ferrovias da Bielorrussia sofreu um ataque atrapalhando os comboios russos.