RSS
 

Arquivo para a ‘Linguagens’ Categoria

Sucesso e alegria

06 jan

Anselm Grün começa este capítulo fazendo um contraponto, pois tanto o filósofo judeu alemão Martin Buber que disse “Sucesso não é um termo de Deus”, como o famoso psicólogo Carl Jung que dizia que o é o maior inimigo da transformação do ser humano é uma vida cheia de êxitos, o monge termina dizendo que “o sucesso faz parte da vida” e devemos nos alegrar com isto (Grün, 2014, p. 73).

Faz a ponderação que podemos sim “alegrar pelo momento”, uma alegria de gratidão, uma dádiva “gratuita, não um mérito, é algo que eu percebo e me alegra sabendo que acontece e passa” (Grún, 2014, p. 74).

Depois vai corrigir e dizer que a alegria está principalmente associada a criatividade, citando Aristóteles e Erich Fromm, “ficamos satisfeitos com o trabalho bem feito e quando percebemos que realizamos algo hoje” (pg. 75), e completa que os artistas são “grandes conhecedores desta alegria”.

Assim há diferença entre a Euforia e a verdadeira Alegria, o que se busca hoje nos shows, nas academias e nas clínicas de estética é um sucesso fugaz, passageiro, principalmente quando não se busca a saúde e o bem-estar daria até outro nome para esta alegria que permanece, chamaria de gaudio.

Também o reconhecimento é importante, mas ele não virá de poderosos, de gananciosos ou vaidosos, estes procuram holofotes e sucesso comprometido ou até mesmo comprado, não está envolto da verdadeira alegria porque surge de valores e verdades efêmeras e portanto, que passam, mas que as mentes e corações sábios sabem encontrar.

Na passagem bíblica o nascimento de Jesus, num local humilde de uma pequena cidade de Belém, e o reconhecimento primeiro por humildes pastores do campo e depois por “magos” vindos do oriente, uma clara alusão a povos distantes e de outras crenças, que anuncia uma verdadeira alegria, um júbilo e aquilo que deveríamos lembrar no Natal e no ano de que se inicia, isto que pode nos dar uma verdadeira alegria.

Diz a leitura que os pastores ouviram cantos de alegria cantado por anjos nesta data, que em muitos países (como a Rússia) é um dia comemorado, por entenderem que algo muito especial aconteceu: Emana-uel (Deus conosco).

GRÜN, Alselm. Viver com Alegria. RJ, Petrópolis: Vozes, 2014.

 

Obstáculos da alegria

05 jan

Certamente o oposto da alegria é a tristeza, mas o problema não é a certeza de que teremos muitas dificuldades e tristezas na vida, o problema está em não saber como tratá-la.

Diversos psicólogos indicam que o problema da educação familiar atual é não deixar que os filhos ou parentes ou mesmo agregados que compõe o círculo familiar contemporâneo aprendam a lidar com a perda, os obstáculos e as tristezas da vida, lembro de meu pai que no leito de morte perguntava por um filho que ainda não tinha vindo vê-lo, só depois partiu em paz.

No livro de Anselm Grün ele indica a leitura de “João Felizardo” (Hans im Glünck) dos Contos de Grimm (Cinderela, O pequeno polegar, João e Maria, etc.) onde o personagem expressa que não precisa do ouro, da força e nem mesmo do sucesso do trabalho, ao perder as pedras que amolava tesouras num poço, a ultima coisa que lhe restava, pula de alegria e agradece a Deus pela graça de livrar-se daquelas pedras.

Meu segundo livro de propósito anual “A nova síndrome de Vicky” de Theodore Dalrymple, que fala do barbarismo europeu, aponta também um fundo cultural da infelicidade, agora social, em leitura que faz em sites de encontros, eles surgiram porque as pessoas estão presas em universos pequenos embora estejam em multidões nos shows, festas e baladas noturnas (vejam que não é específico do virtual, como indicam alguns autores), vão procurar afoitamente em sites de relacionamentos uma saída para a ilusão.

Entre vários ensaios, o autor cita dois casos de muçulmanos, um homem e uma mulher que ao descrever o tipo de pessoas que são, diz assim o rapaz: “sou um sujeito distraído e relaxado. Sou bastante sarcástico e tenho um grande senso de humor. Às vezes sou uma criança, mas sei quando tenho que ser sério.  Acredito que temos nossos altos e baixos, mas devemos tentar ver o melhor das pessoas … Gosto de pegar meu carro e sair … Acompanhar as mudanças do mundo. Gosto de comer fora, de pegar um cinema, de boliche, sinuca e críquete” (Dalrymple, p. 42), diz-se tentar ser um muçulmano, “tentando se tornar um cinco ao dia” (os muçulmanos rezam 5 vezes ao dia), segundo o autor no Reino Unido muitos se declaram religiosos, ainda é um sinônimo de confiabilidade.

Outro caso que cita, já na página seguinte é de uma muçulmana, que diz no site: “Oi, gente, sou uma mulher que gosta de se divertir, tenho os pés no chão e não julgo as pessoas”, como se de antemão já se desculpasse da postura de alguns muçulmanos de julgar as pessoas (“os infiéis”), porém o que o autor quer apontar é que todos querem se desculpar de algo, estão tentando algo e poucas vezes se definem, o fato de serem muçulmanos é apenas um exemplo, poderia ser de qualquer outra religião, ou no caso da polarização política, de qualquer ideologia.

O tema do médico e psicólogo Anthony Daniels (Dalrymple é um pseudônimo) é o mal estar da cultura e adesão dos intelectuais a um certo tipo de barbarismo, que faremos alguns apontamentos na próxima semana, porém ligo aqui o tema da alegria, que deve ser e só pode ser neste momento da história algo interior, uma vez que exteriormente reina uma crise civilizatória e procuramos explicar suas razões e fundamentos.

É possível em meio a crise individual ou social, encontrar razões e motivos para manter a alegria e ajudar a humanidade a encontrar caminhos que levem a verdade e a felicidade.

DALRYMPLE, Theodore. A nova síndrome de Vicky – porque os intelectuais europeus se rendem ao barbarismo. Trad. Maurício G. Righi. São Paulo: É Realizações, 2016.

 

 

A natureza da alegria

04 jan

Este é o nome do segundo capítulo do livro “viva com Alegria” de Anselm Grün, a ideia de algo físico (a natureza) da alegria parecia algo estranho, porém já de início o autor cita Aristóteles, que vê na alegria a vida plena, como “uma energia que impulsiona e desperta vida nas pessoas”, e assim “quem sente alegria interior naquilo que faz, este obtém, no trabalho, a alegria da vida” (pag. 15).

Assim ele retira o alvéolo puramente espiritual para encarná-la “ela é a expressão de uma vida na qual lidamos com as dificuldades que surgem e desenvolvemos todas as capacidades que Deus nos deu” (pg. 16).

Cita a psicóloga Verena Kast que ela a define como uma “emoção elevada”, textualmente “nos anima, nos estimula, nos proporciona uma certa leveza, e também gera união entre as pessoas” (pgs. 16-17).

A psicóloga Verena observou isto em muitas terapias, e nela encontrei uma visão definitiva da natureza, segundo Verena a condição decisiva para alegria é “estarmos absorvidos num ato, numa atividade, num momento” (pg. 17).

Depois de desenvolver o estado de alegria, como algo que “nem nos damos conta”, ela observa que a alegria tem um poder curativo: “a questão é saber por que tendemos a prestar mais atenção nas tristezas do que `as alegrias que temos” (pag. 18), e aponta que um dos fatores pode ser o excesso de atenção dado pelos pais quando crianças, assim nos entristecemos para que “obtenhamos atenção”.

Por ultimo lembra que é saudável e sensato assumir atitudes positivas, tanto recordando as alegrias passadas como obtendo-a em nossa vida aqui e agora.

Rir até mesmo de situações adversas não é alienação, é obter energia para uma ação proativa. 

GRÜN, Anselm. Viver com alegria. trad. Luiz de Lucca. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. 

 

Alegria em tempos difíceis

03 jan

Parece um contrassenso ter alegria em tempos difíceis, muitos tem dificuldade, a Pandemia deprimiu e a conjuntura mundial não ajuda, não se trata nem de alienação muito menos de ironia, trata-se de espiritualidade.

Indicamos o livro do monge alemão Anselm Grün: Viver com Alegria (Vozes, 2014) ele indica na introdução suas intenções: “Meu objetivo é chamar a atenção de vocês em muitas situações que podemos nos alegrar” (pg. 9) … “estou falando é de entrarmos em contato com a alegria que todos temos no fundo da alma” (pg. 9).]

Esclarece que muita gente acha que há poucos motivos na vida para se alegrar: “assim tendem a lamentar a si mesmo e à própria vida, na qual não veem razão para se alegrarem” (idem).

Ele é convencido que esta postura negativista escondei um grande anseio e esclarece aquilo que também foi motivo de escolha deste livro: “na conjuntura em que se vivem, há mais motivos para tristeza” (pg. 10), embora fale de uma conjuntura pessoal é possível estendê-la para o social. 

Assim convida a observar “a vida sob uma luz diferente”, no meu caso que operei as duas vistas, trocar de óculos, não para enxergar apenas com mais profundidade, mas sob a ótica de outros valores e motivações.

Diz na introdução que é uma decisão: “escolher conscientemente a alegria ou a lástima frente ás dificuldades”, ela não elimina os aspectos negativos da vida, mas evita ficar tateando no escuro, cria-se uma luz.

Mesmo um pequeno feixe de luz já é o suficiente para eliminar o breu total. 

GRÜN, Anselm. Viver com alegria. trad. Luiz de Lucca. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. 

 

Viragem da virada: 2023

31 dez

Para onde iremos depende de nós, de um ambiente mais saudável, mais fraterno e onde os homens desejem e construam a paz.

Não apenas pena pandemia, pela economia e pelas guerras o ambiente social torna-se tóxico, é nas micro-relações, na propaganda cultural e até mesmo falsamente espiritual, que o novo se constrói ou se destrói.

Falamos da violência, indicamos algumas leituras para compreender aspectos culturais (indicamos Zizek e Darlymple), tecnológicos com a brevíssima introdução de Margarete A. Boden e espirituais (indicamos Anselm Grün), porém há muitos outros autores sérios (é preciso separar supersticiosos, fatalistas e adivinhos neste campo), muitos que indicam um perigo civilizatório grande a cada ano que se inicia.

Anselm Grün cita em seu livro Aristóteles: “A alegria é uma expressão da vida plena” e diz ela é própria “daquelas cujas atividades não são bloqueadas por fatores internos ou externos” (Grün, 2014, p. 15) e assim encontramos também alegria em tempo de tensões e ira, e damos espaço para as esperanças que só podem brotar da vida plena e de seu exercício social.

Zizek num pensamento mais amplo, muitas vezes defende a violência de modo, afirma de uma maneira mais consciente que: “Nem no campo da política devemos aspirar a sistemas que explicam tudo e a projetos de emancipação global; a imposição violenta de grandes soluções deve dar lugar a formas específicas de intervenção e resistência”, disse também em uma entrevista que “Não precisamos de profetas, mas de líderes que nos incentivem a usar a liberdade”.

No campo da tecnologia, que está sujeito a crítica sim e muitas vezes citamos o lúcido e crítico das mídias digitais Byung Chul Han, há muito devaneio e tentativas de explicações de ensaístas (que é o que de fato são) que escrevem sobre tecnologia, mas por não conhecerem suas entranhas navegam por problemas e questões que não são nem desmistificadoras nem esclarecedoras e fazem aquilo que mais criticam que é o fanatismo político e religioso, por ignorância tecnológica.

O texto de Margarete A. Bodan proposto (Inteligência Artificial – uma brevíssima introdução), embora seja histórico e pouco profundo (no aspecto tecnológico) é esclarecedor e pode ajudar aos críticos.  

Por ultimo apontamos um texto que pode nos ajudar a detectar de modo melhor o problema que vivemos de uma crise civilizatória, abordando os aspectos sociais e psicológicos (Theodore Dalrymple é na vedade o médico e psiquiatra Anthony Daniels) e indicamos seu livro “A nova síndrome de Vicky – porque os intelectuais europeus se rendem ao barbarismo” mostra o fundo cultural e psicológico deste momento social.

Tudo isto não é por causa da pandemia e da crise econômica, que são só novos elementos nocivos, mas principalmente porque não introduzimos na vida pessoal e social mais empatia, mais alegria.

Feliz 2023, segunda tenho nova operação da visão e ficaremos alguns dias sem acesso aos meios e dispositivos digitais, é um bom começo com esta pausa forçada.

GRÜN, A. Viva com Alegria. Trad. Luiz de Lucca. Petrópolis: Vozes, 2014.

 

Ira e poder

28 dez

Toda literatura ocidental contemporânea desemboca na leitura de duas coisas que aparentemente não são opostas, mas se opõe frontalmente: amor e poder.

A violência é tema comum desde que o homem é homem, o confronto visava inicialmente como os animais o domínio de um território, a demarcação de países, nem sempre significa nação e sua cultura, é imposta pelo poder dominador, assim nasceu os primeiros impérios babilônico, persa, romano sua etapa de decadência, as monarquias medievais, o império mongol e depois o turco-otomano.

Desde as discussões de Thomas Hobbes, David Hume e John Locke, e Jean Jacques Rousseau, os chamados contratualistas, que divergiam sobre a origem violenta do homem: o homem é mau, o homem é bom e é a sociedade que o corrompe e o homem natural é bom, o chamado bom selvagem, o certo é que o estado moderno, diferente da polis grega, é aquele que tem direito a violência.

Na República de Platão não era assim, a ideia desta escola filosófica era educar o homem para ser político, deveria ter sabedoria e virtudes (aretê), sendo a sabedoria a maior das virtudes, porém é preciso lembrar a polaridade entre Athenas, cidade dos sábios e Esparta, cidade dos guerreiros, assim a ideia da violência permanecia no cotidiano, e Aristóteles não só caminha nesta direção como se torna preceptor de Alexandre, o grande, imperador da Macedônia.

Assim a Ideia de Platão permanecia influente na Grécia, e a tentativa de aliança entre gregos e macedônicos para derrotar o império persa não aconteceu, mesmo assim o império se estende por toda Asia Menor chegando a Índia, mas não a conquista, sem herdeiros e com disputas entre seus generais o império se divide e enfraquece, logo no período seguinte o Império Romano começa a se formar.

A violência moderna antes das guerras concentrou-se na divisão dos reinados, com a reforma protestante e também a anglicana no Reino Unido, até estabelecer-se a Paz de Vestefália.

A grande teoria sobre o Estado moderno e o poder será elaborada por Hegel, ela é dominante hoje independente de posições ideológicas, afinal Karl Marx era também hegeliano (novos, com ele se denominava), porém é o estado moderno o detentor do poder para causar a Paz, a Pax Eterna como pretendia Kant, mas que resultou em duas guerras e estamos a beira de uma terceira, que esperamos não aconteça.

Porém olhando a literatura atual, boa parte dela trata do barbarismo, os dois livros que indiquei e lerei no próximo ano vão nesta direção, embora com tendências políticas opostas, Zizek e Dalrymple se debruçaram sobre o tema, mas há muitos outros: “Ira e tempo” de Peter Sloterdijk, “Violência” de Slavov Zizek e “Comunicação não violenta” de Marshall Rosemberg entre outros.

De Byung Chul Han lembro a citação do seu livro No enxame, que analise a violência das novas mídias, onde afirma que só o respeito é simétrico, ou seja, os dois lados são não violentos.

O romance/ficção de Gabriel Garcia Márquez “O amor nos tempos do cólera” ele arriscou um happy end, diferente de outros livros ele quis tornar a felicidade possível, criar uma espécie de fábula moderna ou uma esperança desesperada, onde “uma utopia de vida, onde o amor de fato seja verdadeiro e a felicidade possível” (Márquez, 2005).

Márquez, Gabriel Garcia. O amor nos tempos do cólera. Rio de Janeiro, Record, 2005.

 

Reflexões para 2023

27 dez

Sempre faço um propósito de algumas leituras no final do ano, as vezes abandono alguma e sempre anexo outras, por dever do ofício de professor e pelo surgimento de fatos novos, como foram o caso da pandemia em 2020 e da guerra da Ucrânia no último ano.

Entre outros, quatro livros já encomendados, que pretendo ler no ano de 2023 estão: “A nova síndrome de Vicky: porque os intelectuais europeus se rendem ao barbarismo”  de Theodore Dalrymple (pseudônimo do médico, psiquiatra e ensaísta britânico Anthony Daniels, de 72 anos), embora de 2016 teve vários acertos da conjuntura, o segundo livro é de Slavov Zizek: “O ano que sonhamos perigosamente” (2012), o terceiro é sobre tecnologia, muitas coisas bizarras são escritas sobre a tecnologia e seus avanços, já citamos Jean Michel Ganascia: “O Mito da singularidade”, agora queremos reler a Inteligência Artificial a partir da autora da área porém sobre coisas básicas e sobre os dilemas da IA: “Inteligência artificial: uma brevíssima introdução”, básica mas conhecedora do tema, uma leitura mais profunda exige estudo e especialização na área.

Não poderia faltar na lista um livro de cunho espiritual, o livro de Anselm Grum, que é um monge beneditino alemão com 77 anos, e que muitos de seus livros impactaram as diferentes conjunturas, e agora quer dar uma resposta a ansiedade, depressão e desesperança que atinge boa parte da humanidade pandêmica.

De Dalrymple já postamos sobre o livro “Nossa cultura ou o que fizemos dela” onde a análise cultural precede a econômica e converge com a social, sobre Slavov Zikek tivemos algumas citações e já temos algumas reflexões sobre sua visão atualizada do socialismo, mas cujo aspecto de violência não é descartado.

Na visão de Zizek a superação do estado social ou do welfare state o estado hoje é a administração de uma crise social permanente, e neste livro ainda por ler, as releases e leituras permitidas online que pude ler ele desvenda o apreço dos intelectuais (diria especialmente dos grupos editoriais vigentes e suas narrativas) pela catástrofe, e diria em desacordo com Zizek que ele também está neste processo só que pelo aspecto do uso da violência expresso em diversos livros seus, o indicado porém mostra o aspecto renovador e de verdadeira mudança que os movimentos de 2011 eram marcados, mas foram consumidos pela cultura atual.

Embora tenha esta discordância de fundo ideológico com Zizek, sua análise de 2011 deve ser bastante interessante lembremos da Primavera Árabe, dos movimentos de ocupação como “Occupy Wall Street”, na praça Tahir, em Londres e em Atenas houveram movimentos fortes, houve sonhos obscuros, e certamente um evento que Zizek não lembra, mas é importante: a catástrofe de Fukushima, o problema nuclear, foi em 11 de março de 2011.

Muita literatura com pouco fundamento se aventura na área, onde o problema maior não é nem a mistificação nem os problemas éticos, mas o conhecimento dos elementos básicos e futuras possibilidades da área, a especialista Margaret A. Boden que pesquisa na área e compreende as dúvidas sobre o tema, faz uma brevíssima introdução capaz de elucidar os leigos já confusos pela literatura obscura e crítica da questão.

Talvez falte uma literatura nacional, latina ou africana, um livro que vi e não tenho opinião formada, é: “Guimarães Rosa: Dimensões da narrativa” me chama atenção, não tenho conhecimento das autoras Maria Célia Leonel e Edna Maria F. dos santos, vou pesquisar, a sinopse parece interessante ao abordar autores como Gérard Genette e Ernest Cassirer, entre outros.

 

Entre o que se diz e o que se fala

13 dez

Em tempo forte de narrativas, o que se falanada ou pouco tem a ver com as atitudes de fato dos homens, vale para a política, para a cultura e para a religião, assim nem todos os que apontam desejar fazer socorro aos mais humildes de fato fazem, nem todos que se dizem religiosos estão de fato ligados aos valores e à mensagem divina, seja de qualquer religião ou denominação cristã.

Há coisas bem simples para serem identificadas: boa árvore dá bons frutos, palavras corretas devem indicar uma vida reta, porém o discurso filosófico ou teológico muitas vezes se confunde e neste caso é preciso se orientar por atitudes também simples de serem observadas e que dizem muito: não haver a soberba do poder temporal de qualquer tipo que ele seja, desde um chefe de departamento aos governos e autoridades constituídas, a história passada e recente está cheia destes exemplos.

A razão pela qual vivemos num tempo que as verdades não são bem vindas, é mais que a construção de narrativas e elas não faltam a criatividade humana, é principalmente pelo fato que é difícil dizer que as coisas vão mal, apesar de todos sentirem um mal estar, não faltam falsos profetas a fazer promessas irrealizáveis, consolos de autoajudas e até aqueles que receitam a felicidade como uma bula de remédio.

O mal estar civilizatório detectado por Freud (livro da década de 30) mais do que apenas aspectos psicológicos falava de impulsos pulsionais (fizemos alguns post sobre isto) e a vazão inadequada para eles.

Claro que isto vai para a política, e da política para aspectos sociais: economia, saúde, educação e o cada vez mais grave problema ambiental, porém a profundidade desta crise requer outra análise: a guerra.

Como dizemos um pouco atrás a soberba das autoridades constituídas e a adesão coletiva raivosa, não estou falando de nenhuma corrente específica e sim de quase todas, estimula o ódio e a violência, e o caminho e desaguadouro desta corrente não há outro senão o mar da violência humana: a guerra.

A mensagem positiva neste aspecto é fazer o que se problema, e muitas nem vezes nem proclamar, mas dar o exemplo daquilo que é justo e sensato, diz a sabedoria popular: o exemplo arrasta.

 

O que fizeram com a cultura

06 dez

Theodore Dalrymple, é o pseudônimo do psicanalista inglês Anthony Daniels, que trabalhou em prisões inglesas com criminosos de alta periculosidade, e viu neles não apenas aspectos de pobreza e exclusão, mas também o desenvolvimento de uma cultura de tolerância a atos de arrogância, furtos e imoralidades.

Em um livro composto de 26 ensaios ele descreve a nossa cultura atual o que restou dela (foto). 

Escreveu em uma de suas obras: “Para o sentimentalista, não existe criminoso, mas apenas um ambiente que não lhe deu o que devia”, e assim aqueles que diziam em voz alta que sofriam muito em situações triviais da vida, que muitas pessoas passam e nem por isto caem na delinquência, é claro isto não quer dizer que não seja necessário reeducação, mas a educação preventiva é melhor que o remédio.

Não se trata de um setor exclusivo da sociedade, ou apenas uma questão ideológica como muitos autores apontam, e sim uma questão de influência cultural, em especial de rádio, televisão e cinema, quando todos passam a justificar a violência, o ódio e a crueldade, lembro de frases do filme Coringa que foram repetidas em tom cult, por exemplo, “frio, sarcástico e sem coração. Foi no que me transformei e agradeço à sociedade”, a pergunta é qual sociedade ele escolhe: a da eficiência ou a da solidariedade.

Não quero dar popularidade e nem fazer o papel da indústria cultural que condeno, e ela sim é a verdadeira produtora de valores estranhos e sem perspectiva humanística, como aponta o psicanalista em seus livros, os valores penetram na sociedade pela cultura editorial seletiva que é altamente permissiva em valores e costumes.

A verdadeira solidariedade não condena apenas, há casos que a condenação é necessária para reprimir a violência e o ódio, mas educação, dá dignidade e reergue as pessoas que sucumbiram a uma sociedade da eficiência e da arrogância, lembro aqui outro livro de sucesso, que li até a décima página: “A Sutil arte de ligar o f**” (em inglês a palavra também começa com f), sim é verdade que há no livro um grito contra o perfeccionismo e a cultura do eficientíssimo em fotos e textos nas “mídias” de redes sociais, mas é importante lembrar que o autor é americano e lá isto é uma cultura geral e não apenas nas mídias.

Se na semana passada postamos sobre os “caminhos” e as “veredas”, queremos agora salientar a micro-cultura, o dia a dia com mais empatia, mais respeito e menos ódio, e se possível mais polido.

Não há como encontrar caminhos solidários e de paz na sociedade se a grande maioria optou por combater com armas iguais àquelas que os odiosos combatem.

DARLRYMPLE, Theodore. Nossa Cultura ou o que restou dela. E Realizações. São Paulo. 2015.

 

Mudanças na terra e no céu

25 nov

Pouco se analisa as grandes mudanças sociais na história da terra e na vida humana, a terra veio muito antes da vida humana, também representaram a visão do homem sobre o universo e seus mistérios, e assim há uma correspondência entre mudanças terrenas e sua correspondente cosmogonia, se isto é só uma coincidência ou uma providência divina depende da própria cosmovisão, mas ela se alterou é certo.

Assim a visão d cosmos no início da Antiguidade Clássica é tão evidente quanto o nascimento da polis grega e suas consequenciais para o mundo moderno, Aristarco de Samos (310 a.C. — 230 a.C.) chegou a calcular o raio da Terra muito antes da circo navegação (Fernão de Magalhães 1512), e também no final da Idade média a Ideia do Geocentrismo ptolomaico cedeu ao heliocentrismo copernicano e a mudança do feudalismo para o liberalismo moderno pode ser vinculada a esta mudança de visão astronômica.

Em tempos atuais inicialmente o Hubble e agora o James Webb tem feito o homem olhar para os confins do universo e já se inicia até mesmo uma mudança na modernidade teoria da relatividade, os buracos negros e os caminhos de minhoca (hormholes) mostram um universo em maior mutação do que esperávamos, nascem e morrem milhares de galáxias por todo universo e nosso sistema é apenas um grão de areia.

Talvez a grande revolução seja a mudança da concepção de tempo, podemos olhar para o nascimento do Universo (veja nosso post sobre o locus divino) que pode não ser chamado de eternidade, porém é mais do que simples dimensão absoluta de tempo e espaço, e talvez seja mais do que a dimensão espaço-temporal de Einstein.

No caminho bíblico Adão e Eva surgem num momento em que o homem já é sedentário e não mais nômade, já que Caim era lavrador da terra e Abel pastor de ovelhas, quem sabe a morte de Caim foi o primeiro conflito de terra da humanidade, o certo é que este fato está vinculado a uma visão de mundo nova sedentária, assim como Noé corresponderá a um dilúvio, ou quem sabe uma simples inundação ocorrida na península arábica, já que ela fica abaixo do Negro, onde observamos o estreito bósforo, caminho de mar entre o Mar Negro e o Mar Mediterrâneo.

Assim o tempo de Noé pode ter significado uma mudança geográfica pelo menos naquela região do planeta que implicou na transformação ocorrida mais abaixo entre os rios Tigre e Eufrates, berço da civilização árabe, e se não há registro histórico de Noé, há de sua descendência: os semitas, de seu filho Sem, que povoara a região.

Assim ao falar das transformações que passariam céus e terras, a leitura bíblica de Lucas (Lc 24,37-39): “A vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé. Pois nos dias, antes do dilúvio, todos corriam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá na vida do Filho do Homem”, a segunda vinda chamada de Parusia.

A grande crise civilizatória não deverá ser assim apenas uma mudança de estrutura social, mas ela certamente acompanhará uma mudança física no planeta, já que suas forças ambientais estão se esgotando.