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O idealismo da Paz perpétua
A Paz Perpétua era a proposta política de Kant de certa forma ela está expressa na visão liberal do pensamento sobre a paz, com algumas nuances em países vindos do período soviético, porém via de regra o normal lá é a visão romana da pax romana que era a submissão dos inimigos.
Conforme vimos no post anterior, para Kant, esperto como as serpentes e falso como as pombas, também Maquiavel de um modo muito diferente em seu “Príncipe” falava em dividir para reinar, princípio que é analisado por Kant ( Divide et impera, p. 39), neste caso para como uma falsa liberdade de ideias opostas quando o chefe supremo “desune-as e isola-as do povo”.
A obra À paz perpétua foi escrita pelo filósofo alemão Immanuel Kant, em 1795. A singularidade da contribuição de Kant está na sua fé em uma paz perpétua que se constrói porque a razão tem mais força do que o poder, “ … visto que a razão, do trono do máximo poder legislativo moral, condena a guerra como via jurídica e faz, em contrapartida, do estado de paz um dever imediato, o qual não pode todavia estabelecer-se ou garantir-se sem um pacto entre os povos: – tem, pois, de existir uma federação de tipo especial, a que se pode dar o nome de federação da paz (foedus pacificum), que se distinguiria do pacto de paz (pactum pacis), uma vez que este tentaria acabar com uma guerra … “ (KANT, 2008, p. 17-18).
Mas quando seria então justo fazer a guerra? Qual seria o limite da razão? Kant fala primeiro da revolta no interior de uma nação submetida a um tirano: “Será a revolta o meio legítimo para que um povo rejeite o poder opressivo do chamado tirano [non titulo, sed exercitio talis (‘tirano no exercício do poder, não na sua denominação’)]? Os direitos do povo são conculcados e a ele (ao tirano) não se faz injustiça alguma por meio da destronização; a este respeito não há qualquer dúvida. No entanto, é sumamente injusto, por parte dos súbditos, reivindicar assim o seu direito, e não podem também queixar-se da injustiça se nesta luta forem vencidos e tiverem, depois, de suportar as mais duras penas” (Kant, 2008, p. 47).
Conforme vimos no post anterior, para Kant, esperto como as serpentes e falso como as pombas, também Maquiavel de um modo muito diferente em seu “Príncipe” falava em dividir para reinar, princípio que é analisado por Kant (. Divide et impera, p. 39, neste caso para como uma falsa liberdade de ideias opostas quando o chefe supremo “desune-as e isola-as do povo”.
Há pontos interessantes em sua proposta dividida em artigos: uma constituição civil republicana (hoje há povos com outras formas de governo e que nem sempre são tiranias), uma “federação de nações livres” como o princípio da hospitalidade (o problema dos migrantes hoje) e depois faz uma série de “suplementos” para a paz perpétua, mas basicamente é uma defesa da razão.
Toca também na interessante, já dissemos referentes isto às guerras mundiais, que a paz não deve se fundar em possibilidades que podem abrir novas guerras futuras.
Hoje deve-se analisar a luz da cultura originária dos povos, não apenas indígenas e diversas nações pré ou pós iluministas (onde impera certa forma de razão, lembre do Estado Grego e do direito Romano), e também o desequilíbrio econômico, bélico e agora também cibernético.
A paz perpétua não é uma paz eterne nem paz duradoura, esta deve atentar para uma civilização mais humana e fraterna, sem a qual qualquer argumento para a guerra é possível.
KANT, I. A paz perpétua. Trad. Artur Mourão. Portugal: Universidade da Beira Interior Covilhã, 2008
Twitter, Cibercultura e Paz Perpétua
A compra do Twitter por Elon Musk por U$ 44 bilhões, o bilionário da Space X e da Tesla, tornam as mídias de redes sociais cada vez mais atreladas ao campo político e balança o império das mídias tradicionais.
Uma das ideias básicas de Musk é tornar a rede menos controlada (a função de moderador) e com mais possibilidade de texto, no lançamento em 2006 era de 140, em 2017 foi ampliado para 280 e provavelmente acrescentará textos maiores, Musk é proprietário da ferramenta Revue.
A NetFlix perdeu 200 mil assinantes (pouco para 100 milhões de assinantes, mas uma tendência), CNN enfrenta fortes problemas com um discurso editorial (7 em cada 10 telespectadores) tenta mudar o enfoque, é a grande mídia sofrendo com o avanço das novas mídias, e tudo indica que a guerra no campo bélico e ideológico vai se deslocar para o campo cibernético, os drones praticamente aposentam a ideia de uso de tanques e aviões com autonomia de voo e de voo tornaram a guerra desigual em força e material bélico mais igual.
Mas a liberação da arbitragem no Twitter preocupa, embora a proposta de algoritmo de código aberto seja interessante, mas a grande questão são as ideias sobre a guerra de Musk.
Claro tudo isto é condenável pelo número de vítimas civis que causam, pelas tragédias humanas que ali se desenvolvem também entre militares que estão num campo de batalham onde muitos não gostariam de estar.
A Paz Perpétua de Kant trazia a proposta de um preceito da razão sobre o poder, porém um estranho ditado aparece no meio de seu texto (analisaremos o texto no próximo post), que é prudentes como as serpentes e suave como as pombas, no texto bíblico (Mt 10:16)é possível também se traduzir “simples como as pombas, porém a interpretação kantiana é divergente:
“…Sede prudentes como a serpente»; a moral acrescenta (como condição limitativa): «e sem falsidade como as pombas” (Kant, 2008, p.34), e o próprio Kant aponta que “as duas coisas não podem coexistir num preceito” uma contradição evidente, a Paz Perpétua é mais complexa, claro.
Este é o problema das novas mídias, é preciso usar o recurso muito usado na política de certa “falsidade”, ou dubiedade quer seja para despistar os opositores, quer seja para iludir o povo.
Não há como estabelecer a paz se não há respeito de culturas e valores conflitantes, claro dentro de limites humanitários razoáveis, o primeiro é a própria vida posta em cheque na guerra e o segundo é possibilitar a sobrevivência e autodeterminação dos povos para decidir seu destino.
KANT, I. A paz perpétua. Trad. Artur Mourão. Portugal: Universidade da Beira Interior Covilhã, 2008
A guerra, o Brasil e a Finlândia
Enquanto a guerra vai se escalando no leste europeu, os objetivos russos vão se tornando claros, o controle maior das fontes de energia e material disponível para a guerra, isto inclui a Siderurgia de Azovstal, onde há civis e a batalha se intensificou.
Há o alegado despiste de dizer que o leste faria um corredor por terra até a Criméia anexada na guerra de 2014, porém isto nunca foi problema para a Rússia por causa de sua frota aérea, e ela tem outro exclave que é Kaliningrado, e também é por isso que a Ucrânia passou a bombardear os armazéns de petróleo russo.
O governo brasileiro ditatorial de Vargas chegou a flertar com o Nazismo, porém em julho de 1939 em visita dos Estados Unidos ao chefe do Estado-Maior do Exército brasileiro, general Góes Monteiro, o governo americano prometeu cooperar com o reequipamento militar e econômico do Brasil na construção da Companhia Siderúrgica Nacional (a antiga CSN).
Na época foi dado ao Brasil um crédito de 17 milhões de dólares junto ao Eximbark, e uma base americana foi instalada no Rio Grande do Norte, estratégica para voos militares para Europa.
Também a Finlândia tinha antes deste período indústrias pesadas que poderiam auxiliar na guerra, a Suécia também tinha e forneceu material tanto para a Alemanha como para os aliados, porém em 1939 Stalin, então presidente da União Soviética resolve invadir a Finlândia.
O parlamento da Finlândia está decidindo agora a entrada na OTAN, e a Rússia ameaça com retaliações, na última semana Maria Zarakhova, porta-voz do Ministério das Relações Extensores da Rússia afirmou: “Nós demos os nossos avisos, tanto publicamente como pela via dos canais bilaterais; eles (os dois países) sabem disso, então não há surpresas. Eles foram informados sobre tudo, sobre o que (uma eventual adesão à Otan) vai acarretar”.
Isto provoca uma nova escalada na Guerra e envolve também a Suécia que deseja aderir a OTAN.
O embate entre russos e finlandeses, iniciado em 30 de novembro de 1939, chamada de Guerra do Inverno (foto), embora com um exército e poderio menor os finlandeses resistiram a guerra e mantiveram a moral da tropa, já havia o pacto recém foi feito o pacto Molotov-Ribbentrop (ministros da Rússia e Alemanha, respectivamente), onde a Finlândia ficaria neutra, porém perdia parte de seu território, uma boa parte de seu parque industrial e se comprometia a manter neutralidade na guerra, mas a Rússia rompeu com a Alemanha e invadiu a Finlândia.
O tratado de paz foi assinado em 12 de março de 1940, cedendo 10% do território finlandês à Rússia e 20% de sua capacidade industrial a União Soviética.
Mais poderio militar e indústrias bélicas significam que não há fim previsto para a guerra, o maior envolvimento da OTAN significa a proximidade de uma escalada global, mas mantem-se a esperança de paz através de acordos, cada vez mais difíceis.
Covid Resiliente e política sanitária
A razão pela qual a Covid 19 em queda é tão resiliente no país tem duas explicações: a médica pois o número de mortes cai lentamente enquanto o número de infecções tem queda mais lenta uma vez que a variante predominante é pouco letal (veja o gráfico) e a outra é de política sanitária uma vez que não se faz mais uso de protocolos sanitários, excetos em raros ambientes.
Não se trata apenas do fato econômico, já que todos os setores econômicos voltaram a ativa e uma crise mundial desponta no horizonte devido uma guerra que vai se escalando e já atinge o setor de alimentos e combustíveis, com um cenário futuro bastante sombrio.
Porém há atividades que poderia ser muito bem controlada, festas públicas (ou privadas que se tornaram alternativa), regras de funcionamento em ambientes escolares e espaços culturais diversos (incluo os religiosos) e a manutenção das máscaras já que todo mundo tem alguma.
Os governadores do nordeste (brasileiro) já se manifestam sobre o uso de máscaras, porém a preocupação real é com a queda nos níveis de investimentos sanitários e poderemos ter outros casos em breve, como as tradicionais ondas virais de início de inverno e a dengue.
Um seminário com várias autoridades internacionais na área da saúde foi realizado na quarta-feira passada (23/2) com o tema “Agenda da Saúde Global: Perspectivas para 2022”, mediado pelo pesquisador sênior da Fiocrus Luiz Augusto Galvão.
Todos os participantes manifestaram de alguma forma a preocupação com políticas sanitárias seguras que garantam o controle da Pandemia, que está atenuada, mas sem garantias de seu fim, a pesquisadora brasileira Mariângela Batista Galvão Simão destacou que é possível um cenário de erradicação da Covid: “Isso porque hoje temos ferramentas e know-how que não tínhamos antes, mas não vai acontecer se tivermos complacência”, declarou.
Razão, crença e a guerra 2
A relação da ciência e da crença na lição de Bourdieu: “O empreendimento paradoxal que consiste em usar de uma posição de autoridade para dizer com autoridade, para dar uma aula, mas uma aula de liberdade … seria simplesmente inconsequente, ou mesmo autodestrutivo, se a própria ambição de fazer uma ciência da crença não supusesse a crença na ciência” (Bourdieu, 1994, p. 62), pode ser melhor expresso pelo princípio da transdisciplinaridade.
Estabelece a Carta da Transdisciplinaridade de Arrábida em um de seus princípios: “Considerando que a rutura [ruptura no Brasil] contemporânea entre um saber cada vez mais cumulativo e um ser interior cada vez mais empobrecido leva à ascensão de um novo obscurantismo, cujas consequências, no plano individual e social, são incalculáveis”. (Freitas, Nicolescu e Morin, 1994)
A ideia da ciência fundamentada num cálculo (incluindo o econômico) ou a físico que permite avançar no mistério do infinito universo, com wormholes (caminhos de minhoca), buracos negros e matéria escura, não podem prescindir do mistério que está além daquilo que o homem já conquistou.
Do lado político a crença no estado moderno que substituiria Deus e poderia estabelecer uma paz perpétua (o projeto filosófico de Kant) assim como a ciência como cume da “razão” já mostraram seus limites, também a fé fundamentalista, que já o era com os fariseus no tempo de vida terra de jesus, tem limites de ignorar a ciência, mesmo querendo uma ciência da crença, o paradoxo apresentado por Bourdieu.
Nem a paz perpétua de Kant nem os avançados estudos científicos permitiram evitar a guerra e o mundo está de novo a beira de uma nova catástrofe humanitária, e também é que que se ressalte também o fundamentalismo religioso não consegue aboli-la como o “Decálogo de Assis para a Paz” assinada em Assis em 4 de março de 2002, ainda que a defendam isto até hoje.
Os fariseus queriam o envolvimento de Jesus com a guerra contra Roma, que acontecerá nos anos 70 da era cristã, com a destruição de Jerusalém e de seu templo Santo como era previsto nas profecias, não porque Jesus o desejava, mas pela guerra que os homens desejavam.
Após a Pascoa judaica, e a Paixão e Ressurreição de Jesus que foi nossa Páscoa, Jesus aparece aos discípulos e o apóstolo que não acreditava Tomé estava com eles, a primeira saudação de Jesus é: “A paz esteja convosco” (Mt 20, 21), sopra o Espírito Santo sobre eles e diz a Tomé que queria provas materiais de sua ressurreição: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel” (Mt 20,27) e após dirá que s]ao felizes os que acreditam sem terem visto.
KANT, I. A paz perpétua: um projecto filosófico. Trad. Artur Mourão. Ed. Universidade da Beira Interior. Portugal: Covilhã, 2008.
FREITAS, L., Nicolescu, B. e Morin, E. Carta da Transdisciplinaridade. Portugal: Convento de Arrábida. 1994.
Razão, crença e a guerra
A evidência de duas guerras mundiais, onde a racionalidade foi desafiada pelas barbáries dos campos de concentração, das atrocidades cometidas, e inclui-se também a bomba de Hiroshima, dão provas que é preciso examinar com profundidade aquilo que construiu o que chamou-se de razão passando pela crítica da razão pura de Kant e pelo seu desenvolvimento da razão prática.
Na abertura do livro “Desencantamento do Mundo”, Pierre Bourdieu introduz sua análise das estruturas econômicas e temporais assim: “Aqueles que colocam a pergunta ritual dos obstáculos culturais ao desenvolvimento econômico interessam-se de modo exclusivo (isto e, abstrato) pela “racionalização” das condutas , econômicas e descrevem como resistências, imputável somente a herança cultural (ou, pior ainda, a tal ou tal de seus aspectos, o Islã por exemplo), todas as omissões para com 0 modelo abstrato da “racionalidade” tal como a define a teoria econômica.” (BOURDIEU, 1979, p. 11).
A história recente de nosso processo civilizatório desenvolve o aspecto físico (e portanto apenas material) e o cálculo matemático, em especial as racionalizações das estruturas econômicas, ao citar Max Weber explica o autor: “o caráter próprio a época capitalista [escreve Max Weber] e – um na raiz da outra – a importância da teoria da utilidade marginal (assim como de toda a teoria do valor) para a compreensão desta época consistem em que. do mesmo modo como a história económica de um sem-número de épocas do passado) foi chamada acertadamente de «a história do não econômico”, nas condições presentes da vida, a aproximação desta teoria e da vida era, é, e pelo que se pede julgar, será cada vez maior e devera determinar 0 destino de camadas cada vez mais amplas da humanidade. E deste fato histórico-cultural que deriva 0 significado heurístico da teoria da utilidade marginal” (BOURDIEU, 1979, p. 17).
Sua análise é bastante extensa e quase completa (explico a frente) para ser sintetizada aqui, porém o aspecto que nos interessa da cosmovisão cultural “não-econômica” que é o da crença e pode ser explicitado numa frase sua sobre como vê a relação da ciência e da crença: “O empreendimento paradoxal que consiste em usar de uma posição de autoridade para dizer com autoridade, para dar uma aula, mas uma aula de liberdade … seria simplesmente inconse- quente, ou mesmo autodestrutivo, se a própria ambição de fazer uma ciência da crença não supusesse a crença na ciência” (Bourdieu, (1994, p. 62), que significa que é preciso conjugar razão e crença.
A guerra atual envolve estas crenças econômicas (e ideológicas, e incluem crenças religiosas), e não é assim nem uma razão prática, nem teórica, a paz é possível se limitarmos as crenças ao princípio comum de defender a paz para o processo civilizatório (já que o conceito de progresso é também uma crença em determinado sentido da “histórica econômica”).
BOURDIEU, P. O desencantamento do mundo: as estruturas econômicas e estruturas temporais. Trad. Silvia Mazza, São Paulo: Editora perspectiva, 1979.
BOURDIEU, Pierre. Lições da aula. São Paulo: Ática, 1994.
Os passos de caranguejo e a guerra
O livro de Umberto Eco: “A passo de Caraguejo: guerras quentes e populismo mediático” (edição portuguesa de 2012) é de mais de uma década atrás, mas atualíssimo, Eco faleceu em 19 de fevereiro de 2016, mas estivesse vivo teria muito a dizer, porque sua visão é profética.
Falava do retrocesso global, este é o passo do caranguejo, o ressurgimento do criacionismo, o rádio pelo iPod (agora em desuso), via no renascimento das nações não um período afirmativo de identidades culturais e sim “depois da queda do Muro de Berlim, a geografia política da Europa e da Ásia mudou radicalmente, tornando-se claro que estávamos a andar para trás. Os editores de atlas viram forças a … inspirar-se nos velhos modelos anteriores a 1914, como a sua Sérvia, o seu Montenegro, os seus Estados Bálticos e assim por diante” (ECO, 2022).
Via também o renascimento do criacionismo e tantas outras cosmovisões absurdas num processo de andar para trás como “os passos do caranguejo”, e quando menos esperamos a guerra e os novos modelos de expansionismo e colonização, e já alertava para o populismo midiático, hoje mais evidente.
Porém numa visão mais profunda Max Weber apontava já no início do século passado “o desencantamento do mundo”, forçado a uma visão excessivamente racional, onde via o modelo social: “não aquilo que pesa sobre os indivíduos, mas o que se veicula entre eles”, assim o que parece fora do mundo objetivo, o mundo das ideias é aquele que se veicula entre os homens.
Pierre Bourdieu volta ao “desencantamento” (Bourdieu, 1979) para analisar os pressupostos do iluminismo e de Kant como ponto de partida destas ideias, a ideia que é no saber científico, consolidado pela Revolução Francesa e seus modelos de estado que conjugado com a técnica, proporcionaria uma mudança drástica no estilo de vida humano, trazendo uma paz duradoura.
Porém além das ignoradas guerras coloniais, também duas guerras mundiais foram deflagradas, e os maus acordos no final de cada uma delas levou a outras, o que de delineia agora é uma repetição de erros, onde a razão de cada estado quer prevalecer sobre o outro, e o racionalismo sem alma (e desencantado) nos mostra um mundo de horror, ódio e intolerância.
Bourdieu alertava para o mecanismo da democracia direta não se tornar elemento da opressão simbólica, e que a maior parte das palavras que dispomos para o social estão entre o eufemismo e a injuria, é como querer perpetuar o estado de segregação e opressão vigente.
BOURDIEU, P. O desencantamento do mundo: as estruturas econômicas e estruturas temporais. Trad. Silvia Mazza, São Paulo: Editora perspectiva, 1979.
ECO, U. O passo do caranguejo: guerras quentes e populismo midiático. Trad. Sérgio Mauro. São Paulo: Record, 2022.
WEBER, M. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. Trad. José Marcos M. de Macedo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
Covid: fim do estado de emergência no Brasil
O estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) no brasil foi decretado pelo então ministro da Saúde Henrique Mandetta, em fevereiro de 2020, neste final de semana o ministro o ministro Marcelo Queiroga declarou o fim da Emergência Pública, o ESPIN iniciou um ciclo que permitia verbas especiais para compra de insumos e vacinas para combate da pandemia.
O Primeiro caso oficial foi registrado em 26 de fevereiro de 2020, fazendo portanto mais de 2 anos, dali para a frente foi um conjunto de passos incertos, abre e fecha de estabelecimentos, proibições de concentrações públicas, incluindo eventos culturais e religiosos.
Não há declaração de pandemia, nem uma liberação expressa de protocolos de segurança, como sempre os critérios ficam vagos, como o uso de máscaras por exemplo, que seria recomendável.
A média do número de mortes no país estão em torno de 100 agora, tendo registrado um número bem baixo no final de semana em torno de 30 (os órgãos que divulgam variaram os números), mas deve-se lembrar que o funcionamento das secretarias de saúde nos finais de semana é deficitário.
É difícil prever com dados científicos o futuro da doença, alertam os especialistas, em geral traçam dois cenários, sendo um mais otimista que prevê a extinção do vírus e suas variantes, e outro que prevê a convivência com a Covid-19 por muito tempo, que é considerado mais realista, embora em níveis menores, e somente neste caso poderia ser considerada uma endemia.
O que se espera é um monitoramento sério e o controle efetivo da circulação do vírus no país.
Horrores da guerra se sucedem
Um país já enormemente arrasado, que sofreu bombardeios em prédios de hospitais, escolas e até hospícios, ainda se convive com narrativas dizendo que o objetivo não era tomar o poder em Kiev, embora o número de vítimas militares de ambos os lados seja enorme, é de assustar este tipo de visão da guerra, que em si já é injustificável e desumana.
Prepara-se uma batalha ainda maior em Mariupol, onde os civis ficaram encurralados sem poder receber ajuda humanitária, e até comboios da Cruz Vermelha foram impedidos de seguir adiante, os poucos que vivem e resistem na região estão sem forças, sem alimentação e encurralados (há agora suspeita de guerra química).
O objetivo é dizer que se ganhou algo, e sendo situada ao leste, a cidade portuária de Mariupol pode representar um troféu de consolação para quem o objetivo da guerra é a conquista e o poder, assim toda região leste do Donbass até a Criméia que já é território russo, seria tomada.
Porém o que temem analistas militares é que isto encorajada o governo russo a seguir adiante, e países como Suécia, Finlândia, Romênia e Moldávia estão de prontidão, seria uma escalada que ai ficaria claro o objetivo expansionista com muitas semelhanças aos da II Guerra Mundial.
Há um lado econômico, sem dúvida e neste ponto a moeda russa o rublo não caiu o que as sanções esperavam enquanto o dólar vai despencando, há de ambos os lados o desejo de uma nova ordem mundial, e isto requer uma análise mais profunda, de economistas e estrategistas.
A crescente escalada armamentista cria e acelera a polarização mundial, com inúmeras influências locais, a França está novamente polarizada entre a extrema-direita de Marine Le Penn e a centro-esquerda de Emmanuel Macron, e isto com certeza se espalhará por todo planeta.
Assim não há paz se não se cultiva a paz, se não se trabalha e pede por ela, em plena semana santa que se vive a Paixão de Cristo, a paixão da civilização humana parece mais evidente do que nunca, uma crise de alimentos a vista, uma crescente radicalização e polarização, longe da paz.
Difícil pedir bom senso, pedir menos armas e mais diálogo, olhar para o perigo nuclear que agora nos dá um arrepio na espinha, não em todos, infelizmente.
Sim é preciso uma análise mais profunda da guerra, mas como afirmava Hannah Arendt o totalitarismo sobre escolhas feitas fora do contexto histórico, ou seja, sem qualquer bom senso.
Aqueles que creem em algo, resta pedir que seja possível “afastar este cálice” e isto seria divino.
Vidas inocentes também importam
A guerra de todos os horrores e desumanidades tem sua face maiscruel na morte de inocentes, por isto a morte de civis é condenada, embora deva se condenar a própria guerra, não há guerra justa, a única oposição justa a guerra é a paz.
Por mais que isto seja um fato, é importante pensar na morte dos inocentes, onde há sempre uma certa dose de intencionalidade, para prever possíveis desdobramentos e alerta para mais horrores, quando e trata de totalitarismos (veja o posto anterior) há sempre um horizonte sombrio e preocupante.
Por isto a morte de inocentes em si deve ser apurada e punida, trata-se de ato totalitário, absurdo.
Se pensarmos na guerra do Vietnã, onde se usou as bombas incendiárias Napalm (foto), onde morreram algo próximo a 1 milhão de pessoas (há estimativas que falam até de 3 milhões de pessoas), e também 300 mil combojanos e mais de 20 mil laocianos, então também no Ocidente tem em sua conta vidas de inocentes.
Também a guerra do Iraque, a crise no Oriente médio e as guerras africanas devem ser vistas.
A morte e o bombardeio de hospitais, maternidades e até manicômios na Ucrânia, é claro que estes dados devem ser comprovados, indicam a crueldade desta guerra atual, e isto é importante não só para um julgamento em tribunais de guerra, mas para pensar nos possíveis desdobramentos.
Em um clima de final de pandemia, uma provável escassez de alimentos, o desequilíbrio de forças militares com tecnologias e uso de armas nucleares, químicas e biológicas é muito preocupante.
Porém se observa isto também no microcosmo, nas ações sociais e individuais, a ausência de sentimento e compaixão pelos indefesos, a falta de humanismo verdadeiro e o descaso com a vida, pois a pandemia não acabou e crescem vários tipos de negacionismo.
Olhar sincero para uma humanidade que sofre e se vê ameaçada por um futuro ainda mais duro, é obrigação de todo humanismo sincero, e um olhar especial para os inocentes é mais necessário.
Sem um grande de humanidade que olhe para o Outro que sofre, não teremos futuro promissor.