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Critica da razão inadequada
A filosofia ocidental vive numa razão inadequada, não pode ser racional ignorar a dor, a morte e as intempéries da natureza e da vida, a vida é morte e ressurreição e sem compreender uma não se compreende a outra, em plena pandemia observa-se que nem mesmo religiosos entenderam isto.
Na filosofia ocidental predomina o idealismo e sua lógica dualista, assim dor e felicidade se complementam, por isto é possível tanto sadismo com o próprio corpo, com as relações humanas, ainda que agora haja grande apelo a empatia, já discorremos sobre o “terceiro incluído” da física quântica e a lógica do ir-além do eu-tu.
Epicuro submetia a dor ao tetrapharmakon, a ideia que negá-la seria inútil então é buscar o melhor caminho para conviver com ela, é o terreno neurótico do certo e do errado, do bem e do mal, para atingir uma planície filosófica povoada como diria Espinosa, bons e maus encontros.
Os dois primeiros remédios de Epicuro referem-se ao intelecto, próprio do idealismo, desfazer todas as superstições e medos irracionais que causam angústia nos homens, a morte e a cólera dos deuses, por isto se repete a ladainha Deus é bom, ele o é, mas incompatível com o mal e isto não significa ausência de dor, mas sua transposição para um bem maior.
Os dois últimos remédios são uma “ética” hedonista, trata dos caráteres preventivos da dor e a obtenção do prazer, também eles não admitem a dor com uma contingência da vida, e nem tudo é inevitável, por exemplo a morte, e assim ela permanece presa a uma razão inadequada.
Também Camus tratou do tema, e tivemos oportunidade de fazer um post sobre o Mito de Sísifo, e seu ponto de partida é encontrar a felicidade onde é possível em tempos sombrios (as guerras).
Se admitirmos a dor, e realizar a passagem por ela encontraremos um terceiro ir-além ou o pensar para o além, sugerido por Emmanuel Lévinas, que significa mover-se cada vez mais para o estranho, para o mistério e para o infinito (outro tema de Lévinas) e já mencionamos aqui o Cosmos e a visão de Teilhard de Chardin sobre uma cosmovisão cristã.
Entramos na semana da Páscoa e com ela na cosmovisão cristã, o sacrifício de Cristo substitui o sacrifício do cordeiro feito por Abraão (nas três grandes religiões monoteístas: o Islã, o Judaísmo e o Cristianismo), assim a dor entra num novo significado a partir do qual é possível vida-pós-morte
É grave, mas pode haver esperança
Enquanto a Europa experimenta a 3ª. onda, o número de infectados e a gravidade da doença torna a pandemia uma crise humanitária no brasil, a esperança é aumentar a taxa de vacinação.
Na Europa, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen reconhece que o bloco dos 27 países membros “não está onde queria” com a imunização, e disse que os esforços devem acelerar, apesar das 2 bilhões de doses contratadas, para uma população de 450 milhões, as taxas ainda estão abaixo de 10% o que é muito pouco pelo esforço já feito.
Enquanto Itália, Alemanha e França vacinação 10,3% fora do bloco o Reino Unido já chegou a 36,5%, no Brasil perto de 13% já receberam a primeira dose, os dados oficiais são de 15.503.373 para a primeira dose, enquanto 4.699.784 para a segunda dose, num total de mais de 20 milhões, mas a taxa de infecção e mortalidade cresce, se pensarmos que 12,5 milhões já tiveram covid-19 pode-se dizer que em número há uma pequena vantagem.
Porém não é bem assim, seria necessário que metade da população tivesse já a primeira dose, mas olhando o caso mais otimista que são os 38% do Reino Unido, vemos que o caminho a percorrer é grande.
A esperança vem dos dois institutos que desenvolvem a vacina no Brasil, o Butantã de São Paulo e a FioCruz do Rio de Janeiro, acredita-se que poderão estar vacinando em abril já as pessoas com mais de 60 anos, isto levaria a uma taxa de pouco mais de 20% no mês, sem contar os contratos externos que podem aumentar muito este número, chegando a uma taxa otimista de 35%.
Isto porque a promessa de 57.179.258 doses caiu para 47.329.258 doses, entre as que diminuíram o número estão a Pfizer e a de Oxford, mas com a promessa de vacinas vindas do exterior esta taxa poderá atingir a meta esperada em maio para 47 657 058 pouco abaixo da planejada.
A taxa somente irá ultrapassar a planejada no mês de agosto onde se espera mais de 82 milhões de doses em vez das 35 milhões planejadas, assim somente em setembro pode-se esperar uma queda nas infecções e mortes, espera-se que o sistema de saúde em pane consiga chegar lá.
A esperança continua sendo o crescimento de vacinas disponíveis no mercado.
A crise civilizatória e o terceiro excluído
O fato que estamos presos ao dualismo, agora transformado em polarização política como se na natureza e na sociedade houvesse sempre apenas dois polos em conflito não havendo uma terceira (ou mesmo quarta e quinta opções) parece não ter sentido com o paradoxo lógico desenvolvido por Barsarab Nicolescu e encontre paralelo apenas nas física quântica (foto).
Não é verdade, o próprio texto de Barsarab que pede uma reforma da Educação e do Pensamento (Barsarab, 1999) indica que pode-se ver nesta mudança o centro de uma crise maior que as questões físicas ou lógicas, afirma Barsarab: “Uma coisa é certa: uma grande defasagem entre a mentalidade dos atores e as necessidades internas de desenvolvimento de um tipo de sociedade acompanha invariavelmente a queda de uma civilização”, ou dita de outra forma, mais ontológica, ente o Ser e o não-Ser há um estado Não-Ser-sendo que penetra em dualismos e paradoxos.
A carta de Barsarab que pede uma reforma da educação, Edgar Morin também pede e outros perceberam uma crise na modernidade como pensamento e educação, o teórico do Terceiro Incluído T, dá uma sentença preocupante: “O risco é enorme, porque a contínua expansão da civilização ocidental, em escala mundial, faria com que a queda dessa civilização fosse equivalente ao incêndio de todo o planeta, em nada comparável às duas primeiras guerras mundiais”.
Existe ainda um pensamento linear e monodirecional onde a intencionalidade é sempre polarizar e criar um caminho “único” e monocromático, com o eterno perigo de autoritarismo e desvios de poder, para distensionar seria necessário um mundo mais aberto e onde todos fossem incluídos.
A educação deve caminhar e auxiliar este contexto, Barsarab diz em sua carta: “A harmonia entre mentalidades e saberes pressupõe que tais saberes sejam inteligíveis, compreensíveis. Mas será que essa compreensão pode ainda existir, na era do big bang disciplinar e da extrema especialização?”
A dura realidade da pandemia mostra que oscilamos entre uma verdadeira solidariedade e uma distensão para enfrentar a crise, e a polarização oportunista que quer tirar vantagem sobre as mortes e os desvios de uma crise sanitária mal gerenciada, em alguns países mais, mas em quase todos.
A sentença de Barsarab que parece dura não o é: “Existe alguma coisa entre e através das disciplinas e além de toda e qualquer disciplina? Do ponto de vista do pensamento clássico não existe nada, absolutamente nada. O espaço em questão é vazio, completamente vazio, como o vácuo da física clássica”, pois é no vazio, no epoché onde pode florescer uma verdadeira filosofia, também ela quando não é (a suspensão de juízo, os novos horizontes além dos pré-conceitos, etc.) é que ela é.
NICOLESCU, Basarab. O manifesto da transdisciplinaridade. Trad. Lúcia Pereira de Souza. São Paulo: Trion, 1999.
A proximidade em Ricoeur e no papa Francisco
A citação de Paul Ricoeur na encíclica papal Fratelli Tutti é de uma dimensão filosófica e teológica que poucos ainda compreenderam, ao separar sócios de próximos, inspirado nas categorias de Ricoeur o papa dialoga com a contemporaneidade tanto com a filosofia como com a teologia e abre um caminho novo para um fraternalismo concreto.
Embora o pendor de teor utópico que a palavra Fraternidade (o nome da encíclica é Fratelli lembremos) toma dimensão nova ao transcorrer a leitura de Socius et Prochain de Ricoeur.
Pode-se dizer que desenvolve uma verdadeira cultura da proximidade, ou seja, não são os amigos daquele grupo que estou ligado, daqueles que compartilham certa “identidade”, a encíclica também esclarece estes falsos conceitos de identidade que nos isolam dos próximos.
A menção que faz de Ricoeur merece nota: “a caridade reúne as duas dimensões – a mítica e a institucional –, pois implica um caminho eficaz de transformação da história que exige incorporar tudo: instituições, direito, técnica, experiência, contribuições profissionais, análise científica, procedimentos administrativos” (FT §164), e assim incorpora realidades humanas no mítico.
Pode-se dizer que é um realismo realista de uma utopia de um mundo melhor possível, que não se reduz a um sentimentalismo religioso pouco eficaz que ameaça certas concepções que tanto a mística como a boa filosofia contemplam, ir de encontro ao Outro, a proximidade.
Outro ponto essencial da encíclica é o mal uso da categoria identidade, dirá a Encíclica que “quando agarram a uma identidade que os separa dos outros” e está no capítulo III que fala justamente do pensar
E alerta a Encíclica: “Existem periferias que estão próximas de nós, no centro duma cidade ou na própria família”. (FT §97), e novamente em Paul Ricoeur encontramos: “o vizinho é a própria conduta de se fazer presente (…) a ciência do vizinho é imediatamente bloqueada por uma práxis do vizinho: não temos um vizinho; Sou o próximo vizinho de alguém” (Ricoeur, 1968).
É a incompreensão desta categoria que leva a má filosofia a não entender o que significa o outro e o dar-se e isto pode ser visto em toda história da filosofia nas diferenças concepções de identidade, o conceito está em Stuart Hall e também de Heidegger é que identidade é o grau de compreensão que cada um tem da própria cultura, mas o tema é polêmico e voltaremos a ele.
RICOEUR, Paul “O socius e o próximo”, in História e Verdade, trad. F. A. Ribeiro (Companhia Editora Forense: Rio de Janeiro, 1968),
PAPA FRANCISCO, Carta Encíclica Fratelli Tutti (FT), Vaticano, outubro de 2020. Disponível em:
Fratelli tutti (3 de outubro de 2020) | Francisco (vatican.va)
O futuro imprevisível da pandemia
Fica cada vez mais claro que o futuro da pandemia pode ser distante do que todos imaginam, o número de variantes do vírus, os cientistas começam a identificar as pequenas variações que ele faz em seu código genético, e durante anos os epidemiologistas diziam que devíamos nos preparar para uma próxima pandemia, se não o fizemos antes, agora mais que nunca deve ser feito.
Enquanto isto a epidemia não dá sinais de arrefecimento, apesar do número cair, na Europa por exemplo, houve um aumento considerável nesta semana, de cada 100 infecções registradas no mundo, 41 são da Europa, o caso brasileiro já revelamos é trágico devido aos recordes de infecções e mortes superiores aos dados do ano passado.
Os estudos sobre as variantes constatam também uma alteração no seu código genético que assusta pois a cada transmissão as alterações do código genético podem influenciar na eficiência da vacina (já explicamos os índices de eficácia que dependem do “tipo” de vacina), ou seja, pode acontecer que a próxima epidemia seja do próprio coronavírus em uma de suas mutações.
O que fazer por enquanto, aumentar a vacina e combiná-la com lockdown, é um fato cultural que será difícil no Brasil e as restrições são altamente impopulares, mas não há outra coisa a fazer, e é preciso combiná-la com aumento nas taxas de vacinação.
Outro problema é a crise humanitária que pode ocorrer, limitar a circulação de pessoas significa limitar o comércio, o consumo de bens etc., que teve no ano de 2020 um fato positivo, pois a pouca circulação de veículos e uso de energias não renováveis, fez a emissão de CO2 cair em média 6% em todo planeta, e alguns sinais de reabilitação da natureza surgiram, presença de golfinhos próximos a costa, que significa abundância de peixes, melhoria nos níveis de poluição das grandes cidades.
Porém é importante dizer que o número de mortes cresce que havia começado a diminuir, volta a patamares muito preocupantes, e novos repiques voltam a acontecer devido as variantes do virus.
A economia também deve ser um fator preocupante porque já há sinais em muitos países de problemas sociais, desempregos, índices de miserabilidade e as questões correlatas: distribuição de renda e empobrecimento.
Podemos aprender com esta cruel lição, mas ainda a maioria das pessoas pouco se preocupa com aquilo que não o afetou diretamente ainda, mas aos poucos afetará a todos.
LockDown da calamidade e a Variante P1
Poderíamos desde o início da pandemia ter mitigado os períodos mais críticos da pandemia com fases de lockdown e abertura, entretanto quase sempre se vacilou pela impopularidade da medida, principalmente ao comércio e a alguns ambientes que priorizam os lucros às vidas, porque vários setores não essenciais poderiam ter fechado, sem falar da irresponsabilidade de festas e aglomerações para algum tipo de “festa”.
Agora quase todo país na fase vermelha que indica o esgotamento dos hospitais e números recordes de contaminação e mortes, ainda titubeamos em medidas duras, mas necessárias.
A variante brasileira do vírus, chamada de P1 é mais contagiosa e para a qual a vacina Coronavac se mostra menos eficaz ainda, e a AstraZeneca que é mais eficiente ainda está em fase lenta de vacinação, no total ainda não vacinamos 10% da população e a redução de 8 milhões de vacinas foi anunciada pelo próprio governo.
Os países que aumentaram a eficiência da vacinação combinaram lockdown com vacinação, porque o contato de vacinado com pesquisadores da Universidade Imperial College London e da Universidade de Leicester explicam que o contato entre vacinados e variantes podem dar origem a mutações “superpotentes” que são capazes de driblar a ação imunizante, e isto no Brasil pode tornar-se uma bomba pandêmica.
A calamidade na qual estão quase todos estados e a maioria das cidades, pode colocar um pouco de juízo na cabeça daqueles que gerenciam a crise, não apenas o governo central, mas também os governos estaduais e os prefeitos de cidades brasileiras.
A variante P1 já é temida, muitos países já cuidam da migração brasileira temendo que a variante se espalhe e contamine o processo que em muitos países já é de redução da pandemia, é triste para o Brasil, mas devemos entender estas medidas como necessárias.
É certo que alguns serviços não podem parar, há sim serviços essenciais e eles devem estar ativos para que não aconteça um desabastecimento, uma perda de poder aquisitivo ainda maior, algum já é observado em todo mundo, porém a vida precede aos ganhos e são necessárias medidas que garantam o mínimo de sacrifício, em especial aos mais pobres.
É necessária uma medida dura e sem ela pode-se comprometer até mesmo a vacinação, e também é preciso cuidar desde já a eficácia contra a variante P1 já presente na maioria das cidades brasileiras.
Serão semanas duras e devemos todos nos cuidar com maior rigor e entender se as autoridades tiverem que tomar medidas restritivas, o cenário é praticamente de uma guerra.
É quase impossível na conjuntura brasileira pedir isto, mas seria bom uma solidariedade maior e verdadeira para enfrentar o momento mais crítico da pandemia.
Variante, vacinação lenta e a terceira onda
As variantes são várias, destacam-se a da África do Sul, a Brasileira e a Britânica, apesar de haver controvérsias sobre a gravidade delas o certo é que a propagação do vírus é mais rápida, e no caso brasileiro já parece estar presente em boa parte do território brasileiro, não há isolamento de regiões e o combate a pandemia é um dos mais ineficientes e titubeantes.
A vacinação segue lenta, porém os resultados na Europa são mais eficazes porque estão combinados com as políticas de restrições e confinamentos, e também estão no final do inverno, e espera-se que a chegada de novos lotes de vacinas, a AstraZeneca confirma um lote de 10 milhões de vacinas para o Brasil neste final de fevereiro, mas é lenta a vacinação também em outros países.
A chamada terceira onda é decorrente da Europa da liberação para o Natal e final de ano, muitos governos reconheceram o erro, aqui no Brasil as praias continuam registrando movimento e não há uma política clara de evitar aglomerações, não se trata apenas de fechar lojas e comércio, como algumas cidades fizeram até com supermercados, o problema central é a consciência.
A terceira onda veio então por causa da liberalidade das festas de fim de ano, e logo em seguida quase toda Europa fechou, incluindo a Suécia que era mais liberal até a chegada do inverno, o único país que começa a liberar aos poucos é a Grécia porém teve um #lockdown bastante austero.
Outra preocupação é com a terceira onda é a variante, a infecção é mais rápida e rapidamente lota os hospitais e cria uma situação de caos no já estressado sistema de saúde que luta a um ano com os casos mais graves, oficialmente os números da Covid caem no mundo todo e está freado na Europa, porém as medidas continuam severas.
O número de vacinados no Brasil supera 5,5 milhões, porém o ritmo poderia ser maior, o problema é o abastecimento, estão prometida para março mais 18 milhões de doses da Coronavac e 16,9 milhões da AstraZeneca, as outras União química/Gamaleya e Precisa/Bharat Biotech estão no cronograma, ainda para o primeiro semestre, os laboratórios produzem as vacinas Sputnik V e Covaxin, respectivamente.
O estado de Amazonas tem percentualmente o maior número de vacinados 4,87% enquanto São Paulo tem o maior em números absolutos um total de 1.620.182 vacinados num percentual de 3,5% população, já havendo um grande percentual de segunda dose.
O mapa acima mostra os percentuais no Brasil todo da vacinação.
Rever a vida e reeducar-se para viver
Parte da crise econômica mundial, esta é análise de Morin é além da econômica, a moral e ética, no seu sexto livro sobre o Método da complexidade, ele desenvolve a análise antropológica, histórica e filosófica do problema, explicando que ela parte de um conceito inspirado em Kant.
Define-se aí a ética como exigência moral auto-imposta, em lugar dos imperativos provindos da razão prática, na ética de Morin a partir da complexidade, ela provém de três fontes: uma interna, análoga a nossa consciência, outra externa simulada e orientada pela culturas, crenças e normas pré-estabelecidas na comunidade, e de fontes anteriores que são a própria organização dos seres vivos e transmitida geneticamente.
Sua ética apresenta assim uma ética que exige uma reflexão quanto as nossas escolhas morais, sociais e de valores que levamos ao nosso cotidiano, aqui a crise civilizatória é grave.
Porém a ética Kantiana favoreceu a uma ética autocentrada, egocêntrica, segundo meus interesses e minha vontade, ignorando que ela deve compartilhar com o outro, e isto significa que devemos também nos orientar a uma visão sensível ao conjunto da sociedade e aqueles sem voz.
Em tempos de pandemia fomos “obrigados” por razões de saúde pública, mas também de educação, a limitar nossos movimentos, a guardar um isolamento social seguro, e a olhar para cada pessoa e se sentir responsáveis por ela, será que é isto que todos fazem
Esta aparente limitação de liberdade é na verdade aquela que já devia estar incorporada em nossa ética social, sem uma educação consistente para a prática da fraternidade e de um olhar atento e sensível ao outro, podemos cair num vazio social e alimentar a crise civilizatória já presente.
É preciso passar por um longo caminho de reflexão pessoal e estar disposto a mudar hábitos e atitudes para ajudar o conjunto da sociedade a sair de uma crise que é sanitária, mas também social.
A quarentena e a quaresma
Aqueles que conseguem viver esta longa quarentena, que entra pelo segundo ano, como perspectivas e esperanças é verdade, mas também com angústias e preocupações, entendem que há para todos um motivo de atenção, alento e preocupação, em especial com os angustiados.
Não houve carnaval, e não há motivos para festa, é verdade alguns grupos insistem, mas se olharmos para o número de pessoas em comparação com o conjunto da sociedade são uma minoria, a maioria está preocupada e deseja que logo tenhamos uma saída deste sofrimento.
Para os cristãos é um período de oração, jejum e abstinência, significa abster-se de algumas coisas que o novo normal já está nos tirando, porém pode-se fazer isto voluntariamente, pensando no conjunto da sociedade que sofre.
Representante do catolicismo, mas também da cristandade, o papa Francisco sempre olha para toda a família humana com ternura e paixão como um bom latino, em sua mensagem do dia 12 de fevereiro convidou-nos “Vamos subir a Jerusalém … “ (Mt 20,18) que significa como ele próprio explica um “percurso de conversão, oração e partilha de nossos bens”, e assim viver esta Quaresma com o olhar atento a quem sofre o abandono e a angústia por causa da pandemia (na foto a porta que onde Jesus iniciou seu caminho final em Jerusalem).
Jesus ao aproximar-se de Jerusalém vai para lá para viver os dias da Pascoa judaica, os judeus já a comemoravam e comemoram até hoje, mas nem sempre coincide devido ao calendário judaico ser diferente do nosso cristão, porém o cordeiro que é “imolado” durante a Páscoa, referente ao sacrifício que Abraão fez no lugar de seu filho, é na Páscoa cristã o próprio Jesus este cordeiro.
A quarentena de todos é a pandemia, dizer palavras de incentivo que reconfortam, consolam, fortalecem, estimulam em vez de palavras que humilham, angustiam, irritam e desprezam enfatizou o papa.
Penso que devido a conjuntura de quarentena será uma Quaresma diferente, em que iremos em profundidade nas nossas dores como humanidade, e poderemos pensar num futuro muito mais a frente mais promissor e cheio de esperanças, a Quaresma não é apenas a morte, passamos por ela, mas a ressurreição que está do outro lado para aquele que aceita passar pela porta estreita.
Toda humanidade sofre, assim é um momento da paixão de toda humanidade, e aqueles que são fraternos e solidários saberão o caminho para aliviar as dores daqueles que sofrem.
É hora de pensar no essencial da vida, rever nossas falsas vias de progresso e nossa vida pessoal.
A porta larga dos equívocos modernos
Um grande número de enunciados, proposições e teorias científicas ou não emergem em meio ao período de pouca luz na cultura ocidental, crescem teorias apocalípticas e uma visão cada vez mais maniqueísta da realidade, a visão de uma lógica dualista e sem terceira hipótese.
Ao mesmo tempo descoberta como a física quântica, a holografia, e uma nova cosmovisão do universo emergem, porém há quem acredite que a terra é plana e que nunca fomos a Lua.
São demasiados problemas específicos para serem tratados, mas a filosofia de um modo geral contemporânea mais que neoliberal, este é seu aspecto pragmático econômico, ela é idealista e mesmo filosofo-youtubers que discursam sobre filosofia a seguem.
Kant é complexo, mas seu ponto central é a dicotomia entre sujeito e objeto, como elas não podem ser separadas, ao menos em termos de teoria do conhecimento, ele criou os juízos analíticos e sintéticos. Quem curamos a doença ou o doente, para Kant seria a doença, com olhar “de fora”.
O juízo analítico é aquele que o predicado está dentro do sujeito, e assim é ele que especifica sua lógica, e esta lógica vem de uma visão físico-matemática do conhecimento na modernidade.
Exemplifica usando figuras geométricas como o triângulo e o quadrado, claro este tem quatro lados, mas isto não é uma dedução e sim uma tautológica, definições circulares.
Já o juízo sintético ao contrário não pode estar contido no sujeito, assim acrescenta um raciocínio como algo completamente novo, ou seja, a novidade é o predicado.
Está muito simplificado, mas essencialmente desenvolve-se uma lógica onde Ser e Ente são coisas confusas e desmonta a possibilidade de uma ontologia, mesmo que seja parcial, e imaginava com isto jogar toda as “superstições” fora, o famoso “Sapere audi”, ousar saber.
Como a razão por si só não bastava, foi necessário introduzir a ideia do empirismo, que vinha das argumentações de David Hume (1711-1776, assim os juízos podem a priori, que já existem no sujeito, e a posteriori, adquirido experimentalmente.
Moritz Schlick (1882-1936), que fundou a escola neologicista do Circulo de Viena, criticou a base idealista de um conhecimento a priori, afirmando que uma vez que os enunciados têm uma verdade lógica, eles não são nem analíticos nem sintéticos, tal como argumentava Kant, pois era paradoxal; e que se a verdade depende do conteúdo factual, os enunciados são, portanto a posteriori e não a priori, uma vez que os fatos devem acontecer, Schlick foi assassinado pelo nazismo.
No círculo de Viena estiveram presentes Kurt Gòdel, Karl Popper, Hans Kelsen e outros.
Uma mesma proposição pode ser conhecida por agentes cognitivos tanto a priori como a posteriori, usando o mesmo exemplo de Kant, uma criação só sabe que o quadrado tem 4 lados depois que aprende a contar, enquanto para um adulto parece “indutivo”.
Assim o conhecimento é uma relação entre agentes cognitivos e as proposições, que primitivamente não são nem a priori nem a posterior, poderão ser conhecidas por fatos.
Em 1936 Husserl escreve sobre a “Crise dsa ciências europeias e a fenomenologia transcedental”, o conhecimento estava em plena crise, em meio a II guerra mundial.
O vídeo abaixo elucida o pensamento de Kant, com comentários de Antonio Joaquim Severino;