
Arquivo para a ‘Método e Verdade Científica’ Categoria
Caos pandêmico e negacionismo estrutural
As medidas de restrições deveriam ter continuado, mas o que se observa é uma liberação de aglomerações e ausência de protocolos claros, em todo mundo há um aumento de caos, aproximando-se dos 3 milhões diários, no Reino Unidos há uma explosão de casos (ver gráfico), estudos da França revelaram 46 variantes, a ômicron ainda é predominante, porém há o risco de novas mutações se a pandemia não for contida e a única arma disponível é a vacinação, entretanto, medidas sanitárias rigorosas já deveriam ter sido tomadas, aos poucos: voos, restaurantes e aglomerações voltam a ser proibidas (lá), mas sem a força necessária das autoridades públicas.
Não é diferente no Brasil, onde chegou-se a mais de 56 mil internações só na cidade de São Paulo, porém o discurso público é que são apenas pessoas que não tomaram vacina ou que os casos não são tão graves, porém a própria OMS alerta para a gravidade da ômicron, sendo o primeiro efeito imediato colocar o sistema de saúde em colapso, em São Paulo a ABLOS (Associação Brasileira de Lojistas Satélites) pedirá aos shoppings redução de horário de funcionamento pela falta de funcionários devido a covid.
Estudo da Universidade de Washington indica que o Brasil poderá chegar a um milhão de casos diários, em curto prazo, até o final do mês de janeiro, a influenza H3N2 avança, no entanto, a maioria dos casos ainda é da covid 19 com a variante ômicron. A China estoca alimentos não está declarado que seja apenas pela questão da ômicron ou há algo mais.
O líder indígena Ailton Krenak, do povo da região devastada do rio Doce, disse em entrevista no programa Bom para Todos da TVT que falar em novo normal é muito próximo ao negacionismo, aquilo que precisa ser mudado e não é significa que achamos bom o estado anterior de despreocupação com a vida e com a natureza, é a própria natureza que nos impele a uma mudança de hábitos, a um novo modo de viver, e se não aprendermos rápido ficaremos presos a novas pandemias e crises cíclicas.
É assim mesmo, não tem como mudar, diz o discurso conformista, ou pior aquele que deseja devastando vidas voltar a uma normalidade ainda impossível não apenas devido a pandemia, mas agora também por uma realidade social sofrida e com apagões e dificuldades de reestruturação, como alerta Krenak não há novo normal é preciso lidar com a realidade por mais dura que ela seja.
Mesmo com a ausência de dados claros, desde o final de dezembro o Ministério da Saúde vive um apagão de dados, causado por hackers, porém não conseguiu se reestruturar, também a testagem e controle em atividades coletivas foram suavizadas, basta ir a qualquer evento social, a restaurantes ou igrejas, já não há medida de temperaturas e as necessárias observações de distanciamento, é o que chamamos aqui de negacionismo estrutural.
Espera-se alguma medida, mas de cima para baixo, parece uma política intencional, há um descontrole em ações e uma relativização da gravidade pandêmica.
Empatia e a Verdade
A construção do conceito de verdade pode, grosso modo, dividir em três etapas como tendo uma elaboração ou uma narrativa, excluo o período de evolução natural do homem porque considero o início da linguagem oral elaborada por oráculos/profetas/mestres um marco importante, antes o que havia era o homem natural e sua “busca”, as três etapas então são: a mítica, a oralidade mista (retórica e escrita) e a linguagem escrita a partir da imprensa de Gutenberg.
Estamos numa quarta etapa que é chamada de pós-verdade, portanto não sua superação, mas sua crise, o iluminismo combinou experiência e lógica cartesiana (a kantiana é apenas a que mostra os limites da razão pura) e agora entendemos, é uma das possibilidades apenas, a fenomenologia filosófica, última etapa após Husserl, Heidegger e Gadamer.
O círculo hermenêutico pressupõe aquilo que argumentamos nos posts desta semana, uma relação com o Outro, propõe que há sempre pré-conceitos, ou seja, há verdades que até podem ter convenções, e reconhece-los ainda que diferentes, sendo possível após estas visões uma fusão de horizontes, é importante e não secundário que Gadamer e Heidegger pressupõe a existência do texto, isto é, uma linguagem escrita a qual seja referencia para a etapa seguinte que é ouvir o Texto, na oralidade entretanto, seria ouvir o Outro.
O que chamamos então de pós-verdade é o simples fechamento em uma verdade egóica, o ego transcendental, como desenvolvido no tópico V das Meditações Cartesianas de Husserl, e que sumarizamos no post anterior, assim é impossível a fusão de horizontes, prevalece a lógica dualista e/ou a ideia da experiência para se estabelecer um fato.
Também a filosofia antiga tinha estas ideias embrionárias, Sócrates afirmou (segundo Platão): “A verdade não está com os homens, mas entre os homens” e Aristóteles afirmou que a verdade é elaborada na relação da coisa com suas causas: Causa material: de que a coisa é feita? por exemplo uma casa construída. Causa eficiente: o que fez a coisa? A construção com materiais. Causa formal: o que lhe dá a forma? A própria casa. Causa final: o que lhe deu a forma? ou a intenção inicial do construtor ou arquiteto.
A diferença entre o princípio fenomenológico de dirigir-se a “coisa” e Aristóteles é que sua lógica é dual: só existe A ou não A, e de A para B é preciso passar por C intermediário, na fusão de origem é possível um T (a teoria do terceiro incluído e a física quântica também admitem isto) que não é A e nem não A, e pode-se ir diretamente de A para B.
A cosmovisão cristã estabelece como verdade a existência de uma realidade sobrenatural, acima dos dogmas e mistérios da ciência (eles mesmo descobertos são verdades provisórias) e há um critério ontológico para a verdade, uma pessoa, que é o Deus-terreno sua manifestação (epifania), o homem-Deus: Jesus.
João Batista, o último e o maior dos profetas, não há profetas hoje a menos de uma revelação direta do próprio Deus (assim todos os profetas atuais são falsos) e João Batista quando questionado em seu tempo afirmou (Lc 3,16): “Por isso, João declarou a todos: “Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo” ” e esta é a verdade na cosmovisão cristã.
Empatia vista pela filosofia
Discípula de Edmund Husserl, foi Edith Stein quem trabalhou mais profundamente o tema da empatia, entretanto o mestre tratou do tema em suas famosas Conferências de Paris ou Meditações Cartesianas no qual passa por revisão o método cartesiano, pode-se dizer que parte desta revisão é a descoberta da empatia, ou da relação como o Outro.
Como em toda filosofia deve haver uma questão fundamental a ser investigada e neste caso é a pergunta: “como de pode esclarecer isto, se permanece intocável o princípio de que tudo o que é para mim só na vida intencional pode adquirir sentido e confirmação intencional?”, é na solução desta questão que aparece o tema empatia, dito desta forma:
“Carecemos aqui de uma autêntica explicitação fenomenológica da operatividade transcendental da intropatia e, para tal, porquanto ela esteja em questão, de pôr-fora-de-validade abstrativo dos outros e de todos os estratos de sentido do meu mundo circundante que para mim crescem a partir da validade da experiência dos outros” (HUSSERL, 2013, p. 33).
Intencionalidade é uma categoria fundamental do método fenomenológico, é muito ampla por ser uma característica da consciência, significa o aspecto de ser consciência de alguma coisa.
O termo intropatia é uma primeira incursão fora do ego, significa introjetar um sentido ou sentimento que o outro possa gostar, neste sentido rompe com o sentido do ego transcendental cartesiano, validando a experiência do outro, assim dito por Husserl:
“Precisamente por isso se separa no domínio do ego transcendental, isto é, no seu domínio de consciência, juntamente o seu ser egológico especificamente provada, a minha peculiaridade concreta, como aquela a partir da qual, a partir das motivações do meu ego, capto o meu análogo na intropatia” (Husserl, 2013, p. 34).
Assim pode-se dizer que este termo ainda está entre as vivências intersubjetivas, ou seja, a valorização das vivências e relações subjetivas dos sujeitos em vida social ou comunitária, mas a empatia é um passo além, neste sentido é importante compreender o epoché fenomenológico, que coloca os nossos sentidos, nossos conhecimentos “entre parênteses”:
“Se eu, o eu que medita, me vejo reduzido pela epoché ao meu ego absoluto e ao que aí se constitui, não me tornei então no solus ipse, e não será assim toda esta filosofia de autorreflexão um solipsismo puro, se bem que fenomenológico-transcendental?” (Husserl, 2013, p. 34) então não é um solipsismo cartesiano e sim um refletir com a intencionalidade.
Como isto se clarifica, pois, permanece “inapreensível que tudo o que é para mim só possa obter sentido e comprovação na minha vida intencional?” (Husserl, 2013, p. 35) aqui esclarece o filósofo é necessária uma compreensão fenomenológica da empatia e penetrar na vivência do Outro, fora do seu âmbito egóico.
Assim essa superação da subjetividade transcendental alargada em intersubjetividade ela só “é co-experimentada em mim mesmo, portanto indiciada, num sentido secundário, no modo de uma peculiar apercepção de semelhança, comprovando-se aí de um modo consensual” (Husserl, 2013, idem) e é curioso que ali Husserl fala de “espelhamento do alter ego” (idem) muito antes da descoberta do neurônio-espelho (ver post anterior).
A ligação de Stein com Husserl na tradição fenomenologia é enorme, tendo sido inclusive sua assistente, ao apresentar sua tese com o tema: “O problema da Empatia” dá a entender que esta era uma lacuna na abordagem fenomenológica, escreveu Stein:
“No seu curso sobre a natureza e o espírito, Husserl havia falado de que um mundo objetivo exterior só podia ser experimentado intersubjetivamente, isto é, por uma pluralidade de indivíduos cognoscentes, que estejam situados em uma posição de intercâmbios cognoscitivo. … esta peculiar experiência, Husserl, seguindo os trabalhos de Theodor Lipps, chamava de “empatia” (Einfühlung); sem embargo, não tinha precisado em que consistia” (STEIN, 2017, p. 360, trad. livre).
O trabalho de Stein foi enorme, ela extrapolou com discussões sobre cultura, estética, arte, religião, psicologia e até mesmo ética para desenvolver seus estudos e seu trabalho ainda não é suficientemente lido, o fato de ser judia, depois ter se tornado freira e depois ser declarada Santa pela igreja católica, por preconceito, pode explicar algumas das razões de sua pouca leitura.
STEIN, E. Zum Problem der Einfühlung. Dissertation zur Erlanugng der Doktorowürde. Breslau: Bruchdruckercides Waisenhaauses, 2017.
HUSSERL, E. Meditações Cartesianas e Conferências de Paris. Ed. por Stephan Strasser, trad. Pedro M. S. Alves, Rio de Janeiro: Forense, 2013.
Os inocentes e a epistasia
Muito se comentou em tom irônico sobre possíveis variações genéticas por causa da pandemia, o fenômeno existe, embora raro ele ocorre quando há a interação de genes para influenciar alguma característica da espécie, o caso clássico foi estudo por Bateson e Punnett, que estudaram um tipo de crista que aparece em galinhas, e é determinado por dois genes independentes (que equivale a dois pares de alelos), claro não é o caso das vacinas, apenas para esclarecer a questão científica.
A inocência reside em entender a mutação do vírus como capaz de induzir ou influenciar uma mutação genética humana, claro o nosso sistema imunológico é afetado, como estudos que tentam correlacionar HIV com a variante ômicron, mas isto não significa até o momento nenhuma mutação genética humana.
Entretanto a epistasia tem sido importante para estudar a variante ômicron, neste caso o vírus e não a vacina, segundo reportagem da BBC News, o professor Ed Feill, professor de evolução microbiana da Universidade de Bath, na Inglaterra: “Se a variantes tem mais mutações, isso não significa que seja mais perigosa, mais transmissível ou que tenha maior capacidade de evadir o efeito das vacinas”, e muitas conclusões prematuras sobre esta variante não tem uma base científica sólida.
A confusão é que o vírus sofre variações, mas não tem fundamento imaginar que estas mutações afetem o código genético humano, diz o professor: “na medida que um vírus evolui, ele pode acumular um grupo de mutações que, por sua vez, podem criar uma variante”, “… e para detectar as novas variantes: “os cientistas rastreiam a sequência genômica do vírus”, e neste caso os estudos de epistasia são fundamentais para detectar variantes.
O biólogo evolucionista americano Jesse Bloom, em artigo recente no jornal americano The New York Times, chamada a atenção para a variante alpha que tem uma mutação chamada de N501Y, que está associada a capacidade de infecção.
É importante compreender que a variante ômicron não está completamente decifrada, justamente por causa do seu número de mutações em sua epistasia mais difícil de detectar e entender: “isso abre mais espaço evolutivo para isso”, afirmou Feil na reportagem, e assim a pesquisa tem que observar combinação que não foram vistas antes.
Nem inocência de afirmar que há alguma mutação genética humana, nem inocência de afirmar que a variável ômicron está controlada porque oferece “menos perigo”.
A OMS tem uma classificação de variantes em “preocupação” e “interesse” conforme o quadro acima.
O Natal e a maior profecia Bíblica
São tempos difíceis, as voltas com nova onda pandêmica, sinais de grave crise econômica mundial, tensões entre Rússia e Ocidente por causa da Ucrânia e reaproximação da Rússia da China que tem interesses em Taiwan, que é independente e ocidental.
Em tempos difíceis sempre reaparecem profecias, mas poucos são os oráculos de Deus realmente autorizados: adivinhos, especuladores, falsos profetas e falsos místicos, falta-lhes uma autorização clara de Deus, e ele sempre se fez presente através dos mais humildes.
David, por exemplo, sequer era contato entre os filhos de Jessé, quando o Samuel foi a sua casa para encontrar alguém que seria rei de Israel ele só é apresentado ao final, assim Jessé não tinha 7 mais oito filho, diz o relato Bíblico:
“Assim fez passar Jessé a seus SETE filhos diante de Samuel. porém Samuel disse a Jessé. O Senhor não escolheu a estes.” (I Samuel 16.10).
Nascido em Belém, por volta do ano 1.000 a.C. seria da descendência de David que nasceria Jesus, segundo o relato Bíblico foram 14 gerações entre David e o exílio da Babilônica e do exílio até Jesus mais quatorze gerações, e também José teve que retornar a Belém porque era ali a sua cidade Natal (ou do seu clã), e isto era profecia.
A profecia de Miquéias diz (Mq 5,1): “Assim diz o Senhor: 1Tu, Belém de Éfrata, pequenina entre os mil povoados de Judá, de ti há de sair aquele que dominará em Israel; sua origem vem de tempos remotos, desde os dias da eternidade”.
Esta profecia tem importância histórica, porque confirma a descendência de David, ali foi feito um recenseamento, portanto há uma prova “científica” deste nascimento, mas a grande profecia não é esta e sim a de Isaías 7,14: “Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará ´Deus Conosco´”, e o trecho anterior chama a atenção para a casa de David diante do importuno de Acaz que queria por Deus a prova por causa das guerras.
A concepção de Maria confunde teólogos e os cristãos de um modo geral, aqui que deveria servir para unir é causa de desunião por culpa de uma leitura pouco atenciosa do livro guia para os cristãos, a Bíblia, logo após Maria saber que conceberia e daria a luz ao Salvador, provavelmente ainda confusa corre até a casa da prima Isabel que concebeu na velhice também um milagre (na foto o quadro de Domenico Ghirlandaio, 1491).
Ao chegar na casa da prima ouve a saudação com um grande grito diz a leitura (Lc1,42-43): “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! 43Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?”, fica a pergunta teológica o que significa para Isabel, judia o advento de Cristo, o Natal, ainda se iniciava no ventre de Maria.
Há discussões sobre datas, uma discussão a-histórica do nascimento de Jesus pois houve um recenseamento, porém, esta questão “a mãe do Senhor” fica ainda em aberto, embora todos os cristãos concordem que o Salvador nasceu dali e viveu entre nós durante 33 anos.
Deus viveu entre nós e veio a partir de uma virgem, não há profecia maior e estará conosco até o final dos tempos.
Entre a ciência e a superstição
Sempre que o tempo se altera: chuvas, enchentes, tempestades, furacões e agora vulcões e terremotos alguma coisa nos preocupa, é preciso separar aquilo que de fato é sobrenatural do natural que existe mesmo que catastrófico, a ciência ajuda, mas nem sempre tem respostas prontas.
Foi assim como problema da Covid-19 e está chamando a atenção agora o vulcão de La Palma por sua imprevisibilidade, porém ele tem ajudado a ciência que tem coletado um número bem maior que em outras erupções e sua variação também ajuda a estudar diversas influências, forma do solo, os terremotos e temperaturas próximas ao vulcão, o tipo de solo (no caso lá com várias fissuras em profundidade) e o tipo de efusão da lava.
Um recente artigo de opinião, a vulcanologia não é uma ciência que consiga fazer previsões, na verdade na opinião de físicos como Werner Heisenberg e filósofos como Edgar Morin suas previsões mesmo que possíveis são hipóteses, porém no caso da vulcanologia o Cumbre Vieja, vulcão de La Palma, tem ajudado.
Um artigo publicado na revista Science e que foi motivo de matéria no jornal El Pais, do pesquisador Marc-Antoine Longpré elaborou uma série de opiniões, entre elas que: “A previsão de curso prazo baseia-se na tecnologia e no reconhecimento de padrões de comportamento dos vulcões, bem como no aprimoramente constante, à medida que os vulcanologistas reúnem mais dados”, como é o caso desta erupção do Cumbre Vieja, em La Palma, nas ilhas Canárias.
O artigo publicado na prestigiosa revista Science, começa explicando que o mesmo teve 50 anos de repouso e historicamente é o mais ativo das Ilhas Canárias, entrou em erupção no dia 19 de setembro de 2021, e completará um dos mais longos períodos de erupção no dia 19 de dezembro, quando atingirá 3 meses de erupção e o artigo informa que a mais longa que se tem registro foi de 3 meses e 3 semanas.
Porém os padrões sísmicos se iniciaram na data de 11 de setembro, fiz o artigo: “o número de terremotos detectados aumentou rapidamente para várias centenas por dia, dos quais apenas um subconjunto foi localizado”, e agrupados em profundidades muito menores (<12 km) e de sismicidade menor que a anterior (em torno de 3 a 4 graus na escala Richter), e com um deslocamento para a área do vulcão que entrou em erupção no dia 19, isto já marca um padrão para erupções (veja os gráficos do autor).
Outro fato observado foi o aparecimento de duas fissuras, além da elevação do solo e a formação do cone vulcânico, cada fissura medindo cerca de 200 m de comprimento, a 1 km acima do nível do mar e 2 km da aldeia El Paraèso que foi rapidamente evacuada sem chegar a atingir os moradores.
O autor informa que a erupção não mostra sinais de diminuição, e fala do drama social para a população local e compara dizendo que é semelhante ao Kilauea, e pergunta se as partes interessadas, claro está incluindo os interesses financeiros e políticos, se a longo prazo será possível reduzir permanentemente o risco associado ao desenvolvimento urbano nos flancos do Cumbre Vieja?
Este é o fato social importante, prevenir mortes como aconteceu recentemente com a erupção do Vulcão Semeru na Indonésia onde foram registradas 14 mortes (hoje subiu para 34), o artigo foi profético neste sentido, uma vez que foi publicado dias antes desta erupção, sim são possíveis coisas extraordinárias e até mesmo sobrenaturais, mas quem tem autoridade para afirmá-las ? é preciso evitar fake news e clima de terror que em nada contribui, porém a cautela, como é o caso da Pandemia, é necessária e prudente.
Nova Pandemia e coimunidade
Mesmo tratando-se do mesmo virus é uma nova pandemia, a nova variante chamada pela OMS de ômega tem a de driblar as vacinas, sabíamos isto já de outras doenças infeciosas, se não erradicada a doença pode voltar e neste caso em que as variantes se manifestam cada vez mais complexas uma nova de infecção se espalha.
Muitos ativistas, cientistas e também a OMS defenderam que uma distribuição mais equânime das vacinas pelo globo auxiliariam o combate a covid 19, por isto a terceira dose (necessária, mas em outra etapa) eram retiradas de vacinas que poderiam ser doadas aos países mais pobres, como a maioria dos países da África, a Necropolítica do sociólogo Mbembe dos Camarões lembra isto, escolher quem deve morrer, mas neste caso ela implica numa Necropolítica global, pois sem uma coimunidade a Pandemia volta.
A palavra coimunidade cunhada por Sloterdijk foi pensada num sentido mais amplo, muito anterior a pandemia, ela faz sentido agora que olhamos um problema global.
A notícia boa é que mesmo podendo infectar pessoas já vacinadas, a infecção é menos grave se já vacinados, segundo o geneticista brasileiro Salmo Raskin, diretor do Laboratório Genetika do Paraná, já estava claro que a variante não estava sujeita a infecção inicial, tanto infectados como vacinados não estão imunes a esta cepa ômega.
O número de infecções cresce na Europa, segundo dados da Reuters a cada três dias está se registrando um milhão de novos casos, que no total desde o início da pandemia já ultrapassa 75 milhões de infectados, o número de mortes também cresce: a Itália registrou 43 mortes, os inúmeros países que seguem em queda são a Rússia e a Ucrânia, porém ressalta-se que foram os primeiros a crescer em infecções e os números ainda são elevados.
Mesmo assim seguem protestos contra novas medidas de restrições devido a nova onda, a Alemanha teve manifestação neste final e semana.
O problema da Europa ainda não é a variante ômega e sim a baixa taxa de vacinação, chamada de hesitação vacinal, e ainda dizem que é um fenômeno global, no entanto em muitos países a vacinação avança, no Brasil já estamos próximos dos 80% vacinados embora não dê imunidade a variante ômega, reduz sua letalidade.
No Brasil várias festas de final de ano foram canceladas, e medidas de proteção devem ser pensadas urgentemente.
História, a grande clareira e parusia
O Natal está próximo e o nascimento de Jesus é um fato histórico pois o Censo ordenado pelo imperador de Roma César Augusto, quanto a data há controvérsias por seriam entre 4-5 a.C., quando Quinino era Governador da Síria como está descrito na Bíblia (Lc 2,2), porém é certo que o censo foi realizado e este foi justamente o motivo de Maria e José terem ido a Belém, onde a profecia dizia que de lá nasceria o salvador, e assim ele “foi contado entre os homens”.
Há controvérsias de datas e da precisão das datas (não dos fatos), uma vez que o calendário foi modificado.
A história também está pontuada de intervenções divinas, na decadência de Roma nascem os mosteiros, onde a cultura da culinária, os primeiros grêmios e ofícios e também uma fase anterior da escrita impressa é realizada, através dos copistas, as primeiras escolas e mais tarde as primeiras universidades, com forte influência teológica como não poderia ser de outro modo, mas tudo isto é história, também no renascimento a arte e a cultura tiveram forte influência teológica.
Entramos na modernidade, a obra que fizemos leituras pontuais nos posts desta semana “todos no mesmo barco” de Sloterdijk, menciona um fato importante, além e citar a obra clássica do Decamerão de Boccaccio como “pequena comunidade em meio ao desastre da grande” (Sloterdijk, 1999, p. 75), faz uma análise da peste negra (que aconteceu nos anos 1300) e que devastou a Europa com mais de 100 milhões de pessoas mortas (figura) quando a população era muito menor que hoje, e sua influência política e psicológica pode ser analisada.
Em nota de rodapé cita a obra de Henrik Siewierki (traduzida pela Estação Liberdade em 2001) “Uma missa para a cidade de Arras” onde analisa as consequências tanto psicológicas quanto políticas da peste, também o psicólogo Franz Renggli, em seu livro Autodestruição por abandono, desenvolveu a hipótese da influencia na modernidade da peste, e também da degradação da relação mãe-filho que teriam provocado uma espécie de fraqueza imunológica, coletiva e psicossomática que favoreceu o vírus daquela peste.
Toda esta análise é interessante em meio do retorno da Pandemia a Europa, ao mesmo tempo que é sem dúvida um flagelo, pode ele alimentar uma nova clareira sobre a nossa coimunidade, ou seja, a ideia de uma defesa mútua e solidária em vista de uma catástrofe ainda maior do que a que já encontramos.
Serve para “aplainar os caminhos”, como diz a leitura bíblica quando João, o filho de Zacarias e Isabel, anunciava no deserto usando as palavras do profeta Isaías: “esta é a voz daquele que grita no deserto: ´preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas’” (Lc 3,4) e parece propícia a este nosso tempo de flagelo e deserto.
É importante lembrar que as duas primeiras semanas do Natal comemoram não a vinda de Jesus em Belém, mas a Parusia, ou seja, a preparação de sua segunda vinda.
A diversidade cultural e as esperanças
Em seu livro “no mesmo barco: ensaios sobre hiperpolítica” Peter Sloterdijk destaca que: “a aparência histórica ensina a todo observador que grupos humanos nas regiões pioneiras, durante os últimos três ou quatro mil anos, devem ter conseguido navegar sobre suas velhas jangadas de tal forma que agrupamentos de jangadas puderam surgir em grande estilo” (Sloterdijk, 1999, p. 73), o que quer dizer que velhos hábitos culturais resistem ao tempo, mesmo que considere “mentalmente pobre e mesmo assim significativo o termo ´cultura’”. (idem).
Enfatiza que a decadência das superestruturas “revelam que quase nada têm a dar aos indivíduos, nos seus esforços de continuar a vida” (Sloterdijk, 1999, p. 74), e mais que isso pode-se reconhecer que “tão logo decai o opus commune, as pessoas podem regenerar-se somente como unidades menores” (idem).
Assim é nestas unidades menores que pode-se regenerar e elaborar uma nova opus commune, retoma o Decamerão de Giovanni Boccaccio onde há a sobrevivência da pequena comunidade frente ao “desastre da grande”, lembrando o período da peste que pode ser um paralelo com a atual pandemia, lá os fiorentinos “já não sabem se devem temer mais a contaminação ou os saques ou a fome, eles caem numa desorientação equivalente a uma paralisia” (Sloterdijk, 1999, p. 75), a primeira versão de “no mesmo barco” é de 1993.
Num período que sucedeu aos impérios babilônicos, egípcios, sírios e persa, foi nas pequenas comunidades gregas que nasceu a ideia da polis das cidades-estados e que chegou até a república moderna, foi da renascença fiorentina que nasceu uma revolução artístico-cultural que levou o espírito humano as primeiras grandes navegações e as expansão do mercantilismo, e foi do racionalismo franco-alemão que nasceu a revolução liberal burguesa e hoje onde estarão estes pequenos grupos capazes de resgatar a civilização?
Há novas cosmovisões que renascem (elas buscam suas formas culturais primeiras) na África tal como o filósofo Achiles Mbembé e sua necropolítica, uma reação ao poder de ditar quem pode viver e quem pode morrer, na américa latina o sociólogo peruano Anibal Quijano, o filósofo, psiquiatra e ensaísta Frantz Fanon, natural das Antilhas Francesas.
O problema central destes pensamentos é a decolonialidade, ou seja, a ideia que a modernidade e seu projeto político se valeram da colonização e não haverá mudanças significativas nas superestruturas de poder se esta forma de pensamento não for submetida a crítica e ao desmascaramento de seus objetivos.
É daí que podem nascer esperanças, uma reconfiguração do globo onde os povos tenham direito a sua liberdade, a sua expressão cultural e social, com uma vida digna.
Nova variante e preocupação na Europa
A nova variante do vírus da covid-19 chamada ômicron pela OMS, já está presente em três continentes e a tendência é chegar a todos, no Brasil tanto o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, como o diretor do Instituto Butantan afirmam que é inevitável que ela chegue ao país.
A variante é a cepa B.1.1.529 e foi identificada pela primeira vez na África do Sul em 9 de novembro, segundo informações da OMS, onde se identificou 100 casos da variante, em especial na província populosa de Gauteng, mas já se espalhou por Botsuana, eSwatini (antiga Suazilândia), Lesoto, Namíbia e Zimbábue, países que o Brasil fechou a fronteira.
No Brasil um passageiro de um voo que passou pela África do Sul testou positivo no último sábado 27/11 e desembarcou em Guarulhos (SP), os outros passageiros também estão sendo monitorados, ainda não é possível identificar se o contágio foi pela nova cepa.
O que se sabe por enquanto é que a variante pode afetar os índices de contágio e de letalidade, porém o sequenciamento genético ainda pode demorar mais alguns dias para ser completo, o diretor Tulio de Oliveira do Centro para Respostas e Inovações Epidêmicas da Universidade de KwaZulu-Natal, afirmou que esta variante é “uma constelação incomum de mutações”, enquanto a variante delta possuía apenas duas mutações por exemplo, em relação a cepal original do coronavírus.
Enquanto isto o número de mortes volta a crescer na Europa (veja o gráfico), a média de mortes chegou ao maior patamar desde fevereiro de 2021, quando o continente começava a se recuperar, para cada milhão de habitantes a taxa é de 5,2 mortes diárias em média, pelo novo coronavírus nos últimos 7 dias.
Com a nova cepa e as variantes é preciso retomar os cuidados, esperar os estudos sobre a cepa e a eficácia das vacinas, a Pfizer já anunciou que deve ter alterações para garantir a imunidade.
Chegamos a 70% da vacinação completa no Brasil, porém com a nova cepa não se pode afirmar a total imunidade.
Nota: No dia de hoje (29/11) a Austrália suspendeu a reabertura e o Japão fechou as fronteiras.