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Retomar a cultura da vida
Em todo planeta vive-se um impasse entre escolher uma cultura que avance para a paz e a prosperidade de toda humanidade, incluindo toda diversidade, e uma cultura da ódio, da guerra e da ad-versidade.
A guerra é esta perspectiva, entrar naquela corrente polarizada nós contra eles, e a guerra da Ucrânia e o perigo nuclear devem acordar a humanidade para riscos maiores do que a diversidade, que em última análise é benéfica e ajuda a reflexão sobre o futuro e os valores humanos.
Entre as ameaças de Putin, a tomada da cidade de Kherson na Ucrânia com a população expulsa, os blecautes de energia e um novo embargo dos grãos da Ucrânia, Putin faz um fraco aceno ao Ocidente e diz que não é inimigo e capaz de conviver, há sugestões inclusive de mediação da paz pelo papa e possibilidades de acordos, são urgentes porque o inverno está chegando no norte.
A Europa já sente a forte crise que se aproxima, não conseguindo controlar a economia a primeira ministra inglesa Liz Truss renunciou, que ficou pouco tempo no cargo, sendo substituída por Rishi Sunak, um inglês de origem indiana, o que em si já é muito interessante, embora seja do Partido Conservador, é um alento de diversidade para o Reino Unido, já que a saída da Índia do império britânico foi dolorosa no tempo de Ghandi, que fez a primeira guerra colonial pacífica.
O cenário político se movimenta, agora quase toda américa latina dá uma guinada para a esquerda, a entrada no Brasil neste cenário pode trazer grandes mudanças, no entanto, é preciso primeiro internamente pacificar as forças literalmente divididas e em confronto pouco civilizado.
É preciso defender a vida, também no aspecto de saúde e equilíbrio emocional, muito veneno foi destilado com palavras aparentemente pacíficas e amorosas, e este é o pior tipo de guerra, a que é feita com requintes de cinismo e hipocrisia.
É tempo de pacificar os ânimos de verdade, de olhar para o futuro para que seja menos sombrio e num final de ano que se aproxima voltarmos a desejar paz, prosperidade e saúde, em falta nos tempos atuais.
A diversidade e a adversidade
Uma sociedade que vive em equilíbrio e serenidade é aquela queadmite a diversidade, veja que adversidade é justamente a negação da diversidade, onde diferenças podem conviver.
Não é possível o processo civilizatório e a esfera pública se desenvolver sem que a diversidade seja aceita, harmonizada em que todas diferenças sejam respeitadas, diz Byung Chul Han: “O respeito é o alicerce da esfera pública. Onde ele desaparece ela desmorona. A decadência da esfera pública e a crescente ausência de respeito se condicionam” (Han, No exame, 2018, p. 12), que aliás é uma crítica fundamentada e equilibrada sobre as mídias digitais.
Assim a escola da a-diversidade é a escolha do conflito, do ódio, da disputa e da morte.
A adversidade é pior ainda quando parte dos poderes constituídos, porque tendo autoridade deveriam justamente se contrapor ao clima hostil e odioso entre as diferenças, isto não significa que exatamente devem coibir os exageros e os abusos que poderes não tem legitimidade para ter.
A esfera pública tem os espaços e foros corretos onde se devem recorrer aqueles que sentem que abusos podem estar cometendo, é verdade, há casos em que o desejo de reagir é violência podem entra-se no circulo vicioso do qual muitas vezes é possível não encontrar a volta, eis as guerras.
O maior desejo da religião sincera, não pode ser outro onde do que aquele espaço onde haja paz, justiça, harmonia e respeito as diferenças, a diferença é parte da natureza e nela está a natureza humana, um dos equívocos é não vê-la dentro do ecossistema, leia-se a Natureza da Natureza, de Edgar Morij, já fizemos um post sobre isto.
A angustia de Jesus ao ver os religiosos divididos, era maior que ver seus conterrâneos divididos pelo império romano, maior que o roubo e a exploração dos humildes, voltamos amanhã sobre isto.
A diversidade é uma riqueza para a pluralidade, para o diálogo, o ódio e a vingança são a a-diversidade, a não aceitação do que não é espelho, a falta de respeito e de empatia.
As sementes da paz
As sementes da vida por menores que sejam erguem-se como árvores depois de germinarem, os que desejam ter áreas desérticas precisam lançar sobre elas fortes vermífugos e pesticidas que que não permitam que nenhuma forma de vida se inicie.
Assim é limitando a entrada na vida de qualquer semente e seus colaboradores os adubos que contém microrganismos que limitamos o crescimento de vida, a área desértica pode parecem limpa e até de certa forma bonita, e este é o equívoco moderno, não permitir que a vida evolua.
Pode parecer contraditório, mas não é empobrece a terra aqueles que para plantar monoculturas vão acrescentando pesticidas nela, sim os frutos parecem “menos perfeitos”, mas a imperfeição pode fazer parte da terra, recente descobertas mostram que determinados fungos salvam as bananeiras que estejam condenadas a não mais dar frutos.
Assim é a pureza da vida, o desejo de eliminar “inimigos” da vida que acabamos por eliminar a própria vida, todo ideal de “pureza” acaba matando a possibilidade de vida, já postamos aqui sobre as “comunidades dos eleitos” no caso religioso e no caso político é a “pureza ideológica”.
Também o nazismo falou de pureza racial, enfim, basta permitir que as pequeninas sementes se desenvolvam, sob cuidados de água e proteção de sol é claro, que elas próprias vão dando origem a vida.
A ´polarização social não é outra coisa senão dois ideias de “pureza” em choque, ambos limitam a vida onde deve ser permitido a diversidade crescer e os conflitos devem ser vistos como uma boa oportunidade para o diálogo.
A bíblica compara a origem da vida como um grão de mostarda, pequenina semente que dá uma árvore frondosa.
Uma peça nova na guerra: Irã
A presença de militares iranianos na Rússia, abriu um novo alerta aos países da OTAN, mas também o envio de baterias antiaérea da Alemanha e o treinamento de militares ucranianos na França abre novos fronts de guerra na Ucrânia.
Os ataques na Ucrânia não foram realizados apenas por mísseis, também os drones iranianos do tipo Shahed-136, que são triangulares e medem 3.5 m, podendo transportar até 36 kg de carga explosiva e também driblam ou confundem os radares antiaéreos devido o grande número.
O Irã nega o envio de drones, porém a presença de militares na Criméia foi confirmada pela inteligência da OTAN, e os países da União Europeia já ameaçam com sanções, porem a dependência do petróleo na atual crise do gás russo é imensa, e um fechamento do golfo persico teria uma repercussão bombástica na economia europeia e por efeito dominó na mundial.
Num quadro de conflito americano na região o fato se torna mais grave ainda, não é preciso destruir um porta aviões para coloca-lo fora de combate, basta atingir uma parte que provoque alguma inclinação e ele já estará fora de combate, é preciso lembrar que o Irá é potencia nuclear.
É preciso lembrar também que estamos a menos de um mês da Copa do Mundo, que será num país do Golfo Persico, a última na Rússia levou mais de 700 mil pessoas, acredita-se que no Catar é provável que chegue a um milhão de turistas de todo o mundo.
Também marca o início do inverno europeu, e a guerra em solo europeu não tem sinal de trégua a vista, bem ao contrário, sofre uma escalada perigosa.
Faltam forças da paz, faltam países e forças políticas capazes de liderar uma cruzada pela paz, o quadro é bastante perigoso e poucos se dão conta da gravidade.
Pode haver uma divisão justa
A união da sociedade e dos povos sempre foi desejável em meios pacíficos, o que acontece quando ela se tornainviável numa sociedade polarizada, aquilo que algumas forças sociais não só incentivaram como difundiram no tecido social.
O que acontece num horizonte mais amplo é a guerra, num ambiente mais próximo do cidadão é o crescimento do ódio, da intolerância e de pouca empatia e diálogo.
Apresentar valores que não se pratica é além de uma hipocrisia um grande engodo social, aposta-se naquilo que jamais será realizado, e tanto a paz quanto a guerra são realizáveis.
A divisão justa é assim aquela que dentro de um processo amplo de divisão social, de imposição de ideias e intolerância política, religiosa, de gênero (heteros também são um gênero) promovem a concórdia e a possibilidade de diálogo, é heroico, porém é verdadeiro.
Verdadeiro porque promove a divisão justa entre os intolerantes e os verdadeiros e sinceros democratas, pacíficos e que desejam uma convivência entre diferentes e diversos, é um tipo de divisão também porque separa os hipócritas dos realistas e sinceros.
Estas posições também exigem firmeza, resiliência e tenacidade, não é para os fracos e sim para aqueles que são verdadeiramente fortes, porém sem uso da força bruta, usam apenas a coerência das ideias, dos argumentos e estão de fato abertos ao diálogo.
É a divisão com autoritários, impostores, mentirosos e demagogos, jamais fazem aquilo que de fato dizem promover, querem ver apenas o “seu lado” da história, apenas sua versão dos fatos, sua imposição de ideias “comunitárias”, porém de poucos e não do conjunto social.
Há uma leitura simples deste tipo, caracterizam-se pela arrogância, pela rejeição do diálogo, o “outro lado” está sempre errado, porém os argumentos são apenas a ironia e o desprezo.
Quem despreza o diferente, o diverso, não tem base democrática nem lógica do diálogo, com estes há sim uma divisão social, porque são contrários a convivência pacífica entre contrários.
Entre as faltas e os crimes
Diante de uma situação de perigo ou de pressão todos podemos cometer faltas e equívocos, porém os crimes mais punidos socialmente são aqueles que são cometidos intencionalmente ou pior ainda premeditados, planejados cuidadosamente e com requintes de maldades.
Também há crimes que são tolerados e não deveriam, são os casos de preconceitos ou roubos sistemáticos, mesmo que de coisas de pequeno valor, a sociedade pode e deve se defender nestes casos para evitar que o que é mal não se propague, e se a justiça é conivente ela também é cumplice destes crimes.
Porém a sociedade moderna não sabe como tratar faltas e deslizes humanos cometidos e que a pessoa tenha direito de se corrigir ou reparar possíveis danos, diante da mensagem religiosa estas pessoas são passíveis de reparação, porém devem reconhecer as faltas.
Pode acontecer também que faltas graves sejam cometidas por pessoas que tem certo respeito social, administradores, homens públicos e autoridades religiosas e elas não reconheçam que suas faltas são igualmente graves e este tipo de hipocrisia ou farisaísmo ocorre com certa frequência.
São particularmente graves porque estão sendo praticados por aqueles que deveriam fazer o papel justamente oposto ao que fazem e o poder de propagar culturalmente o mal é maior.
Isto precisa estar exposto socialmente para que a sociedade tenha defesa também destes crimes, eles são potencialmente maiores porque vão além do próprio crime e espalham falsos valores.
A sociedade que não os combate vai moralmente ficando perversa e pode chegar ao ponto de uma ruptura civilizatória, as guerras em geral estão nestes limites e só por isto são perigosos.
Uma cultura de paz deve incluir em valores cotidianos mensagens referentes a valores da paz.
O real perigo nuclear
Enquanto a Rússia ameaça a entrada da Ucrânia na OTAN levaria a uma terceira guerra, a retórica dos países do Ocidente é que o uso de armas nucleares “táticas” pela Rússia seria a guerra, assim a guerra entre estes dois países indica a possibilidade de um confronto mundial que seria catastrófico.
Difícil encontrar neste cenário brechas para algum acordo de paz, a escalada da guerra é ascendente e mesmo a opinião pública se encontra dividida, como o cenário antes da 2ª. Guerra.
A Coréia do Norte já testou seus misseis de cruzeiro, a China eis que na visão do Japão alcançariam seu território, a China censurou sua internet (lá há um controle da rede eletrônica nacionalizada) e a Índia apresentou seu submarino capaz de lançar mísseis nucleares, a Rússia já possui a tempo.
A ideia de um escudo na forma de um mosaico (vários países ajudariam a Ucrânia a defender seu espaço aéreo), é uma tentativa de resposta a demonstração da Russia sobre sua capacidade de atingir não só pontos estratégicos em território inimigo, como testou uma resposta a OTAN.
A Turquia quer mediar um acordo e o Iran continua enviando seus drones a Rússia que melhorou sua capacidade de ataque, também os poderosos mísseis Himars estão sendo agora alcançados pela bateria antiaérea russa.
É pouco lembrado na literatura mas temos mais de 400 usinas nucleares, que bombardeadas cada uma é uma bomba, e a maior usina da Europa, a Zaporizhia (foto antes da guerra) encontra-se em meio ao conflito, a presença de tropas ali é um possível cenário de uma catástrofe que atingiria toda a Europa.
Difícil falar de paz, porém ela deve ser pensada dentro de um processo civilizatório que seja capaz de reverter a tendência ao ódio, a intolerância e a convivência pacífica entre opiniões diferentes, o cenário social e mundial é cada vez mais polarizado e a ideia de submeter o outro pela força cresce.
A crise, a falsidade e a clareira
Hoje vale bem pouco aquilo que se é de verdade, importa mais o marketing pessoal, a maquiagem que esconde os defeitos do aquilo que o o homem de fato é, isto é consequência da oculta do Ser.
Assim a ocultação da verdade é resultado desta ocultação do Ser, não sua causa, o pensamento vai nesta direção porque no interior de cada Ser há espaço para a falsificação, a mentira e a hipocrisia.
Assim não é o caso de quem mente mais, é a ausência de uma clareira onde a consciência de cada Ser se apresenta, e o fermento dos mentirosos cresceu, como a passagem bíblica de Lc 12,1=2 “tomai cuidado com o fermento dos fariseus que é a hipocrisia, não há nada de escondido que não venha a ser revelado, e não há nada oculto que não venha a ser conhecido”.
É certo que a categoria da “clareira” de Heidegger tem um sentido mais geral, envolve o todo que é oculto dentro de um Ser, porém para quem crê este todo se oculta em Deus, aquilo que somos no coração divino, e mesmo não crendo isto parece próprio a modernidade que não vê o todo.
A fragmentação do saber, a divisão social, a ausência de um pensamento transdisciplinar levou a um novo tipo de ocultismo, aquele que especializado só vê a parte e não vê o todo, ainda que a física quântica, a busca pelo universo infinito ou finito (procura-se sua borda) visto pelo James Webb, é a natureza e no interior do Ser que este todo habita e onde se esconde a verdade.
Como ela se ocultou foi a fragmentação social, a ausência de comunhão, onde o Todo se completa, a ausência de Amor transcendente (não é aquele da subjetividade idealista), onde somos capazes de enxergar o outro.
Formamos assim uma geração (no sentido de várias desde o século passado) se tornou má, egoísta e individualista, autofágica e excludente e com incapacidade de enxergar o Todo com clareza.
É certo que a justiça divina é superior a humana, porém ela não a ignora, Jesus contou uma parábola de uma viúva que vai a um juiz injusto que depois te tanto perturbá-lo, ele decide resolver para não ter mais o importuno dela e “não venha me agredir” .
E jesus explica a parábola aos discípulos (Lc 18,6-7): “E o Senhor acrescentou: “Escutai o que diz este juiz injusto. E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar?”, assim podemos ter esperança também numa justiça terrena.
A crise civilizatória e o pensamento
Não é um tempo propício para o pensamento, disse Peter Sloterdijk, dito de outro modo Edgar Morin pedia uma revolução no pensamento passando pela educação, o que se observa são correntes cada vez mais dogmáticas (é diferente de ortodoxas) em duelo, sem que uma compreenda ou argumente em função do universo da outra.
O contorno desta crise tem origem na incapacidade de caminhar para frente, os modelos propostos dão sinais de exaustão, a mídia e o senso comum apelam para argumentos superficiais, sem referencial claro e por vezes apelativos, isto chegou ao corpo social e a política.
Culpam as novas mídias, elas são apenas veículos do pensamento, a sua base cognitiva está na educação e no que é digerido no dia-a-dia das pessoas, e desde o início do século passado já dava sinais de exaustão, não poucos pensadores sérios comentam isto, de Nietsche a Freud, passando por escritores conservadores à direita e à esquerda, porque ambos retornaram as suas origens.
Há uma crise social, sem dúvida,, mas ela existe por ausência de respostas consistentes que mobilize a todos, o pensamento é segmentado, os grandes modelos e teorias faliram e o sinal disto é a sua radicalização a níveis irracionais, e o horizonte de guerra se desponta.
Em A cabeça bem feita, livro de Edgar Morin, ele afirma que a reforma do pensamento permitiria o pleno emprego da inteligência para responder a estes desafios e uma ligação entre culturas que estão dissociadas, trata-se de uma reforma não programática, mas paradigmática, ou seja, no que concerne a nossa aptidão para organizar o conhecimento.
Colocar tudo junto, exercer uma transdisciplinaridade, como aquela foi descrita nas considerações iniciais carta de Arrábida (Morin, Barsarab Nicolescu e Lima de Freitas a subscreveram): “Considerando que a ruptura contemporânea entre um saber cada vez mais cumulativo e um ser interior cada vez mais empobrecido leva à ascensão de um novo obscurantismo, cujas conseqüências, no plano individual e social, são incalculáveis.”(Feitas, Nicolescu, Morin, 1994).
Esta carta estabelece uma ética nova: “A ética transdisciplinar recusa toda e qualquer atitude que rejeite o diálogo e a discussão, qualquer que seja a sua origem – de ordem ideológica, científica, religiosa, econômica, política, filosófica” (Freitass, Nicolescu, Morin, 1994).
Freitas, Lima; Morin, Edgar; Nicolescu, Basarab . Carta da Transdisciplinaridade de Arrábida, Portugal Convento de Arrábida, 1994.
Pós-Deus ou a tentativa de Teocídio
Mais do que a leitura de Nietzsche sobre a “morte de Deus”, entender o radicalismo religioso, além do evangélica, há o semita, o islâmico e correntes neopentecostais, a leitura de Pós-Deus, é na verdade uma releitura da questão do mal ou de modo mais correto “Deus está morto, e fomos nós que o matamos”, aquilo que chamo de tentativa de Teocídio, impossível, quer ele exista ou não.
Se Deus existe não poderá ser morto apenas apagado da mente humana, na lógica do hegelianismo de Ludwig Feuerbach ele existe apenas na mente humana e neste caso não existiria de fato e caso exista não poderemos mata-lo já que é imortal e precede a todos e a tudo.
Peter Sloterdijk em parte da proposição e claro da hipótese que ele só exista na mente humana, uma fantasia delirante dos homens, dizem muitos ateus convictos, já que os gnósticos não consideram a hipótese, o mais importante filósofo alemão vivo (considero o papa emérito também importante), vai analisar além de Nietzsche e de Cioran, o intermezzo de Lutero.
Lutero é particularmente importante porque é a raiz não declarada do pensamento de Nietszche, filho de pais e parentes luteranos, alguns pastores, a reforma protestante é fundamental para se intender o fenômeno religioso ou a chamada “revanche do sagrado”, ela entrou na cena política.
O livro, com este nome atrairá poucos cristãos, tem um interessante percurso de diálogo que passa por Hans Jonas (The Gnostic Religion), Harold Bloom (Presságios do milênio), Franco Volpi (O niilismo), Sergio Givone (Storia della nulla), Ioan Culianu (The Tree of Gnosis) e Sylvie Jaudeau (Cioran ou le deernier homme), todos autores e exegetas de Cioran, que teve uma experiência mística “desfigurada” de natureza ateia, desencantadora e niilista.
Quem foi Emil Cioran (1911-1995), autor que escreveu a partir de Nag Hammadi, uma série de manuscritos encontrados após a Segunda Guerra que matou mais de 40 milhões de vidas, na África a 50 km de Luxor, num grande recipiente de barro, numerosos códices de papiro escritos em língua copta e em grande estado de conservação.
A grande biblioteca “gnóstica” rapidamente se espalhou entre os intelectuais, data de cerca de mil e setecentos anos atrás, portanto durante a emergência ocidental do cristianismo, o autor projeta uma mensagem mística para o nosso estado atual.
Permanece até hoje está aura de “descoberta” de Nag Hammadi, na verdade dava asas ao que chamo de Teocídio, tirá-lo não só das mentes e sim construir uma “mística” niilista sem Deus, porém ela não escapa do que é, um niilismo exótico.
Sloterdijk fala da ascese desespiralizada, Cioran também o é, a busca de uma ascese sem toda esta falsa radicalidade difusa, não resiste a mínima ideia de princípios praticados, confunde a todos, e a política também está contaminada por ela, o único caminho possível para todos parece ser o ódio.
O ódio é o Teocídio mais veemente e eficiente, onde ele entrou, qualquer ascese possível saiu.
SLOTERDIJK, Peter. Pós-Deus. Trad. de Markus A. Hediger. Petrópolis: Vozes, 2019.