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Arquivo para dezembro 8th, 2016

Parir um mundo novo

08 dez

A metáfora do parto é importante se considerarmos que a nossa policrise, termopartodemaria usado por Morin para designar o momento atual, é também o momento de nascer algo novo, que dentro do útero materno-terreno não tem luz e não é possível saber como o nascituro virá.

Edgar Morin indicava que a questão do desenvolvimento, termo adotado em diversos países para dizer o caminho de saída desta crise, no livro Introdução ao Pensamento Complexo afirmou sobre o isto:  “O desenvolvimento tem dois aspectos. Por um lado, é o mito global em que as sociedades industriais atingem o bem-estar, reduzem as suas desigualdades extremas e proporcionam aos indivíduos o máximo de felicidade que uma sociedade pode dispensar. Por outro lado, é uma concepção redutora, em que o crescimento econômico é o motor necessário e suficiente de todos os desenvolvimentos sociais, psíquicos e morais. Essa concepção  técnico-econômica ignora os problemas humanos da identidade, da comunidade, da solidariedade e da cultura.”

 

Para aqueles que ainda acreditam na revolução socialista clássica, diz Morin em A minha esquerda, que questiona os paradigmas ideológicos ainda em moda aqui nos nossos “tristes trópicos”, encontro uma ideia fundamental para sua policrise na página 16: “Uma componente invisível da policrise é a crise do pensamento”, Morin chama de policrise as crises interdependentes:  da economia, da civilização ocidental, das civilizações tradicionais, do desenvolvimento, estamos tratando com placebos o câncer de uma sociedade em decadência”,  então reconhecer a decadência e a insuficiência do pensamento social deste momento é fundamental para o parto de um mundo novo.

 

É preciso repensar o pensamento, ser capaz de mexer de modo profundo nas estruturas, deixar de ignorar as multidões, e mundializar a crise aí, justamente aí está o sentido possível desta crise, creio como Morin:  “favorecer as cooperações econômicas, sociais, culturais, tudo o que caminha no sentido da unidade solidária da humanidade”, o resto é torcida de futebol, sendo que até este promete se resolver depois da tragédia da Chapecoense.