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Arquivo para fevereiro 3rd, 2017

Hermenêutica dialógica

03 fev

Assim Gadamer na sua busca dos traços fundamentais para uma teoria hermenêuticaCirculoTrinitário ele a inicia não por uma lógica da linguagem, mas pela estrutura ontológica (universal) do circulo hermenêutico, pois é importante que aquele que quer compreender não se entregue à causalidade (sempre que for fechada) das suas próprias opiniões prévias e ignorar a opinião do texto, ao contrário, deve estar disposto a deixar que o texto diga alguma coisa por si mesmo.

É um processo, portanto é preciso de abertura do espírito, de ouvir atentamente o texto, coisa que uma consciência formada hermenêuticamente tem como disciplina receptiva, desde o princípio, para a alteridade do texto a fim de “diferenciar os verdadeiros preconceitos, sob os quais nós compreendemos, dos falsos, sob os quais nós nos equivocamos”. (1997, p.42).

Mas como esta consciência se forma do ponto de vista histórico? a compreensão histórica, não é a partir de padrões e preconceitos contemporâneos que iremos compreendê-la, eis a amarra do diálogo, mas a partir do horizonte do qual fala a tradição, sob pena de estarmos sujeitos a sermos mal-entendidos com respeito ao significado de seus conteúdos, por isto textos dogmáticos ditos sem referência, ou como simples citações de autores, não são dialógicos.

Um texto só se torna falante, graças às perguntas que alguém pode lhe dirigir, em geral ausênte na falsa dialogia, nela não existe nenhuma interpretação, nenhuma compreensão, que não responda a determinadas interrogações que anseiam por questionamentos, afinal se sabe da própria filosofia, que a questão é mais importante que a resposta, diríamos que em função dela se começa uma fusão de horizontes, que muitas vezes pode levar tempo, mas nunca saltá-la, ignorá-la ou mesmo suprimi-la para evitar confrontos e questionamentos.

Assim, a compreensão é sempre a continuação de uma conversação já iniciada antes de nós e que nós assumimos e modificamos, através de novos achados de sentido, as perspectivas de significado que nos foram transmitidas.

Aqui, neste momento, acontece a compreensão como concretização histórico-efetual (estudo das interpretações produzidas por uma época) da dialética entre pergunta e resposta, ou seja, a compreensão como conversação.

Neste sentido, parece ser uma exigência hermenêutica o fato de termos de nos colocar no lugar do outro, ou seja, nos deslocarmos à sua situação para, tomando consciência de sua alteridade, poder entendê-lo. 

No desenvolvimento de suas ideias, Gadamer irá incorporar o problema da aplicação que, segundo entende, está contido em toda compreensão, como questão fundamental da hermenêutica.

GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método: Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.