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Geopolítica da guerra e “viroses”
Nem o grave terremoto na Turquia e Síria, já com mais de 25 mil vítimas fatais, conseguiram aplacar o espírito de ira e vingança que sacode o planeta.
A guerra sofre uma escala em uma geopolítica mundial, o navio russo Almirante Gorshkov (apoiado pelo cargueiro de abastecimento Kama) passa pela costa da Europa e vai em direção aos EUA (lembra a crise de Pearl Harbour (1941) e mísseis em Cuba (1962)), depois de balões “espiões” agora há uma onda de Objetos Voadores não identificados abatidos, que não são alienígenas, mas apenas aparelhos não conhecidos.
No aspecto da pandemia, algumas mudanças de comportamento do vírus sincicial (nome complicado para massa multinucleada de citoplasma formada pela fusão de células originalmente separadas) que acontecem em viroses sazonais, agora parecem ter um comportamento atípico e fora de época, no hemisférico sul, por exemplo, ainda estamos no final do verão.
Voltando a guerra, a fragata Almirante Gorshkov navegava em direção a África, era acompanhada por um navio de abastecimento que seguiu este percurso, mas a fragata mudou de rumo e agora vai em direção aos Estados Unidos o que provoca um aumento de tensão na guerra que já não era só da Ucrânia e Rússia, também alguns mísseis russos ultrapassaram a fronteira sul da Ucrânia e foram em direção a Moldávia, cresce o sentimento de uma guerra total.
É bom lembrar que a fragata em direção aos EUA tem os temíveis e imbatíveis misseis hipersónicos Zircon, mesmo estando em aguas internacionais, pode chegar a uma distância para que a costa leste americana seja atingida com segurança, o que certamente agravará a crise internacional e eminente conflito.
Depois do evento dos balões, aquele acusado de espião no espaço aéreo americano, outros dois “objetos não identificados” (que não tem alienígenas) foram abatidos, e neste domingo (12/02) um destes objetos foi abatido na China, tudo indica espionagem e contraespionagem em curso.
No plano da Pandemia, estas viroses extra sazonais preocupam pela gravidade e volume, Marcelo Gomes coordenador do InfoGripe (da Fiocrus), afirma que estas viroses chamadas de VSR (Virus sincicial respiratório) podem ser atribuídas a dois fatores: a mitigação dos cuidados com a pandemia que também coibia outros vírus e a falta de controle em ambientes coletivos, que impedia maior contato e circulação de vírus socialmente.
Tanto na guerra crescem a preocupação tanto com a paz, como com a possibilidade de novas pandemias, o clima internacional segue tenso, recentemente houve toca de farpas entre o premiê francês Makron e a primeira ministra italiana Giorgia Meloni, que foi excluída da reunião com Zelensky.
A paz está ameaçada e o descuido com a pandemia (ou mesmo a pós-pandemia) pode gerar uma onda de viroses e efeitos colaterais.
Novas tensões e pandemia
Além da guerra entre Rússia e Ucrânia, onde crescem as tensões, a tensão entre Estados Unidos e China aumentaram em função de um suposto balão espião que entrou no céu americano e uma nova tensão entre Azerbaijão e Armênia onde há 130 mil armênios isolados em condições sub-humanas na região de Nagorno-Kabarakh, reivindicada pelos dois países (mapa) e com histórico de conflitos.
Na guerra após a entrega dos tanques alemães para a Ucrânia e a ajuda americana, a Rússia reagiu com fúria prometendo uma ofensiva arrasadora, dia 24 de fevereiro completará um ano de guerra e espera-se até lá uma forte ofensiva russa, além disto há ameaças ao Ocidente e uma ofensiva na Moldávia, que faz fronteira sul com a Ucrânia e assim criar nova frente de combate.
O balão que invadiu território americano, vindo do Canadá e segundo a China se perdeu, uma vez que será tomado pelos americanos (a derrubada poderia ser perigosa), entrou pela região de Montana, norte dos EUA e com possíveis armamentos nucleares o que levou a suspeita, porém a China alega que a medida americana foi precipitada e que se trata apenas de um balão atmosférico, porém a tensão se elevou.
Os líderes de Pequim declararam que “não aceitariam nenhuma conjectura ou exagero infundado” e acusam “alguns políticos e a mídia dos Estados Unidos” de usar o incidente “como pretexto para atacar e difamar a China”, apesar da tensão o clima não é de uma guerra e a questão de Taiwan é um pano de fundo.
A covid-19 segue um roteiro de indefinições, agora há indicações que o Japão enfrenta um crescimento da pandemia, isolado durante as etapas anteriores, o país se abriu para o turismo e isto parece ser um dos indicativos deste inesperado crescimento, o uso de mascaras lá por exemplo, é anterior à Pandemia.
Segundo o site da BBC, o país atingiu um recorde histórico no dia 20 de janeiro com 425 mortes em um único dia, proporcionalmente maior que a América Latina, Estados Unidos e Coreia do Sul, entre outros, os dados são do Our World in Data, que é compilado pela Universidade de Oxford.
Seguem também temores sobre efeitos colaterais da vacina bivalente da Pfizer (imuniza a variante inicial e as novas cepas), segundo o órgão de controle americano de saúde, o FDA, a análise feita em milhões de idosos não identificou risco de AVC, mas especialistas pedem estudo mais aprofundado.
Encruzilhada da guerra e pandemia em análise
Analisando estes dois temas de grande relevância mundial, elementos complicadores da grande crise civilizatória, que já analisamos o aspecto político e cultural que é seu fundo, vemos uma guerra em escalada mundial e uma pandemia em análise pela OMS, quanto ao uso do termo.
São dois eufemismos, pois a guerra já tem proporções mundiais com o envio de tanques Leopard por parte da Alemanha e Polônia, enquanto a Russia envia seu navio chamado “do fim do mundo” para águas internacionais no Atlântico Norte, não há perspectiva de Paz, a Pandemia continua o que se discute é só se a palavra deve continuar a ser usada, a infecção pela variante kraker já é vista mundialmente como de rápida e fácil transmissão.
Após o anuncio de entrega de tanques Leopard a Ucrânia, a Rússia já bombardeou o país com misseis hipersônicos que ficam fora do alcance do radar e anunciou o desenvolvimento em escala da arma nuclear Poseidon (imagem), um torpedo Autônomo Nuclear com capacidade intercontinental, como depende de submarinos pode atingir cidades costeiras praticamente em todos continentes.
O Vice-Presidente do Conselho de Segurança e ex-presidente da Rússia Medvedev afirmou que quem tem armas nucleares não perde uma guerra, e a declaração é vista como uma ameaça ao envolvimento de países europeus e dos Estados Unidos, agora vistos como envolvimento direto pelo envio declarado de armas, embora o presidente da Alemanha afirme que a escalada não envolverá a OTAN.
Analistas de todo mundo, entre eles o chamado “relógio Juízo Final” (Doomsday Clock) simbólico, que começou após o fim da segunda guerra, adiantaram o “relógio” para 90 segundos da meia noite, devido a guerra na Ucrânia e a escalada de ameaças entre o Ocidente e a Rússia.
Em 1945, criado pelo biofísico Eugene Rabinovitch e organizado pelo Bulletin of Atomic Scientists, o Doomsday Clock contou com cientistas como Albert Einstein, J. Robbert Oppencheimer e Marx Born, até hoje são cientistas renomados que mantem esta análise, o horário 23:58:30 é o mais próximo desde sua criação.
A OMS também analisa suspender o estado de “emergência de saúde pública de interesse internacional”, eufemismo para declarar o fim da pandemia, o que é preocupante porque só na China foi resultado mais de 170 mil mortes nas últimas semanas, e a variante kraken segue em expansão, com isto o socorro de nações com dificuldades sanitárias e uma política global de combate ao vírus fica debilitada.
Não acredito que a atual crise, que inclui e se fundamenta em valores culturais, possa se dissipar, porém atitudes de paz e cuidado com a vida podem nos dar algum alerta, as autoridades devem ter isto presente.
Após a publicação deste post, veio a declaração oficial da OMS: “Não podemos controlar o vírus da covid-19, mas podemos fazer mais para lidar com as vulnerabilidades das populações e dos sistemas de saúde”, disse seu diretor Geral Tedros Adhanom esta segunda-feira (30/01/2023).
Um ano de guerra e três de pandemia
Em 31 de dezembro de 2019, a organização Mundial da Saúde (OMS) era alertada sobre casos de pneumonia na cidade de Wuhan na China, no Brasil embora tivessem casos sem diagnóstico preciso, lembro de um caso que foi noticiado em Minas Gerais, somente no dia 11 de março quando a OMS caracterizou o quadro como “pandemia” iniciou um processo de combate no Brasil.
Faltam dados precisos, entretanto a OMS continua falando de avanço dos números e da variante Kraken (outra chamada Orthrus apareceu na Inglaterra, já sendo 1/5 dos novos casos) e a China tem tido recordes de infecções.
Aos que não lembram 11 de março de 2011 foi também a data de um tsunami que afetou a usina de Fukushima (na foto o tsunami em Minamisoma, Japão), só para lembram que tanto desastres naturais quanto os de uma guerra podem afetar os 447 reatores nucleares em operação em 30 países (segundo dados da WNA, Associação Nuclear Mundial), além dos armamentos nucleares que crescem em todo mundo.
Em reunião na base aérea militar Ramstein na Alemanha, assinaram apoio a Ucrânia os membros da EU, Canadá, Japão, EUA, e entre os países da América Latina assinaram Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, México, Paraguai, Peru e Uruguai, o Brasil não assinou.
Já o pedido de envio de tanques Leopard, os mais avançados e fabricados na Alemanha não foram decididos, a Finlândia poderá enviar 200 unidades que possui deste tipo de veículo militar, na próxima reunião entrará em pauta o envio de caças de 4ª. Geração, a Rússia possui os poderosos MIG-31 com capacidade de ataque e interceptação de aeronaves em combate.
Os alertas deveriam estar seriamente discutidos por aqueles que dizem lutar pela vida e pela paz, o uso da retórica não funciona mais devido as mídias sociais, a todo momento mentiras de campanhas eleitorais e declarações populistas são confrontados com a realidade cada vez mais bélica.
Multiculturalismo e diversidade
Como traçamos nos posts anteriores não há como falar de conflito e paz nos dias de hoje sem abordar a questão de fundo cultural e nelas as ideias filosóficas que são um pano de fundo e como não poderia deixar de ser é também discutido por Zizek.
O discurso da diversidade cultural, traduzido politicamente em multiculturalismo não resolveu os problemas do mundo contemporâneo, Ângela Merkel falando em 17 de outubro de 2010 a um encontro de jovens da União Democrata Cristão declarou: “Essa abordagem multicultural, que diz que simplesmente devemos viver lado a lado e sermos felizes uns com os outros, foi um completo fracasso” (pg. 51), e ali introduziu o debate da Leitkultur (cultura dominante) que insistiam “que todo estado é baseado em um espaço cultural predominante que deve ser respeitado pelos membros de outras culturas que vivem nesse mesmo espaço” (idem).
O que se constatou é que “o conflito sobre o multiculturalismo já é um conflito sobre a Leitkultur: não é um conflito entre culturas, mas um conflito entre visões diferentes sobre como culturas diferentes podem e devem coexistir, sobre as regras e as práticas que essas culturas devem compartilhar, se quiserem coexistir” (idem), e o que aconteceu foi que a cultura dominante queria ditara sua visão de diversidade particular.
Fui certa vez num diálogo entre cristãos e não-crentes cheio de animo e curiosidade e o que assisti era uma tentativa de impor uma visão particular de cristianismo sobre o ateísmo, dupla traição e nenhum diálogo.
Esclarece Zizek, ao falar dos gays: “Nesse nível, é claro, nunca somos tolerantes o suficiente, ou sempre somos tolerantes demais, negligenciado os direitos das mulheres etc. A única maneira de sair desse impasse é propor um projeto positivo universal, compartilhado por todos os interessados, e lutar por ele” (ibidem), este é o final do Cap. 3 “O retorno da má coisa étnica” que evito de propósito para apenas ouvir e calar, já que como branco de descendência europeia, sou parte da Leitkultur.
Assim como querem muitos pensadores europeus, Edgar Morin em sua defesa de uma cidadania global, Peter Sloterdijk que pede que a Europa desperte, a seu modo Zizek pede uma Leitkultur emancipadora positiva, “não apenas respeitar os outros, oferecer uma luta comum, porque hoje nossos problemas são comuns” (Zizek, 2012, p. 52).
O capítulo 4 poderia agora ser reescrito, uma vez que “o deserto da pós-ideologia” cedeu lutar ao retorno da luta ideológica do início do século passado, estamos andando em círculos e andamos para trás.
Todo o restante do livro fala da primavera árabe, dos movimentos “occupy” e finaliza para “além da inveja e do ressentimento”, aquele que Nietzsche desenhou tão bem, mas basta ver os discursos atuais e eles não são senão ressentimentos e ódios destilados e invejas mal sucedidas e “os sinais do futuro” da conclusão parecem agora obscurecidos por falta de sutilezas, clarezas e políticas sãs e interessadas no bem comum.
ZIZEK, Slavoj. O ano que sonhamos perigosamente. Trad. Rogério Bettoni. São Paulo: Boitempo, 2012.
Insanidade na guerra e indefinições na Pandemia
As noticias da Guerra no leste europeu são que a luta pela conquista da região de Soledar teve um custo militar alto e a cidade ficou praticamente destruída com pouco mais de 10 mil habitantes tem um significado estratégico militar e a consolidação de posições russas na região de Donetsk, enquanto a fragata com misseis Zircon navega pelo Atlântico.
A defesa ucraniana nega o domínio na região, enquanto a russa comemora em meio a uma polêmica com os mercenários do comando Wagner que afirmam que eles lutaram na região.
O significado desta batalha é de uma guerra que cada pedaço de território significa batalhas sangrentas e indicam ainda um longo período, a menos de uma estratégia mais agressiva e mais perigosa.
Os habitantes da vizinha cidade de Sirversk sonham com paz, porem poderá ser o próximo combate, assim como a cidade de Bahkmut estratégicas para a guerra terrestre.
A pandemia vive dias de incertezas, não são claros nem os diagnósticos nem a gravidade das novas variantes, porém é sabido que a “kraken” é altamente contagiosa.
Embora a politica da OMS seja de não fazer alarde e deixar pouco claro as medias a serem tomadas, o quadro tem contornos alarmantes (veja o mapa)+ e a variante kraken comprovadamente tem maior índices de contagio e não é clara a efetividade das vacinas da primeira linhagem.
O que se espera na guerra e na pandemia é que se encontrem medidas afetivas para salvar vidas, evitar uma radicalização ainda maior que a do quadro atual e dar esperança as pessoas simples de um futuro com paz e segurança.
As causas da paz
Este é o subtítulo do capítulo 7 “Porque somos assim (2)?” do livro de Theodore Dalrymple que é analisado esta semana, o tópico 1 que trata em especial da transcendência, deixamos para a ultima análise, embora o livro não termine ai, embora este título vá até “Porque somos assim (7)?” e depois fala das consequências, porém penso que devemos pensar primeiro porque pensamos assim e onde foi nossa cultura, que é o propósito essencial do autor expresso em outros livros de sua autoria.
Já abordou-se no tópico anterior o aspecto das causas do relativismo contemporâneo: empírico e abstrato, porém sem superar a fundo a dicotomia sobre a verdade lógica (abstrata) e o empirismo científico (válido em laboratórios para específicos casos) que também já tem seus questionamentos tanto na filosofia quanto na própria ciência, vejam o caso anacrônico do vírus, não se pode prevenir porque as mutações não podem ser controladas e a natureza revela sua força também em aspectos negativos, esperamos que o positivo seja reequilibrar a ação desastrosa humana.
É interessante a abordagem do autor, porém ela se restringe à esfera europeia, não há análise nem neste autor nem e outros europeus não há análise da disputa colonial, também na análise mais à esquerda de Slavoj Žižek (escreverei sem os acentos no Z porque para não-eslavos isto é demasiado extravagante), porque a meu ver todas se concentram no poderio do estado e suas soluções paliativas.
A análise da paz, parte da ideia que as duas últimas guerras foram causadas basicamente pelo conflito entre Alemanha e França (iniciadas na guerra Franco-Prussiana, figura), e a União Europeia poderia ser uma “causa da paz” uma vez que uma maior harmonia na Europa poderia destruir as razões dos dois primeiros grandes conflitos. Pensava-se então que ninguém acredita que “a França atacaria a Alemanha, e não o contrário. A conclusão resultante seria seguinte: sem este vasto aparato europeu de contenção, o huno [nome dados aos alemães durante as guerras] voltaria á velha forma” (Dalrymple, p. 111).
O cenário da época do livro parecia estável, e embora seja plausível pensar que uma maior “união” entre as nações signifique menos guerra, não se pensava na possibilidade de saída da Inglaterra da União (o Brexit, iniciado em plebiscito em 2017 e finalizado em 2020), nem numa guinada soviética da Rússia mais recentemente.
Assim as causas da paz, como já defendemos esta tese em outros posts quase sempre resulta de maus acordos de paz, não apenas as tréguas, mas aquilo que prometa um futuro estável, pois foi assim que o mau acordo entre Alemanha e França após a primeira Guerra Mundial, resultou na Segunda, ainda que o estopim tenha sido o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do já frágil Império Austro-húngaro e vejam que esta região pode ser de novo estopim uma vez que Bósnia e Sérvia acenam ao governo russo, e a segunda guerra termina com maus acordos entre a Otan e o Império Soviético.
A entrada de países do leste para a União Européia deveria ser distinta da adesão a força militar da OTAN, este por exemplo é o caso da Turquia, embora a ameaça de sair da comunidade permaneça.
Porém o autor aponta o calcanhar de Aquiles da União europeia, um “fundo de pensão” para políticos cansados e que querem manter seu clientelismo: “depois de terem sido derrotados ou de perder a disposição para passar por rigores do processo eleitoral” (p 117),
Em comparação com o estado soviético, o autor diz que é possível identificar o sujeito alimentado pela EU a um quilômetro e meio de distância: “é um tipo de sujeito que desenvolveu aquele semblante típico dos antigos membros do Politburo soviético”, tendência dos estados atuais a esquerda ou a direita, dentro de uma proposta que é razoável que é uma maior união entre as nações, que deveriam diferir dos estados onde o apetite dos seus membros são satisfeitos por aqueles que melhor sabem gerenciar seus apetites, e isto não leva a uma verdadeira cogovernança nova e verdadeiro gerenciamento do bem público.
Assim a causa da paz que aparentemente viria (em 2010) de uma maior integração de países, as nações continuam em suas diferenças culturais, infelizmente não se realizou, o modelo da Pax Eterna está falido.
DALRYMPLE, Theodore. A nova síndrome de Vicky: porque os intelectuais europeus se rendem ao barbarismo. Trad. Maurício G. Righi. Brazil, São Paulo: É Realizações, 2016.
Há algo de podre
Este é o título do primeiro capítulo de Theodore Dalrymple do livro “A nova síndrome de Vicky – porque os intelectuais europeus se rendem ao barbarismo” (É realizações, 2016), para quem não sabe a frase de Hamlet sobre o reino da Dinamarca do qual era príncipe, a tragédia escrita em 1559 a 1601, que fala do assassinato do rei, pai de Hamlet pelo irmão Claudius que quer o trono e a rainha Gertrude (o cartaz ao lado o filme Hamlet direção e roteiro de Michael Almereyda, de 2001), cuja adaptação foi criticada porém gostei: “o idealismo de um jovem destruído pela corrupção existente no mundo” diz uma sinopse.
Fala de uma Europa mais rica e com maior expectativa de vida, lembra que Keats, Schubert e Mozart morreram novos (25, 31 e 35 anos respectivamente), que “o aumento de riqueza e do padrão de vida físico foi impressionante na Europa das últimas décadas” (Dalrymple, 2016, p. 17), e apesar disto “há um disseminado sendo de iminente obliteração, ou ao menos de declínio, a permear a Europa” (p. 18) e acrescento, de uma guerra com a Rússia ou de um conflito social cada vez mais possível, agora também na Inglaterra e França.
Para não divagar por ideias culturais psicológicas e filosofias, alguns fatos citados por Dalrymple, depois de 12 anos de seu livro (o original em inglês foi publicado em 2010), parecem corresponder aos fatos, apesar de seu conservadorismo cita um “belo exemplo” do livro de Patrick Besson chamado Haine de la Hollande. Besson simpatizante dos sérvios quando a Otan lançou uma ofensiva contra a Sérvia “quanto ao subsequente julgamento de Slobodan Milosevic como grandes equívocos” e diz que a Otan “recorreu aos mesmíssimos crimes dos quais a Sérvia fora acusada” (pg. 13), a isto refere-se o post anterior quando digo usar gasolina para apagar o fogo, e refere-se a Holanda porque o júri foi em Haia.
Faz uma sentença curiosa e inteligente sobre a história, que parecem confirmar fatos atuais: “o fanatismo é o ressentimento em busca do poder; o consumismo é a apatia em busca da felicidade” (pg. 15), falamos na semana anterior do que entendemos por alegria e aqui fica mais claro que ela não pode se comparar ao sucesso dos fanáticos ou a apatia melancólica dos que buscam prazeres do consumismo.
Tudo isto é prefácio e antecede ao capítulo 1 “Algo de podre” que explicamos a origem no início, já citados do segundo parágrafo uma breve síntese da opulência e a queda daquele que Peter Sloterdijk chamada de “Império do Centro” e também ele descreve o descaminho da Europa em “Se a Europa despertasse”, já fizemos algumas pontuações em posts aqui neste blog.
Entre diversos aspectos que o livro aponta, os tópicos sobre Ansiedade e Fraqueza devem ser lidos inteiramente para serem bem compreendidos, sua sentença do o que está “podre” pode ser lida quando aponta que há uma consciência que a diferença “entre a Europa e boa parte do resto do mundo, nos aspectos tanto da riqueza quanto das realizações em outras esferas, diminui dramaticamente, e, em algumas áreas, inverteu- se, provocou o aparecimento de um grande incômodo, mesmo que fosse considerado inevitável a longo prazo*”( aqui a nota de rodapé cita Disraeli de 1838), e finaliza: “ninguém gosta de perder posições na hierarquia das coisas” (Dalrymple, 2016, p. 21).
A citação de Disraeli em 1838, quando antevia que a “não tolerará que a Inglaterra seja a fábrica do mundo”, e isto agora pode estender-se para a Europa e o resto do mundo em relação a produtos alimentares.
Cito aqui uma obra que tive contato quando estive em Portugal e para a qual escrevi dois textos: “Repensar Portugal”, quando o culto e eclético padre Manuel Antunes dizia de Portugal pós Salazarismo, que devia se voltar ao continente europeu e esquecer as ex-colônias, isto deveria valer-se para todo continente Europeu agora em uma crise dramática e com ameaças de totalitarismos e guerra.
DALRYMPLE, Theodore. A nova síndrome de Vicky: porque os intelectuais europeus se rendem ao barbarismo. Trad. Maurício G. Righi. Brazil, São Paulo: É Realizações, 2016.
Guerra, intervenção e pandemia
Embora o governo russo tenha decretado um cessar fogo unilateral devido ao Natal que lá é comemorado no dia dos Reis (que foi ontem), o cenário de guerra é muito preocupante: uma fragata (almirante Gorshkov oficial, mas podem haver outros movimentos) que navegará pelos oceanos Atlântico, Indico e Pacífico, com mísseis Zircon nucleares, que são hipersônicos e difíceis de serem captados por radares antimíssil.
O governo americano e a Otan disseram que podem bombardear o território russo, embora a Ucrânia já tenha feito de modo cirúrgico atingindo pontos de armamentos ou tropas militares, agora a ameaça é geral.
No Brasil após um dia de manifestações com invasões do Palácio do Planalto, STF e Assembleia Legislativa o governo federal decretou intervenção federal no Distrito Federal, usando o Art. 34 da constituição brasileira, que no Inciso terceiro diz: “manutenção da ordem pública”, a intervenção é quando uma instância superior intervém numa inferior que em situação normal goza de autonomia, ou seja, é um ato excepcional.
A intervenção no Distrito Federal vale até o dia 31 de janeiro deste ano, porém já se fala em 6 meses.
A pandemia embora goze de estabilidade no país, registra uma alta de 25% no mundo todo, assim ser tratada apenas como covid-19 é um eufemismo, ainda que os sintomas sejam mais leves, também devido a vacinação, as novas variantes são muito mais transmissíveis que as anteriores e começa a se destacar a Kraken (XBB.1.5), uma subvariante da Omicron já presente em 25 países, com o primeiro caso registrado no Brasil a três dias.
A declaração da OMS foi “A XBB.1.5, uma recombinação das sublinhagens BA.2, está aumentando na Europa e nos Estados Unidos, foi identificada em mais de 25 países e a OMS está monitorando de perto”, disse o seu diretor geral, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Seria necessário aumentar a vacinação, no Brasil as crianças tem uma defasagem alta, e começar a inserir rapidamente as vacinas de segunda linhagens, já que as atuais não são eficazes para as novas variantes.
Espera-se no mundo, e em especial no Brasil neste momento de tensão, maior serenidade e diálogo, o barbarismo não resolve nada, é como apagar incêndio com gasolina.
Qual seria a possível ofensiva da Ucrânia
Enquanto as negociações de paz não saem da estaca zero, Rússia e Ucrânia traçam suas estratégias, a Russia continua a fazer bombardeios esparsos em todo território ucraniano, no final de semana passado foi na cidade de Uman, centro sul da Ucrânia.
Em setembro do ano passado enquanto russos esperavam ataques no sul próximos a Kherson, a Ucrânia atacou a nordeste próximo a região de Lugansk e Donesk, tudo indica que a grande ofensiva Ucraniana deverá seguir tática semelhante, a Russia retirou suas bases militares da região da Criméia (conforme mostram imagens de satélites), então espera -senovo ataque ao norte, mas será.
Seria lógico pelo confronto anterior, as sangrentas batalhas de Soledar e Bakhmut na região de Dontesk e Luhansk, que a grande ofensiva da Ucrânia prometida para a primavera (aqui no sul nosso outono), que o ataque poderia ser lá, mas tudo indica que poderá ser ao sul.
O problema grave é qual seria a reação russa a um novo avanço ucraniano ? Pode passar dos limites de uma guerra convencional? pior cenário ainda a Finlândia e Suécia lançarem uma ofensiva antecipando um provável ataque russo.
Não se trata de fatalidade bélica, sempre e todo conflito é evitável, a questão é colocar esta ou aquela população em risco de uma guerra total e não pensar no provável revide, afinal é sim verdade que a Ucrânia foi ao extremo por ter seu território invadido, do outro lado valerá o mesmo.