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A necessidade do rescaldo na Pandemia
Rescaldo refere-se aquela atividade que autoridades responsáveis pelo combate a incêndios e tragédias executam após o pico da tragédia ter se afastado, mas ainda restam perigos, encontramos nos dicionários uma definição para períodos que seguem a tragédia ou acontecimento marcante, quando ainda se sentem os efeitos ou consequências dela.
No Brasil os dados são preocupantes, porque bastou um anúncio de flexibilização das medidas da pandemia para os números de mortes se estabilizarem em torno das 500 mortes diárias e em algumas regiões já crescem, incluindo os estados de São Paulo e Rio de Janeiro que são populosos.
Um exemplo de rescaldo, além das medidas de prevenção até o final da pandemia, é a pesquisa financiada pela FAPESP e feita pelos pesquisadores do laboratório de Ficologia da Universidade Federal de São Carlos, que identificou uma nova espécie de microalga verde do gênero Nyphrocytium que afetou o pulmão de pacientes que morreram de Covid 19.
Estamos extenuados de um período de limitações tão longo, mas é importante que sejamos cuidadosos até a etapa final, que ainda está longe, e pode chegar até o final do ano.
Como já postamos a Europa está ingressando no outono e o inverno promete ser rigoroso, assim como o nosso verão no hemisfério sul, o perigo de novos vírus e de mutações do atual devem ser observados, vemos que em alguns países, como é o caso de países do Oriente, alguns casos já criam um alerta e tomam medidas duras, mas necessárias, nosso liberalismo pode custar caro.
Na abertura da Assembleia Geral da ONU, o secretário geral António Guterres, falando da situação mais geral além da pandemia, mas que a inclui, disse que estamos na direção errada, nunca se viu o planeta “tão ameaçado, nem tão dividido”, e salientou: “estamos na beira de um abismo e nos movendo na direção equivocada”, é um alerta difícil, mas necessário neste momento. 7
As tentativas de cooperação são fundamentais para um momento de crises globais, e não há uma cogestão dos problemas que são globais, e que podem se expandir para outras áreas, uma já fácil de ser observada que é a social, que não foi devidamente enfrentada, e agora é urgente.
Se fugimos de um problema central, complexo e que envolve todo o globo não o estamos resolvendo, e pior estamos agravando, o combate ineficaz a pandemia e suas consequências não podem produzir bons resultados, e aqueles que esperam dividendos políticos são corresponsáveis.
É preciso enfrentar o rescaldo da Pandemia ou não conseguiremos evitar novo incêndio.
Para evitar uma quarta onda
O mapa ao lado, oficial da OMS indica claramente as três ondas da Covid, as novas variantes e uma resistente Pandemia exigem um esforço final para que seja possível pensar um 2022 sem as restrições que são incomodas, é óbvio, mas ainda necessárias.
A pequena cidade de Florai no noroeste do Estado Paraná ilustra bem a necessidade deste cuidado, a pequena cidade de pouco mais de 5 mil habitantes recebeu uma etapa de um campeonato de handebol e antes com apenas dois casos viu subir para 68 em uma semana.
Olhando o gráfico da OMS e os dados do Brasil, estamos com uma média móvel de mortes acima dos 500 em uma queda ainda muito lenta, o que mais se fala é na possibilidade de flexibilização das medidas, que em muitos casos já vem acontecendo, porém os cuidados ainda continuam.
O Brasil chegou a 65% de vacinação da primeira dose e pouco mais de 37% para a segunda dose, se observarmos os dados de julho quando já havíamos chegado a casa dos 30% de vacinados, pode-se notar que há uma lentidão especialmente na segunda dose sem qualquer explicação.
A Europa entra no seu outono, enquanto o hemisfério sul na sua primavera, é de esperar que no calor a proliferação do vírus diminua, porém se os cuidados se mantiveram e a vacinação evoluir.
O grande perigo na Europa, e que não vejo nenhum comentário ou preocupação, são as doenças oportunistas, ou seja, clinicamente são aquelas infecções causadas por micro-organismos que mesmo em pessoas com imunidade normal, devido a outras doenças podem causar infecções ou mesmo quadros imunodepressivos em pacientes convalescentes ou que passaram pelo contágio, afinal são mais de 200 milhões de pessoas que já tiveram o contágio do vírus, em todo planeta.
No começo da Pandemia a OMS havia alertado para o problema de tratar do pós-covid em muitos pacientes, porém o tema foi esquecido e como não são casos isolados, um tratamento em massa seria necessário, o que podem vir pela frente é difícil de saber sem uma pesquisa médica, mas não difícil de imaginar, seria como se fosse uma nova epidemia pós-Pandemia, deixo para os médicos.
Precisamos sair fortalecidos ao menos em termos de saúde, em termos de solidariedade muitos dos analistas mundiais já jogaram a toalha, não fomos capazes de tratar um problema comum como tal, parece que é um problema do outro, daqueles que tiveram a doença, claro não para todo mundo, há uma reserva moral na sociedade que garante ainda uma esperança futura.
Em queda lenta e protocolos
Embora a OMS alerte para a possibilidade de nova onda devido a desigualdade no combate a pandemia, que em função do número de vacinas também não vê prioridade na terceira dose, até alguns Institutos contestam (da AstraZeneca, por exemplo), a queda no Brasil é lenta, e aqui a polêmica é por conta dos protocolos mal aplicados e pontualmente rigorosos.
No país o total de doses é 210 milhões, porém o total de pessoas vacinadas está em 72,6 milhões que dá 34,4% e faz sentido portanto dizer que a terceira dose ainda é para se pensar, uma vez que o número de vacinas é limitado e ainda tanto a queda de mortes com a vacinação seguem lentas (média móvel em torno de 450).
Também há polêmica em torno das vacinas, o Chile está aplicando a terceira dose com a Pfizer e a AstraZeneca sob o argumento de que a “combinação” é boa, porém olhando as vacinas que são aceitas em protocolos europeus, lá só a AstraZeneca, a Pfizer, a Moderna e a Jenssen são consensos, e a AstraZeneca com dúvidas em alguns países internamente (por causa de efeitos colaterais).
Para entender a polêmica criada pela interrupção do jogo Brasil x Argentina após a exigência da Anvisa que 3 jogadores fossem retirados do jogo (apenas 1 estava no banco), é preciso entender a Portaria Interministerial 655/2021 que estabelecia o prazo de 14 dias de quarentena definida para pessoas que chegam ao país passando pela África do Sul, Índia e Reino Unidos, incluindo a Irlanda do Norte, e que os aeroportos internacionais têm conhecimento, mas apenas assinam um papel.
Não há no aeroporto uma agência local da Anvisa que verifique se de fato a informação prestada é verídica, e somente horas após isto é feito em casos pontuais que tem repercussão na imprensa.
Assim os protocolos existem, uso de máscaras, procedimentos em bares, restaurantes e supermercados, mas qualquer pessoa que circule observa famílias inteiras nestes lugares, mal uso da máscara e as vezes até mesmo não uso e por isto causa revolta, a aplicação da lei é só pontual.
Isto sem falar de liberação e flexibilização que ocorre em muitas situações que há aglomeração, as escolas, no Rio de Janeiro um time poderá ter torcida em jogo da próxima quarta-feira, as próprias manifestações de 7 de setembro e dia 12, etc. enfim os protocolos devem ser cumpridos, mas sempre para que a lei tenha eficácia e respeito dos cidadãos.
Ainda não há uma compreensão ampla que o combate para ser eficaz tem que ser global, tem que haver um conjunto básico de protocolos que todos os países assinassem para evitar a desmoralização deles, e estes são necessários.
Quanto a terceira dose, apenas se há ineficácia assumida de alguma vacina justifica a terceira dose, pois elas serão necessárias para pessoas ainda não vacinadas e para a 2ª. dose.
A lei e a justiça
Os sistemas humanos estão em crise porque se na retórica, há novas formas de sofismas, o populismo é um complexo de sofismas, e eles sempre apareceram nas crises da polis, a nossa justiça que vem do Império romano, com fortes cores idealistas e positivistas, não conseguem permanecer numa linha de coerência, há sempre dupla interpretação conforme o réu.
Isto se deve além do populismo na conjuntura atual, de um modo mais amplo, na falta de uma visada ética como propõe Paul Ricoeur, nem o sistema deontológico que se arroga de isento de qualquer aspecto metáfisico, nem o te
Esta visada proposta por Ricoeur, conforme já explicado não se restringe ao campo da liberdade pessoal, porque pela própria exigência de universalidade deve ter um “efeito de coerção”, isto é aplicada por uma força da lei, mas também não se limita a ética “institucional”, já que deve existir um conjunto de ações “estimadas boas”, por exemplo, cada pessoa tem uma dignidade intrínseca, a morte e a violência não são recursos justos para coerção, podendo haver casos limítrofes, etc.
Mas uma ação estimada boa, difícil em tempos de polarização é aquela que vem de uma regra de ouro, não faça ao outro aquilo que não gostaria que fosse feito com você, deve haver sempre a possibilidade de discussão do contraditório sempre, mesmo nas ações “estimadas boas” e deve haver uma prevalência do comunitário sobre o individual, sem que haja constrangimento nem excesso de “força de coerção”, culturas diferentes interpretam de modo diferente o que é bom
O ponto limitante e discriminatório inaceitável, além do sofisma que desde a antiguidade tem o recurso da retórica e a força da persuasão, porém a demagogia e a mentira pública, por exemplo, aquela que omite os casos de apropriação do patrimônio público como um caso claro de negação do bem-comum.
A governança sobre bens e recursos naturais que são patrimônios nacionais ou até mesmo planetários, não apenas a natureza, mas também museus, bibliotecas, prédios históricos sejam eles de quais culturas forem, não podem ser vistos como aceitáveis.
Este legalismo deontológico (que se justificariam pelos fins), também está presente na narrativa bíblica cristão, os fariseus e mestres da Lei indagavam Jesus sobre os costumes de lavar as mãos, de seguir a “tradição dos antigos”, como na passagem do evangelista Marcos (7,5-7):
“Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?” e o Mestre respondeu: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos’. vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”.
Pois ninguém pode amar a Deus que não vê se não ama o Outro (próximo) que vê (1 João 4:20).
O justo e a hermenêutica
O conceito tradicional de Justiça é aquele que vem do iluminismo e do idealismo, terá sua consagração na Introdução a filosofia do direito de Hegel, a margem deste direito sobrevive teorias cristãs, islâmicas e de outras crenças (o Haiti, por exemplo, teve uma constituição creola), mas sempre a margem.
Pode-se por razões históricas retornar a Kant e Fichte para discutir questões teóricas da justiça, porém o estado moderno e suas leis, que são bases da justiça contemporânea, ao menos no ocidente, tem sua fundamentação em Hegel, e um conceito essencial aí é o da eticidade, que vem junto com a ideia de justiça fundamentada na equidade da própria justiça e não do que é justo.
Assim Hegel teoriza a eticidade como “moralidade objetiva” ou “vida ética”, lembre-se do imperativo categórico de Kant: “age de tal modo que seja modelo para os outros”, assim uma moralidade individual, mas os dois conceitos abstratos de Hegel são o direito e a moralidade.
O âmbito da eticidade, para realizar o ideal da liberdade, está presente na família, na sociedade civil e no Estado, mas tendo o Estado como soberano sobre as demais instituições para as quais estabelece um contrato, e as regras morais e éticas são definidas por alguém que age desta forma, então esta é uma qualidade da ética, a sua eticidade, que apesar de objetiva, continua abstrata.
Ultrapassa o pensamento kantiano afirmando que há uma moralidade subjetiva e uma moralidade objetiva, clássico dualismo do idealismo ao qual Hegel é um apogeu, para Kant era o primeiro ao dizer “age de tal forma” que seja universal, para Hegel é o segundo e para isto definirá um novo conceito (abstrato) da “autoderminação da Vontade”, que é uma moralidade objetiva.
Pode parecer que o direito “individual” (questionável) fica preservado, porém em quase todas as legislações em situações “omissas” é o estado através do juiz que determina a justiça, veja no caso brasileiro o artigo 4º. da Introdução ao código civil:
“Art. 4º. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito”, não há objeção de consciência coletiva ou individual e não há a autodeterminação da vontade, ela é decidida pelo Estado, e já nisto difere da moralidade.
A discussão atual avançou em fase aos graves problemas sociais, sobre a questão da equidade, e ainda sobre o véu do contratualismo (origem do estado de direito), o nome mais eminente hoje é John Rawls, para o qual sua discussão avança sobre o intuicionismo e o utilitarismo, sobre o qual se debruçará Paul Ricoeur para questionar seu conceito de Justiça em sua obra: “O justo ou a essência da Justiça” (1997).
Essencialmente, a discussão é sobre os direitos coletivos, difusos (da natureza por exemplo) e da equidade, Paul Ricoeur caminha para uma hermenêutica do direito, enquanto Rawls para o direito liberal e a equidade diante da justiça e não dos direitos sociais de dignidade humana.
RAWLS, John. Uma Teoria da Justiça/John Rawls: Trad. Almiro Pisetta e Lenita M. R. Esteves – São Paulo: Martins Fontes, 1997.
RICOEUR, Paul. O justo ou a essência da justiça. Trad. Vasco Casimiro. Lisboa: Instituto Piaget, 1995.
A policrise e palavras duras
Já falamos da crise do pensamento, o excesso de especialíssimos que perdem a visão do todo, a prisão idealista, que nasceu num idealismo pré-socrático apontou Popper, e um vazio da capacidade de renovar o pensamento.
A proposta de Morin reformar o pensamento, é abrir as gavetas do pensamento e articulá-las num modelo complexo (do latim complexus, o que é tecido junto) fora da “especialidade” e do conceitualismo.
O que antes parecia um alerta agora já se faz presente em diversos discursos além dos ecologistas: o planeta dá sinais de esgotamento, temperaturas extremas, mesmo em locais onde pareciam impossível: frio no hemisfério sul e calor intenso no hemisfério norte, também a vida animal vai perecendo, a notícia atual é a quase extinção do pinguim imperador, que eram grandes colônias.
O núcleo planetário também se manifesta, o número de vulcões e terremotos cresce, o Haiti pede socorro após um novo terremoto e um furacão que enfraqueceu ainda mais aquele país pobre.
A volta do Taliban ao poder no Afeganistão, os militares em Myanmar e outros neototalitarismos, tudo isto parecem palavras duras e pessimistas, claro sempre temos esperança, não é a primeira crise da humanidade, mas talvez esta seja a mais global e a mais geral de todas e poderá se tornar uma crise civilizatória, em meio a uma pandemia que persiste, e é neonegacionismo dizer que passou, as novas variantes são ameaçadoras, e a própria OMS e muitos cientistas fazem o alerta.
Talvez um plano pouco perceptível é o da religiosidade, além do desrespeito a diversas crenças, há internamente uma crise que podemos chamar de uma “ascese desespiritualizada”, usando uma palavra de Peter Sloterdijk, que aqui traduzimos por sua raiz, ascese “sem” admitir o espírito.
Diz uma passagem bíblica em que Jesus está questionando seus discípulos que achavam que sua palavra era dura demais (Jo 6,61-63):
“Sabendo que seus discípulos estavam murmurando por causa disso mesmo, Jesus perguntou: “Isto vos escandaliza? E quando virdes o Filho do Homem subindo para onde estava antes? O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida. Mas entre vós há alguns que não creem”.
Está falando para seus discípulos e para os que creem, e se não tem espiritualidade não tem fé.
O sofisma moderno e a crise da democracia
Desenvolvemos através das postagens a crise do pensamento e os sofismas modernos, não mais fundados em justificativas do poder, mas para promover novos modelos neoautoritários de poder, é a psicopolítica como desenvolveu-Byung-Chul Han, que está além da biopolítica de Foucault.
Sobre a reforma do pensamento Edgar Morin desenvolveu uma extensão obra que está sintetizada em seu livro “A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento”, com duas vertentes importantes, além do próprio pensamento reformado: o pensamento ecologizante e a superação do modelo mecanicista.
Um século depois do triunfo da física quântica, o modelo do nosso pensamento ainda é newtoniano, mecanicista e dualista, o modelo quântico admite um terceiro excluído, no quanta a matéria pulsa e há um terceiro estado entre um ponto da matéria e outro, chamado na física de efeito de tunelamento, ele consagra a visão inicial de Werner Heisenberg do princípio da incerteza e redescobre a natureza ondulatória da matéria e não apenas da luz, que é também matéria sem massa.
Edgar Morin utiliza este conceito da incerteza para reformar a reforma, aquela mudança que todos queremos, mas que ainda fica focalizada em dois polos, e induz grande parte do pensamento moderno para fundamentalismos que não admitir reformas nem um terceiro excluído, nem uma terceira via.
Estas vertentes fazem o planeta caminhar para uma crise política da democracia sem precedentes, governos neoautoritários, como Myanmar e agora no Afeganistão e as ditaduras planetas já quase consolidadas em todo ocidente com ameaça de surgimento de novas e ainda mais radicais.
Afirma Edgar Morin em seu livro: “Uma inteligência incapaz de perceber o contexto e o complexo planetário fica cega, inconsciente e irresponsável” (Morin, 2014) e dirá mais a frente: ““[…] um modo de pensar, capaz de unir e solidarizar conhecimentos separados, é capaz de se desdobrar em uma ética da união e da solidariedade entre humanos. Um pensamento capaz de não se fechar no local e no particular, mas de conceber os conjuntos … estaria apto a favorecer um senso da responsabilidade e o da cidadania” (Morin, 2014).
Sem uma inversão da tendência atual teremos uma grande crise civilizatória a vista, veja o estaria na frase de Morin.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014.
A maiêutica e parir o conhecimento
O método socrático era que o filósofo acreditava que ninguém tinha respostas definitivas para suas perguntas e desse modo andava pelas ruas de Atenas fazendo questões que considerava básicas sobre política, moralidade e a verdade, a jovem democracia estava se corrompendo.
Assim fazia que cada pessoa pudesse “parir” respostas, e a cada respostas fazia novas perguntas, assim definia-se como “parteiro de ideias”, procurava assim instruir os “cidadãos”.
Seus adversários eram os sofistas que se baseavam apenas na arte da persuasão, e objetivo era bajular os governantes e dar respostas que as pessoas queriam ouvir.
Mas muitas pessoas, especialmente os jovens, eram envolvidos por sua sabedoria e ensinamentos, entre eles estava o discípulo Platão que é quem descreve os diversos diálogos socráticos.
Assim seu método era oposto aos dos sofistas baseados na retórica e na arte da persuasão, suas teses eram as mais diversas, Górgias por exemplo, defendia que “nada existe”, Protágoras que “o homem é a medida de todas as coisas”, além disto cobravam pelas aulas.
Aristóteles vai defini-lo como “a sabedoria (sapientia) aparente, mas não real”, mas ela não desapareceu por completo, foi ao longo da história mudando de forma e de discurso, porém essencialmente é a retórica, hoje por exemplo, pensadores performáticos e autorreferenciais.
A grande oposição de Sócrates aos sofistas era que eles, com recurso da persuasão e retórica, proclamavam apenas “opinião” chamadas de doxa e Platão, discípulo e divulgador de Sócrates, vai organizar a “episteme”, o conhecimento deve ser organização a partir dos seus “cortornos, limites, de seus aspectos e de sua aparência”, descritos como sua “dialética”.
Também Bachelard em nosso tempo critica a opinião como não científica: “A ciência, tanto em sua necessidade de acabamento como em seu princípio, opõe-se absolutamente à opinião” em sua obra: A Formação do Espírito Científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento.
Sócrates, acusado de subverter os jovens e não prestar cultos aos deuses do estado, foi condenado a morte, Platão desenvolverá seu método e criará uma escola de pensamento.
Vacinas e a variante delta
O número de vacinados no Brasil se aproxima em 50% na primeira dose (46,7%) e 20% na vacinação total (17,6%) entretanto a eficácia das vacinas para a variante delta está sendo estudada na semana que passou o Instituto Butantan iniciou estudo para ver a eficácia da CoronaVac.
A variante delta pode provocar uma quarta onda, o alerta é da OMS que pede que não sejam flexibilizadas as medidas de distanciamento, uso de máscaras e controle de aglomerações sociais.
O monitoramento feito no país registrou e localizou 145 casos confirmados desta variante no Distrito Federal e nos estados: Maranhã, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
A curva de mortes continua a cair lentamente no Brasil (veja foto).
Um artigo publicado na revista científica New England Journal of Medicine aponta que as vacinas Pfizer e AstraZeneca protegem contra as variantes Alfa e Delta, especialmente após a segunda dose, segundo o artigo a Pfizer evitou 88% dos casos sintomáticos e a AstraZeneca 67%.
Já o departamento de Saúde do Reino Unido (PHE em inglês) divulgou um estudo feito com mais de 1 milhão de pessoas em grupos de riscos e apontou que com duas doses a eficácia destas duas vacinas sobem para 93% e 78% respectivamente, quando se trata de pessoas de 16 a 64 anos.
Na Holanda o governo anunciou que vai voltar a impor restrições a boates, festivais e restaurantes, estas restrições haviam sido retiradas em junho, mas o quadro de infecções pirou com 7 mil registros da doença na última semana, antes os casos já eram de menos de mil.
O quadro é um revés para Espanha e Portugal que almejavam a retomada do turismo.
O momento é de tentar incrementar a vacinação de olho na eficácia e muita cautela.
Vacinação acelerada e novas preocupações
A vacinação acelerou em julho conforme era a expectativa otimista, a queda de infecções e mortes cai num ritmo ainda muito lento e as novas ondas de infecção em países da região como Chile e Argentina acendem um sinal de alerta, o Perú já vinha em número alto e alguns países da Europa, como a Rússia, também mostram que a Epidemia está longe do seu fim.
A Argentina atingiu na quarta-feira (14/7) a marca simbólica de 100 mil mortes, alto para uma população de 44,5 milhões de habitantes, e entrou num novo lockdown, conseguindo já conter a nova alta, os números no final da semana voltaram a cair.
O Brasil como a Argentina chega ao número de vacinados de 16% e 11% respectivamente (ver o gráfico acima), enquanto a primeira dose no Brasil chega 44,5% e a Argentina 45%, os números próximos sugerem uma maior atenção para a possibilidade de uma nova curva ascendente, seria uma maior expansão da variante delta, fatores climáticos (Chile e Argentina são mais frios) ou ainda uma variante chamada de lambda, lá também a eficácia da Sputinik russa é questionada.
A variante lambda detectada no Perú assusta, chamada de C.37 seus estudos preliminares indicam maior letalidade e capacidade de driblar as vacinas é séria, o pesquisador Pablo Tsukayama, coordenador do laboratório de Genética Microbiana da Universidade Cayetano Heredia de Lima, detectou que a variante já é 100% dos casos infectados no Perú a partir de abril de 2021.
A falta de dados abertos prejudica a pesquisa, o próprio Ministério da Saúde do Perú não divulga e o professor Tsukayama é um dos que protestam a esta falta de acesso.
Outra questão que preocupa é a falta de dados científicos sobre a eficácia da vacinação para as novas variantes, há muita gente que dá declarações tentando contemporizar, porém não apresenta estudos científicos claros, por exemplo, sobre as variantes novas como a lambda.
Um destes estudos, apontado pelo jornal El País do dia 11 de julho passado, é do virologista chileno Ricardo Soto Rifo, que se concentrou na vacina CoronaVac, a principal usada no Chile, em um grupo de trabalhadores da saúde voluntário descobriu que a lambda apresenta “capacidade de infecção e de escape imunológico incrementada contra anticorpos neutralizantes”, o alcance de tal perda ainda está por ser esclarecida.
Outro estudo apontando no El País é o da vacina Pfizer e Moderna, é da Universidade de Nova York, apontando que os resultados foram “relativamente menores”, porém o professor Tsukayma faz uma constatação pouco animadora: “É praticamente impossível prever como um vírus sofrerá mutação”, porém diminuir a transmissão é possível por meio das vacinas e isto é o efetivo.