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Arquivo para a ‘Jornalismo’ Categoria

Curva em queda, mas vacinação fica lenta

05 jul

Apesar da curva de infecções e média de mortes (veja a curva), o problema começa a ser a segunda dose que está em estável em 12% na última semana, alertamos que o problema pode piorar pois o número de doses da AstraZeneca e Coronavac deveriam aumentar por causa da segunda dose.

O número de casos confirmados na sexta feita era de 54.101 e a média móveis dos últimos 7 dias era de 50.905 infecções (em 14 dias um recuo de 30%), o número de mortes apesar de continuar alto está abaixo de 2 mil mortes, e não há nenhum estado em alta, também as UTIs começam a ser desafogados, as regiões mais graves estão em torno de 70% as internações, mas em queda.

As polêmicas de vacinas vencidas, e o caso da Janssen que teve muitas vacinas congeladas (elas necessitam de um sistema especial de temperatura de -2ºC) porém são seguras afirma o Ministério da Saúde, além e Belo Horizonte agora também Campinas aplicou doses da vacina em moradores de rua, uma medida humanitária elogiável, já que esta vacina imuniza em uma única dose e estas pessoas tem dificuldades com medidas sanitárias.

Os casos de vacinas vencidas estão sendo identificados em diversas cidades, alguns locais como a cidade do Rio de Janeiro houve registro errado no sistema, a situação não está fora de controle e em vários casos uma nova vacinação já está sendo feita, é importante verificar com precisão os casos em que a vacina realmente estava vencida, onde houve erro de sistema e o número exato.

O caso da compra da vacina indiana Covaxin tornou-se centro da crise política do governo por denuncias de corrupção, a negociação foi suspensa pelo Ministério da Saúde e a compra deverá ser cancelada, além dos políticos também a CGU deve prosseguir no processo de investigação.

O problema grave é a lentidão da vacinação, alertamos que em julho diversos fatores poderiam colocar o processo em cheque, a necessidade da segunda dose, que chegando ao município é imediatamente disponibilizada para vacinação.

O secretário executivo do Conselho Nacional das Secretarias Municipais (Conasems) explicando também o caso das vacinas vencidas garantiu que as vacinas chegando são imediatamente disponibilizadas para a população, portanto o problema é o controle da Anvisa e a disponibilidade.

Mauro Junqueira, o secretário da Conasems entretanto esclareceu que nem sempre é possível um controle direto no tablet ou sistema computacional, as vezes é feito no papel e depois colocado no sistema informatizado, a diversidade de municípios no país explica isto facilmente.

Insistimos na necessidade de aumento da produção de vacinas para o mês de julho, o número da última quarta-feira segundo a CNN foi de 3 milhões de doses da vacina Janssen, 3,33 milhões do imunizante da Pfizer e outras 7,15 milhões do produto AstraZeneca/Fiocruz, total 13,5 milhões.

 

A terceira onda é atenuada no Brasil

07 jun

Postamos aqui que era possível atingir números de vacinação próximos a 50% até o final de junho e que a primeira semana era decisiva, os dados indicam uma inversão da curva, mas é preciso não vacilar e continuar a vacinação, o Brasil recebeu novas doses da Pfizer (mais de 500 mil) e a vacinação da “nacionais” continua indo, e a previsão é de 40 milhões de doses até o final do mês.

Pode-se afirmar que neste momento há uma atenuação, o número de mortes da sexta-feira é 1689 enquanto de infecção acima de 66 mil, números que mostram a importância da vacinação pois o número de infecção ainda é muito alto e sem a vacinação o de óbitos continuaria alto.

A desaceleração da vacinação é apontada em algumas mídias, porém não fica clara se é a distribuição ou aplicação, pode ainda ser uma terceira coisa operacionalização o que seria muito lamentável já que o INSS e as secretarias de saúde possuem boa estrutura e distribuição.

Em porcentagens o número de vacinas distribuídas, o governo fala de um número acima de 100 milhões e os estados dizem ter recebido 90 milhões, sendo que há vacinas em estoque, em porcentagem seriam 52 milhões da AstraZeneca/Oxford/Fiocruz, 47,1 milhões da Coronavac e 3,5 milhões da vacina Pfizer/BioNtech, não deixa de ser interessante esta variação pela eficácia para diversas idades.

A distribuição realizada até o momento já permitir a aplicação de doses, ao menos a primeira dose, em 18 dos 28 grupos prioritários do PNO (Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a COVID-19), que foi definido pela vulnerabilidade social e riscos maiores de comorbidades.

A etapa atual começa a priorizar comorbidades em diversas faixas etárias e profissionais da saúde, porém do comércio que seria extremamente importante não está incluído no plano.

Os números do mundo ainda são preocupantes, veja o gráfico, ainda há países com possibilidades de uma terceira onda e uma lição definitiva da Pandemia é que devemos nos preocupar com todos.

 

Vacinação e perigos a frente

05 abr

Os dados oficiais do site On Data in World indicam uma vacinação total no Brasil de 10,2 milhões de pessoas até 3 dias atrás, enquanto a média mundial fica no patamar de 6,5% e em países como França, Itália e Alemanha estão no inexplicável índice próximo a 11% (até a OMS reclamou).

Somente Israel perto dos 60% e Reino Unido próximo aos 50% tem índices aceitáveis, na América Latina somente o Chile chegou aos 30% e o Uruguai aos 20% mas deve-se observar que tem populações bem menores Chile 18 milhões (menor que a cidade de São Paulo), e Uruguai 3,5 milhões (pouco maior que Belo Horizonte se contando as cidades Betim, Contagem que são vizinhas),  o Brasil está próximo aos 10% contando a primeira dose conforme dados do mesmo site (on Data in World na imagem).

Dois perigos ameaçam fortemente os índices de contaminação: a nova cepa que se propaga mais rapidamente e o frio que deve chegar em breve, segundo os especialistas do Butantã não é possível acelerar o processo de produção de vacinas, mas já a FioCruz do Rio de Janeiro promete entregar 1 milhão de doses diárias, chegaria ao final de abril com 40 milhões de vacinados ao menos com a primeira dose (isto daria próximo ao 20% da população), e torcer para que o frio retarde, sem contar as remessas que virão do exterior e do próprio Butantã.

Felizmente o tempo tem estado quente, apesar de frentes frias ameaçando no sul, a expectativa para os próximos 15 dias (até o dia 20 de abril portanto), é de permanecer quente. apesar de chuvoso, porém não há dados corretos do tempo, as previsões nem sempre estão certas.

Espera-se que uma vacinação consiga frear o aumento sucessivo de infecções, batemos vários recordes de infecção e mortes, e a agressividade da nova cepa atua neste dois aspectos.

Um medicamento inovador é anunciado no mercado, e protocolou no último dia 30 de março o pedido na Anvisa, é uma combinação de anticorpos monoclonais bamlanivimabe e etesevimabe que foi desenvolvido pela farmacêutica Eli Lilly, e pode auxiliar em casos leves e pessoas que tenham problemas respiratórios, é o primeiro medicamento realmente válido na prevenção e nos casos leves que tenham comorbidades respiratórias, pode chegar em 30 dias ao mercado.

Este medicamento tem um trunfo poderoso, pois já tem a liberação da Food and Drug Administration (FDA) a reguladora de medicamentos nos EUA, enfim é preciso pensar em soluções criativas e não se pode descartar as medidas preventivas, claro que sejam realmente válidas.

Segue a versão em inglês (o site está em manutenção.

 

 

Urgente: mudar o pensamento, ensinar a viver

10 fev

Quando propomos um modelo que não é aquela do mundo da vida, dele Husserl fez uma filosofia, o seu Lebenswelt (mundo da vida), Habermas fez dela uma sociologia, Heidegger e Gadamer a incorporam em seus pensamentos, mas afinal que é a vida senão uma aprendizagem, não aprendemos com a pandemia.
O problema central de busca de uma “clareira” é que criamos modelos demasiadamente longe da vida, de sua defesa incluindo a natureza, a dignidade e o próprio viver, estamos num Setembro Amarelo, cujo tema não é outro senão o de dizer que vale a pena viver.  Teremos uma clareira, mas ela durará pouco, e poderíamos começar já uma grande mudança, depois poderá não haver tempo. 
Foi Morin que fez dela uma ousadia ao escrever Ensinar a Viver, a pedagogia esquecida e o método pouco utilizado, quando Morin escrevia seu Método (na verdade em vários volumes e sentidos), li no comentário da Editora Sulina que o publicou no Brasil, que “ele o desfaz em partes que, holograficamente, repetem esse todo de maneira sintética, mas completa”.
Morin começa por uma crítica que muitos fazem na universidade, mas se curvam a ela para não fazer valer suas “carreiras”, ele critica essa “deriva das universidades”, cujo dilema central ele sempre retorna que é “refazer o pensamento”.
Agarrados a métodos e modelos já superados, logicistas e neopositivistas, não se aponta “a natureza do conhecimento, que contém em si o risco de erro e de ilusão” (MORIN, 2015, p. 16).
O grande teórico da complexidade propõe antes de tudo um retorno a filosofia (no sentido do pensamento primário) em sua condição socrático de diálogo, aristotélicas (no sentido entre outros, da organização da informação), platônica (questionamento das aparências), e até mesmo pré-socrática (questionamento do mundo, inserção do conhecimento na cosmologia moderna), enfim não pode ensinar a vida sem saber que ela tem dilemas, erros e opções.
Morin, que poderia arrogar-se de sabedoria pela idade, pela intensa atividade intelectual, desde do pedestal daqueles cheios de certezas, sem dúvidas ou equívocos que vemos desfilar pelas academias e pelos palanques públicos da mídia devoradora e pouco questionadora.
Morin busca “conceber os instrumentos de um pensamento que fosse pertinente por ser complexo” (Morin, 2015, p. 23), e vemos a barbárie de certezas dogmas e pouco elaboradas.
Frases prontas, manuais de autoajuda, laissez-faire (principalmente econômico), grosseria e histeria ideológica, fazem um aprofundamento da crise cultural, humanitária e social de hoje.
Me assusta que leitores de manuais tenham tanta certeza com tão pouco pensamento, aliás a crítica ao pensamento cresce e o elogio da ignorância parece vencer qualquer argumento.
Morin nos encoraja e nos remete a um futuro ainda visível e possível, sua palestra na Fronteira do Pensamento (em 2016) é uma esperança e um aprofundamento que lança novas luzes.

MORIN, Edgar: Ensinar a viver: manifesto para mudar a educação. Trad. Edgard de Assis Carvalho e Mariza Perassi Bosco. Porto Alegre: Sulina, 2015

 

Mianmar urgente !

01 fev

Mianmar, antiga Birmânia, foi governada por forças militares até 2011, quando após um longo período de protestos, em que a Suu Kyi voltou ao país para resistir junto com a população ao autoritarismo do governo militar, acabou cedendo e fazendo reformas democráticas.

O filme feito sobre ela foi feito justamente no momento em que as forças democráticas retiravam do poder os militares, The Lady (em português traduzido como Além da Liberdade), conta a história de Aung Suu, Kyi filha de Bogyocke Aung San, grande estadista considerado pai da nação birmanesa, teve sua história recente contada no filme dirigido por  Luc Besson, o final foi adaptado porque o país entrava em um processo de redemocratização, após inúmeros protestos e a prisão de Sun Kyi.

Após 9 anos de redemocratização, que se consolidaria com a esmagadora vitória em novembro, de seu partido a Liga Nacional pela Democracia (NLD em inglês) e que os militares alegam terem sido “fraudadas” sem apresentar qualquer prova disto e agora retomaram o poder.

Em carta escrita antes de ser detida, Suu Kyi denuncia que as ações militares voltam a colocar o país sob a ditadura, e pediu ao povo “protestem contra o golpe”, “não aceitem isso”.

O mundo que vive sobre novas ameaças de facismo deve protestar contra mais um golpe na democracia e na convivência pacífica dos povos.

Presa muitas vezes, é dela a frase: “A única prisão real é o medo, há só uma liberdade real libertar-se do medo”.

 

Evitar a euforia, evitar a pandemia

22 jan

As vacinas estão chegando, porém é hora de calma e serenidade, ou seja, evitar a ira (contrário da calma) e a euforia (o contrário da serenidade), sim é possível mesmo em momento de tensão e de forte ansiedade.

A explosão da ira e a euforia, precisaremos ainda ter medidas de isolamento e preventivas que exigem a pandemia, é provável que ainda dure por muito tempo, as vacinas cujas eficácia são ainda pequenas e a fase de testagem precisa continuar para ter índices mais confiáveis.

Países como a Inglaterra e Portugal, mesmo com início da vacinação, registram altas de infecções e casos mais graves, as variações do vírus são mais infeciosas e atingem maior população, a vacinação o que vai fazer é reduzir os índices de contaminação, no entanto, os hospitais estão cheios.

Para manter a serenidade pode-se buscar diversas formas de relaxamento e espiritualidade, o que parece quase impossível nestes dias, são as atitudes culturais e psicológicas que provocam mais e mais aglomerações e consequentemente índices maiores de contaminação.

Seguir uma forma de espiritualidade ou de meditação significa justamente encontrar a serenidade e manter a nossa “morada do ser”, como postamos a semana passada mais próxima da paz interior, desesperar jamais, para sair de um longo período de isolamento é preciso calma e paz.

Deve-se buscar com coração e alma atitudes contidas de alegria e esperança, não apenas porque estamos no final (assim esperamos) de uma pandemia, mas porque queremos que esta saída seja segura e com o mínimo de mortes possível.

É fácil observar, no caso do Brasil e de alguns países, que a impaciência é grande, o que provoca uma crise de ansiedade e que pode explodir em ira ou euforia, típicas de ausência de estabilidade.

Ao chamar os discípulos para iniciar uma caminhada com Ele, além de uma necessária mudança de rota (um novo sentido para uma caminhada) também era comum deixarem para trás, mesmo que fosse por algum tempo, seus trabalhos e empenhos.

Como a maioria dos discípulos eram pescadores deixa por algum momento a pescaria, e diz a leitura (Mt 1,19-20): “Caminhando mais um pouco, viu também Tiago e João, filhos de Zebedeu. Estavam na barca, consertando as redes, e logo os chamou. Eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados e partiram, seguindo Jesus”, mas depois voltaram a trabalhar.

Assim não é difícil um tempo de parada, é preciso encontrar um caminho a seguir, mas logo já estaremos de volta ao trabalho e ao dia-a-dia, esperamos mais calmos e serenos.

 

A morte e a vida

03 nov

Pablo Picasso tem razão ao dizer que “a morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos”, porém diante de uma pandemia que ameaça a todos, diante de uma segunda onda que promete ser ainda pior, Makron e outros governantes da Europa já o disseram, devemos encarar o tema.

Onde foi Dia de Finados, lembrar de mais pais e algumas pessoas que já não estão mais aqui sempre me fizeram um acalanto diante da vida e da morte, o que viemos fazer aqui nesta curta passagem, deveria ser a questão destes dias.

A pandemia poderia ter ensinado mais, ao menos conseguiu frear o vida frenética da Sociedade do Cansaço, mas a grande maioria das pessoas se comporta como se não houvessem muitas pessoas morrendo e que também elas podem estar de repente diante de uma encruzilhada, que assim penso, não será pessoal apenas, mas todo o planeta.

Li num dos últimos livros de Edgar Morin: “em vez de ser terra de ninguém, poderíamos ser terra de todos”, não é o ainda acontece, hoje é dia de eleições nos EUA, sem polarizar pode-se dizer se ganhou a vida ou a morte, não falo de políticas governamentais também, mas as ameaças de guerra que sempre pairam sobre a humanidade em tempos de guerra.

Todos um dia abandonaremos nossos sonhos, promessas e as coisas boas que fizemos, será hora de prestar contas se não a Deus, aos que creem, as gerações futuras sobre o legado que deixamos.

Viver a vida e ser feliz deve ter sempre como complemento também a felicidade dos outros, se não sou causa de felicidade a minha volta, a minha própria pode estar comprometida, e no fim da jornada ficará apenas aquilo que fizemos de bom e que os que ficam terão prazer em recordar.

A relação com o Outro e com a Natureza que é também um outro, deve ser modificada para que tenhamos esperança num futuro promissor para os que nascem.

 

Segunda onda ou é outro Cov-2

02 nov

Em artigo recente “Emergence and spread of a SARS-CoV-2 variant through Europe in the summer of 2020” publicado em 28 de outubro no site da medRxiv, informam a disseminação, presumivelmente a partir da Espanha,  de uma variante do vírus da Covid-19, que já seriam 80% das infecções recentes, o artigo ainda terá a revisão por pares, mas já disparou o alarme da comunidade científica, o artigo ainda terá revisão por pares.

Desde o início de setembro a Europa já verificava um aumento nos casos de infecção e retomava as medidas de distanciamento, era o final do verão, agora em outubro as medidas se tornaram irreversíveis, e o presidente da França chegou a declarar: “o vírus circula numa velocidade não prevista nem pelas previsões mais pessimistas … estamos todos na mesma posição: invadidos por uma segunda onda que será sem dúvidas mais difícil e mais mortal que a primeira”, a Inglaterra já decretou lock-down e ainda estamos no outono, o inverso deste ano promete ser rigoroso.

A Alemanha, a primeira-ministra Angela Merkel fez acordo com os governadores locais para fazer um “lockdown light”, mas até o final de novembro bares, restaurantes, teatros e academias terão que fechar as portas, será um Natal doméstico e com muitas restrições na Europa.

Na Itália o governo do primeiro-ministro Giuseppe Conte determinou que neste início de novembro bares e restaurantes de todo país só poderão ficar abertos até as 18h, academias, piscinas, teatros e cinemas não podem abrir.

As medidas impactaram as bolsas que tiveram uma forte queda, de 2% a 4% na Europa, e mais de 4% no Brasil, hoje feriado aqui, as bolsas no exterior se recuperam, mas a apreensão agora se volta para as eleições americanas marcadas para amanhã, porém muitos votos já foram antecipados e haverá record de eleitores, porque nos EUA o voto não é obrigatório.

As empresas que desenvolvem as vacinas prometem acelerar, mas especialistas apontam que isto não é possível e para esta variante também deve ser testada.

 

 

 

No prazer do texto há um diálogo

02 set

No post anterior há as expressões de Barthes sobre literatura, escrita e texto, e já conceituamos a ideia de inscrição que se supõe um suporte, a escrita e o aspecto cognitivo e no texto o aspecto linguageiro, artístico e de “instalação”, e é aqui que analisa-se o seu livro “O prazer do texto”.

O livro apesar de aspectos teóricos é de fato um prazer ao ser lido, há diálogo e principalmente surpresas agradáveis, como por exemplo, um espaço semiológico, uma espécie de lugar entre duas margens: “uma margem obediente, conforme, plagiária (…) o estado canônico da língua e outra móvel, vazia (…) estas duas margens enceram, são necessárias” (pag. 40).

Cede a literatura mais clássica: “de Zola, de Balzac, de Dickens, de Tolstoi) traz em si mesma uma espécie de mimese enfraquecida: não lemos tudo com a mesma intensidade de leitura; um ritmo se estabelece, desenvolto, pouco respeitoso em relação à integridade do texto” (pag. 17)

Trata em uma única linha de rupturas Proust, Balzac e Tostói, “o próprio ritmo daquilo que se lê e do que não se lê que produz o prazer dos grandes relatos: ter-se-á algumas vez lido Proust, Balzac, Guerra e Paz, palavra por palavra?  (Felicidade de Proust: de uma leitura a outra, não saltamos nunca as mesmas passagens)” (pag. 18).

Recomenda como se deve fazer a verdadeira leitura: “Leiam lentamente, leiam tudo, de um romance de Zola, o livro lhes cairá das mãos; leiam depressa, por fragmentos, um texto moderno, esse texto torna-se opaco, perempto para o nosso prazer: vocês querem que ocorra alguma coisa, e não ocorre nada; pois o que ocorre à linguagem não ocorre ao discurso: o que “acorre”* , o que “se vai”, a fenda das duas margens .. “ (pag. 19).

Contrasta o texto com o teatro ou o cinema: “Na cena do texto não existe ribalta: não há por detrás do texto ninguém ativo (o escritor) nem diante dele ninguém passivo (o leitor); não há um sujeito e um objeto. O texto prescreve as atitudes gramaticais: é o olho indiferenciado que fala um autor excessivo (Angelus Silesius): ‘O olho com que eu vejo Deus é o mesmo olho com que ele me vê.” (pag.52).

Revela o segredo de outro livro seu: “Tradição antiga, muito antiga: o hedonismo foi repelido por quase todas as filosofias; só se encontra a reivindicação hedonista entre os marginais, Sade, Fourier; para o próprio Nietzsche, o hedonismo é um pessimismo” (pag. 74), o livro citado no post anterior que vai muito além do hedonismo.

BARTHES, Roland. O prazer do texto. Trad.   J. Guinsburg. SP: Editora Perspectiva, 1987. (pdf)

 

Porque é difícil uma vacina este ano

24 ago

Há três fases para que uma vacina seja liberada, no Brasil o órgão responsável pela avaliação e aprovação de solicitações para realização de pesquisas clínicas com fins de registro e de pedidos de registro de produtos imunobiológicos desenvolvidos na indústria farmacêutica é feito pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), há comitês de ética que acompanham as etapas dos estudos, os Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs) e/ou da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), então há critérios e cuidados que são observados.

Na fase 1, são selecionados pequenos grupos de voluntários, normalmente adultos saudáveis, são avaliados para a verificação da segurança e determinação do tipo de resposta imune provocada pela vacina, na fase 2, há a inclusão de um maior número de indivíduos e o produto é administrado em indivíduos representativos da população com menores proteções imunológicas (crianças, adolescentes, idosos e pessoas com imunologia comprometida), já na terceira fase é preciso aplicar numa grande quantidade de indivíduos e garantir o mínimo possível de reações adversas e contra-indicações, nesta etapa o número de voluntários deve ser grande.

A empresa só vai solicitar o registro de produtos com estudos na fase 3 em andamento, assim os dados das etapas 1 e 2 devem estar consolidados e sua eficiência demonstrada com alta eficiência terapêutica e/ou preventiva, e não exista terapia alternativa comparável aquele estágio da doença, aqui entra em cena o jogo dos interesses econômicos que podem ser levados para o campo político e até mesmo de disputa de mercados, porém é de se esperar que no caso da Covid-19 haja alguma ética neste processo.

Há 26 vacinas em estágio avançado, mas as quatro vacinas com potencial uso no Brasil são de quatro técnicas diferentes:  o vetor viral é a técnica de Oxford e AstraZeneca que tem colaboração da FioCruz brasileira, a do laboratório chinês Sinovac tem participação do Instituto Butantan, a BioNTech – Wytech/Pfizer tem laboratórios privados no Brasil e anunciou que poderia estar pronta em Outubro, e, a Janssen Pharmaceuticals (Johnson & Johnson) adota a técnica do vetor de adenovírus (veja as técnicas e colaborações na figura).

A Sinovac com a técnica de vírus inativado poderá estar pronta para o ano que vem, a Janssen não fez grandes anúncios ainda, mas sabe-se que irá para a terceira fase, e a mais promissora que é a de Oxford está na fase 3, mas não deverá estar disponível até na melhor das hipóteses em dezembro.

De acordo com a Anvisa, o prazo para a manifestação sobre a vacina é de até 60 dias, embora a Anvisa tenha acelerado o processo de pedidos para medicamentos e vacinas no caso da Covid-19 instituiu um Comitê de Avaliação de Estudos Clínicos, Registro e pós-registro de Medicamentos, que inclui vacinas.

Assim ainda que o pedido esteja encaminhado em Outubro o provável de sua aprovação é para dezembro, até iniciar a produção e colocar a disposição dos órgãos de saúde deverão estar pronta para início da vacinação em meados de janeiro, antes disto cuidado, prevenção e manter as esperanças.

Enquanto isto estamos, no Brasil, paralisados num patamar de mil mortes diárias.